Dores no corpo e coração

17-07-2022

Acordei com o meu corpo dolorido e sentindo um peso profundo em meu coração. Percebendo que não estava no meu quarto, levantei-me, apenas para notar que eu estava sozinha na cama. 

Suspirei, forçando o meu corpo a se levantar. Peguei minhas roupas no chão do quarto e as vesti rapidamente, indo correndo para o meu. Peguei meu celular, que estava descarregado e o coloquei para carregar antes de ir tomar banho. 

Limpei meu corpo enquanto sentia as lágrimas rolando pelo meu rosto. Não estava me sentindo assim porque Murilo foi um monstro comigo, nem foi isso, ele foi um pouco paciente e não tão brutal como achei que faria. Mas… eu não pensei que minha primeira vez fosse acontecer assim e por isso o peso caia sobre mim, também teve a questão de que mesmo eu sentindo uma sensação boa, ainda não era o suficiente para sentir prazer. 

Se for assim até eu engravidar… 

一 Oh, meu Deus! Será que eu já vou engravidar dessa noite? 

Me olhei no espelho sentindo meus olhos lacrimejar e suspirei, limpando o rosto, tentando encontrar uma coragem que não existia.

Finalizei meu banho e voltei para o quarto, ligando o aparelho e me assustando ao saber que já passava das 09hrs da manhã. Escolhi um short de linho de um tom neutro e uma blusa de alça fina verde claro. Decidi ficar descalço, pois sempre adorei sentir os pés no chão. 

Desci as escadas, ouvindo o barulho vindo da cozinha e ao chegar lá, encontrei Maria de costas, preparando o almoço.

一 Bom dia, Maria. - Disse um pouco tímida. 一Acabei perdendo a hora hoje. 

Ela se virou para mim, com um sorriso no rosto, como se soubesse o motivo de eu ter dormido até tarde. 

一Bom dia, senhora. O Sr. Lombardi pediu para que eu não te acordasse e que fizesse um café da manhã reforçado. Vou preparar para a senhora agora na sala de jantar. 

Corei com suas palavras. Murilo simplesmente falou assim, sem um pingo de vergonha na cara?

一Não precisa… posso preparar um sanduíche e comer aqui mesmo no balcão, tudo bem?

一 A senhora tem certeza? - Ela parecia desconfortável, mas teria que se acostumar comigo fazendo alguma coisa. 

一Sim. 

Maria me observou pegar os ingredientes e preparar um sanduíche simples e o suco na geladeira antes de eu me sentar na banqueta em frente ao balcão. Comecei a comer, enquanto a observava pegar algumas folhas e uma erva e bater no liquidificador. Eu sabia que aquilo era o remédio nojento. 

Assim que finalizei, Maria trouxe a bebida e virei tudo de vez, fazendo uma careta em seguida. 

一Obrigada. - Ela sorriu e eu levei a louça para a pia. 一 Seus netos gostaram dos doces?

一 Sim, obrigada por eles. Os meninos fizeram a festa, mas minha filha não deixou eles comerem tudo ontem a noite. 

一 Ela fez o certo. Os doces são de uma confeitaria no bairro céu azul, o nome dela é Doce encanto. A senhora já ouviu falar?

一 Não, mas minha irmã mora nesse bairro. Vou falar com ela, porque com certeza irei querer provar mais daquelas delícias. 

一 Eu também. Bem, não vou atrapalhar a senhora. Pode voltar ao que estava fazendo. 

Saí da cozinha e fui até a varanda, observando o jardim bonito. Meu celular notificou com uma mensagem de Adriely e o peguei para ler. 

Adriely: E então, como foi o retorno do seu marido?

Erica: Bem, como ele disse que seria. :(

Adriely: Ele abusou de você? Forçou alguma coisa???

Erica: Bem… eu sabia que tinha que fazer e queria acabar logo com isso. Ele não foi bruto e não me machucou intencionalmente, eu só estou dolorida por causa da quantidade de vez que ele me buscou durante a noite. 

Adriely: Eu nem sei o que dizer, Rica.  É uma situação tão complicada… tudo por causa do Stenio e sua mãe. 

Erica: Olha, tirando o que aconteceu na noite passada e eu sei que vai se repetir, até que aqui não é ruim. Eu posso sair quando quero, tenho até um motorista. Por mais que eu me sinta usada e um objeto para apenas procriar, a situação é melhor que na casa de Stenio. 

As lembranças dos dias que passei trancada no meu quarto, sem celular ou computador, com fome por mais de três dias sem tocar nem água na boca. Ou as vezes que ele me batia ao ponto de me fazer sangrar. 

Ter relação com Murilo, querendo ou não, é o mínimo de tudo o que passei nas mãos de Stênio, minha mãe e Natália. 

Adriely: Se ele te forçar, machucar por ser muito bruto ou te bater, me avisa que eu dou um jeito de acabar com a vida dele!

Eu sorri, relendo a mensagem de Adriely e apenas confirmando que iria fazer isso. Mas eu sabia que não podia, até porque, se fizesse, Stênio e minha mãe entregaria o meu segredo em suas mãos ou eles mesmo dariam jeito de ferrar com a minha vida. 

Como eu disse, a minha situação com Murilo não é tão terrível assim comparada ao que eu realmente poderia enfrentar se me rebelasse contra eles. 

Uma semana se passou, Murilo vinha me procurar quase todas as noites, falhando apenas na terça e sexta-feira quando ele chegou muito tarde do trabalho e eu já estava dormindo. Meu corpo começou a se acostumar enquanto o seu rosto ainda permanecia sem nenhum sentimento durante o ato. 

