No momento em que chego à cantina, estou ofegante e super envergonhada. E mais que isso, estou com raiva.
— Oli? — olho na direção de Daniel. — O que foi? Ele não te devolveu o celular?
— Devolveu.
— Então...? — Jasmine balança a cabeça.
Suspiro e largo a bolsa na mesa em que eles estavam.
— Nada.
Um menino loiro e o de piercing, Bruce, estavam na mesma mesa que eles. Eu apenas me afasto, indo até o lugar para comprar um lanche. Peço apenas um sanduíche natural e suco de laranja.
Enquanto esperava ficar pronto, desbloqueio o celular e vou até as mensagens com James.
James: QUE SAFADA! TIRA UMA FOTO DELE.James: MAS SEJA DISCRETAJames: POR QUE NÃO MANDOU A FOTO AINDA OLÍVIA? AFJames: EU SÓ QUERO VER A FOTO. NÃO QUERO ELE PARA MIM.James: POSTA A FOTO NO SNAPCHAT. E MATA OS INVEJOSOS DAQUI HAHAHAHAJames: POR QUE ESTÁ ME IGNORANDO OLÍVIA?
— Aqui!
Pago pelo lanche e volto até a mesa. Agora havia uma garota de cabelos longos e negros, ao lado do loiro. Ela era bonita.
— Hey! — ela sorri para mim. — Você é a Olívia!
— E você?
— Aurora. — ela me estende a mão e eu a aperto.
— Prazer.
Depois das apresentações, eu mordo um pedaço do meu sanduíche e respondo James.
Eu: Desculpe a demora. Meu professor pegou meu celular e só me devolveu agora. Ele leu minhas mensagens. Não pode usar celular na aula. Falo com você mais tarde. Skype às duas da tarde. Ok?
Guardo o celular na bolsa e como meu lanche, sem me envolver na conversa do grupo. Eu sentia o olhar de Bruce em mim e estava ficando incomodada com aquilo.
Quando o sinal toca, pego minha bolsa e o tudo que era para ser jogado fora e me levanto. Descarto o lixo e procuro o papel das aulas na bolsa. A próxima seria biologia. E por sorte, seria a última de hoje.
Estava a caminho da sala, quando sou puxada pra trás.
— EI! — olho para o garoto de cachos. — Qual o seu problema?
— Temos um trabalho para fazer. Juntos.
— Eu sei. Então por que não me chamou? Precisava apertar meu braço?
Bruce me solta e eu ajeito a blusa.
— Tenho uma ideia para o trabalho.
— Vai me contar?
— Amanhã.
O garoto sai andando e me deixa para trás, com cara de idiota. Reviro os olhos e corro para a aula de Biologia.
[...]
— Graças a Deus, essa manhã acabou!
Ergo minhas mãos para o alto, assim que saímos da escola.
Estávamos eu, Jasmine, Aurora, o loiro e Daniel. Nós somos os primeiros a subir no ônibus, o que faz Daniel gritar que os bancos dos fundos, são nossos. Eram seis. Sentei no ultimo da direita.
O motivo, eu não sabia. Mas não conseguia tirar o rosto do professor de artes da cabeça. E pior, não conseguia afastar a voz melodiosa da minha mente.
Antes do ônibus parar em frente à minha nova morada, ele parou uma esquina antes, para que Daniel, Aurora e o loiro descessem. Eles acenam para nós e se vão.
— Vocês chegaram! — Annie se levanta da poltrona, para nos recepcionar. — Como foi o primeiro dia Olívia?
— Entediante.
A velha mulher ri.
— Normal em um primeiro dia. Agora vão trocar de roupa para almoçar.
Olho em volta.
— Cadê meu pai?
— Um amigo da família arrumou uma entrevista para ele.
— Verdade? — ela assente. — Tomara que ele consiga.
— Ele vai minha filha.
Sorrio para ela e subo as escadas correndo. Jas já estava no nosso quarto.
— Daniel gostou de você.
— Isso te preocupa? — solto uma risada e me sento na cama.
— Ah... — ela senta—se de pernas cruzadas — ele é bonito né...
— Jas, eu não vou roubar ele de você. Sinceramente, nenhum desses meninos que conheci hoje, me chamaram atenção.
— E teve algum professor?
Reviro os olhos e jogo uma almofada nela.
— Não!
— Vou fingir que acredito.
Tiro o coturno e me levanto. Vou até o armário e tiro uma calça legging preta e uma blusa branca. Retiro a blusa da escola e visto a outra.
— Você não se incomoda? — Jas pergunta.
— Com o que?
— Se trocar na minha frente.
Tiro a saia e me sento na cama, de costas para ela.
