Capítulo 5
(POV de Olivia)

Acordei com um suspiro. O pesadelo da morte de Lily ainda se agarrava a mim como uma sombra. Mas, quando minha visão clareou, percebi que não estava sozinha. Ethan estava me segurando, e seus olhos cor de âmbar eram ilegíveis na penumbra.

— Solte-me. — Eu sibilei, empurrando seu peito para afastá-lo.

Mas seu abraço apenas se tornou mais forte.

— Você teve um pesadelo.

— Eu disse para você me soltar! — Empurrei com mais força, enquanto a fúria crescia dentro de mim. — Você não tem o direito de me tocar.

A expressão de Ethan endureceu.

— Eu ainda sou seu companheiro, Olivia.

Essas palavras fizeram uma onda de raiva passar por meu corpo. Depois de tudo o que ele fez: negligenciando Lily; comemorando o aniversário de Emma, enquanto nossa filha estava morrendo; e escolhendo Victoria em vez de nós, ele ainda acreditava que tinha algum direito sobre mim.

— Meu companheiro? — Eu cuspi a palavra como se fosse veneno. — Um companheiro não abandona a filha doente. Um companheiro não comemora o aniversário de outra criança, enquanto a própria filha morre sozinha!

Ethan pressionou o maxilar.

— Pare com essas mentiras sobre Lily.

— Não são mentiras! — Lágrimas queimavam meus olhos. — Ela morreu esperando por você, Ethan. Ela morreu perguntando por que seu pai amava Emma mais do que a ela.

O rosto dele suavizou ligeiramente e ele se inclinou para mais perto.

— Olivia...

Quando seus lábios tocaram os meus, algo estalou dentro de mim. Eu mordi seu lábio inferior, com força, sentindo o gosto de sangue.

Ethan recuou praguejando e levando a mão até a boca que sangrava. Eu me afastei dele, quase caindo da cama.

— Saia. — Sussurrei, com a voz rouca, de tanto chorar. — SAIA!

Ethan ficou de pé, limpando o sangue do lábio. Seus olhos cor de âmbar brilharam perigosamente. Mas, finalmente, ele se virou e saiu sem dizer mais uma palavra. Ouvi seus passos se afastando, e depois, a batida da porta da frente.

Pela janela, observei o carro se afastar na escuridão. Eu sabia exatamente para onde ele ia. Voltar para elas. Para a família que ele tinha escolhido, ao invés da minha.

Eu puxei a urna de Lily para mais perto.

— Sinto muito, querida. — Sussurrei. — Sinto muito por não ter conseguido fazê-lo te amar.

(POV de Ethan)

Os portões do Recanto Matarrosa se abriram quando meu carro se aproximou. A elegante residência de Victoria estava iluminada contra o céu noturno.

Meu lábio ainda latejava onde Olivia havia me mordido, e o gosto de sangue permanecia na minha boca.

Antes que eu pudesse chegar à porta da frente, ela se abriu e Emma estava ali. Sua silhueta se destacava na porta, com a luz que vinha de dentro da casa.

— Você está atrasado. — Ela fez beicinho, cruzando os braços dramaticamente. — Eu esperei por horas!

Apesar do meu humor sombrio, senti um sorriso se formando em meus lábios. Saí do carro e me aproximei da criança emburrada.

— Sinto muito, princesa. Eu me atrasei.

Sua carranca se dissipou instantaneamente quando eu a abracei, beijando sua testa. Emma riu e todos os vestígios de aborrecimento desapareceram.

— Eu sabia que você viria. — Ela sussurrou, envolvendo os braços em volta do meu pescoço. — Você sempre vem quando eu preciso de você.

A declaração, por mais que fosse simples, enviou uma pontada de desconforto para meu peito. Eu deixei o sentimento de lado, quando Victoria apareceu na porta.

— Emma, já passou da sua hora de dormir. — Ela repreendeu gentilmente, embora seus olhos estivessem fixos em mim. — Ethan, o que aconteceu com o seu lábio?

Coloquei Emma no chão, com cuidado para manter minha expressão neutra.

— Não foi nada. Apenas um pequeno acidente.

Os dedos de unhas perfeitamente cuidadas de Victoria se estenderam para tocar meu lábio ferido.

— Não parece que não foi nada... — Sua voz baixou. — Ela tentou te segurar?

A implicação era clara. Eu me afastei um pouco, desconfortável com a suposição.

— Eu estava atrasado com os negócios da matilha. — Eu disse com firmeza, passando por ela e entrando na casa.

O perfume de lavanda de Victoria me cercou quando ela fechou a porta.

