Conhecendo a casa nova

09-07-2022

Após a festa suntuosa, Murilo e eu fomos conduzidos até o jatinho particular que nos levaria a minha nova vida. O zumbido do motor anunciou o início da jornada, enquanto eu observava as luzes da cidade desaparecendo sob as asas da aeronave.

Chegando ao Rio de Janeiro, o jatinho particular pousou em um aeroporto exclusivo. Descemos e, em um carro luxuoso, seguimos para a mansão de Murilo,no Jardins Dourados, localizada em um dos bairros mais nobres da cidade, . A casa majestosa se erguia imponente, rodeada por jardins exuberantes.

Ao entrar na mansão, Murilo agiu como se eu não estivesse ali, seguindo diretamente para o quarto. A casa parecia um labirinto de corredores impecáveis e salas grandiosas. Sem ter para onde ir,  fui abordada por uma empregada elegante, que se apresentou como Maria.

— Senhora Erica, seja bem-vinda à residência dos Lombardi. Posso guiá-la até o seu quarto e apresentar-lhe a casa?

Assenti, agradecendo pelo gesto e me sentindo um pouco melhor. Eu não estaria sozinha nessa casa, pelo menos por um período de tempo. Maria me conduziu por corredores suntuosos até um quarto espaçoso, decorado com elegância.

— Este será o seu aposento, senhora Erica. Se precisar de algo, estarei à disposição. O senhor Murilo pediu que eu ajudasse a se instalar.

Maria explicou o funcionamento dos diferentes cômodos e detalhes sobre a rotina da casa. A agradeci, observando-a sair silenciosamente. Ao me ver sozinha, caminhei pelo quarto, explorando cada detalhe. A cama king-size, as cortinas luxuosas e o closet repleto de roupas de grife.

Sentando-me na cama macia, suspirei profundamente. O silêncio da mansão era ensurdecedor, e eu me vi perdida em pensamentos sobre o que o futuro reservava. As paredes opulentas pareciam fechar-se ao meu redor, e a magnitude da mudança em minha vida começou a se tornar palpável.

Enquanto olhava pela janela para a cidade que se estendia além dos muros da mansão, ponderei sobre a incerteza de minha nova realidade. O que seria de minha vida agora, aprisionada em uma casa de luxo e em um casamento sem amor? 

Após o jantar, onde eu tive uma refeição desconfortável e silenciosa ao lado de Murilo, subi para o meu novo quarto e mandei uma mensagem para Adriely.

Erica: Pelo amor de Deus, amiga, não sei como irei sobreviver a isso. Nosso primeiro jantar foi torturante!

Adriely não respondeu e então decidi verificar minhas redes sociais e outras coisas na internet. Não sei quanto tempo passei fazendo isso, até que decidi tomar um banho para poder dormir. Ao voltar para o quarto, peguei meu creme de pele e comecei a aplicar.

Estava sentada à beira da cama, refletindo sobre o turbilhão de emoções que me envolviam, quando a porta se abriu abruptamente.

Ergui os olhos para ver Murilo adentrando, sua expressão imperturbável como sempre. Ele fechou a porta com um gesto decidido e caminhou em direção à cama, onde eu estava sentada, mantendo uma distância segura.

— Erica, precisamos esclarecer algumas coisas. - Murilo começou, sua voz fria e controlada.

Engoli em seco, observando-o com cautela.

— Este casamento, como já deve ter percebido, não é apenas um acordo social. - Murilo continuou, mantendo os olhos fixos nos meus.

A confusão nos meus olhos se aprofundou, e eu aguardei uma explicação que, por mais que temesse, sabia que estava prestes a ouvir.

— O principal objetivo deste casamento é garantir a continuidade da linhagem dos Lombardi. - Murilo disse, sem rodeios.

Franzi a testa, sem entender completamente.

— Eu espero que entenda que preciso de um herdeiro, um filho que carrega o nome e a herança da família. E é exatamente isso que espero de você. - Ele falou de maneira direta, como se estivesse discutindo um plano de negócios.

Pisquei, processando lentamente as palavras. Um arrepio percorreu minha espinha enquanto a verdade cruel se revelava diante de mim.

— Você está aqui para conceber e criar meu herdeiro. Isso é o que se espera de você neste casamento. - Murilo concluiu, sua voz mantendo a mesma frieza.

Senti como se o  chão se abrisse sob seus pés. A ideia de ser reduzida a um papel tão específico e impessoal em minha própria vida me deixou sem palavras. 

