Três

No momento em que chego à cantina, estou ofegante e super envergonhada. E mais que isso, estou com raiva.

— Oli? — olho na direção de Daniel. — O que foi? Ele não te devolveu o celular?

— Devolveu.

— Então...? — Jasmine balança a cabeça.

Suspiro e largo a bolsa na mesa em que eles estavam.

— Nada.

Um menino loiro e o de piercing, Bruce, estavam na mesma mesa que eles. Eu apenas me afasto, indo até o lugar para comprar um lanche. Peço apenas um sanduíche natural e suco de laranja.

Enquanto esperava ficar pronto, desbloqueio o celular e vou até as mensagens com James.

James: QUE SAFADA! TIRA UMA FOTO DELE.

James: MAS SEJA DISCRETA

James: POR QUE NÃO MANDOU A FOTO AINDA OLÍVIA? AF

James: EU SÓ QUERO VER A FOTO. NÃO QUERO ELE PARA MIM.

James: POSTA A FOTO NO SNAPCHAT. E MATA OS INVEJOSOS DAQUI HAHAHAHA

JamesPOR QUE ESTÁ ME IGNORANDO OLÍVIA?

— Aqui!

Pago pelo lanche e volto até a mesa. Agora havia uma garota de cabelos longos e negros, ao lado do loiro. Ela era bonita.

— Hey! — ela sorri para mim. — Você é a Olívia!

— E você?

— Aurora. — ela me estende a mão e eu a aperto.

— Prazer.

Depois das apresentações, eu mordo um pedaço do meu sanduíche e respondo James.

EuDesculpe a demora. Meu professor pegou meu celular e só me devolveu agora. Ele leu minhas mensagens. Não pode usar celular na aula. Falo com você mais tarde. Skype às duas da tarde. Ok?

Guardo o celular na bolsa e como meu lanche, sem me envolver na conversa do grupo. Eu sentia o olhar de Bruce em mim e estava ficando incomodada com aquilo.

Quando o sinal toca, pego minha bolsa e o tudo que era para ser jogado fora e me levanto. Descarto o lixo e procuro o papel das aulas na bolsa. A próxima seria biologia. E por sorte, seria a última de hoje.

Estava a caminho da sala, quando sou puxada pra trás.

— EI! — olho para o garoto de cachos. — Qual o seu problema?

— Temos um trabalho para fazer. Juntos.

— Eu sei. Então por que não me chamou? Precisava apertar meu braço?

Bruce me solta e eu ajeito a blusa.

— Tenho uma ideia para o trabalho.

— Vai me contar?

— Amanhã.

O garoto sai andando e me deixa para trás, com cara de idiota. Reviro os olhos e corro para a aula de Biologia.

[...]

— Graças a Deus, essa manhã acabou!

Ergo minhas mãos para o alto, assim que saímos da escola.

Estávamos eu, Jasmine, Aurora, o loiro e Daniel. Nós somos os primeiros a subir no ônibus, o que faz Daniel gritar que os bancos dos fundos, são nossos. Eram seis. Sentei no ultimo da direita.

O motivo, eu não sabia. Mas não conseguia tirar o rosto do professor de artes da cabeça. E pior, não conseguia afastar a voz melodiosa da minha mente.

Antes do ônibus parar em frente à minha nova morada, ele parou uma esquina antes, para que Daniel, Aurora e o loiro descessem. Eles acenam para nós e se vão.

— Vocês chegaram! — Annie se levanta da poltrona, para nos recepcionar. — Como foi o primeiro dia Olívia?

— Entediante.

A velha mulher ri.

— Normal em um primeiro dia. Agora vão trocar de roupa para almoçar.

Olho em volta.

— Cadê meu pai?

— Um amigo da família arrumou uma entrevista para ele.

— Verdade? — ela assente. — Tomara que ele consiga.

— Ele vai minha filha.

Sorrio para ela e subo as escadas correndo. Jas já estava no nosso quarto.

— Daniel gostou de você.

— Isso te preocupa? — solto uma risada e me sento na cama.

— Ah... — ela senta—se de pernas cruzadas — ele é bonito né...

— Jas, eu não vou roubar ele de você. Sinceramente, nenhum desses meninos que conheci hoje, me chamaram atenção.

— E teve algum professor?

Reviro os olhos e jogo uma almofada nela.

— Não!

— Vou fingir que acredito.

Tiro o coturno e me levanto. Vou até o armário e tiro uma calça legging preta e uma blusa branca. Retiro a blusa da escola e visto a outra.

— Você não se incomoda? — Jas pergunta.

— Com o que?

— Se trocar na minha frente.

Tiro a saia e me sento na cama, de costas para ela.

