Vitor Ferreira é um pretendente a CEO. Ele não quer realmente ser chefe mas o pai o está obrigando a aceitar o cargo. Vitor é o filho mais velho e tem muitos problemas os pais. Em uma trip pelo país o seu clube motoqueiros, Vitor conhece algumas mulheres que fazem sua viagem moto um prazer e um tormento.
Ler maisLobos do asfalto
Mulheres do caminho
Meia noite. Olhei o relógio de pulso. Tudo estava embaçado pela viseira suja do meu capacete e eu precisava parar a minha Harley. Foi nesse momento em que me recordei de momento semelhante há mais de cinco anos atrás. Estávamos em uma trip pelo país, eu e os White wolves. Lembro bem quando Bill olhou para trás enquanto eu comia a poeira cor de barro da sua menina, uma Harley Own linda, toda metalizada. Bill “Lobo velho” estava quente aquela noite. Ele não parava por nada. Eu já sentia sede e “Mad Max” sinalizava para mim que deveríamos parar. Mad Max era o apelido carinhoso do Caio, porque ele só queria mais velocidade, era um ás do asfalto, mas o cara mais louco que eu já conheci. As manobras mais arriscadas e ultrapassagens mais loucas eram as realizadas por Caio “Mad Max”. Aquele grupo era grande, nunca foi tão grande quanto naquela viagem. Estávamos em vinte e dois motoqueiros. Todos sempre trajados com a jaqueta de couro preta dos White wolves, nosso clube. Bill diminuiu a velocidade e encostou a sua menina, como ele chamava. Logo todos encostaram na estrada escura.
Eu já calculava que estávamos no Espírito Santo àquela altura. Bill olhou o GPS do seu celular e, de fato, estávamos no Estado vizinho ao nosso depois de quase doze horas de moto. Minha bunda já estava quadrada quando finalmente pude acender um cigarro e desligar o rock do meu celular que estava com a bateria a dez por centro. Eu não pilotava minha “esposa” sem ouvir um bom e velho rock. Era dos caras do grupo o mais novo. Estava com vinte e cinco naquela época. Bons tempos em que eu não precisava me enfiar em terno e gravata e cuidar de assuntos de escritório que antes eram exclusivos do meu pai. Sentia falta daquela época. Logo o sinal abriu e eu parti para casa com a minha Harley mas com todas aquelas memórias na mente. Memórias de dias felizes como agora.
Bill nos olhou descendo da moto e tirando o capacete. Quando voltou a olhar o GPS, em seguida olhou o céu e naquele momento ele parecia ter descoberto onde estávamos como um beduíno do deserto que se guia pelas estrelas.
- Estamos perto de uma cidadezinha chamada .... - Ele olhava o seu celular. - Cachoeiro do Itapemirim mas podemos ir direto para Vila Velha, votação?
- Vila velha, Bill! Vamos pro “Bate e fica”*! - Gritou Mad Max.
- Melhor, velho!
Ele me olhou, sabendo que minha decisão, mesmo de mais jovem do grupo era importante por ser quem eu era, o cara mais rico do grupo e o que pagava bebida para todo mundo.
- Bora, velho! Eu to com a bunda quadrada já e vontade de tomar uma gelada!
- Então, bora Vila Velha! Vamos chegar “no sapatinho” para não assustar a mulherada da cidade!
- Ihháaa! - Gritei terminando por jogar fora meu cigarro quando a decisão do grupo já cansado foi tomada.
O chão até a cidade foi de mais uma hora mais ou menos e adentramos a cidade sem pedir passagem, com ar de mau encarados, fedendo a cigarro e suor, com as olheiras fundas de tanto dirigir. Se eu capotasse minha moto, certamente culparia Bill por fazer a gente pilotar tantas horas só com duas paradas. Vila Velha é realmente uma cidade muito bonita, assim como quase todas do país, e o que eu mais amava era poder conhecer todas elas somente com o combustível da minha moto e minha persistência. Era óbvio que o dinheiro da minha família ajudava mas de alguma forma eu sempre tentei mostrar aos outros que era capaz de me virar sem ele. Eu fazia minha própria comida, pedia poucos recursos ao meu pai apesar de poder utilizá-los, me virava sozinho, afinal meu pai mesmo havia me ensinado que um homem deve se virar e não esperar que os outros estendam a mão pois nem sempre isso acontece. Desde novo eu tinha esse mesmo pensamento.
