Capítulo 1


 

CAPÍTULO I - O retorno do lobo.

Poesia uivante, terceiro ato.

Descontrole

Está ocorrendo dentro de mim uma mudança.

Triste (?) paz, e Caótica, natural, depois do amor puro, Sobrou-se o cálice de sangue e a garrafa de uísque. A maré está selvagem.

Uma mudança rebelde, poesia colérica e visceral. Será que perdi o dom de amar? Descontrole das palavras. A serenidade

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desapareceu, a frieza apareceu e ficou.

No meio da noite, o brilho veio e dissipou.

E se estagnou as raízes congelantes.

Não consigo mais conter essas portas fechadas. Os monstros escaparam e estão por aí todos, se aventuraram.

Os pedaços de sonhos que quebraram, as ideologias se partiram. Não tenho conseguido relatar a vida. Estou fora do tempo, conhecendo pessoas que jamais pensei conhecer. Fazendo coisas que jamais pensei que iria fazer. E é tudo maravilhoso e tem sido uma época puramente rock n roll e poesia.

Mas não consigo relatar, meu ser não consegue escrever. Estou com sede da água da vida e das palavras. Mágoa, o mar se secou. Água. Água... Abra os braços e sinta o vento vir. Tudo irá embora, e sua vida?

Descontrole. Soco no estomago, fúria, vinte e quatro horas de ressaca. Ideias loucas,

Vontades loucas, Vivas, cruas, sem tempo e espaço. Perdi o compasso astral.

A bússola do paraíso. O barco sem vento,

O pássaro sem voo, O lobo sem uivo.

O poeta sem amor. A máquina de escrever

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parou de respirar e de sentir. E eu também...

O espirito livre plana pela boemia.

Pelos bares, pessoas, conversas, acontecimentos diversos. O papel da alma continua vazio. Derramado entre a cerveja,

Onde está o fogo azul? A infinita chama azul que vivi no pássaro imortal do (a)mar.

Inflamará minhas duvidas, dor. E dissipará e preencherá... O coração quebrado esperando a tinta e as teclas. Resgate meus sentimentos,

Deuses da poesia. Pulsa! Ainda pulsa... Ainda vive... Ainda uiva... Aventura-se... Quer se desacorrentar, mas jamais será a mesma poesia e agora? Encarcerem-me novamente nessa trágica benção. Preciso sentir o que é fazer algo puro novamente, eternamente, preciso de minha luz á frente. Estou apunhalando-me para instigar o fluxo. O gosto disso tudo preciso reviver antes que vá tudo se perder, pois está tudo um descontrole.

Mergulhado na madrugada profunda da luz.

Na matéria negra da consciência livre surgiu o pássaro. O uivo como um trovão azul rachou as paredes das dimensões da alma. E na nebulosa criação profunda dentro de minha

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pessoa. No interior do caos interno na profundeza escura surge uma luz prateada.

Dourada radiação e assim se nasce um anjo e ele caminha sobre as letras. Palavras cósmicas, estrelas nascentes do amanhecer e ele alcançam sua plenitude bêbada espiritual.

O amor real é a maior energia universal. Existente no desconhecido brilho do universo além do que se conhece da existência, Seja ela filosófica metafísica ou atemporal.

Assim em cada célula do meu EU expandiu-se e perderam-se resquícios e fragmentos por aí, mundo afora, pelo ar e nas ondas do mar.

Consegue ver o que eu vejo em você? Não vamos esperar mais um momento perfeito; Um segundo eterno vamos controlar o tempo juntos, e deixar a luz florescer para sempre, O eterno brilho dourado do verão em nosso coração. E assim a vida se canta e tudo acontece quanto mais a gente cresce.

Somos diamantes pela rua suja mantendo nossa fé evolutiva. Loucas histórias e vitórias sonhadoras. Vagabundo anjo da liberdade, viventes luzes nos postes da cidade. Refletidas pela beleza da chuva que molha os momentos.

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Macacos

Aqui no quarto escuro de minhas memórias,

Embriagado de sono e nostalgia. Me pego pensando em um passado mágico, No lado mais vulnerável do meu, da minha alma. Agora se deita na cama ao lado do gato que ronrona e do frio que assopra lá fora, justamente naquelas tardes frias e juvenis e cinzentas e acolhedoras que embrulhávamo-nos em cobertores e ficávamos ali por horas entre livros e boas músicas. Eu era até certo tempo um jovem menino colorido, Me pego pensando nas minhas prioridades naquela época é brincar de imortalidades e eternidades, Rio da cara da minha face naquele instante passado ou será que choro?