— Não. — começo a vestir a legging. — Se eu já fiquei nua na frente de um homem, ficar de lingerie na frente de uma menina não é nada.

— Ahhh...

— Você é virgem? — pergunto, me virando para ela.

— E-Eu? Não...

Solto uma risada e pego o uniforme.

— Você é. Não se sinta envergonhada. Se eu soubesse o que aconteceria na minha vida, escolheria não perder.

— Por quê?

— VENHAM MENINAS!

— Acho que posso te contar depois.

Dobro a roupa e deixo-a em cima da cama. Calço os chinelos que estavam perto da cama e saio do quarto.

[...]

— Onde vai? — pergunto à Jasmine, quando ela desce toda perfumada.

— Dan me chamou para ir à sorveteria. Quer vir?

— Não mesmo.

Ela ri.

— Boa tarde.

— JAS!

— Que foooi?

— Você tem notebook?

— Tenho. Está na gaveta da minha escrivaninha. A senha é danipopozudo.

Gargalho como se não houvesse amanhã. Ela sai de casa e eu ainda estou rindo. Nossa avó havia saído para ir ao mercado e meu pai ainda não tinha voltado.

Subo as escadas e vou diretamente para o quarto. Abro a gaveta da escrivaninha e pego o notebook de lá. Sento-me na minha cama com as pernas cruzadas e abro o aparelho. Digito a hilariante senha e logo entro no skype. Conecto a minha conta e observo minha lista de amigos.

Grande parte dela, eram antigos colegas de turma. Meu ex também estava ali e online. Clico no nome de James e espero que ele me atenda.

— Oi bonecaaaaa.

— Oi platinado.

James tinha o cabelo arrepiado e branco. Ele era negro, mas o garoto resolveu se rebelar e pintou de branco. O contraste com sua sobrancelha preta e os olhos azuis eram enormes.

— Que saudade! — ele faz bico.

— Também estou, Jam.

— Me conta!

— O dia foi chato.

— Sobre o professor, gata!

James quando conseguia, sabia ser bem gay. Mas ele não era. Pegava mais mulher que galã de novela.

— Ele leu as minhas mensagens. Não imagina como eu fiquei envergonhada.

— Até eu ficaria. Mas como foi depois?

— Eu sai correndo do teatro. — ele ri. — Sexta tenho aula com ele, não quero imaginar como vai ser.

— Só sexta? Não vai ver ele na semana?

— Eu espero de coração, que não.

Ele ri e eu escuto o meu celular tocar.

— Está mandando mensagem para mim? — pergunto.

— Não. — ele ergue os braços.

Levanto da cama e vou até o armário. Reviro a bolsa que estava pendurada em um cabide. Pego o aparelho e volto para a cama.

— Se for o Luke...

— Não é. — respondo, olhando desconfiada para a tela.

Desconhecido:

heey

Eu:

quem é?

Desconhecido: tenta descobrir (:

Eu: Não sou obrigada!

— EI! — olho para a tela. — Quem é?

— Não sei.

— É algum admirador? Ahhh Oli, arrasando corações desde cedo.

Reviro os olhos.

— Deve ser algum desocupado.

O celular toca novamente e eu me vejo tentada a ler.

— Leia logo! — James exclama. — E me conta!

Desconhecido:

Você não sabe brincar, hein! Que feito, Olívia

Desconhecido: feio* :D

Eu:

Se eu soubesse quem é você, até poderíamos conversar. Mas eu não sei!

— Sabe Oli, Luke hoje estava de abraços com a Margareth.

— Por que está me falando deles?

— Porque eu sei que você ainda gosta dele.

— Gosto. Mas eu quero esquecer. Estou bem longe dele, então isso vai ajudar. Então por favor...

O celular toca.

— AHHHH OLÍVIA! QUEM É?

— EU NÃO SEI!

Desconhecido: Que falta de humor.

Eu: Luke, se for você, eu juro que dou um jeito de voltar ao Texas e matar você!

— Acho que era o Luke. — digo, bloqueando a tela do celular. — Não teve resposta imediata.

— Você o acusou?

— Tecnicamente, sim.

O celular toca mais uma vez e eu nem faço cerimônia. Abro logo a mensagem.

Desconhecido: hmm... eu não sei quem é Luke. Desculpe-me por frustrá-la.

Eu: Estou impaciente. Será que dá pra me dizer quem é?

Desconhecido:

Não.

Bufo e bloqueio o celular.

 Que foi?

— Disse não ser o Luke. — reviro os olhos.

— Deve não ser. Você mudou de número assim que se mudou.

— Ah, é verdade, mas sei lá.

Escuto a porta bater e logo a voz de papai a me chamar.

— Meu pai chegou. — digo, animada. — Ele foi a uma entrevista de emprego.