Quando paramos nossas motos em frente a um bar, meu corpo todo doía mas como um típico macho que era, mal reclamei diante dos outros velhos do grupo que estavam bem piores do que eu. Acendi novo cigarro e ajeitei meu colete do White wolves no corpo, guardei o capacete e entrei junto com os demais para pedir informações e beber algo. O bar era rústico mas acontecia um show intimista naquela noite, voz e violão. A cantora parecia bem novinha mas era dona de uma voz poderosa e de uma beleza incomum para cantoras da noite e eu conhecia algumas delas. As pessoas ao nosso redor nos olharam, afinal chamávamos atenção. Estávamos em um grupo grande invadindo o local, todos de colete de couro, bandanas e botas. Ajeitei o cabelo comprido que sempre cultivei com devoção em um coque samurai e me sentei virando a cadeira para sentar de frente para o encosto. Bill ria de alguns caras mais velhos do grupo que estavam se queixando das costas quando a garçonete se aproximou de nosso grupo perguntando o que iríamos querer. Ela demorou o olhar no meu peito sob o colete e em seguida nos meus olhos. A fumaça me fazia cerrar os olhos enquanto o cigarro estava pendurado na boca para que eu pudesse acessar minha carteira no bolso de trás da calça e por isso não achei ela tão bonita mas aquela olhada foi o suficiente para tirarem sarro de mim o resto da noite.
- Eu ainda não sei porque a gente pilota com o “Lobo louco”, ele ganha todas as mulheres onde chega. - Disse um dos motoqueiros, Fred “Pantera” batendo no meu ombro. O apelido dele, fiquei sabendo tempo depois se referia a banda que ele mais gostava, Pantera.
- Fale por você, Pantera, eu tô mais que satisfeito com a atenção que eu ganho. - Respondeu Bill olhando a cantora em cima do palco.
- Ah mas eu aposto que o “Louco” leva ela para cima da moto hoje mesmo.
Todos gargalharam com a referência dele sobre “para cima da moto” sem qualquer conforto. Como alguém consegue trepar em cima da moto? Ta certo que eu já tinha feito, mas não foi com nenhuma cantora de bar bonita como aquela.
- Ah parem de apostar coisas sobre mim, minha bunda tá doendo! - Reclamei pedindo uma água e uma cerveja a garçonete.
- Estão de passagem? - Perguntou ela olhando para todos para disfarçar - Motoqueiros?
- Sim, madame - Respondeu Bill se levantando para estender a mão a ela e todos demos risada.
- Eu saio à uma hora, queria dar uma volta de moto! - Ela olhou para mim.
Isso não se faz com um homem que passou mais de nove horas em cima da moto com apenas duas paradas de quarenta minutos para comer e ir ao banheiro. A minha vontade era de m****r ela se lascar porque meu pau não iria subir com a dor no pescoço que eu estava mas olhei os demais que esperavam que eu me posicionasse como um lobo branco dos mais selvagens.
- Em cima de qual moto quer sentar? - Perguntei, tirando o cigarro da boca e o apoiando sobre o cinzeiro da mesa. Ficava bastante sem paciência quando sentia fome e sono.
- Ah Vitor! Claro que ela sentar na tua moto! - Mad Max atacou e olhou a moça, cruzando os braços. Todos esperavam a resposta dela.
- O moço ai com o cigarro, de colete sem camisa! - Ela sorria.
De fato era eu. Precisava urgentemente parar de andar de colete sem camisa por baixo.
- Eu venho te buscar. - Respondi sob livre e espontânea pressão.
Epílogo Vitor instalaria uma sindicância interna na AF para descobrir os culpados de rombos e corrupção e isso o faria ter alguns inimigos não declarados. Porém sua consciência e sua honestidade sempre estariam acima de tudo na vida. Ele não ganhou todas as licitações mas sua consciência estava tranquila quando deitava a cabeça no travesseiro a noite sabendo que sua empresa não prejudicava mais ninguém e que sua família não pertencia mais aquela máfia. O pai nunca ficou sabendo de suas decisões. Era melhor para a sua saúde que melhorou muito depois de estar em casa, descansando. Porém aquela situação calma não demoraria muito tempo para mudar. O seu estilo de vida mudaria de um jovem inconsequente para um adulto moderado. Principalmente na bebida e nas aventuras porém não com as mulheres. Vitor Ferreira era um apaixonado pelas mulheres e colecionaria muitas em suas passagens pelas noites cariocas e em suas viagens a negócios. Passou a adotar o terno co
Capítulo 26O capitão da minha nauA despedida de Simone foi muito ruim para mim. Via nela uma mulher que me apoiava em todos os sentidos. Eu a levei ao aeroporto e nos abraçamos muito forte até que o seu vôo fosse chamado.- Se cuida, motoqueiro.- Eu vou.- Qualquer coisa me chama.Novamente vi aqueles olhos bonitos avermelhados e inchados. Ela realmente me amava e eu levava isso muito em consideração mesmo sendo avesso a relacionamentos. Vi Simone entrar naquele portão de embarque com o coração apertado. Ela foi a única coisa boa que me aconteceu naquela trip maldita.Era hora de encarar o escritório novamente. Fui para o trabalho direto do aeroporto e tive que lidar com aquele péssimo dia do meu jeito. Ia até a sacada da minha sala fumar e ficar pensando na vida até Laís me tirar do transe reflexivo.
