Capítulo 5

MADISSON

A segunda-feira chegou mais rápido do que eu gostaria. E com ela, o frio na barriga.

Eu me olhava no espelho do meu quarto, penteando o cabelo pela terceira vez, algo entre um coque alto e um rabo de cavalo bagunçado, mas nada parecia certo. Gwen passou por mim no corredor com uma caneca de café e me lançou um olhar cúmplice.

— Vai arrasar, Maddy.

— Fala isso só porque é minha irmã.

— E porque sou esperta. Agora anda, ou vão te deixar para trás.

Me vesti com a farda da escola com menos birra do que na semana passada, talvez porque sabia que, à tarde, eu usaria algo que me fazia sentir mais... eu. O teste de torcida aconteceria logo depois das aulas, e só se falava disso pelos corredores. Disso e do bendito noivado de Kael Thorne.

Desde o jogo, era como se o ar da escola tivesse mudado. Todo mundo cochichava, especulava, criava teorias sobre o vestido de Harper, sobre o anel, sobre a festa que, claro, seria “só para os íntimos”. Ninguém mencionava Kael como se ele fosse um aluno, ou sequer humano, ele era quase um mito, um nome sagrado. Honestamente, muito estranho.

Revirei os olhos quando passei por um grupo de meninas perto dos armários. Elas seguravam revistas e celulares, babando por fotos antigas do casal. Uma delas, que usava gloss marrom com glitter e tiara brilhante, virou para a amiga e sorriu.

— Acho que ele só ainda não pediu oficialmente porque está esperando o momento perfeito. Imagina, tipo um helicóptero e pétalas de rosas?

— Ou algo com o símbolo da empresa! Aquele “V” de Thorne em fogo no céu — disse outra, rindo.

Dei meia-volta antes de ouvir mais. Meu cérebro já estava saturado do nome Thorne por um semestre inteiro.

Quando o último sinal tocou, meu coração deu um pulo. Peguei minha mochila e caminhei direto até o banheiro do bloco B. Estava relativamente vazio, graças aos clubes e atividades que começavam agora. Ótimo. Eu não queria plateia para o meu momento pré-nervoso.

Abri a mochila e tirei com cuidado o shortinho azul-escuro de torcida e o top justo combinando. O tecido brilhava levemente, refletindo a luz do teto. Por cima, coloquei uma blusa branca grande, para não parecer uma louca andando seminua pela escola. Ainda assim, me olhei no espelho e senti o estômago se contrair.

“Você já fez isso antes, Maddy”, pensei. “Era boa. Foi capitã. Consegue de novo.”

Mas aquilo era diferente. Eu era nova, uma forasteira. A única do último ano que chegou no meio do semestre, sem histórico, sem amigas na equipe para me apadrinhar. Sabia que o favoritismo correria solto, e que a técnica era durona.

E ainda assim... eu queria tentar.

Fechei a mochila, respirei fundo e saí do banheiro.

O ginásio ficava a poucos prédios dali, e o caminho até lá estava mais cheio do que imaginei. Algumas garotas do primeiro ano estavam sentadas no banco de concreto, assistindo às candidatas passarem como se fosse um desfile. Algumas estavam maquiadas como para um ensaio fotográfico; outras usavam uniformes de treino personalizados com seus nomes nas costas. Eu me senti invisível.

Ao entrar no vestiário feminino ao lado do ginásio, encontrei outras meninas aquecendo, esticando as pernas, treinando giros e saltos. Algumas me olharam com curiosidade, outras com aquele desprezo disfarçado de sorriso.

— Você é a novata, né? — uma delas disse, mascando chiclete.

Assenti, sorrindo de leve.

— Madisson.

— Hm. A técnica não curte muito surpresas. Boa sorte.

“Obrigada...?”

Ela virou-se e voltou a aquecer, claramente encerrando a conversa.

Enquanto me alongava em um canto, deixei os olhos vagarem pelas paredes do ginásio. Os banners com o logo da escola estavam pendurados no alto, e ali, entre os troféus, fotos de antigas equipes brilhavam sob molduras douradas. Em quase todas, Harper estava no centro.

É claro.

O tempo passou voando. Quando a técnica chegou, uma mulher de quarenta e poucos anos, de expressão firme e olhos escuros afiados, todas se alinharam em silêncio. O teste começou com alongamentos em grupo, seguido de uma sequência de coreografias rápidas que tivemos que aprender na hora.

A música ecoava pelos alto-falantes, e o som das palmas e pisadas preenchia o ar. Meu coração batia como um tambor.

E então chegou a parte solo.

Uma a uma, as meninas iam ao centro da quadra mostrar o que sabiam fazer. Saltos, giros, acrobacias. Algumas erravam, outras exageravam. Quando meu nome foi chamado, senti o suor escorrer pela coluna.

“Você já fez isso antes, Maddy”, repeti para mim mesma.

Dei um passo à frente, respirei fundo... e comecei.

