O Que Nos Separa: Corrompidos Pela Vingança
O Que Nos Separa: Corrompidos Pela Vingança
Por: Sol Villas
Prólogo + 1 Sol

Prólogo

Se eu morrer jovem, me cubra com cetim

Deite-me em uma cama de rosas

Afunde-me no rio ao amanhecer

Mande-me embora com as palavras de uma canção de amor

If I Die Young - Glee

Eu nunca achei que chegaria nesse ponto. 

Essa é uma das poucas coisas certas que tinha na mente que ninguém poderia mudar. Eu jamais me entregaria assim, não desistiria da vida, não após perder quase tudo.

Mas ali, sentada na estrutura daquela ponte, no frio da noite, com meus cabelos sendo soprados pelos ventos e os cachos se embaraçando, dei uma rápida olhada na água abaixo de mim, batendo violentamente nas pedras, me clamando.

Prometi que, não importava a dificuldade, jamais recorreria a isso. Não me entregaria assim, não desistiria, mas, como sempre, temos algo a aprender nessa vida. Aprendi que nunca é covardia.

Sempre fiquei pensando: O que leva alguém a fazer isso? 

O que poderia deixar uma pessoa tão cega de dor que não consegue ver mais nada além do que a feriu.

Olhando ao redor, aos rostos que um dia amei, mas hoje odeio. Todas as faces que me mataram. Antes que eu pulasse dali, eu tive a certeza que todos podem chegar à mesma conclusão que eu: você só precisa permitir que te quebrem do jeito certo.

Eu tinha um professor na faculdade que sempre dizia que o homicídio é o único crime que todos podem cometer, e eu, novata, não entendia. Ele dizia que os demais crimes precisam que o agente tenha um desvio de caráter, um intuito de interesse de lucro, algo por trás a ganhar, mas o homicídio mesmo uma pessoa boa pode cometer.

E eu dizia: “Mas como professor, como alguém bom pode tirar uma vida? ”, e a resposta veio anos depois.

Com o motivo certo podemos tirar uma vida e também entregar a nossa.

Ignorei as vozes externas e internas, e soltei as minhas mãos da estrutura da ponte e  me joguei de costas indo de encontro a minha morte, sem me importar com: raiva, medo, tristeza, solidão, ansiedade, depressão e o amor

Nada mais me importava, nem mesmo esses sentimentos que dividiam minha mente e me sufocavam, eu me soltei e me deixei ser tomada pelo frio da noite, e para uma morte silenciosa e reconfortante, a tão sonhada paz, algo muito melhor do que eu imaginava que teria depois de todos os meus pecados.

1

SOL

2022

Você é o único que eu queria poder esquecer

O único que eu adoraria não perdoar

E apesar de você partir meu coração

Você é o único

Broken-Hearted Girl - Beyoncé 

Acordei em meu quarto perfeitamente arrumado e olhei ao redor, levando alguns segundos para me lembrar da realidade após uma noite inteira de pesadelos. As imagens desconexas de: uma corda, um homem, e um corpo sem vida continuavam a me assombrar. A dor e as lágrimas vinham sem aviso, especialmente em noites frias, raras onde eu morava, mas cada brisa mínima me lembrava daquela ocasião.

Forcei-me a sair da cama superconfortável, grande demais para uma única pessoa. Olhei ao redor para as paredes cor-de-rosa claro com detalhes dourados e suspirei profundamente, reunindo forças. Dirigi-me ao banheiro luxuoso e deixei a água quente me envolver, e alguns minutos depois, o vapor enchia o banheiro.

Ao sair da água, envolta em uma toalha, antes que a loucura do dia tomasse conta de mim, passei a mão pelo espelho limpando o vapor que o embaçava. Em vez dos meus olhos negros, vi olhos verdes. Olhei para trás, assustada. Isso era impossível; ele não estaria ali. Ouvi uma voz do lado de fora chamar, uma voz familiar, que poderia ser confundida com a dele, mas não mais, não depois de tantos anos.

— Sol! Ela está chamando a gente. Se não descermos, ela vai subir e nos dar um sermão.

Eu não queria que Marina Villas Carvalho, a senhora da casa, subisse ali e me repreendesse, e pior ainda, visse o filho mais novo no meu quarto e eu de toalha. Então, saí.

O olhar de Samuel era de interesse; ele me queria, era o que eu lia nele. Estava parado, todo arrumado, com o cabelo loiro escuro molhado, bem penteado, e roupas formais. Samuel é alto, com alguns músculos, mas nada exagerado. Elegante, mas simples, essa era a essência dele, com camisa, calça marrom e sapatos. Ele era de tirar o fôlego, mas não o meu. 

— Sam, se ela te ver aqui, estamos ferrados. Sai, por favor. 

