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bônus do vovô Léo

Quando a Priscila foi com as meninas para a cozinha, me levantei e fui até a varanda com a Josefa.

— Nossa neta é maravilhosa — ela disse, me abraçando com ternura.

— Ela é a cara da Poliana — respondi, sentindo a saudade apertar no peito ao lembrar da minha prima, esposa... e o grande amor da minha vida.

— Verdade. Mas também… a Priscila é muito parecida com a Poliana — Josefa murmurou.

— Eu te falei, né? Quando vi a Priscila pela primeira vez, me assustei. Ela tinha exatamente a idade que a Poliana tinha quando faleceu... e por um segundo, parecia que eu estava vendo a reencarnação dela bem ali, na minha frente.

Josefa suspirou, apertando meu braço com carinho, como quem também carregava lembranças demais no coração.

— Acho que foi por isso que você se apegou tanto a ela, né? — ela sussurrou. — No fundo… era como se você estivesse tendo uma segunda chance de amar a Poliana. Mas de um jeito diferente.

Assenti, engolindo o nó que se formava na garganta.

— No começo, eu resisti. Tinha medo de estar confundindo tudo… de misturar o passado com o presente. Mas a Priscila… ela tem uma luz própria. É forte, determinada, e ao mesmo tempo, tão quebrada por dentro… dá vontade de proteger.

— E você protegeu — Josefa disse com firmeza. — Mesmo quando ela te afastava, você ficou. E agora olha pra vocês… ela te deu uma neta.

— Duas netas. Ou melhor… cinco. Me sinto avô dos filhos dela, e não é por carência…

— Te entendo perfeitamente. Eu nem gostava de criança quando ela engravidou da Mavie. Me preocupava com como seria cuidar de um bebê. Mas cada vez que a Mavie se mexia dentro dela… e ao ver a alegria nos olhos da Priscila… Acho que foi a única época em que a vi realmente feliz. Sempre tão reservada, tão fechada... sinceramente, nem sei por que ela me contratou. Tinha tanta gente nova na entrevista, e eu já tinha passado dos cinquenta...

— Ela viu o que ninguém mais via — falei, sorrindo de canto. — A Priscila é assim. Parece que enxerga com o coração. Não escolheu você pelo currículo, Josefa. Escolheu porque, naquele momento, você era o porto seguro que ela precisava e nem sabia.

Josefa assentiu, visivelmente emocionada, os olhos se perdendo por um instante no jardim à nossa frente.

— Às vezes penso que foi ela quem me salvou... — confessou. — Eu já tinha me conformado em viver sozinha, esquecida pelo mundo. Mas ela… ela me deu propósito. Me deu uma família.

— E você retribuiu todos os dias. Do seu jeitinho — falei, passando o braço por cima dos ombros dela. — A Priscila tem essa mania de transformar a vida das pessoas... mesmo quando está em pedaços.

Josefa riu baixinho, com a voz embargada.

— É... ela é uma alma antiga, como dizia minha avó. Carrega o peso de muita coisa que nem devia ser dela. Mas mesmo assim, ama. Ama com tudo o que tem, mesmo quando tenta esconder.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, contemplando o céu azul sobre nossas cabeças.

— Nunca vou esquecer quando precisei doar sangue e ela descobriu. Eu ainda estava no início do trabalho com ela, e a minha menina… sempre tão focada na empresa… brigou comigo por estar trabalhando naquela condição. Cuidou de mim o fim de semana inteiro. Desde que perdi tudo — meu marido, minha família — me sentia tão sozinha. E ali, com medo de perder o emprego, conheci a Priscila. Ela cuidou de mim como uma filha cuida da mãe — Josefa disse, com os olhos cheios de lágrimas.

Eu sabia que não tinha sido fácil para ela. Tinha levado uma vida tranquila, nunca havia trabalhado até perder o marido. Os filhos dele ficaram com tudo.

