O dia do casamento

— Erica, está na hora. Murilo já está esperando na sala de jantar. Não o faça esperar.

Engoli em seco e desci as escadas, cada degrau parecia mais pesado que o anterior. Ao entrar na sala de jantar, meus olhos encontraram um homem alto e imponente, de terno escuro, olhar sério e uma aura que transmitia poder. Era Murilo Medeiros Lombardi.

— Erica, que bom que você decidiu se juntar a nós. - Stenio disse com um sorriso falso no rosto, enquanto Natália apenas me lançava um olhar superior.

— Boa noite, senhor Lombardi. - Murmurei, tentando esconder minha angústia.

Ele apenas assentiu com a cabeça, sem expressão.

O jantar foi um tormento, cada garfada parecia se transformar em chumbo descendo pela minha garganta. Stenio e Natália conversavam animadamente, enquanto Murilo observava tudo em silêncio. Eu estava ali apenas como parte de um acordo, uma mercadoria trocada para resolver dívidas.

Após o jantar, fui conduzida até o escritório de Stenio. Ele me olhou com desdém e sussurrou:

— Não estrague tudo, Erica. Este é um negócio importante para nós.

Murilo estava de pé, próximo à janela, observando a cidade. Ele se virou quando entrei.

— Vamos direto ao ponto, Srta. Erica. Este casamento é um acordo de negócios. Não espero amor, apenas cooperação. - Sua voz era firme e direta.

Eu assenti, incapaz de pronunciar uma palavra.

— Você terá uma vida confortável, desde que cumpra suas obrigações. Se houver desobediência, as consequências serão severas. - Murilo continuou, e eu senti um calafrio percorrer minha espinha.

Dois dias se passaram e enquanto minha mãe preparava tudo sobre o casamento, me levando de um lugar ao outro apenas para fingir, já que era ela quem decidia sobre tudo, eu me via cada vez mais nervosa.

Não vou ser ingênua e pensar que nunca seria obrigada a me casar, talvez até estaria saindo no lucro já que querendo ou não, Murilo Lombardi era um homem muito bonito, alto e com um corpo dos deuses. Não quero imaginar estar sendo obrigada a me casar com um homem velho e nojento. 

Mas a personalidade fria de Murilo não me deixou confortável e sei que irei sofrer com esse casamento, mas talvez, menos do que eu sofro aqui… 

O quarto estava mergulhado em um silêncio pesado, apenas interrompido pelo som suave dos tecidos sendo manipulados. Eu sentia o peso da iminência do casamento com Murilo sobre meus ombros, enquanto minha mãe, Helena, observava cada movimento com um olhar perspicaz.

Estava vestida em um deslumbrante vestido de noiva, cuja cauda se espalhava pelo chão como um mar de seda. Meus cabelos estavam elegantemente arranjados, e meu rosto refletia uma mistura de apreensão e resignação.

Helena, encostada na porta do quarto, soltou um suspiro audível antes de finalmente quebrar o silêncio.

— Erica, ouça bem, esse é um momento crucial para nossa família. Trate de se comportar durante seu matrimônio, sem causar nenhum dano a Murilo, entendeu bem? 

Engoli em seco, sentindo o nó apertado em minha garganta. Assenti nervosamente, sem conseguir encontrar palavras.

— Lembre-se de tudo o que está em jogo, Erica. Nossa reputação, nossa posição social, sua própria estabilidade... - Helena pausou, fixando os olhos frios em mim. - E, é claro, o pequeno segredo sujo que escondemos tão bem.

Os meus olhos se arregalaram com medo. Se eles não soubessem desse maldito segredo, com certeza minha vida estaria longe de suas mãos.

— Mãe, por favor... - Comecei, mas Helena ergueu a mão para silenciar-me.

— Sem desculpas, sem erros. Murilo é um homem influente, e esta aliança é crucial para nós. Se você ousar estragar isso, minha querida, eu não hesitarei em revelar seu pequeno escândalo ao mundo. Entendeu?

O olhar de Helena era impiedoso, suas palavras eram como correntes que apertavam cada vez mais.

— Sim, mãe. Eu farei o que for necessário. - Murmurei, a voz trêmula.