Hoje, chamei Carlos para ir comigo até o shopping, pois daqui dois dias era aniversário de Adriely e ela prometeu que viria para o Rio comemorar comigo. Eu queria perguntar a Murilo se Adriely poderia ficar na mansão comigo, mas não sabia como abordar esse assunto com ele, já que sempre vivia com a cara fechada. 

Enquanto percorria as lojas do shopping em busca do presente perfeito para Adriely, acabei esbarrando acidentalmente em uma mulher elegante. Antes que pudesse me desculpar, a desconhecida me olhou de cima a baixo, parando por um momento no meu rosto, como se tentasse recordar algo. Um olhar irônico foi lançado para Carlos, que estava atrás de mim segurando umas sacolas, antes que a mulher se afastasse sem dizer uma palavra. A acompanhei com olhar, intrigada, sem entender a natureza desse encontro súbito.

Sacudindo os pensamentos confusos, continuei minhas compras. Ao chegar à praça de alimentação, avistei Lucas, com dois amigos, aparentando a mesma idade que ele. Os rapazes me perceberam primeiro, olhando com certo interesse, o que me deixou desconfortável. Me aproximei de Lucas, buscando uma distração amigável.

— E aí, Lucas? Como vai? - Cumprimentei com um sorriso, tentando ignorar a estranheza do encontro anterior.

— Bem e você?

— Estou bem. E Lívia com Enzo, como estão? 

Ah, eles estão bem, você sabe como é. Enzo cresceu tanto desde a última vez que nos encontramos. Livia continua tocando a confeitaria, fazendo seus doces deliciosos. - Senti que seu sorriso era um pouco forçado, totalmente o contrário do sorriso de duas semanas atrás.

— Lucas, você parece preocupado. Alguma coisa aconteceu? - Indaguei com um olhar inquisitivo.

— Não é nada, Erica. Apenas algumas questões, você sabe como é. Mas e você, como está lidando com tudo por aqui? - Lucas tentou mudar o foco da conversa.

Eu tinha comentado com eles na confeitaria, que havia me mudado para o Rio naquela semana. 

— Está tudo tranquilo por enquanto. Ainda não saí para conhecer a cidade, mas uma amiga vem me visitar e vamos fazer isso juntas. 

— Isso é bom, se você quiser, converso com Lívia para acompanhá-las e mostrar os pontos mais interessantes. Nascemos e crescemos aqui.

— Sério? Eu iria adorar… Mas, não vai atrapalhar o trabalho dela?

— Que nada, posso ficar na confeitaria no seu lugar. Além do mais, também vai ser bom para a minha irmã se distrair um pouco. - Mais uma vez sua voz mudou e seu olhar desviou para o chão, um pouco perdido. 

— Certo. Você pega meu número com Lívia, ela o salvou depois que eu fiz o pedido na terça-feira e confirma comigo. Minha amiga vem na quinta-feira. 

— Tudo bem. 

— Eu vou indo, até mais. 

Lucas acenou brevemente e voltou a se sentar com seus amigos, que o provocou um pouco.  Segui com Carlos até o carro e fomos para a mansão. 

Já era noite quando vi Murilo ir até a área da piscina. Criando coragem,  decidi segui-lo, esperando encontrar uma brecha para discutir algo que me estivesse intrigando. Ao me aproximar, notei Murilo sentado em uma espreguiçadeira, absorto no celular.

Respirei  fundo e tomei um assento na espreguiçadeira ao lado da dele. Com um semblante hesitante,  comecei a falar:

— Murilo, eu estava pensando se Adriely poderia ficar aqui na mansão por três dias. É aniversário dela e ela vem para cá apenas para comemorar comigo. 

Murilo mal desviou os olhos do celular enquanto respondia com indiferença:

— Tanto faz. Faça o que quiser.

Aliviada pela aprovação, deixei transparecer um sorriso. No entanto, ele morreu abruptamente quando Murilo guardou o celular e se levantou, começando a tirar a roupa.

Meu rosto esquentou e sabendo que não tinha mais assunto para falar com ele, me levantei, pronta para sair dali. 

— Erica, fique. - Ele ordenou com frieza, fazendo-me congelar no lugar.

— Mas… eu…

— Eu estou mandando você ficar e tirar a roupa. Vamos entrar juntos. 

Meus olhos arregalaram-se enquanto o via tirar a última peça e entrar dentro da piscina com um mergulho. Fiquei encarando a água cristalina até ele surgir a margem e me encarar com imaciência. 

—  Por que ainda está assim?

— Alguém pode nos ver. - Disse, olhando para todos os lados. 

— Maria já foi embora e os seguranças não veem aqui quando estou. Agora, tire essa roupa e venha aqui, ou eu irei fazer isso. 

Eu sabia que não era uma simples ameaça. Murilo realmente faria algo do tipo. 

Com as bochechas pegando ainda mais fogo, comecei a tirar minha roupa lentamente, ficando de lingerie enquanto entrava na água. 

Murilo me observou tirá-la e veio na minha direção, passando o braço pela minha cintura e me puxando para o seu corpo. A água estava fria, mas parece que não era o suficiente para acalmar o seu amiguinho lá embaixo, que cutucava a minha perna. 

Seus dedos deslizaram pela minha barriga nua e finalmente chegaram ao meu ponto. Ele o acariciou e eu encostei a testa em seu peito, tentando me apoiar até o momento do ápice. Murilo então me virou de costas, fez-me inclinar contra a borda da piscina e o senti me preencher. 

Eu ainda estava com medo de que alguém nos visse, mas aos poucos, a vergonha foi sumindo enquanto uma sensação boa me consumia. 

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