Hoje enxergo as prioridades maduras opostas aquilo tudo. Amor-próprio, mulheres, fumaças de cigarro, bebidas, a sombra do passado que caça o menino inocente, a mente que se esvazia da mente que um dia foi assim... Imaginativa... Vivente, que sonhou, derramou.

Lágrimas de criança, Inocente do diamante, da esperança. Afundando meu coração,

Naquele passado distante, Escrito, pintado na parede dos meus olhos nesse instante...

Emocionadamente, Perdidamente,

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brilhantemente bonito e memorável,

Uma sinfonia simples, Um lembrete belo e inesquecível, Nada mais era necessária além dessa alegria, desse momento eminente, e o homem vem à tona novamente, esculpido na lava da vida, por quê? O menino não pode viver pra sempre solto nesse mundo de hoje, Como resgatar esse menino novamente? Apenas nesses instantes de felicidade e eternidade que ele pode ser livre como uma iluminada alma brilhante que dança, pula e joga pelo quarto e quando o dia começa a nascer ele pula para dentro de mim novamente e se tranca até que eu o liberte consequentemente da vida que o prende, nessa maliciosa luta e bela libertação que é essa jornada, de contrastes, prioridades, eternidades, episódios e emoções...

E eu sinto quando esse menino quer ser revivido novamente, para salvar o homem quebrado, rachado, o salvar em cada fotografia, em cada lembrança, em cada música e pessoa do passado que reencontra, ele chora de orgulho, emoção por ser quem é, eternamente dentro do homem, pronto para salvar o homem quando ele se ameaçar sucumbir pela loucura de sua mente perdidamente promíscua, lasciva e boemia, afundando-se no mar de amor e nostalgia e afogando-se na lembrança do que foi feito um

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dia, do que fora verdade e pura felicidade. Do que fato fora compartilhado com cada pessoa que amou e compartilhou da mesma tarde feliz, cada um com sua criança iluminada, nesse mundo frio e bagunçada.

Coração infinito.

Eu era um homem que se alimentava de uma força desconhecida. Nascida e desprovida de um crescimento sem explicação. Se um dia a ciência dos homens desvendar um coração.

Então a humanidade estará no caminho certo, mas será que isso é algo que pode ser levado em conta? Desvendar os mistérios da mente e sentimentos e sensações, nunca haverá respostas... Eu sou um homem sem esse tipo de amor. Não possuo passado fácil, não tenho uma mulher á qual me prender que gostaria do mesmo. Nunca soube o que é isso em longo prazo. Por isso que escrevo e imagino que você existe. Enquanto percorro essa estrada, violenta, caótica, solitária, puro rock n roll. A cerveja aberta refresca minha alma e olho para o céu e fico me perguntando, por quê? Onde estará você? A jornada é extensa, mas o que se pode esperar do amanhã? Principalmente quando os amores eternizados se vão... Tudo que me resta, tudo que sou um homem sem passado. De mil histórias e mil

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vidas em uma, distorcidas eternidades, Expandindo-me desejar tocar o infinito frio ou quente do cosmo, Uma estrela perdida na escuridão da alucinação, Fadado... Vivendo, existindo, desejando tudo, Eu, que sempre achei um absurdo, A vida sem um grande amor vivo por aí sem saber o que há de errado comigo, Com o mundo sabemos certo? Tornamo-nos ou deixamos serem tornados, todos... Um perdido coração, Um infinito em mil fins.

Luz morta do anoitecer frio.

Ao meu coração que sangra amor

Uiva esperança... E sonha deliberadamente sonhos que transcendem a lei mundana rasgando meu peito, dilacerando meus sentidos, fazendo minha alma alcançar a luz transcendental do amanhecer. Essa luz fatídica e morta mais que insisti em não desaparecer, Que transcende meu ser. Dessa realidade mundana para algum tipo de salvação, Libertação, perdão, explicação, razão... Ao meu coração que sangra. Amor. Uiva essa doce e inocente esperança de vida,

Sonhador que és perdido que és, Bombeando, bombeando, bombeando, Bombeai, sangrai, rasgai, dilacerei sangue, laço que laça e se arrebenta, Sim eu a perdoei, ambas, isso tudo

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não significou que as amo menos, Rasgando, rasgando, ele está agora... Meu peito em prantos e em chamas. Dilacerando meu espírito, para o renascimento. A poesia que corte e fere e cicatriza, Humaniza o sujo. Limpai o apaixonado destruído. Gritai, surtai...

