Ainda no carro, vovô Tom dirigia apressado em direção à delegacia. Ben o olhava pensativo sobre sua mudança de humor e sobre o que ele havia dito.
— Vovô, o que quiz dizer com marcado? — Marcado meu filho, é quando um lobisomem te arranha ao tentar te pegar, isso faz você virar um lobisomem, pois o DNA dele fica cravado na pessoa. — Credo. — Benjamin diz arrepiado, só de pensar em uma possibilidade daquela. Tom sorri enquanto manobra o carro no estacionamento da delegacia. — Então quer dizer que o senhor acredita em mim? Acredita que eu vi um lobisomem? — Claro que sim, sua avó é muito cética, a vida a tornou assim, mas eu conheço a lenda, e tudo b**e, os fatos, as vítimas. Tom sai do carro e Ben o acompanha para dentro do prédio da delegacia. — Bom dia Emma, o xerife está? Preciso urgente falar com ele. — Ele está sim. Pode ir à sala dele senhor Smith. — Emma, a secretária do xerife, responde de forma simpática. — Ele está sozinho. Tom e o xerife Vicent eram amigos de infância e Emma estava acostumada a ver Tom por ali, pois muitas vezes ele ia passar um tempo com seu amigo e ajudá-lo em seus casos na delegacia. O sonho de Tom era ser policial, mas quando ia começar seu treinamento, ele sofreu um acidente de carro e precisou colocar pinos na perna, o que tornou impossível para ele aquela profissão. Ele puxou Benjamin com ele para a sala do xerife, que sorriu animado quando os viu entrar. — Ora, ora. Se não é meu amigo Tom, mas o que faz aqui em pleno domingo? — Precisamos falar com você. É sobre os ataques. O xerife ficou apreensivo ao ouvir aquilo, ele levantou de sua cadeira e fechou a porta, não queria que ninguém ouvisse a conversa. — Pois então diga. — Meu neto saiu ontem à noite e descobriu que animal está matando por aí. Vicent sentou, olhando-os surpreso e com total atenção. — E o que é meu amigo? O que você viu rapaz? — Um lobisomem. — Benjamin contou e viu o xerife rindo fazendo Ben ficar envergonhado. Benjamin se sentia constrangido e com raiva. Por que era tão difícil acreditarem em suas palavras? Ele se levantou, decidido a sair dali, não queria ficar em um lugar onde estavam rindo dele, mas vovô Tom o parou, o forçando a se sentar novamente. — Isso é sério Vicent, os fatos batem. Me empresta aquele calendário anual ali. — Tom aponta para o calendário na parede atrás do xerife. O xerife arranca o calendário da parede e entrega a seu grande amigo Tom, que o coloca sobre a mesa, pega uma caneca e começa a marcar no calendário as datas em que a lua estava cheia. — Olha isso, todas essas noites a lua estava cheia. Ele se virou olhando para o quadro de evidências parede. — As datas dos ataques batem com as datas em que a lua estava cheia. — Tom marca em cima de cada data, o nome da vítima, enquanto os outros dois observam seus gestos. — Olha as fotos Vicent, são dentes, isso já sabemos, só pode ser um lobisomem. Tudo b**e. Vicent se levantou e foi até o quadro, parando entre Benjamin e Tom, ambos os três ficaram ali, olhando para o quadro onde continha os fatos, datas, fotos e marcados de onde os corpos foram encontrados, a grande maioria eram próximas ao bosque, onde Benjamin viu a fera sumir na noite anterior. — Rapaz, me conte exatamente o que viu. O xerife sentou novamente em sua cadeira, agora ele parecia sério e preocupado, não tinha mais aquele dar de deboche em seu rosto. Benjamim olha para a mesa de escritório que estava uma bagunça de tanto papel entre eles e depois para o xerife, que exibia seu distintivo de estrela tão reluzente como ele nunca havia visto. — Eu estava voltando de Woodstok a pé e ouvi um barulho estranho, parecia um cachorro rosnado, quando me virei eu vi a fera correndo na minha direção e corri dela. Quando notei que ela havia sumido parei para recuperar o fôlego, mas ouvi o grunhido novamente e quando virei o lobisomem estava na minha frente. O xerife olhava atento as palavras de Benjamin, prestando atenção em cada detalhe, a fim de descobrir se Ben estava ou não falando a verdade. — Aí ele agarrou os meus braços e enfiou a cara perto da minha, mas eu o encarei nos olhos e senti... E do nada ele me largou e correu para o bosque. Benjamin ia contar que percebeu que o olhar do lobisomem era como o de alguém que suplicava ajuda e que aquilo o fazia sentir um arrepio, mas estranhamente, não era de medo, era diferente. Porém achou que isso faria os dois zombarem dele. — E como ele era? — Grande, mais alto uns três palmos que eu, pelos negros e brilhantes, os olhos bem vermelhos e um bafo terrível, as garras eram enormes e afiadas, mas ele apenas me agarrou com as patas, não usou as garras. O xerife respirou fundo e se levantou indo até a janela, cruzando os braços na frente do corpo, pensativo sobre o que acabara de ouvir. Pela forma que Benjamin havia contado, ele sabia que o rapaz não estava mentindo. Anos de profissão o fizeram ter experiência em saber quando mentiam para ele. E aquela história apesar de maluca, parecia fazer sentido. — Olha, por enquanto preciso que não contém isso para mais ninguém, eu acredito em você, mas se eu sair espalhando por aí que existe um lobisomem à solta... Ele respirou fundo balançando a cabeça negativamente. — Vão no mínimo me chamar de louco e me tirar do cargo. Então vou investigar isso em segredo. — Muito sábio Vicent, eu quero ajudar nesse caso. — Tom disse se levantando e parecendo animado, havia alguns meses que não aparecia algum caso para que ele ajudasse. — Certo, vou montar um quadro de evidências na minha casa, lá no porão, você tem a chave e pode ir quando quiser analisá-lo. Vicent então levou seu olhar para Benjamin. — E quanto a você garoto, bico calado. — Claro xerife, não se preocupe. — Benjamin respondeu assentindo positivamente. Após mais alguns minutos de conversa, Tom e Ben saíram da delegacia e voltaram para casa, encontrando a Sra. Grace muito irritada por terem largado suas comidas e saído daquele jeito. Eles esquentaram suas comidas e terminaram de almoçar ouvindo o tempo todo o sermão da velha em seus ouvidos. Mas eles estavam tão absortos em seus pensamentos sobre tudo que havia acontecido, que nem ao menos ouviam os resmungos de Grace.