7 Filipo

Quando cheguei em casa, fui para a cozinha beber um copo de água, estava sentindo algo estranho, um sentimento de tristeza e desapontamento, como se alguém tivesse me magoado profundamente.

Mas não podia me deixar abalar, Amália não era ninguém para ter o poder sobre meus sentimentos, suas palavras não poderiam ter efeito algum em mim, a noite foi apenas estranha, e tudo acabaria voltando ao normal amanhã.

Meu celular começou a tocar, era a minha amante, Ingrid.

Já fazia mais de semanas que não ia até a sua casa, esses últimos dias estou sentindo que estou diferente, sem vontade, preferindo dormir em casa e não sair para nenhum tipo de lugar que não fosse referente a trabalho, pode parecer neurose, mas algo estava mudando, e por mais que tentava lutar, não tinha forças, era algo mais forte que eu, e cada dia que passava, estava sendo mais difícil.

Saí da cozinha e fui para o quintal da casa, onde Amália não poderia ouvir minha conversa, caso aparecesse de surpresa.

— Fala! — Atendi sem paciência, não sei o porquê, mais a voz dela esses últimos dias estava me deixando estressado, não conseguia me sentir atraído por suas investidas e tudo nela começava a ficar sem graça e sem emoção, como se não me agradasse mais, será que deveria trocá-la por outra mulher?

— Oi amor, se esqueceu de mim? — Começou melosa, estava odiando isso, ela sentia como se eu a devesse algo, que mulher chata.

— Claro que não, é que esses dias estou meio ocupado, já te falei várias vezes sobre isso, não é sempre que posso ir te ver.

— Nossa, mas nem para me ligar teve um tempo? — Fingia indignação.

Isso só estava crescendo a minha fúria.

— Como disse, estou ocupado, eu tenho uma empresa para tomar conta, tenho contratos para revisar, reuniões importantes que não posso faltar, também sou casado e não posso dormir sempre fora de casa, minha vida não é uma maravilha, como pensa que é, fala logo o que você quer e deixa de me amolar.

— Nossa Filipo, você está de mau-humor, por que não vem descontar sua raiva aqui em mim? Eu estou com tanta saudade, vem dormir comigo hoje, amor, meu corpo precisa de você, já faz tempo que não temos uma noite bem merecida. Vem, que prometo te acalmar e te deixar bem mansinho, já que essa mulher que tem em sua casa, não presta para nada mesmo.

— Olha como fala da minha esposa ouviu? — Alterei a voz. — Acha que tem algum direito de falar sobre ela? Pelo menos, ela não se presta ao seu papel de amante.

— Nossa! O que está acontecendo com você? Nunca te vi defendendo esta mulher, na verdade, você só vem aqui para ficar se queixando desse casamento estúpido que te arranjaram.

— Não é da sua conta, para de opinar na minha vida, que merda! Quem você está achando que é?

— Eu sou a pessoa que você pediu para se mudar para Nova York, só porque queria ficar mais perto de mim. — Disse nervosa.

— Então não me estressa, se não vou te mandar de volta para sua casa, se ficar perto te acha que está no direito de opinar alguma coisa! — Gritou.

— Nossa, desculpa. — Baixou o tom — Só estava tentando ajudar, por favor, vem aqui para casa.

— Olha Ingrid, hoje não vai dar, prometo que logo vou te ver, agora me deixa em paz, tenho que desligar, estou cansado.

Nem esperei ela se despedi e já desliguei, não sei o que me deu esses dias, não estou afim de sair com a Ingrid nem com nenhuma outra mulher, é como se nenhuma delas me interessassem, e tudo ficou diferente, principalmente depois de hoje, quando vi a Amália descendo as escadas, ela estava diferente, tão linda, tão atraente, com um vestido vermelho, sinceramente, não sei o que estava acontecendo, pois já tinha visto-a arrumada várias vezes.

Fui pro meu quarto, tomei um banho, me deitei, não sei o que me deu na cabeça, mas, só vinha a Amália na minha mente, seu sorriso descontraído no jantar, o jeito que as outras pessoas a olhavam admirando-a, como sua conversa prendia a atenção de todos naquela mesa, parecia que ela era o centro das atenções. Não sei o que me deu na cabeça, mais queria vê-la antes de dormir, era como se fosse uma necessidade, parecia que minha noite dependia disso.

Queria ir falar com ela, mesmo achando tudo isso um completo absurdo, fui até seu quarto, bati algumas vezes e nada dela responder, forcei a maçaneta da porta, abriria para saber se tudo estava bem, porém estava trancada, bati na porta mais uma vez, dessa vez com mais força, se ela estivesse dormindo, teria que acordar com o barulho, mas nada dela responder, mas que diabos! — Praguejei.

— Amália, Amália! — Gritei.

Confesso que não estava me reconhecendo, e me senti um bobo por causa disso, resolvi sair dali, mas antes disso, ela abriu a porta. Estava usando uma camisola branca de seda, e por cima, vestia um roupão da mesma cor, seus cabelos estavam soltos o que a deixava muito atraente. O que estou pensando?

— O que está acontecendo, por acaso a casa está pegando fogo? — Sua voz era de estresse.

— Não. — Na verdade, nem eu sabia o que estava fazendo ali — É que... Bem, eu ouvi um barulho estranho na casa e vim conferi se está tudo bem. — Menti.

— Eu não ouvi nada.

— É claro que não ouviu, já faz algum tempo que estou aqui batendo e você não ouve! — Ri nervoso.

— É claro que te ouvi batendo, desde a primeira vez, só não achei necessidade alguma ter que te atender, fala a verdade Filipo, o que faz aqui?

— Vim ver como estava. Já te disse que quero manter um relacionamento amistoso entre nós, não precisamos viver como dois estranhos dentro de casa.

— Engraçado você querer isso, logo após revelar que quer renovar o contrato com meu pai.

— Isso não é verdade, não tem nada a ver.

— Para mim, só é mais uma de suas jogadas, mas já te aviso de antemão, que isso é uma perda de tempo, não sou mais uma trouxa que cai nas suas palavras.

— Não estou pensando no contrato! — Disse ofendido.

— É? E então no que está pensando?

Levantou sua cabeça num modo desafiador, foi aí que percebi, que não havia nenhum resquício da mulher com quem me casei há um ano atrás, Amália havia mudado e o pior, é que não percebi quando isso tinha ocorrido. Foi a primeira vez que olhei em seus olhos realmente, e algo estranho pulsou em meu peito.

O que estou querendo na porta da mulher que estou casado só por aparências? Levei a mão à cabeça, ao me tocar no que estava fazendo, fui para o meu quarto, deixando-a sem falar nenhuma palavra, troquei de roupa, e resolvi ir para a garagem, peguei meu carro e fui pra casa da Ingrid.

Capítulos gratis disponibles en la App >

Capítulos relacionados

Último capítulo