Do pó ao cosmo, da morte dos sentidos para a realidade, essa que mente. E a minha mente tenta caminhar no jardim verde da paz com vagalumes... Estou desconstruído, desmontado... Debatendo-me nas correntes da minha cama que me assombra com aquela sombra, de lembranças memórias, daquele pulsante pensamento, Digno de pena, de lágrima, de fervor, tremor, constantemente, Ás vezes esteja a mercê de existir, de enfartar de tanto amar, O restante de mim agora é história, passado, que vaga, peregrina, perene no tempo daquele momento... Perdido choque, estática dor nesse segundo irrefutável de eternidade.

Retrospectiva poesia

  • possível fazer isso com total exatidão? Estou precisando me reinventar, achar palavras novas, Construções, momentos,

corações, movimentos frenéticos, Incansáveis ações de viver... Cansados com a gritante e

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rotineira carcaça congelante. Almas que lhe rondam. Sem o ouvir para então degustarem consigo de uma liberdade momentânea e infinidade, frenéticos incansáveis de emoção para fugir da vida mundana urbana. E agora? Sei que não será no passado que esse fogo marcará minha pele , essa que rasga, aguardando encontrar a sua pele e se manchar na beleza do seu corpo até nos derreter. O primeiro ato, a primeira carta, poética nesse décimo quinto ano do novo século. A minha nova máquina de escrever transbordando novas ondas. Corrente vitalícia de humanidade, sentimento, irmandade. Talvez a última confissão nesse lar, esse que tanto preservei. Conservei as mais belas memórias e momentos. As palavras se partiram ao mundo. Não apenas a alma também o corpo se partiu. E me vem á mente as metas, as recordações, as memórias mais loucas se colidindo, tudo se esvaindo. Relembro dos acontecimentos a uma nova era surgindo. A pior parte do amor e do ano que fica para trás é saber a hora de partir, esquecer, superar... A hora de partir, encarar os novos desafios, manter os valores. Ou reinventar seu coração. Então o escritor se pega olhando no fundo dos olhos dos seus pensamentos sórdidos, pegando fogo até se apagarem no amanhecer calmo e solitário. Quadros e molduras tomam conta do lugar e se formam diante de si mesmo. É como uma

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pintura surrealista manchada. Os moradores de rua. Os bordéis e o moto clubes. Os bares frenéticos... As ruas, como ruas vazias da Filadélfia. As ensolaradas ruas, garrafas vazias, quebradas, como as pessoas por essas ruas. E as músicas dominando todo lugar. As noites consumindo e banhadas em alguma coisa, Algum vício, sexo, álcool, loucuras boemias. Ou incorrigíveis atos de bondade pela cidade perdida. Liberdade pelos dedos sonhadores de um domador. De sacrifícios, de labaredas, cordas, abismos. Promessas inocentes, lágrimas puras, Nas praças, nas gramas, nas calçadas. As alegrias, rir até doer á barriga. As confissões e as confusões. Cada pessoa em sua partícula máxima, de viver, Doando seu tempo, seu momento. Aconteciam tão de repente, as aventuras caóticas brilhantes, as situações cheias de corações, lições ao lado do escritor do amor se desenham o caos fazendo se um puro ato dessa ópera rock em suas raízes sentimentais. As bagunças engraçadas. As melancólicas lamúrias. E as despedaçadas esperanças. Palavras essas que vão surgindo e se guardando no coração do poeta. Valorizando cada pessoa que esteve ao seu lado em cada momento, Seja ele sagrado ou não. E foram assim os memoráveis acontecimentos, épicos sentimentos. Exilados, consumados, dentro de si. Um leão em chamas rugindo, um lobo congelado uivando.

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Um pássaro branco voando, brilhando, recortando o céu. Os arrepios na espinha, seu relógio não possuía tiques, pois ele decidia o tempo. Quando o seu mundo girava as regras se consumiam e o tempo parava. Quando o dia começava e novamente o sol se levantava como engrenagem dourada de vida que é soltando suas rajadas de luz. Era quando ele se desligava, adormecia e partia. Para uma terra só dele, onde era feito tudo de palavras, letras físicas. O cosmo constante de uma busca espiritual intensa. A inteligência negligenciada, silenciada por cicatrizes equivocadas. Foram muitas atitudes e muitas ações, muito arrependimentos e duras lições, que marcaram cada pessoa e ato e local eternamente. Oportunidades perdidas, dúvidas eternas e vontades infinitas. Eróticas sensações sufocadas até o explodir. Românticas, dramáticas e invencíveis vitórias desse coração inexplicável, perdido em seu tempo amador. Um ano concretizado, amor surreal, dissipado em si a magia do céu.