Capítulo 25Os White Wolves de voltaTive uma vontade enorme de ver o clube de novo e levar Simone para conhecê-lo. Ao sairmos da empresa, eu precisava arejar a mente e esquecer um pouco daqueles problemas. Ao chegar, Bill estava lá com Fred e eles arrumavam caixas de bebidas, reformando o local todo para abrigar um bar. Os White Wolves a princípio seriam somente um local de encontro, uma vez que todos os membros eram homens bem posicionados na vida e que nao tinham muito tempo para montar um bar. Aparentemente aquele pensamento tinha mudado desde que chegamos. Eu estivera as voltas com meu pai no hospital e com a posse na presidência da empresa e não pude visitar os White Wolves desde que retornamos. O abraço foi caloroso ao nos vermos de novo. Os dois olharam Simone e foram abraçá-la também.- Olha a moça que está perdida aqui no Rio! - Bill beijou a bochecha dela.<
Capítulo 24O corruptoO dia seguinte chegou.Todo aquele processo matinal de banho, perfume, prender os cabelos, arrumar gravata e tomar um café fora cumprido. Cheguei a empresa na hora marcada, oito da manhã e minha secretária pessoal já me aguardava empunhando sua prancheta e agendas. Todos cumprimentaram de suas mesas naquela imensa sala cinza cheia de mesas ligadas a seus computadores e telefones. Laís me seguiu e a vi pelo canto do olho dando uma corridinha para me acompanhar.- Bom dia senhor.Ao chegar a sala vazia, a primeira providência que tomei foi retirar o paletó. Notei que Laís observava a camisa branca social por baixo. Era um pouco difícil que tudo ficasse em ordem já que eu era um cara definido, o que fazia com que aquele tipo de tecido repuxasse nos braços e ombros, me irritando profundamente.- Isso é tão irritante, ter
Capítulo 23Um lobo adormecidoDona Vânia entrou no quarto abrindo as cortinas, fazendo barulho. Pisquei várias vezes os olhos. Estava ainda com a roupa do corpo com a qual cheguei de viagem. Estava morto de cansaço. Tinha dirigido por horas e quando chegara, meu pai teve que correr ao hospital e passar o dia.- Vitor, o alfaiate chegou meu filho.- Que horas são? Não posso ir de calça jeans e um paletó do pai?Sentei na cama coçando o saco por fora da calça enquanto bocejava. Ainda nem tinha conseguido ver meus irmãos.- Não meu amor, não pode, seu pai exigia que todos estivessem impecáveis e você será notado por muitos. Pode prender o cabelo?- Vou tomar um banho, mãe e já desço para ver o alfaiate, juro não vou deixar o homem esperando.- Seja rápido e quando formos a empresa, por f
Capítulo 22O lobo solitárioSimone chorou muito e aquilo partiu meu coração. Ele ficaria ali com ela durante muitos meses da minha vida. Nós nos abraçamos e ficamos um tempo grudados enquanto os rapazes preparavam suas motos.- Me liga? - Ela pediu.- Com certeza, meu bem. Vai me ver.- Pode deixar.Eu odiava despedidas, me deixavam melancólico. Se eu tivesse partido sem vê-la seria menos dolorido para mim porém muito triste para ela. Subi na moto e enfiei os fones de ouvido do celular nas orelhas. Tocava Thrills in the night do Kiss e seria assim que eu queria partir. Ouvindo rock.- Lobo, se você correr, na primeira parada eu vou te meter um soco nessa tua cara - Avisou Bill.- Ele não é um amor? - Perguntei a Simone enquanto ajeitava o capacete.- Um doce - Respondeu ela com os olhos vermelhos. - Te amo...- Te ador
Último capítulo