— Tomara que ele tenha boas notícias.

— Verdade. Nos falamos depois, Jam. Beijos.

— Beijos, gata.

Espero ele fazer seu bico super fofo e fecho a tampa do notebook. Saio rapidamente da cama e desço as escadas.

— Oi!

Ele se vira bruscamente e esconde os braços para trás. Eu pude ter o reflexo de uma sacola bem enfeitada.

— Oi princesa. — papai sorri largamente.

Fazia muito tempo que eu não via aquele sorriso. Abraço-o rapidamente e estreito meus olhos para as suas mãos.

— O que tem aí?

— Depois você vai saber. — ele beija a minha testa. — Como foi a aula?

— Pula isso. Me fala como foi a sua entrevista de emprego.

— Ahhh... — ele se afasta um pouco e anda a minha volta. — Gregory me avaliou e... disse que eu sou ótimo para a vaga de gerente na loja dele.

Eu grito, super animada e pulo em cima dele.

— QUE NOTICIA MARAVILHOSA, PAI!

Ele me coloca no chão e continua sorrindo.

— A loja é de que?

— Aparelhos eletrônicos. E ele inclusive me deu um adiantamento...

— Não me diga que já gastou! Paiiiiiii!

— Calma, Oli! — ele ri. Estava muito feliz mesmo. — Eu estava andando pela loja e achei a sua cara.

Suspiro e cruzo os braços.

— O que é?

— Agora você quer? — ele sorri, divertido.

— Nunca disse que não queria.

Papai então tira a mão das costas e me estica a sacola de papel. Era uma sacola preta com o nome da empresa em dourado. Abro e meu coração saltita.

— Ai meu Deus!

— Você vivia me pedindo isso. Então...

Era uma câmera polaroid. Meu maior desejo no último ano. Mas infelizmente eu não pude ganhar. E felizmente, estava ganhando agora!

— OBRIGADA PAI! — pulo nele novamente. — Oh Deus. Vamos tirar a primeira foto juntos.

Abro a caixa desajeitadamente e tiro a máquina dali. Ligo-a e posiciono para a foto.

— Se prepara pai. Um, dois e... xiiiiiis.

Após bater a foto, leva poucos segundos para que ela saia.

— Que linda. — digo, admirando a nossa imagem. — Vou montar um daqueles quadros na parede.

— Use e abuse do seu presente.

[...]

— Hora de irem pra cama! — Annie diz. — Deixa para tirar foto amanhã.

— Será que você pode levar para a escola? — Jas, pergunta. — Podemos tirar com o pessoal.

Olho para papai.

— Posso?

— É sua. Apenas tenha cuidado.

Desejo boa noite para ele e vovó, e subo com Jasmine.

— Vou tomar banho. — digo.

Largo a câmera na cama e vou até o guarda roupa. Pego um pijama e lingerie, e vou para o banheiro. Enquanto tomava meu banho, me dou conta de que ainda não sei, quem está me mandando aquelas mensagens. Passei o resto da tarde e noite na sala com o pessoal, que esqueci completamente do celular.

Termino o banho e escovo os dentes. Volto para o quarto, fazendo uma trança no meu cabelo.

— Olívia, pelo amor de Deus! Faz esse celular parar de apitar! Quero dormir.

Olho automaticamente para a minha cama, quando o celular apita.

Vou até ela rapidamente e agarro no aparelho. Abro as mensagens.

Desconhecido:

ahhh ficou irritada?

Desconhecido: EI?

Desconhecido: Isso é infantil.

Desconhecido: será que pode parar de me ignorar?

Desconhecido: Você é impossível!

Desconhecido: se eu te falar meu nome, você me responde?

Eu: Fala!

Desconhecido: SABIA! ME IGNORANDO, QUE FEIO CAMPBELL!

Eu: Como sabe meu sobrenome?

Desconhecido: Sei muita coisa sobre você. :)

Eu: Okay, estou com medo.

DesconhecidoNão precisa. Não irei machucá-la.

Eu: Então me diz seu nome.

Desconhecido: deixar você curiosa é legal.

Eu: Então não fala e eu te bloqueio. Tchau

Desconhecido: TUDO BEM.

Desconhecido: EU FALO.

Desconhecido: Estressada.

Desconhecido: Sabe o que é bom pra isso?

Eu: Sexo! Estou esperando.

Desconhecido: Me esperando? Que reviravolta.

Eu: Fala logo a merda do seu nome.

Desconhecido: Bruce.

E com a conquista da minha resposta, eu coloco o celular no silencioso e o plugo no carregador. Viro-me para o outro lado e me agarro a um travesseiro.

Amanhã aquele garoto vai me dizer como arrumou meu número.

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