Uma explicação nada racional, totalmente filosófica. E ele se pergunta e o ano que se segue adiante? Não se pergunte não se cobre... Deixe escrever, deixe viver, deixe acontecer. Deixe a semente de o tempo nascer, deixa crescer. Foi ano de revolução, ano de copa, ano de eleição, ano de poesia, tatuagem, superação, perda, idas, vindas, livro

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do coração, essência boemia e filosófica, E muita cerveja. A loucura que quase se apossou. Quase se submetendo ao choque isolado e no fundo escuro da solidão se salvava por uma ou outra paixão, amizade, distração. Essa razão que ia caminhando pelos vales dos acontecimentos, fatos, consumados, inesquecíveis. A brisa do vento na varanda da casa, levantar os braços em uma noite fria, Fazer um brinde com amigos enquanto toca sua música favorita. Sorrir sem entender o porquê, mas desejar que o momento não acabasse. Embora os ventos enfim ás vezes levava embora a tristeza, o poeta queria mais do mundo, mesmo que certas vezes fosse gentil, o mundo fazia questão de não respirar e viver de forma pura e simples... E o poeta ficava ali parado, sem saber como voar e como respirar. Mas ah como esse sonhador é apaixonado. Por tudo dessa vida humilde, holofotes, luzes, postes...

Sensações essas que ele se construía. O cego amor das razões inexplicáveis. Essa grande desvairada vida que ele tanto ama. De uma forma inesgotável. Bêbado de uma forma incontável. E apaixonado de uma forma também inesgotável. A fumaça do cigarro que muitas vezes fazia se neblina cinza mediante as luzes dos seus brilhantes olhos era o concerto da criação. Naquele momento largado, que ele ia sempre seguindo na tempestade. Nesse estado que se fazia

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remanescente dos guardiões da boemia beat. Poucos entendiam, mas ele curtia até o grão de areia que a vida lhe depositava em sua ampulheta de poesia. Ela que se derramava e como se sangrou diante dessa estrada tão viva. Houve amigos e parceiras que jamais pensara que encontraria. Em um belo dia de sol de verão ou no inverno de sua vida. As mulheres que para sempre o marcaria, especialmente uma. Essa que ele sempre amaria.

A viagem de retorno á 31 de janeiro.

Foi um regresso deveras inesperado.

Primeira vez que eu retornava lá desde aquela data... Agora com essa chegada do 27º verão não me lembro de mais como é a sensação de fome, frio, bem estar, apenas de um fervente calor que senti aquela noite mais quente que ela me dera e eu como a lua se apaixona pelo sol ou o lobo pela lua. Nem todas as pessoas do meu serviço foram dessa vez. Jeff, e uma das peças chaves... Cody, Fauna e claro Ela. De resto todos foram até os novos amigos agora reunidos. Nessa cúpula boemia de loucura e foi o que foi. Sem arrependimentos, dando o pior ou o melhor de mim. Sendo eu mesmo na essência solitária. Sai do serviço ás 22h 30min. Tomei uma

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cerveja com o motherfucker, Frederico. Vai! Filosofando, sobre a vida e as mulheres. Embora ele odeie admitir, ele sabe no fundo que gosta da filosofia. Chegando perto de casa naquela forquilha do amor e do destino que tanto conheço me remeti à imagem daquele dia que comprei cigarros para o meu grande amigo Jeff e quando tomei aquela Budweiser em homenagem á ela indo ao seu encontro. Na casa de Janis. Sem saber tudo que aconteceria naquela noite e no restante do ano todo, loucamente apaixonado e vi desenhado isso na noite, essa rua, essa forquilha, sempre me causará essa sensação de um choque memorável de uma noite que uma vez foi tão apaixonado, o ano todo me fez ser assim, Ela sabe disso. Agora mais do que nunca. Mediante a todas as loucuras de amor que fiz apenas para tentar tê-la para mim, jamais me arrependerei. Não foi em vão, foi de coração. E isso que me perturba tanto estar afundado nessas memórias e reviver aquele lugar dentro de mim como a pura imagem dela. Fui para casa, guardei o maldito guarda chuva, troquei de camiseta preta e fui de jaqueta de couro, a maneira que eu não estava naquela vez e fui de botas dessa vez, sem all star rasgado e camiseta furada...