Helena esboçou um sorriso satisfeito e, sem dizer mais nada, saiu do quarto, deixando-me sozinha com meus pensamentos angustiantes. Enquanto se olhava no espelho, sentia as lágrimas ameaçando cair, mas eu as engoli, engolindo também a amargura que começava a se espalhar dentro de mim.

Antes de chegar até a entrada principal, onde Stenio estava me esperando, uma mão agarrou o meu braço e me puxou para um canto. Assustada, olhei na direção da pessoa até ver que era o meu meio-irmão.. O alívio momentâneo inundou minha alma ao vê-lo ali.

— Theo, eu não posso fazer isso. Eu não posso me casar com ele. -sussurrei, mal conseguindo conter as lágrimas.

— Erica, escute, eu sei o quão terrível isso é para você. Mas precisamos manter a calma por enquanto. - Theo falou em tom tranquilizador.

— Ele é insuportável, Theo. Não suporto a ideia de passar o resto da minha vida ao lado desse homem. -murmurei, as palavras saindo com urgência.

Theo segurou minhas mãos, transmitindo uma mistura de compaixão e determinação.

— Eu prometo, Erica, eu vou tirar você dessa situação. Mas você precisa cooperar por enquanto, ok? Se causar problemas agora, pode complicar tudo. Confie em mim, eu estou trabalhando em um plano para te livrar disso.

Olhei nos olhos de Theo, encontrando um brilho de esperança que eu mal conseguia sustentar por conta própria.

— Como vou suportar isso, Theo? Cada momento ao lado dele é uma tortura.

Theo suspirou e acariciou a minha bochecha.

— Você é forte, irmã. Apenas mantenha a cabeça baixa por enquanto. Depois do casamento, eu prometo que encontraremos uma saída.

Assenti, aceitando as palavras de consolo de seu irmão. Era um acordo temporário, uma trégua necessária em meio ao caos que minha vida havia se tornado.

Enquanto se dirigiam de volta para a cerimônia, Theo sussurrou em seu ouvido:

—  Confie em mim, Erica. Vamos superar isso juntos.

Acenei em confirmação e segui adiante, até que Stenio me percebeu e olhou-me de cima a baixo. Esses tipos de olhares vindo dele sempre me causaram um arrepio ruim. 

— Está pronta? - Novamente, sem responder uma única palavra, acenei e Stenio estendeu o seu braço. 

Uma música nupcial começou a tocar e as portas duplas de madeira se abriram. Começamos a caminhar lentamente e enquanto Stenio acenava para várias pessoas, meu foco estava apenas no homem me esperando no altar. 

Murilo Lombardi, suas feições não demonstraram alegria por essa cerimônia, apenas dever. Seus olhos se encontraram com os meus por um breve momento que foi possível sentir o desprezo vindo deles. 

Talvez, ele devesse estar sentindo que estaria traindo sua esposa desaparecida, ou eu apenas não gostasse de mim. 

Chegamos ao altar e Stenio me entregou a Murilo, que não fez cerimônia e apenas se virou para o padre. Virei-me também e comecei a prestar atenção no que o homem dizia, enquanto dentro de mim, tudo girava como um furacão, um tornado de tormenta chacoalhando meus órgãos e mente. 

— Erica Bastos Mendonça, você aceita se casar com Murilo Medeiros Lombardi, por livre e espontânea vontade? 

Minhas mãos estavam suando e sem olhar para o homem ao meu lado, um pequeno “sim” saiu dos meus lábios. O Padre se virou para Murilo e disse as mesmas palavras, recebendo uma resposta parecida com a minha. 

Diante destas testemunhas, e pela autoridade investida em mim como padre, declaro que Murilo Medeiros Lombardi e Erica Bastos Mendonça são agora marido e mulher, segundo a lei de Deus e as leis do estado. O que Deus uniu, o homem não deve separar. Assim, eu os apresento como marido e mulher. Pode o Senhor abençoar esta união e guiar-vos em todos os dias de vossas vidas. Os noivos podem se beijar.

Meu estômago afundou e virei para Murilo, que já estava de frente para mim. Ele se inclinou, alcançou a minha nuca e trouxe seus lábios para os meus. Foi um beijo rápido, sem qualquer sentimento e então ele se afastou. 

Nos viramos para todos os convidados, onde eu conhecia apenas aqueles que moravam comigo e Adriely. Minha amiga sorriu fracamente, mas foi o suficiente para aquecer um pouco o meu coração. 

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