CAPÍTULO 05 - SUSSURRO DA DEUSA

Ri sombriamente, atravessando sua barriga com as mãos e rasgando suas entranhas. O maldito seguia guiado pelo ódio até a criatura ferida ao chão, onde agarrou seus ombros, culpando-a por toda sua maldição. Um verdadeiro covarde!

Parei às suas costas, predatório, olhando diretamente para a loba, que notei ser cega. Os rumores eram verdadeiros; este lobo era desprezível e repulsivo. Tirei minhas garras de sua barriga, atravessando a carne de seu peito e arrancando o coração pulsante, apertando cada vez mais até suas batidas diminuírem e o órgão estourar em minhas mãos. Hunter sucumbiu, deslizando o corpo sobre a loba frágil até ceder em seus pés!

A imagem, mesmo que borrada, se desenhava em meio à escuridão. Senti minha mente retornar ao ambiente onde estávamos e encarei surpreso a loba que havia amparado em meus braços lupinos.

— O que foi isso? — Sussurrei surpreso, avaliando que aquela criatura tinha algo a mais além de sua fraqueza e deficiência. — Deusa, o que espera com tudo isso? Esta loba é inútil.

Rosnei irritado, cerrando os punhos, com meu lobo agitado em meu interior, impulsionado a protegê-la. Redemoinhos de folhas rodopiavam em torno de nossos corpos. Ergui o focinho em direção à cidade, onde o cheiro de carne queimada era intenso. Com uma garra livre, puxei o corpo do rei Lycan, decapitando sua cabeça quando notei o movimento da loba recuando-se para trás em pavor, trêmula e com dificuldades.

Entretanto, apesar da pressão de meu poder, mesmo diante de seus ferimentos, a loba não cedia, colocando-se em posição defensiva. Era, de fato, a filha do alfa Hunter. Avaliei cuidadosamente todo o seu corpo magro, com os ossos das costelas evidentes, as patas traseiras quebradas. O odor de urina do lobo macho era repulsivo. Farejei mais em sua direção, notando que havia hemorragias internas e algumas costelas quebradas, provavelmente as responsáveis por seu pulmão perfurado.

Aproximei-me mais alguns passos, agarrado à cabeça do Alfa que levaria como troféu, deixando-o exposto na entrada da cidade em uma estaca. Várias perguntas surgiam em minha mente. A vingança era iminente, mas por que a Deusa havia me guiado a essa loba deficiente? Como a cena de minha batalha com Hunter foi desenrolada em nossas mentes? Aquela conexão... Seus medos, suas dores, sua escuridão me engolindo. O que era tudo isso?

Rugi irritado, acanhando ainda mais a loba delicada.

POV: CALLIE

Espantada com as cenas e suas palavras, me arrastei para trás, ficando na defensiva e rosnando.

— Como ousa ameaçar nosso alfa? — Rosnou o Beta, pisando firme em minha direção vindo de alguma direção que não consegui identificar.

— Suma da minha frente, Jaxon. — Trovejou o Alfa em repreensiva, notas de odor de medo se intensificaram, este lobo era poderoso ao ponto de todos de sua matilha o temer.

Eu me encolhi mais no chão, ciente de que se ele me atacasse, não teria forças para me defender.

— Se for me matar, que seja breve... Já sofri demais! — Rosnei para o lobo à frente que não podia enxergar.

Suas mãos viraram em minha direção, apurei mais a audição e rolei para o lado colocando força nas patas frontais, desviando de seu toque. O chão vibrava a cada passo do rei Lycan, percebi que ele vinha em minha direção, tentando me encurralar ainda mais no canto. Rolei mais uma vez para o outro lado, uma onda de choque percorreu minhas patas traseiras assim que rasparam ao chão, tremi bruscamente grunhindo de dor, estavam quebradas e o menor movimento causava uma dor excruciante.

— Seus instintos são apurados, interessante, loba cega... Se sobreviver a esta noite, lhe darei uma chance de se integrar à nossa alcateia! — Rugiu ameaçador, o lobo me ergueu do chão sem dificuldade, jogando-me ao que parecia, sobre seus ombros. Eu o mordi, tentando me libertar. — Pare de se mexer, você está muito ferida e é fraca demais para conseguir lutar ou fugir.

— Por que está fazendo isso? Não sou nada. — Rosnei frustrada. — Acabe logo com a minha vida!

— E perder a chance de descobrir por que a Deusa me guiou até você? Nem pensar. — Brando em ironia o Alfa.

— A Deusa? — Balbuciei intrigada, mexendo a cabeça em volta para tentar captar com os ouvidos e nariz onde estávamos. Tudo cheirava a álcool muito forte. — Estamos no hospital? Tão rápido?

Fui pousada no que parecia ser uma maca.

— Tratem a loba como uma de nós é a prioridade... Se ela sobreviver esta noite, me chamem! — Ordenou impaciente.

Apesar das palavras do novo alfa, minhas patas foram puxadas com força para baixo, causando um grande estralo. Queria gritar, mas meu maxilar ainda estava deslocado. Notei a aproximação de alguém; pelo cheiro, parecia ser um médico humano, normalmente contratado por alcateias mais fortes em troca de proteção contra outras criaturas.

— Este é o redil, vamos sedá-la para tratá-la, — comentou a voz masculina.

— Esta loba é cega e inútil para a nossa alcateia. Não é nossa prioridade gastar recursos com este peso morto, — brandou uma voz fina feminina, da qual não reconhecia o cheiro, aparentemente uma loba nova.

— Kemilly, foram ordens diretas do nosso alfa. Ele disse que os cuidados desta loba são prioridade. Eu sirvo a Aaron e seguirei o que foi ordenado! — gritou rude o homem à loba.

— Que seja, pelo estado dela, não passará desta noite, — riu, e senti que a tal Kemilly havia se afastado.

— Sinto muito por isso. O que fizeram com você? — suspirou o médico, sua mão se aproximando. Gemi, encolhendo-me ainda mais, soltando um rosnado hostil. — Eu sei que dói. Sinto muito, mas não estou aqui para machucá-la. Você ficará bem. É uma loba forte.

— Quem é você? — sussurrei com dificuldade, sentindo uma picada sobre minha carne, a moleza tomando conta, levando minha mente para longe, ainda em tempo de ouvi-lo dizer:

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