Ainda radiante, mas melancolicamente esperançoso. Voltei ao ponto de encontro em frente ao serviço e lá me encontrei com Daniel Abuse, fomos andando pela rua escura e de

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repente começou a chover forte. Sempre quando á vejo, dia ou noite ou quando penso intensamente nela chove dentro de mim e no mundo também. Fomos emersos por uma vasta torrencial, mas a aceitei de braços abertos e com potencial. ‘’ Deixe chover... ’’ Continuamos e compramos várias cervejas na avenida principal. Esse era o combustível da vida nesse longo caminho. O fluido que eu precisava sentir e fluir dentro de mim e os flashes como fotografias antigas continuavam atingir o meu pensamento, torturante e vivido. Ela... O lugar... O vento... Continuavam a atingir o meu pensamento. Continuei seguindo, eu fumava e bebia na chuva como um espatifado anjo deslocado. Daniel Abuse sempre no celular falando sua pequena ‘’ex ‘’ namorada. Caminhamos mais umas quadras e então pegamos o trem para lá. Após muitas cervejas ainda me restava uma e abri lá mesmo. Abusy ficara com medo que eu acendesse um cigarro também. Foi por pouco e entreguei cartões do meu livro para os passageiros. Alguns olhavam assustados e outros impressionados. Descemos do trem chegando ao Terminal. Senti-me desfalcado, e penetrado por uma nova onda de memórias e lembranças cortantes e muitos acontecimentos e conversas. A cada passo que eu dava naquela avenida tumultuada por amor e vida... Eu me sentia mais perturbado e fraquejado. À noite, o sentimento, aquilo tudo

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me esmagava. A cerveja acabou. A chuva parou. Estávamos diante do bar em nossa direção. Á frente de uma noite que me marcou rebeldemente como um apaixonado inconsequente... Entramos, um raio me atingiu, me partiu ao meio. Subitamente me senti possuído por uma onda de energia que ou me salvaria ou me afundaria ainda mais nessa minha apaixonada existência. Tudo que aquele lugar tanto testemunhou à força, a magia que aquele lugar tem de mexer com o clima, a energia, o momento, as fumaças nebulosas, o efeito do som aquela viva musica, era algo que jamais saberei explicar, maldição de minhas memórias de juventude eterna. (James Dean apaixonado, Bukowski crucificado, santo beat desalmado.) Tudo aquilo era como um santuário distante, isolado do universo. Tão brilhante e intensificado pela amizade, amores perdidos e encontros alucinados sempre assim, enfim... Eu me reencontrei com todos eles, uma transformação desde aquele tempo. Sempre com a nossa bela diva negra da boemia, Novos amigos presentes, como a Prys e seu namorado Lucas Tig e a Pattynha. Tig de fato fora um grande amigo e conselheiro em todas as horas ali ele me entendia. Tudo que me lembro de depois era sentir a força e a energia de todas as pessoas e cidades e bebidas e luzes e músicas concentradas no fundo do meu ser pulsando... Lembro-me de beber

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tanto e não conseguir parar e meu corpo aceitava mais. Lembro-me de dançar tão freneticamente era como se eu estivesse colocando o bar e todos em chamas, eu não possuía mais o controle de mim mesmo. Enquanto as pessoas testemunhavam eu fechava os olhos. Por algumas horas foi assim, os deuses não me salvaram. Eu aceitava tudo e não me lembrava de nada, era alucinante. Nem onde eu estava, nem como e nem o porquê, meus olhos fechados mostravam a direção da terra prometida guiada pela musica e banhado pela cerveja.

E de fato agora bem ali não havia mais volta, pulei do abismo do amor. Dançando e observando tudo, meus demônios bêbados sucumbiam e se queimavam na imensa queda livre do céu astral da libertadora dança no salão. Eu estava desligado de lá. Foi parte crucial da loucura. Minha amada amiga Janis me entenderia sempre. Eu enxergava puras luzes gêmeas, uma prateada e uma dourada.

As belíssimas divas distintas, a beleza, a simpatia, a poesia no local. Vanessya que foi consagrada com a luz do sol, seus cabelos dourados refletiam a luz em todo canto brilhando e revivendo o passado como eu.