— Não. — começo a vestir a legging. — Se eu já fiquei nua na frente de um homem, ficar de lingerie na frente de uma menina não é nada.
— Ahhh...
— Você é virgem? — pergunto, me virando para ela.
— E-Eu? Não...
Solto uma risada e pego o uniforme.
— Você é. Não se sinta envergonhada. Se eu soubesse o que aconteceria na minha vida, escolheria não perder.
— Por quê?
— VENHAM MENINAS!
— Acho que posso te contar depois.
Dobro a roupa e deixo-a em cima da cama. Calço os chinelos que estavam perto da cama e saio do quarto.
[...]
— Onde vai? — pergunto à Jasmine, quando ela desce toda perfumada.
— Dan me chamou para ir à sorveteria. Quer vir?
— Não mesmo.
Ela ri.
— Boa tarde.
— JAS!
— Que foooi?
— Você tem notebook?
— Tenho. Está na gaveta da minha escrivaninha. A senha é danipopozudo.
Gargalho como se não houvesse amanhã. Ela sai de casa e eu ainda estou rindo. Nossa avó havia saído para ir ao mercado e meu pai ainda não tinha voltado.
Subo as escadas e vou diretamente para o quarto. Abro a gaveta da escrivaninha e pego o notebook de lá. Sento-me na minha cama com as pernas cruzadas e abro o aparelho. Digito a hilariante senha e logo entro no skype. Conecto a minha conta e observo minha lista de amigos.
Grande parte dela, eram antigos colegas de turma. Meu ex também estava ali e online. Clico no nome de James e espero que ele me atenda.
— Oi bonecaaaaa.
— Oi platinado.
James tinha o cabelo arrepiado e branco. Ele era negro, mas o garoto resolveu se rebelar e pintou de branco. O contraste com sua sobrancelha preta e os olhos azuis eram enormes.
— Que saudade! — ele faz bico.
— Também estou, Jam.
— Me conta!
— O dia foi chato.
— Sobre o professor, gata!
James quando conseguia, sabia ser bem gay. Mas ele não era. Pegava mais mulher que galã de novela.
— Ele leu as minhas mensagens. Não imagina como eu fiquei envergonhada.
— Até eu ficaria. Mas como foi depois?
— Eu sai correndo do teatro. — ele ri. — Sexta tenho aula com ele, não quero imaginar como vai ser.
— Só sexta? Não vai ver ele na semana?
— Eu espero de coração, que não.
Ele ri e eu escuto o meu celular tocar.
— Está mandando mensagem para mim? — pergunto.
— Não. — ele ergue os braços.
Levanto da cama e vou até o armário. Reviro a bolsa que estava pendurada em um cabide. Pego o aparelho e volto para a cama.
— Se for o Luke...
— Não é. — respondo, olhando desconfiada para a tela.
Desconhecido:heey
Eu:quem é?
Desconhecido: tenta descobrir (:
Eu: Não sou obrigada!
— EI! — olho para a tela. — Quem é?
— Não sei.
— É algum admirador? Ahhh Oli, arrasando corações desde cedo.
Reviro os olhos.
— Deve ser algum desocupado.
O celular toca novamente e eu me vejo tentada a ler.
— Leia logo! — James exclama. — E me conta!
Desconhecido:Você não sabe brincar, hein! Que feito, Olívia
Desconhecido: feio* :D
Eu:Se eu soubesse quem é você, até poderíamos conversar. Mas eu não sei!
— Sabe Oli, Luke hoje estava de abraços com a Margareth.
— Por que está me falando deles?
— Porque eu sei que você ainda gosta dele.
— Gosto. Mas eu quero esquecer. Estou bem longe dele, então isso vai ajudar. Então por favor...
O celular toca.
— AHHHH OLÍVIA! QUEM É?
— EU NÃO SEI!
Desconhecido: Que falta de humor.
Eu: Luke, se for você, eu juro que dou um jeito de voltar ao Texas e matar você!
— Acho que era o Luke. — digo, bloqueando a tela do celular. — Não teve resposta imediata.
— Você o acusou?
— Tecnicamente, sim.
O celular toca mais uma vez e eu nem faço cerimônia. Abro logo a mensagem.
Desconhecido: hmm... eu não sei quem é Luke. Desculpe-me por frustrá-la.
Eu: Estou impaciente. Será que dá pra me dizer quem é?
Desconhecido:Não.
Bufo e bloqueio o celular.
— Que foi?
— Disse não ser o Luke. — reviro os olhos.
— Deve não ser. Você mudou de número assim que se mudou.
— Ah, é verdade, mas sei lá.
Escuto a porta bater e logo a voz de papai a me chamar.
— Meu pai chegou. — digo, animada. — Ele foi a uma entrevista de emprego.