— É claro... Emma está esperando que você leia uma história para ela dormir.

Emma saltou animadamente, agarrando minha mão.

— Eu escolhi três livros! E mamãe disse que você pode ficar para o café da manhã amanhã!

Olhei para Victoria, que sorriu inocentemente.

— Eu disse a ela para não ter muitas esperanças. Tenho certeza de que o Rei Alfa tem deveres importantes.

O sorriso sumiu do rosto de Emma. Seu lábio inferior tremia de uma maneira que sempre despertava algo protetor dentro de mim.

— Mas eu queria mostrar meu novo desenho pela manhã. — Ela sussurrou, com os olhos molhados de lágrimas.

Suspirei, sabendo que estava sendo manipulado, mas impotente contra aqueles olhos lacrimejantes.

— Veremos, princesa. Vamos levá-la para a cama primeiro.

O quarto de Emma era uma fantasia de rosa e roxo. Ela subiu na cama, dando tapinhas no espaço ao lado dela.

— Primeiro, leia este. — Ela instruiu, entregando-me um livro de histórias bastante colorido.

Acomodei-me ao lado dela, abrindo o livro. Emma se aconchegou ao meu lado, com o corpo pequeno, quente e confortável.

No meio do segundo livro, suas pálpebras começaram a pesar. No terceiro, ela lutava para ficar acordada.

— Papai. — Ela murmurou, sonolenta, chamando-me da forma que sabia que eu não conseguia resistir. — Você vai ficar esta noite? Por favor?

Victoria, que observava da porta, deu um passo à frente.

— Emma, não seja egoísta. Ethan precisa voltar para o território.

— Mas eu tenho medo do escuro. — Emma choramingou, com os olhos se enchendo de lágrimas. — E se eu ficar doente de novo? O médico disse que o estresse é ruim para o meu novo rim.

Eu me peguei balançando a cabeça afirmativamente, antes que pudesse pensar melhor sobre o assunto.

— Eu vou ficar. — Prometi, tirando o cabelo da testa dela. — Só por esta noite.

O sorriso de Emma era triunfante quando ela adormeceu.

(POV de Olivia)

A manhã chegou com um brilho cruel. Meus olhos estavam inchados e arenosos de tanto chorar antes de dormir. O toque do meu telefone me sacudiu completamente. Eu o alcancei, tateando, meio que esperando ver o nome de Ethan. Em vez disso, o número de Victoria Frost brilhou na tela. Meu dedo pairou sobre o botão de rejeição, mas a curiosidade venceu.

— Alô? — Minha voz soou rouca, até mesmo para meus próprios ouvidos.

— Olivia, querida. — A voz de Victoria era doce e melada. — Espero não ter te acordado.

Sentei-me, instantaneamente alerta.

— O que você quer, Victoria?

— Eu esperava que pudéssemos nos encontrar para tomar um café. Há algo que eu preciso te dar.

Todos os instintos gritaram para eu recusar, mas algo em seu tom, uma pitada de satisfação presunçosa, fez-me concordar.

— Te espero no Café ao Luar, em trinta minutos. — Eu disse secamente, antes de desligar.

O café estava quase vazio quando cheguei. Victoria sentava-se em uma mesa de canto, com duas xícaras já esperando. Ela usava um vestido azul claro que destacava sua figura perfeita, seus cabelos loiros caíam em ondas elegantes ao redor dos ombros.

— Olivia. — Ela cumprimentou, com um sorriso que não alcançou seus olhos. — Tomei a liberdade de pedir para você. Cappuccino, sem açúcar. Amargo, assim como sua vida hoje em dia.

Eu ocupei a cadeira em frente a ela, ignorando o café.

— Vá direto ao ponto, Victoria. O que você quer?

Seu sorriso se alargou quando ela pegou uma sacola de compras, ao lado da cadeira.

— Eu só queria devolver algo que pertence ao seu companheiro.

Com lentidão deliberada, ela tirou a jaqueta de couro preta de Ethan. O couro de alta qualidade brilhava sob as luzes do café, o emblema da Matilha Crista de Prata sutilmente gravado nas costas.

Eu o reconheci imediatamente. Ethan o usava constantemente, o couro carregava seu perfume característico de sândalo e pinho, misturado com seu almíscar natural de Alfa.

Victoria colocou-o na mesa, entre nós, seus dedos de unhas perfeitamente cuidadas demorando-se no material.

— Estas são as roupas que Ethan deixou na minha casa, ontem à noite. — Ela disse, com tons de falsa preocupação em sua voz. — Eu as trouxe para você.

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