Quem dera ela tivesse me salvado naquele instante. Era caoticamente engraçado, Lucas e a Prys, sempre me chamando atenção pelas

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pessoas que eu esbarrava e empurrava e quase acabava arranjando briga e confusão. E pelas diversas partes do bar que derrubei e os corpos e as garrafas que quebrei sons poéticos quebrados, mas a cerveja derramada

  • trágica, As garrafas se quebrando em meio

ao salão do pulsante louco som e a fumaça ébria envolvendo todos ali. O ritmo frenético de meus pensamentos e coração. Eu fechava

meus olhos e me lembrava de tudo, ela ali sentada, linda e pura. Bebendo, cerveja, absinto... O vento que balançava seus cabelos

negros e seu vestido. Aquilo que sentia era a maneira mais honesta e verdadeira da minha vida, desejando apenas estar com ela, beber

com ela, enquanto à noite nos admirava e a fazendo sentir se feliz como jamais havia se sentido. Era assim... Éramos história... Era

aquilo... Vivos e vencedores... Dilemas das dores e dos amores... Eu via tudo novamente, a tristeza e a felicidade tão próximas que eu

me via ali. Em cada momento projetado...

Com ela desenhada ao meu lado. Mais garrafas voavam e se quebravam e as

pessoas gritavam querendo brigar. Eu não estava em um estado bom para briga. Apenas para lutar interiormente... O som era forte, o ar

nostálgico e a melancolia romântica e ela possuía o dom de despedaçar minha esperança e ao mesmo tempo me contagiar

com a luz da bondade e inocência e cegar minha estrada ou me afogar em felicidade, era

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assim... Enfim... Saem para a rua, todos fomos Tig bolou um fumo do bom. Fumamos sentados, chapados na calçada observando os carros e as estrelas e as pessoas em volta de nós. Conversando vendo tudo aquilo, aquele caos louco, de amores e dramas pessoais estatelados ao chão e tínhamos cada um uma realidade para se aceitar e se acertar com aquilo tudo. Os outros fumaram e a brisa fluiu solta. Voltei para o bar e a cerveja me comeu. Bebia mais e dançava depois de um tempo decidi tomar mais um ar e fumar um cigarro. Quando cheguei lá fora e vi Guts se abraçando com a Diva. E percebi a presença da Valerie, naquela época me senti no lugar dela. Era difícil para todos nós, aquele lugar causava esse efeito nas pessoas. Entrei e fui conversar com ela... ‘’- Vamos curtir, não se chateie, vamos aproveitar e viver e dançar, e sorrir... Acredite você sabe como eu te entendo, não vale a pena ficar assim, e nós não merecemos um momento de alegria, hoje sem peso sem pensar no amanhã?’’ – Não posso Marco, não podemos, não sou quem você ama, é Ela. Outra pessoa, você sabe quem e não é certo. ’’ ‘’-Então isso é para o seu não e o não dela. ’’ Quebrei com força uma garrafa no chão o copo se espatifou a cerveja se esparramou e minha vida também. Levantei e fui dançar mais, deveras constrangedor, choque do inconveniente. Assim foi intensamente forte essa noite, bebi

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mais e mais sem desperdiçar nada. Matei a ultima garrafa de cerveja com o Soares e a Diva. Concordo plenamente. Virei à garrafa de uma vez, logo depois corri e gorfei no carro da banda de DJs que tocavam ali naquela noite. Aos poucos todos foi indo embora e o bar se desmanchando dentro de mim. O ambiente que mexe comigo em cada sensação memorável. As mesas molhadas... O fim da neblina e da musica. Senti-me de fato devorado e exorcizado. Não houve regresso a pé. Não houve café da manha como quem podia ser o amor da minha vida. Não houve nenhuma briga sérios ou graves arrependimentos. Não houve all star rasgado, camiseta preta furada, mas muita energia de alma. Nem ao menos fiquei com uma grande ressaca. Apenas essa eterna memória de regresso para casa. De carro nos braços da diva. Inconstante e apaixonada boemia e infinita poesia uivante. 22- 12 – 14 em diante...

Só por dizer...

Fiquei, mas fiquei só por ficar. Porque na alma já vivida mendigando no teu corpo uma guarida. Eu me deixei te acompanhar. Em cada dia se passando, O meu drama singular, Uma verdade me acorrentando, Um sol em mim se apagando, E você... Onde possa

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estar? A gente segue acordado, Num azul de céu desbotado, Na luta cega para viver...

Porque viver semimorto, É o mesmo que alguém sem rosto quase querer morrer. Mas olha, hoje é um dia. Hoje tem sol e tem poesia procuro risos e amor para dar procura meus tempos de alegria no desalento da nostalgia, você... Onde possa estar?

Alcione Guzzardi

Santo André, 5 de Abril, 1974.

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