O banheiro estava quente e silencioso, o vapor do banho ainda pairava no ar enquanto me encarava no espelho. O dia havia sido como um furacão, arrancando tudo do lugar e me forçando a aceitar a presença de Alejandro como uma sombra que eu não poderia evitar.Enrolo a toalha no cabelo, visto um robe de seda leve que estava entre as coisas que haviam sido cuidadosamente colocadas no banheiro e respiro fundo, ensaiando mentalmente o que viria em seguida. Mas, ao abrir a porta e ver o quarto vazio, senti um alívio inesperado.Javier não estava lá. A cama do lado dele parecia intacta, mas o lugar estava claramente vazio, e uma calma se instalou em mim.Talvez ele tivesse decidido dormir em outro quarto, como uma trégua não declarada. Com isso em mente, deitei-me na cama, e pela primeira vez desde que o dia começara, deixei-me afundar no colchão macio e fechei os olhos, tentando silenciar os pensamentos que borbulhavam na minha mente.Acordo com a luz da manhã filtrando-se pelas cortinas pe
Javier A manhã foi repleta de reuniões no meu escritório particular, uma sala elegante e discreta, em um prédio que usávamos apenas para negociações sigilosas e mais delicadas.Do lado de fora, minha equipe de segurança mantinha uma vigilância discreta, enquanto no interior, meu conselheiro de negócios, Marco, atualizava-me sobre o andamento de um carregamento importante. A rotina de controle e execução que fazia parte dos meus dias me dava uma sensação de segurança — e de poder.Juan Carlos havia feito questão de manter um olho atento no que se passava em nossos territórios conjuntos, e embora ele não estivesse lá, sua presença era perceptível através das informações que constantemente recebia. Enquanto ouvia Marco descrever as operações em andamento, minha mente vagava momentaneamente para Camila. Tinha certeza de que a noite anterior fora desconfortável para ela, mas essa era parte da adaptação que ambos teríamos que enfrentar, uma fase inevitável e queria logo passar para a fa
CamilaA manhã estava tranquila e rotineira na lanchonete, apesar do movimento aumentar em determinados momentos, mas nada que não dessemos conta.Ajudava a cozinheira com os pedidos da manhã, distraída em meio ao vapor das panelas e o aroma de café e panquecas, que tornavam o ambiente acolhedor.Estava enfileirando pratos no balcão, organizando o próximo pedido, quando a porta da cozinha se abriu, e uma das garçonetes, Carla, entrou com uma expressão meio divertida no rosto.— Camila, um cliente pediu pra ser atendido só por você — ela anunciou, me estendendo um bilhete com o pedido.Franzi a testa, intrigada. Não era comum que alguém fizesse questão de um atendimento específico. Peguei o pedido da mão dela e olhei de relance para a mesa que ela apontou. Vi um homem com o rosto coberto pelo cardápio e caminhei na direção dele, preparando um sorriso educado para o desconhecido.Ao chegar à mesa, parei, esperando que o cliente baixasse o cardápio. E então ele o fez — e eu engoli em sec
JavierAssim que chegamos em casa, a atmosfera estava tensa. O ambiente luxuoso e cuidadosamente decorado não fazia nada para aliviar a pressão que pairava entre nós.O aroma familiar do café e do couro polido da mobília preenchia o ar enquanto seguíamos em silêncio até o corredor que levava aos nossos quartos. Camila caminhava à frente, os passos firmes e decididos, mas eu podia sentir sua ansiedade a cada movimento.— Camila, espera um momento — chamei, mantendo o tom calmo enquanto a seguia até o quarto.Ela parou e se virou para mim, cruzando os braços como se estivesse se protegendo de um ataque. O olhar duelista or nos olhos dela me fez entender que ela estava pronta para qualquer tipo de batalha.— O que foi agora? — perguntou, com um tom sarcástico que deixava claro que estava longe de estar satisfeita.— Precisamos conversar sobre o que falri no carro — disse, tentando manter um tom neutro, mas as palavras pareciam pesadas na língua.— Ah, claro. Vamos falar sobre o que realm