— E ainda bem que ela te contratou. Se não, eu nunca teria te conhecido — falei, beijando-a com carinho.

— Não faz isso aqui, meu lindo… as crianças estão correndo por aí — ela respondeu, um pouco sem graça.

— Eles veem os pais se beijando o tempo todo. Não tem problema em ver os avós também — falei, e ela revirou os olhos, divertida.

— Eu só não estou feliz com essa história da Priscila sair da sua empresa. Você sabe que eu vou com a minha menininha pra onde ela for, né? — Josefa tocou no assunto mais uma vez, e ela sabia o quanto isso me doía.

A Mavie mal tinha voltado pra casa… e agora isso. Meu filho tem o direito de estar com ela. Eu tenho o direito de ser um avô presente. Mas nunca vou questionar a Priscila. Ela tem todo direito de correr atrás dos sonhos dela.

— Meu bem… não dá pra dizer nada agora — falei, com a voz baixa, mas firme. — Mas de uma coisa eu sei: eu não vou abrir mão de nenhuma de vocês.

A Josefa me abraçou e ela deitou a cabeça no meu peito.

— Espero que você realmente nunca abra mão da gente mesmo — ela falou me fazendo feliz.

Era muito bom ter ela assim tão próxima a mim eu sempre achei que depois da Poliana eu jamais amaria outra mulher e a verdade é que pela primeira vez depois de 36 anos eu me vejo apaixonado de novo.

— Desculpa atrapalha os pombinhos — a María falou com um sorriso fofo.

— Você não atrapalha — falei sorrindo para ela.

— É que a comida já vai ser servida, e tio Léo eu só queria dizer que eu fico feliz em ver você namorando, é bom te ver feliz você foi muito importante na nossa infância depois da morte do meu pai e bom ver o senhor assim com está cara de apaixonado — ela falou com aquele sorriso doce.

Quando conheci a Marina, depois da morte do primo da Poliana — que faleceu da mesma doença da minha mulher — fiz uma promessa. Eu prometi cuidar das filhas dele. Eram tão pequenas… A Maria mesmo só tinha três aninhos. Tão frágeis, tão perdidas. E ali, eu me tornei pai antes mesmo de ser de fato.

— Obrigado, minha menina… — falei com carinho.

— Ai, tio Léo… Eu amo que o senhor ainda me chama de menina, mesmo eu já tendo 38 anos — ela respondeu rindo.

— E ainda não me deu nenhum neto — brinquei, arrancando uma gargalhada dela.

— Isso eu deixo pros meus irmãos. Eu tô bem assim, só sendo tia.

— Se você tá bem, é o que importa. Mas da próxima vez que vier a São Paulo, tem que trazer a Bianca. Eu vou fazer uma festa só pras minhas netas. Quero apresentar essas meninas pro mundo. Elas são Fos, minha filha. E quero ver a Bianca aqui também — falei, sorrindo ao vê-la sem saber se ria ou disfarçava o rubor.

As pessoas acham que eu sou velho e cego. Só porque meus cabelos estão brancos, pensam que não enxergo nada. Não sabem que eu vejo até o que não querem mostrar. Sei que a tal "amiga" é, na verdade, a mulher dela. E só estou dizendo "mulher" porque não sei se já casaram ou ainda namoram.

— Pode deixar, tio. Eu trago sim. Nem eu nem a Maria sabíamos que viríamos, mas depois do que soubemos da nossa mãe… Precisávamos conhecer a Mavie.

— Fiquei feliz que tenham vindo.

— Agora vamos comer, porque essa comida tá cheirando demais!

Sorrimos e fomos entrando. A sala estava uma loucura deliciosa. As risadas das crianças enchiam o espaço de vida. Até o Marcelo estava rindo, brincando com o Ítalo. Max e Rafaela ajeitavam Nina e Laurinha no cercadinho, trocando olhares cúmplices e carinhosos.