Na verdade, só eu estaria ferrada.

— Sol, quer ajuda para se vestir?

O garoto falou brincando. Mesmo sabendo que ele me queria, nunca se atreveu a tornar isso real ou ao menos tentar. Eu sabia o porquê. Desagradaria sua mãe, e todos naquela casa obedeciam à senhora Marina, todos, sem exceção.

— Vou abrir a toalha em 3, 2… — Coloquei as mãos na toalha, e ele riu, saindo. Sempre funciona. Nossos flertes são intencionais, mas irônicos e limitados. Com ele é seguro, porque é platônico.

— Não se atrase! É nosso último ano na faculdade! Sabe o que significa! — ele berrou já no corredor.

Ele saiu falando e eu fechei a porta.

Eu sabia o que poderia significar: festas, bebidas e drogas, mas eu e Sam éramos covardes demais para isso. Além disso, o último ano para acadêmicos de direito significava a prova da Ordem, pelo menos para os que queriam sair na frente e ser excepcionais. E eu e ele não tínhamos outra opção a não ser essa.

Ainda mais eu que havia perdido o último ano do colégio por “problemas familiares”, então entrei na faculdade com vinte anos e estou me formando com vinte e quatro. Isso por si só já irritava a senhora Marina. 

A faculdade de direito foi escolhida pelos pais de Samuel. Eles detinham a minha guarda depois que fiquei sozinha no mundo. Era uma garota triste, sozinha e pobre, e eles me ajudaram. Agora eu era uma deles. Uma Villas Carvalho. Ou pelo menos, tentava estar à altura.

Arrumei-me com as roupas chiques que Marina comprou para mim. Elas apareciam no guarda-roupa no lugar das que ela considerava velhas e ultrapassadas. Coloquei uma calça social escura, preta, bem cortada e uma blusa mais soltinha com mangas e laços, de cor rosa-claro. Odeio essa cor, mas ela diz que é profissional.

Demoro alguns minutos fazendo uma maquiagem elaborada nos braços, em cima dos curativos mais finos que encontrei na farmácia. Se a Marina visse a menor marca na minha pele, eu estava ferrada. 

Com saltos baixos, maquiagem leve no rosto e material organizado, olhei ao redor do lugar. Ela odiava bagunça e sujeira. Então, saí, forçando um sorriso ao entrar na sala. 

Vi a família comendo em silêncio. Samuel distraído no celular, Carlos lendo o jornal Voz do Povo, o mais famoso da cidade de Magnólia, e Marina comendo educadamente. 

Ela esboça um sorriso amarelo quando me vê. 

— Filha, senta. Está linda. Acertei nessa coleção.

A mulher, já atingida pela idade, mas ainda bela, fala, e eu me sento perto de Samuel. Ela parece não gostar, mas resolvo ignorar. É fácil agradá-la.

— Adorei as roupas dessa estação. Seu gosto é sempre tão perfeito.

E ela sorri, voltando a ficar satisfeita.

 O pai de Samuel me olha por um segundo e desvia o olhar; é sempre assim. Ele nunca demora mais que um segundo em mim. Seus cabelos são grisalhos, mas de um jeito atraente, o que me faz pensar que quando jovem devia ser de tirar o fôlego como o filho.

— Filha, como se sente sendo veterana? — Marina pergunta, e eu sei o que realmente quer saber.

— Feliz, animada.

Mentira. Eu odiava, detestava, ainda mais tendo que manter notas boas como Samuel. Ele era um gênio e eu só seguia ele. O que queria mesmo eu não podia fazer porque lembraria ela, e  não posso ser como minha mãe, seria trair a família que me acolheu.

— Vamos? — Samuel pergunta, e eu olho para Marina, que assente.

— Antes de irem, não esqueçam do evento que nossa família vai patrocinar na faculdade. É uma oportunidade para os acadêmicos de Direito, os que estudam de verdade, evidentemente. 

Marina fala, deixando claro que não é uma opção faltar. Eu e Sam nos entreolhamos, somos cúmplices em desculpas para fugir desses eventos, mas às vezes não dá certo, como o de hoje. Marina adorava exibir a família rica e feliz, e eu odiava fazer parte do teatro, mas não tinha opção; era isso ou morar na rua.

— Certo mãe — Sam a respondeu. — Vamos, Sol.  Até mais, Carlos. — O pai nem tira os olhos do jornal. 

Ninguém naquela família se olha de verdade, isso é o que mais me irrita. Eles não se enxergam de verdade. Por mais que eu tenha sido deixada sozinha no passado, quando era criança, antes de tudo, antes de meus pais mudarem e eu também, nós funcionávamos e nos enxergávamos, ao menos tentávamos. 