Camila As batidas na porta me tiraram dos pensamentos que rodopiavam na minha cabeça como uma tempestade. Quando abri, me deparei com Carmen, a governanta, me olhando com um ar de impaciência.— Olá, senhora Herrera — disse, sem muito entusiasmo, como se tivesse certeza de que eu não estaria empolgada para o que vinha a seguir. — Está na hora de aprender como as coisas funcionam por aqui. Afinal, você é a senhora desta casa, e há certas responsabilidades que cabem apenas a você.E lá vem mais responsabilidade...A última coisa que eu esperava era uma aula de administração doméstica, mas Carmen não me deu tempo para discutir. Ela virou-se, acenando para que eu a seguisse, e eu, com um suspiro resignado, fui atrás dela.Descemos as escadas, passando pelo longo corredor que levava à cozinha, e durante o trajeto ela começou uma explicação minuciosa sobre as rotinas da casa. Falava dos horários de limpeza, dos funcionários que ficavam à disposição o tempo todo e até dos detalhes mais bana
CamilleA manhã seguinte parecia carregada de uma tensão quase tangível.Os olhares dos funcionários sobre mim eram julgadores, repletos de uma desaprovação que eles nem tentavam esconder. Era óbvio que ninguém havia gostado do que eu fizera na noite anterior.Suzu não me olhou diretamente, mas eu sabia que ela também me culpava pelo que tinha acontecido com Javier. E Carmen, sempre rígida e organizada, parecia me observar como quem avalia uma criança que cometeu uma travessura imperdoável.Fui deixada para tomar o café da manhã sozinha. O salão de jantar estava silencioso, o que me deu tempo para refletir sobre os olhares e o que eles significavam. Eu sabia que havia quebrado a regra frágil do código daquela casa: inimigos ou não, Javier tinha poder, e sua segurança, aparentemente, também era responsabilidade de todos ali.Depois que terminei, Carmen se aproximou, como se nada houvesse acontecido, e calmamente sugeriu que discutíssemos as refeições do dia. Eu sabia que era um aviso v
CamilleAs palavras de Roberta não saíam da minha cabeça. A menção ao que Juan Carlos poderia fazer caso eu não cumprisse seu pedido me mantinha em um estado de alerta incômodo.Minha cabeça girava enquanto eu tentava organizar uma estratégia, até que, em um impulso, me aproximei do escritório de Javier. O coração acelerado, minha mão parou antes de tocar a porta. A realidade do que eu estava prestes a fazer me atingiu, e a ideia de ser pega por alguém, ou, pior, que Javier descobrisse, fez com que eu me afastasse rapidamente.Eu precisava encontrar outra forma. A esposa que ele esperava que eu fosse... As palavras de Roberta eram uma provocação e um guia. Uma maneira de baixar a guarda de Javier, ao menos o suficiente para que eu pudesse me aproximar dele sem levantar suspeitas. Então, tive uma ideia que parecia uma tentativa de paz: talvez se eu preparasse o almoço para ele, poderia usar o gesto como uma bandeira branca.Assim que entrei na cozinha, o movimento lá dentro pareceu con
JavierEnquanto mastigava o spaguete, sentia o sabor inesperadamente bom da comida, e uma pontada de incredulidade me acompanhava. Camille realmente havia preparado o almoço? Claro, o prato era básico, mas ainda assim… Um sorriso irônico se formou no meu rosto enquanto observava cada expressão dela.Nunca pensei que a veria tentando qualquer coisa que soasse como "aproximação". Logo ela, que parecia se esforçar tanto para me manter à distância, havia se encarregado de um dos detalhes que, até então, provavelmente consideraria abaixo dela, logo depois de quase ter me matado. Alguma coisa nesse gesto não fazia sentido para mim — não se encaixava com a garota que preferiu fazer um jantar alérgico só para me irritar.Ela mantinha o olhar fixo no prato, como se estivesse deliberadamente evitando o meu, mas notei que os ombros estavam tensos.Decidi não dizer nada por enquanto, mas minha mente trabalhava a todo vapor. Fosse lá o que fosse que ela estava tentando, ou quem estava por trás da