— Tomara que ele tenha boas notícias.
— Verdade. Nos falamos depois, Jam. Beijos.
— Beijos, gata.
Espero ele fazer seu bico super fofo e fecho a tampa do notebook. Saio rapidamente da cama e desço as escadas.
— Oi!
Ele se vira bruscamente e esconde os braços para trás. Eu pude ter o reflexo de uma sacola bem enfeitada.
— Oi princesa. — papai sorri largamente.
Fazia muito tempo que eu não via aquele sorriso. Abraço-o rapidamente e estreito meus olhos para as suas mãos.
— O que tem aí?
— Depois você vai saber. — ele beija a minha testa. — Como foi a aula?
— Pula isso. Me fala como foi a sua entrevista de emprego.
— Ahhh... — ele se afasta um pouco e anda a minha volta. — Gregory me avaliou e... disse que eu sou ótimo para a vaga de gerente na loja dele.
Eu grito, super animada e pulo em cima dele.
— QUE NOTICIA MARAVILHOSA, PAI!
Ele me coloca no chão e continua sorrindo.
— A loja é de que?
— Aparelhos eletrônicos. E ele inclusive me deu um adiantamento...
— Não me diga que já gastou! Paiiiiiii!
— Calma, Oli! — ele ri. Estava muito feliz mesmo. — Eu estava andando pela loja e achei a sua cara.
Suspiro e cruzo os braços.
— O que é?
— Agora você quer? — ele sorri, divertido.
— Nunca disse que não queria.
Papai então tira a mão das costas e me estica a sacola de papel. Era uma sacola preta com o nome da empresa em dourado. Abro e meu coração saltita.
— Ai meu Deus!
— Você vivia me pedindo isso. Então...
Era uma câmera polaroid. Meu maior desejo no último ano. Mas infelizmente eu não pude ganhar. E felizmente, estava ganhando agora!
— OBRIGADA PAI! — pulo nele novamente. — Oh Deus. Vamos tirar a primeira foto juntos.
Abro a caixa desajeitadamente e tiro a máquina dali. Ligo-a e posiciono para a foto.
— Se prepara pai. Um, dois e... xiiiiiis.
Após bater a foto, leva poucos segundos para que ela saia.
— Que linda. — digo, admirando a nossa imagem. — Vou montar um daqueles quadros na parede.
— Use e abuse do seu presente.
[...]
— Hora de irem pra cama! — Annie diz. — Deixa para tirar foto amanhã.
— Será que você pode levar para a escola? — Jas, pergunta. — Podemos tirar com o pessoal.
Olho para papai.
— Posso?
— É sua. Apenas tenha cuidado.
Desejo boa noite para ele e vovó, e subo com Jasmine.
— Vou tomar banho. — digo.
Largo a câmera na cama e vou até o guarda roupa. Pego um pijama e lingerie, e vou para o banheiro. Enquanto tomava meu banho, me dou conta de que ainda não sei, quem está me mandando aquelas mensagens. Passei o resto da tarde e noite na sala com o pessoal, que esqueci completamente do celular.
Termino o banho e escovo os dentes. Volto para o quarto, fazendo uma trança no meu cabelo.
— Olívia, pelo amor de Deus! Faz esse celular parar de apitar! Quero dormir.
Olho automaticamente para a minha cama, quando o celular apita.
Vou até ela rapidamente e agarro no aparelho. Abro as mensagens.
Desconhecido:ahhh ficou irritada?Desconhecido: EI?Desconhecido: Isso é infantil.Desconhecido: será que pode parar de me ignorar?Desconhecido: Você é impossível!Desconhecido: se eu te falar meu nome, você me responde?
Eu: Fala!
Desconhecido: SABIA! ME IGNORANDO, QUE FEIO CAMPBELL!
Eu: Como sabe meu sobrenome?
Desconhecido: Sei muita coisa sobre você. :)
Eu: Okay, estou com medo.
Desconhecido: Não precisa. Não irei machucá-la.
Eu: Então me diz seu nome.
Desconhecido: deixar você curiosa é legal.
Eu: Então não fala e eu te bloqueio. Tchau
Desconhecido: TUDO BEM.Desconhecido: EU FALO.Desconhecido: Estressada.Desconhecido: Sabe o que é bom pra isso?
Eu: Sexo! Estou esperando.
Desconhecido: Me esperando? Que reviravolta.
Eu: Fala logo a merda do seu nome.
Desconhecido: Bruce.
E com a conquista da minha resposta, eu coloco o celular no silencioso e o plugo no carregador. Viro-me para o outro lado e me agarro a um travesseiro.
Amanhã aquele garoto vai me dizer como arrumou meu número.