Me movi como se cada gesto queimasse. Preciso, firme, como uma faísca que ganhava força a cada segundo. As palmas ecoaram ao final, e a técnica anotou algo em sua prancheta sem esboçar reação.

Saí da quadra tentando controlar a adrenalina.

— Isso foi... ótimo. — ouvi uma voz atrás de mim.

Me virei.

Era a mesma menina do chiclete.

— Sério. Você é boa.

Sorri, surpresa.

— Obrigada.

— Ainda não quer dizer nada. Mas... boa sorte. De verdade.

E então ela foi embora.

Enquanto as demais se apresentavam, eu me sentei ao fundo e deixei o olhar subir novamente para as fotos antigas. Algo em mim dizia que, por mais que aquele teste fosse importante, ele era apenas o começo.

A técnica caminhou até o centro da quadra, com a prancheta pressionada contra o peito e aquele olhar que fazia todo mundo prender a respiração.

— Obrigada a todas. Vocês foram bem... algumas mais do que outras — ela começou, seca.

— Mas infelizmente, só temos três vagas. E elas vão para...

O silêncio se espalhou como uma corrente elétrica.

— Luna Kingsley.

A menina do chiclete deu um gritinho abafado, tentando parecer contida, mas mal conseguia esconder o sorriso.

— Claire Mendez.

A segunda, uma morena pequena e ágil, soltou um suspiro de alívio.

E então a técnica levantou os olhos da prancheta.

— Madisson Allen.

Por um segundo, achei que tinha ouvido errado.

Meu nome. Ela disse meu nome.

— Você passou, garota! — Luna sussurrou animada, me cutucando com o cotovelo. — Eu sabia que ia passar!

Um calor estranho subiu pelo meu rosto, e eu nem percebi que estava sorrindo como boba, até as outras meninas começarem a cochichar.

“Quem é ela?”, “Ela nem é daqui”, “Só porque é bonita”, “Acho que foi sorte.”

Mas nada daquilo importava. Eu tinha conseguido. Eu tinha entrado.

A euforia me invadiu como um vendaval e eu quase saí pulando pela quadra. Comecei a me afastar para pegar minha mochila, já sentindo meu celular vibrar com mensagens da Gwen e da minha mãe, elas estavam torcendo por mim do lado de fora. Eu não via a hora de contar.

Mas então, ouvi o som de saltos ecoando no piso encerado do ginásio.

Toque. Toque. Toque.

Não prestei atenção de imediato, até que um perfume doce e sofisticado me envolveu. Aquele cheiro... pêssego e baunilha.

Me virei devagar.

E lá estava ela.

Harper Liney.

Loira, perfeita, usando um vestido rosa claro justo ao corpo, e saltos que provavelmente custavam mais do que a minha bicicleta inteira. Os cabelos caíam em ondas sobre os ombros, e os lábios brilhavam com um gloss cintilante.

Ela parou a poucos passos de mim, e seus olhos me analisaram de cima a baixo.

— Olá. — ela disse, com um sorriso que não alcançava os olhos.

— Oi... — respondi, tentando manter a voz firme.

— Madisson, certo?

Assenti, hesitante.

— Parabéns pela vaga. Não é fácil impressionar a técnica. Ela odeia mudanças.

— Obrigada — falei, simples, mas meu estômago já estava se revirando.

Harper inclinou levemente a cabeça, como quem observa algo curioso, ou um objeto fora do lugar.

— Não é comum novatas passarem. E ainda por cima, no último ano.

— Eu já era líder de torcida na minha antiga escola. Talvez tenha ajudado.

— Ah, claro. Claro. — Ela sorriu de novo, mas havia um veneno suave naquele sorriso. Como se as palavras fossem doces, mas escondessem uma ponta afiada. — Bem-vinda a equipe.

Ela se aproximou mais um passo.

— Só um conselho, novata. Aproveite seu momento. Eles sempre passam... especialmente quando não se entende bem como as coisas funcionam por aqui.

Antes que eu pudesse responder, ela virou nos calcanhares e saiu caminhando como se o mundo fosse sua passarela pessoal. A cada passo, seus cabelos balançavam com graça e segurança, e eu fiquei ali, imóvel, sentindo o peso das entrelinhas.

O que exatamente ela quis dizer com aquilo?

Será que Harper se sentia... ameaçada?

Balancei a cabeça, tentando afastar o nó de incerteza que se formava no meu peito. Não importava. Eu tinha conseguido a vaga. E isso ninguém podia tirar de mim.

Saí do ginásio com as pernas ainda trêmulas e os pensamentos embaralhados. Gwen estava me esperando no carro, sorrindo de orelha a orelha assim que me viu.

— E aí? Me diz que você passou!

— Passei! — gritei, deixando finalmente a felicidade me dominar.

Ela deu uma batidinha animada no volante e me abraçou por cima do banco.

— Sabia! Sabia!

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