Era bom. Era paz.

Ver o sorriso do meu filho… uma alegria genuína. E, por mais que ele estivesse feliz com a Rafaela, e a Priscila sorrisse com o Liam ao lado… parte de mim ainda fazia gosto de ver os dois juntos. Max e Priscila. Sempre os vi mais como irmãos, é verdade, mas… talvez eu tenha me enganado. Talvez tenha medo das coisas mudarem de novo.

— Vovô Léo! — minha netinha correu até mim de braços abertos. A peguei no colo, e ela sorriu. — Tem muita comida gostosa!

— E você tá com fome?

— Não, vovô… Eu já comi lá na cozinha. Mas agora quero experimentar coisas novas!

Ela deu um beijo estalado na minha bochecha e riu da minha barba roçando em sua pele. Repeti o gesto, fazendo cócegas nela.

— Então vamos sentar pra comer — falei, me acomodando ao lado do Max. Josefa sentou do outro lado. Mavie correu para junto dos irmãos.

— Ela é linda, né? — Max comentou, todo bobo.

— Linda como a mãe. Mas com esse seu sorriso de moleque travesso, feliz da vida — respondi, apertando a mão dele.

Todos se acomodaram à mesa, e então, senti que precisava dizer algo.

Levantei.

— Eu queria falar algumas palavras — anunciei, com um sorriso sereno.

O burburinho cessou, e todos voltaram seus olhos pra mim.

— Eu queria agradecer ao destino.

Pausa.

— Sei que muita gente vê o destino como cruel. E às vezes, ele é mesmo. Depois que perdi minha Poliana, achei que meu sonho de ter uma família tinha acabado. Tentei de tudo… até contratei uma barriga de aluguel. Foram quatro tentativas… e quatro decepções. E justo quando eu achava que tudo tinha desmoronado, a vida me deu a Marina. Não foi por amor que nos casamos… foi pela esperança. Ela já tinha duas meninas incríveis, minhas Marias. E um dia, quando eu já tinha quase desistido, a Marina me deu a melhor notícia da minha vida: eu seria pai. Pai do meu menino. Do Max. Meu verdadeiro amor em forma de filho.

Parei, olhando para ele. Ele sorria, os olhos marejados.

— Quando o Max cresceu, meu maior medo era que ele não se tornasse um homem bom. Mas então ele conheceu a Priscila. Na época, era o pior aluno da faculdade — alguns riram, e ele também, envergonhado. — E bastaram algumas semanas perto dela pra ele amadurecer. Não sei se foi só gratidão… mas quando ele trouxe a Priscila pra casa pela primeira vez, eu senti algo diferente. Ela era reservada, respeitosa demais. Me mantinha à distância, mas mesmo assim… eu a vi como uma filha.

Suspirei.

— Sempre achei que Priscila se parecia muito com a Poliana. Talvez por isso meu coração se afeiçoou tanto. E por mais que eu dissesse pra mim mesmo que ela e o Max eram como irmãos, eu via algo ali… algo que me deu uma neta maravilhosa. A Mavie.

Minha voz tremeu um pouco, mas segui.

— Uma vez, eu disse à Josefa que a Belinha me lembrava a Poliana. E agora… toda vez que olho pra Mavie, sinto que a Poliana está aqui com a gente. De algum jeito, ela está presente. Pode parecer loucura de um velho… mas eu acredito que o amor é teimoso. Ele sempre dá um jeito de voltar.

Olhei para todos ao redor da mesa.

— Obrigado a cada um de vocês. Por estarem aqui. Por fazerem parte da minha família. Por me darem essa felicidade.

Sentei de volta, e Max apertou minha mão. Josefa me deu um beijo no rosto. E, por um instante, eu soube… não importava o que o destino ainda trouxesse. Enquanto eu tivesse aqueles momentos, eu já era o homem mais sortudo do mundo.

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Continua...

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