Capítulo 3
Ester Rossini
Eu ainda não acreditava no que aquele modelo ousara dizer para mim naquela manhã. As palavras dele ainda ecoavam na minha mente como um veneno: uma semana para ir para a cama com ele. Uma semana! Que homem presunçoso! Ele realmente achava que só porque era bonito, famoso, e porque todas as mulheres caíam aos seus pés, eu faria o mesmo?
Todas! Sim, talvez todas, mas eu não sou como as outras. Eu me dou valor, e além do mais, eu detesto homens arrogantes, frios, vulgares, que acreditam ser melhores do que todo mundo só porque têm dinheiro, beleza e um séquito de admiradoras. Até que eu fui boa, até que me esforcei no primeiro dia de trabalho. Fiz tudo o que estava ao meu alcance para ser profissional. Só não gostei quando ele tentou tirar minha máscara à força. Que homem insistente!
Voltando do trabalho, após mais uma sessão de fotos exaustiva, meus pensamentos pesavam como chumbo. Eu pensava na vida que levava agora. Se não tivesse acontecido aquele maldito acidente, que destruiu meu rosto, talvez eu ainda fosse outra pessoa. Talvez eu ainda fosse aquela jovem cheia de sonhos, alegre, confiante… Mas isso ficou para trás. O acidente me transformou em alguém fria, reservada, solitária.
Depois de tudo que passei, não pude continuar vivendo na mesma casa que Kate. Não suportava ver nos olhos dela a pena, a compaixão — sentimentos que me faziam me sentir ainda mais quebrada. Então eu saí. Cortei todos os laços, como quem arranca um curativo rápido para não sentir a dor.
Confesso: quando vejo meu patrão em ação, naquela passarela, sendo adorado e desejado, sinto uma pontada de inveja. Inveja por ele ter tudo que eu perdi, por ele nunca ter conhecido o abismo onde eu caí.
Estava tão perdida nesses devaneios que nem percebi quando ele se aproximou. Só senti sua respiração quente próxima ao meu rosto, e então, ergui os olhos e dei de cara com ele. Tão perto, tão intimidante… seus olhos azuis cravados nos meus como se pudessem decifrar todos os segredos que escondo atrás dessa máscara.
— O senhor quer alguma coisa, senhor Bernard? — perguntei, com a voz firme, tentando disfarçar o desconforto. — Está invadindo minha privacidade.
Ele não se moveu de imediato. Apenas se afastou alguns centímetros, mas continuou me encarando de um jeito que me fazia querer desaparecer.
— Desculpe — disse, finalmente, com um sorriso quase imperceptível. — É que… seus olhos são tão bonitos. Eu queria tanto ver seu rosto inteiro. Por que não tira essa máscara?
Ele estendeu a mão para tocá-la, mas eu fui mais rápida e bati em seus dedos.
— Obrigada, mas eu não vou — respondi, ríspida. — Não posso tirar minha máscara. O senhor deseja algo mais?
A paciência já se esvaía de mim. Ele, porém, não parecia disposto a desistir.
— Um dia… — disse ele, com aquela voz baixa e carregada de promessas — ainda vou descobrir o que você esconde debaixo dessa máscara.
De repente, como se aquilo fosse apenas uma brincadeira para ele, ele mudou de assunto:
— Olhe na minha agenda. O que eu tenho à tarde?
— Bom, hoje o senhor está livre. Amanhã terá um desfile para um comercial de bermudas. Só isso. Agora, vou para casa. Amanhã cedo estarei de volta.
E me retirei antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa.
Samuel Bernard
Depois de um longo dia de trabalho, voltei para meu apartamento no carro com meu motorista e a garota misteriosa ao meu lado. Ela não disse uma única palavra durante o trajeto, apenas olhava pela janela, os olhos perdidos em algum lugar distante.
Quando chegamos, ela se apressou em cumprir suas tarefas: preparou meu banho, colocou minhas roupas limpas em cima da cama, e ligou para a cozinheira para providenciar uma refeição leve. Tudo feito com precisão, como se ela seguisse um ritual.
Não demorei a despir-me completamente, largando minhas roupas no cesto. Entrei no banheiro e afundei na banheira quente, sentindo a água aliviar a tensão dos meus músculos. Fechei os olhos, mas os dela continuavam a me assombrar. Aqueles olhos… havia algo neles que eu não conseguia decifrar. Frieza? Dor? Talvez ambos.
Quando terminei, enrolei-me na toalha, vesti as roupas que ela havia separado e fui para a sala. Estava faminto, então comi o lanche que ela mandara preparar. Depois, fui procurá-la.
Encontrei-a sentada no sofá, imóvel, fitando a janela como se nada mais existisse além das folhas das árvores lá fora, balançando ao vento.
Aproximei-me sem que ela percebesse. Fiquei ali, a poucos centímetros, apenas observando seu perfil. A luz suave da noite atravessava a vidraça e delineava a curva de seu rosto oculto pela máscara. Eu podia ouvir sua respiração tranquila, mas senti que por dentro ela era um turbilhão.
Ela se sobressaltou quando percebeu que eu estava ali, tão perto. Seus olhos encontraram os meus, e por um momento o mundo parou.
Eu queria entender. Eu precisava entender. O que ela escondia atrás daquela máscara? O que a havia tornado tão fria?
— Seus olhos… são hipnotizantes — murmurei, quase sem perceber.
Ela piscou lentamente, como se minhas palavras não tivessem qualquer importância.
— Eu já disse — respondeu com uma calma cortante — eu não posso e nunca vou tirar essa máscara.
Havia um muro ao redor dela, e cada tijolo parecia gritar: não se aproxime.
Eu podia ser frio, arrogante até, mas havia algo nela que me desarmava. Eu queria quebrar aquele muro. Queria arrancar essa máscara — literal e figurativamente — e ver quem realmente era Ester Rossini por trás daquela fachada.
Mas ela se levantou antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, ajeitou a saia do vestido e, com um olhar distante, murmurou:
— Boa noite, senhor Bernard.
E desapareceu pelo corredor.
Fiquei sozinho na sala, a respiração ainda presa no peito, e me dei conta de que não conseguiria dormir naquela noite. Eu precisava descobrir o que havia por trás daqueles olhos tristes.
E, de alguma forma, eu sabia que descobrir isso mudaria não apenas a vida dela… mas também a minha.