8

A noite na casa da Ingrid foi diferente de todas que imaginei, quando cheguei sem avisar, ela quase beijou os meus pés, estava toda atirada para cima de mim, porém, eu não estava afim, meu corpo estava lá, mas minha mente me contrariava.

A ignorei por completo, saí de casa querendo fugir daquela mulher que estava dominando meus pensamentos, mas acabei vindo dormir na casa errada, desde que cheguei aqui, nem um beijo consegui dar nela, o que a deixou muito desconfiada e totalmente frustrada, confesso que também estava me estranhando, entretanto, não conseguia tirar Amália da minha cabeça.

— No que você está pensando? — Perguntou, me encarando.

— Em nada Ingrid, já te falei que não estou com cabeça para nada, estou cheio de problemas e minha cabeça parece que vai explodir.

— Não sei o que deu em você Filipo, há dias que não nos vemos, e daí quando você aparece, após dizer que não viria mais, nem sequer me dá um beijo!

— Não me enche o saco Ingrid, quanta cobrança idiota, você está ficando insuportável, quer saber de uma coisa? Já estou indo para casa. — Me levantei, pegando meu casaco e indo para a porta da frente.

— Não, amor, por favor! — Me abraçou, impedindo que saísse. — Irei pedir algo delicioso para comermos, sua cabeça irá melhorar num instante, podemos assistir a um filme, se não estiver com vontade de fazer outra coisa.

— Já disse que estou indo, que saco! — A empurrei para longe. — Volto num dia que estiver menos chata. — Disse, saindo de sua casa.

— Não vai me dar nem um beijo de despedida? — Se escorou na porta de saída.

— Depois Ingrid... depois. — Saí sem me despedir, não sei o que deu em mim, não estava suportando nem ouvir a voz da Ingrid. Dirigi um pouco pela cidade, até perceber que estava agindo feito um louco inconsequente. Foi então, que resolvi ir para casa. Era fim de semana e não havia nenhum trabalho pendente, nenhuma reunião ou compromisso importante. Já era quase cinco da manhã, quando entrei com o carro na garagem, não saí de imediato, fiquei ali olhando minha cara no espelho retrovisor.

— O que está acontecendo? — Ciciei, enquanto tentava recuperar o juízo que havia ido embora há um tempo.

Entrando na cozinha, dei de cara com Amália, que estava sentada próximo à bancada da cozinha, a torradeira estava ligada e ela tinha uma xícara de café em suas mãos, continuava com os cabelos soltos e a mesma camisola da noite passada. Ao me ver, deu um sorriso lindo, o que me deixou em alerta, ela não era assim.

— Bom dia Filipo! — Continuava com o mesmo sorriso.

— Bom dia Amália, dormiu bem? — Tentei soar o mais tranquilo possível, o controle das rédeas não podia ficar nas mãos dela.

— Sim e você? — Pelo jeito que perguntou, aparentemente não percebeu que dormi fora de casa, então não resolvi comentar nada, é claro, mesmo que isso pudesse ser uma jogada dela.

— Dormi bem também. — Era estranho, mas havia algo em Amália que estava diferente, seu sorriso estava fascinante, sentei-me ao seu lado e deu para sentir o cheiro de seu perfume, era doce como de flores, delicioso.

— Esqueci de te falar ontem, essa sua camisola é linda, ficou perfeita em você. — Quando percebi já havia dito.

— Gostou? — Jogou os ombros para a frente. — Comprei para usar na nossa lua de mel, como aquele dia foi um fracasso, a uso no dia-a-dia.

— Não vamos mais falar sobre isso. — Me consertei.

— Por que não? Só estou te contando a história dessa e de outras peças, que comprei exclusivamente para aquela m*****a ocasião.

— Eu sinto muito por aquele dia. — Disse sincero.

— Nossa, Filipo, você está tão diferente esses dias, o que está acontecendo? Até desculpas começou a pedir.

Realmente não sei o que estava acontecendo, não tinha vontade de ficar com nenhuma mulher, simplesmente Amália tomava conta de minha mente, seu sorriso, seu cheiro, o jeito que começou a se comportar.

Parece que quando começou a me desprezar, algo em mim se despertou, isso era até patético, logo eu, que gosto que todas façam meu gosto e me obedeçam.

— Nada, só quero que nossa convivência seja melhor, você é uma boa mulher Amália, sinto muito por tudo que te fiz nesse ano, não queria realmente que as coisas fossem assim, você foi apenas uma vítima, de um contrato absurdo feito por nossos pais, sinto muito por não poder fazer você feliz.

— Você nem nos deu uma chance Filipo, as coisas poderiam ter sido tão diferentes. — Sua voz ficou triste.

— Nós ainda estamos aqui, não é mesmo? O que nos impede de começarmos do zero? — Eu realmente queria dizer aquilo.

— Acho que é um pouco tarde. — Ela olhou nos meus olhos fixamente. E no momento, não pude resistir, me aproximei e a beijei.

Era um beijo totalmente diferente de todos que já dei em minha vida, intenso, com uma pitada de sentimento, o que me deixou atordoado. Ela desejava isso tanto quanto eu, a medida que o beijo ficava mais intenso, minhas mãos foram se enrolando em sua cintura, puxando-a para mais perto de mim, meu corpo nunca desejou alguém na vida, como a desejava naquele momento, ela estava praticamente

em meus braços, quando de repente, me empurrou para trás, me tirando de todo aquele transe.

— Gostou? — Perguntou sorrindo.

— É claro. — Voltei a me aproximar dela.

Mas a expressão de seu rosto logo mudou, para uma mulher séria, que carregava muita mágoa em seu coração.

— Foi isso que perdeu quando resolveu brincar com meus sentimentos, espero que nunca mais ouse a encostar suas mãos imundas em mim, ou não responderei por meus atos.

Dizendo isso, levantou-se, saindo rápido da cozinha, deixando tudo que estava fazendo e me deixando com a cara no chão

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