Saímos e vamos para o carro de Samuel, um desses automáticos modernos. Ele usava bem a fortuna dos pais, o pai juiz e a mãe promotora, era perfeito que ele seguisse a linha, e eu também, a adotada por eles.

Ele abre a porta do carro para mim, e seguimos numa velocidade segura. Samuel era sempre assim: seguro, comedido, morno, quase frio. Acho que ele era inocente demais para eu esperar algo mais dele.

 As coisas ruins naquela casa eram escondidas, trancadas e esquecidas, como se o passado tivesse morrido, e eu dançava a música porque era a única disponível.

Éramos melhores amigos desde a infância. Sabia o que ele pensava pelos olhos, mas Samuel achava que podia me decifrar, e era mais seguro que não pudesse, ou meus pensamentos verdadeiros quebrariam meu melhor amigo doce e inteligente.

— Pronta para isso? — Sam questiona, estacionando na garagem da faculdade e em seguida tirando o cinto. Eu o olho de lado.

— Se você estiver do meu lado — digo sincera, e ele sorri.

Ter Samuel era reconfortante; ele passa segurança e confiança como se tudo fizesse sentido, e os demônios que sopram no meu ouvido não pudessem me alcançar se ele estivesse ali, real, ainda puro e inocente, ainda como antigamente, antes de tudo que nos quebrou. Ele era o único que ainda parecia viver igual a antes.

Saímos do carro e entramos na faculdade chique que seus pais pagavam para nós. Todos nos olham, olhares perversos e cochichos maldosos, coisas como:

“Ela deu a sorte grande, os pais a abandonaram, mas a família rica ficou com ela. Ela já deve estar tentando engravidar do idiota do Samuel, é seu golpe final”.

“Ela é vagabunda igual à mãe, os pais do Samuel são bons demais com essa raça ruim”

Samuel pega minha mão e eu aceito, indo para a entrada sob os olhares que não me conhecem de verdade. Não sabem nada que realmente aconteceu comigo e com minha família, mas acham que podem saber, que podem entender e julgar.

Entramos na sala de aula. Um professor carismático se apresenta e começa uma aula de constitucional, minha preferida, porque fala de direitos e deveres, art. 5º da CF.

Às vezes, sem querer, eu me pego pensando em desculpas para meus pais, para os dois, mas não encontro. Eles realmente me abandonaram, ambos da forma mais cruel e doentia. Por isso, eu era obrigada a seguir os Villas Carvalho como um cachorrinho — as regras deles, as etiquetas, tudo aquilo me irritava, mas agora era quem eu era.

Todos comentavam que eu era uma sanguessuga, que fui acolhida pela família de Sam por pena, depois de toda merda. Que Marina era a melhor pessoa do mundo por me aceitar mesmo depois de tudo, e eu só podia concordar.

Suspiro e levanto. Samuel toca minha mão.

— Aonde vai? 

Ele era meio possessivo, mas protetor.

— Banheiro, quer sacudir para mim?

Ele ri e eu saio. No corredor, olhos invejosos me observam. Eu andava com o cara mais gato, inteligente e rico da faculdade. Tinha roupas sempre caras. Eu era invejável, mas não me sentia assim. Sentia-me pequena, fora do lugar, errada, em outra pele. Culpada e cansada.

Tinha que manter as notas próximas às de Sam, que fazia isso se esforçando todos os dias, mas eu não conseguia ser como ele. Ainda tinha que ir a grupos de debates, estágio e outras coisas pela faculdade, sempre tentando parecer mais como Marina gostava.

Todos me olhavam feio nas atividades extracurriculares, mas não falavam diretamente para mim um “A”, porque querendo eles ou não, eu era uma Villas Carvalho e esse sobrenome me protegia.

Entro no banheiro e olho no espelho. Minha maquiagem nem aparece na pele negra e meus cachos estão controlados. Eu não gosto disso, dessa pessoa no espelho, desses tons de rosa nas roupas e do cabelo espichado sem vida, mas essa agora sou eu.

Lavo minhas mãos na pia, respiro fundo. Às vezes, do nada, a ansiedade me toma. Um bolo cresce na barriga, e eu tremo dos pés à cabeça. Eu não deixo Sam ver, ninguém, na verdade, ou me achariam fraca. Já faz anos, eu tinha que seguir em frente.

Abro a bolsa e tomo um dos meus remédios. No começo, eram só para dormir, mas depois comecei a tomar até durante o dia para me acalmar quando algo saía do controle.

Saio do banheiro e dou de cara com três alunas tão bem vestidas quanto eu, todas loiras e impecáveis, que entrariam no banheiro, mas ao me ver, se entreolham.

A primeira dá uma risadinha anasalada e fala: 

— Eu não vou usar esse banheiro, posso pegar doenças. 

As três gargalham e meu estômago pesa. Eu já devia estar acostumada, essa merda rola às vezes, e não deveria mais ligar.