A verdade nua e crua pairava no ar, e eu percebi que minha vida agora estava ligada a um propósito que eu jamais imaginaria. Enquanto sentia o olhar impaciente de Murilo em mim, meu corpo foi se agitando com a ideia de agora, ser apenas um mero objeto reprodutor. 

ー Eu… eu não posso. - Disse, sentindo-me completamente nervosa. 

O olhar frio de Murilo caiu sobre mim, a impaciência no seu rosto era evidente. 

ー Você pode e irá fazer isso. Já chequei todos os exames que me enviaram ao seu respeito e ao contrário de Natália, o seu sangue é o mais compatível com o meu para gerarmos um filho saudável, além do mais, você está com sua saúde em dias. 

ーEu não sou uma máquina reprodutora! Ninguém me informou sobre esse absurdo. - Sentia as lágrimas se formando e tentei reprimi-las. 

ー Bem, eu informei ao seu padrasto e sei que sua mãe estava ciente. Se eles não te contaram, isso não é um problema meu. - Disse se afastando da cama e parar na porta. ー Estarei viajando nesses dias para uma conferência em Londres e quando chegar, espero que esteja preparada pois não darei mais tempo antes de conceber o nosso casamento. Maria irá te entregar os remédios que aumentam a fertilidade, beba-os como for instruída. 

Murilo saiu do quarto fechando a porta atrás de si e eu a encarei, sentindo o horror me tomar. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, deixando minha visão embaçada. 

Theo sabia disso? Stenio e minha mãe eu já sabia que não gostavam de mim e não se importariam com isso, mas e meu irmão?

Um sentimento ruim se apoderou do meu coração e tentei não nutri-lo. Antes de tudo eu teria que ouvir o que Theo tinha para falar a respeito disso. 

Despertei sentindo uma leve dor de cabeça e ao abrir os olhos, a solidão do quarto me atingiu, assim como toda a revelação na noite anterior. Depois de um banho rápido, optei por um vestido de linho branco, leve e fluido, que contrastava com a gravidade que pairava sobre mim. 

Ao descer as escadas, ouvia os meus passos ecoavam pelos corredores silenciosos. Chegando à sala de jantar, me deparei com Maria, a empregada, meticulosamente arrumando a mesa apenas para uma pessoa.

— Bom dia, senhora Erica. O senhor Murilo partiu para uma viagem de negócios. Seu café está pronto. -Maria disse, mantendo um semblante profissional.

Assenti, embora a solidão do café da manhã me deixasse com um gosto amargo na boca. Sentei-me à mesa, observando a refeição cuidadosamente disposta, mas que agora parecia excessiva apenas para uma pessoa.

Ao terminar o café da manhã praticamente sozinha, Maria se aproximou, carregando um copo com algo verde dentro.

— Senhora Erica, o senhor Murilo pediu para que eu lhe entregasse isso todas as manhãs. É um remédio natural, uma mistura especial para manter sua saúde. - Maria explicou, estendendo o copo na minha direção.

Peguei o copo, examinando a mistura estranha com desconfiança. Era uma cor verde intensa, e o cheiro era uma mistura de ervas e algo que eu não conseguia identificar.

— Ele disse que é essencial para o seu bem-estar. Recomendou que o tomasse todas as manhãs. - Maria continuou, mantendo-se impassível.

Concordei, sentindo-me mais uma vez como uma peça em um jogo no qual eu não tinha controle. Tomei o remédio com relutância, sentindo o ruim descer pela minha garganta.

Após terminar, me levantei e voltei para o quarto, a fim de escovar os dentes e tentar tirar esse sabor ruim da minha boca. Olhei-me no espelho, vendo como eu parecia com o meu pai e uma saudade genuína me tomou.  Com cabelos dourados que capturam a luz como raios de sol, meus olhos acastanhados herdados de dele revelam uma serenidade que contrasta com as tormentas interiores que carrego. Meu rosto delicado, esculpido com traços femininos, reflete uma beleza atemporal, com lábios que podem sorrir com graciosidade ou exprimir as tristezas do meu coração. 

Tudo em mim era do meu pai, apenas com o toque feminino que tinha que ter. Sempre agradeci internamente por me parecer com ele. As lembranças, de quando ele me erguia para tocar o céu ou como me contava sobre suas viagens, eram vívidas em minha mente e um bem precioso. Se pudesse, colocaria todas essas cenas em um pen-drive para nunca esquecê-las. 

Meu celular notificou com uma mensagem de Adriely, com minha amiga informando como estava difícil achar um substituto para a minha antiga posição como secretária. Passei metade da tarde rindo das coisas que Adriely falava e pude pelo menos um pouco me distrair. Não contei a minha amiga sobre a questão do herdeiro, preferia falar isso pessoalmente. 

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