 — É verdade, credo — a segunda fala, e a terceira só ri como em concordância, finalizando a provocação mais básica que eu aguentava. 

Endireito a postura e as olho com desprezo. Abro minha boca para xingá-las, mas alguém me atrapalha.

— Ei, paquitas do inferno! Acabaram o showzinho? 

Elas olham para trás, encontrando Sarah de braços cruzados, minha única e melhor amiga, a branquinha, baixinha e magricela, com lindos cabelos loiros e uma pose de quem sabe que tem poder. Nos conhecemos quando ainda éramos crianças, mas antes éramos mais como colegas. Fomos ficando amigas com o tempo, e quando ela também entrou no curso de Direito, após um ano sabático viajando pelo mundo, nos tornamos irmãs.

— Sarah… — uma das meninas fala, se arrependendo. Sarah é a abelha rainha da faculdade.

Sarah, minha fiel amiga, é a filha de um dos maiores fazendeiros de todo o país e patrocinador da faculdade. Ela é a líder da nossa turma, e apesar de estar sempre atrasada e não ter boas notas, ainda conseguia, pelo sobrenome Albuquerque, ser a representante dos alunos, a chefe de organizações de eventos e muitas outras coisas que seu sobrenome traz.

— Engraçado que no último evento que as bonitas arrumaram, eu tive que resolver a merda que vocês não conseguiram, e as caras lavadas têm coragem de me irritar logo cedo? 

Ela era pequena, magricela, mas incrivelmente forte e determinada. Parecia doce e inocente de longe, mas era um furacão, mandona e afiada de perto. Eu queria ser como ela; às vezes até era, mas nem sempre tinha força. Por isso, adorava quando ela me salvava.

— Vamos, Sol. — Ela pega minha mão, e saímos de cara fechada. Dois corredores depois, paramos em frente à sala de aula.

— Não pode deixar elas fazerem isso! Tem que me contar. — Ela dá a ordem, e eu concordo. Sarah é sempre mandona e controla tudo ao redor o máximo que pode. É sempre a líder, a que fala, a que escolhe e tem ótimas ideias. Ela é proativa e elétrica, um belo contraste comigo, que quero me esconder e fazer somente o necessário. 

— Onde você estava? — pergunta aflita, mudando de tom. 

— Eu? No banheiro, por quê? 

— Porra, Sol, você não tem celular? Essa merda não funciona? — Sarah era recatada e mocinha perto do pai, mas, longe dele, xingava feito um caminhoneiro, e eu ria disso porque me contagiava também.

— Eu… o que foi? — indaguei confusa.

Ela suspira e pensa antes de falar, deixando-me mais ansiosa. Sarah era minha única amiga, e eu meio que tentava agradá-la, como fazia com todos que importava, mas ela não exigia muito de mim. Ela também passou por muitas coisas, perdeu a mãe para uma doença, e a ajudei a se reerguer, então éramos fiéis uma à outra, mas eu tinha medo que do nada, ela, como os demais alunos, começasse a me achar suja e me odiasse.

— Temos um professor novo.

— Legal, o que tem de mais nisso? 

Sarah respira de novo, e me olha, procurando as palavras.

— Ele é jovem, tem 28 anos, veio dos Estados Unidos, morava aqui e...

— Por que preciso saber disso, Sarah? Vamos para a sala, já deve ter trocado de aula. Ele deve estar lá, e eu posso ver com meus próprios olhos o novo demônio que vou ter que enfrentar. Ele é rígido? 

— Ah, ele é. Dizem que é o pior de todos. 

— Eu vou gostar disso. 

Sorrio e entramos na sala. Eu adorava um desafio, era bom me superar às vezes, mesmo tendo que ficar sem dormir algumas noites.

Ao entrar na sala, assim que meus olhos foram para onde o professor fica, eu o vi. Meus olhos não queriam acreditar, e minha mente alertava: “Isso deve ser um pesadelo, acorde!”. Eu tinha pesadelos quase todos os dias, podia ser mais um, mas não era.

Depois de cinco anos sem ver aqueles olhos como uma maldição, na mesma hora, as florestas verdes me encontraram, e eu levei um susto. Só não gritei porque Sarah apertou minha mão.

Os cabelos pretos, lisos, mas com ondulações, a pele branca como a de Samuel, esferas verdes como as dele, mas com tons amarelos, músculos que eu não reconhecia, roupas pretas formais e um sorriso maligno no canto da boca.

Era muita informação ao mesmo tempo. Era ele, mas não era. Tinha tatuagens saindo pela gola da camisa no pescoço e até nas mãos.

Os olhos vidrados em mim, como se lesse meus pensamentos e esperasse minha reação. Quem fugisse correndo, perderia a primeira batalha. 

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