XI - Shopping Time!!!

Parecia loucura pensar aquilo, mas qual seria a extensão do poder do Sexy Notes? Aparentemente suas palavras tinham moldado a realidade, fazendo com que Ricardo viesse até ela, então a única coisa que conseguia presumir era que Ben também havia escrito no caderno. Mas… monstros?

O que Ben estava querendo dizer com aquilo? Precisava ler seus livros.

—Como ele morreu?

A pergunta fora direta, mas assim como as palavras anteriores, não passara de outro sopro de voz. Havia diversas pessoas nas mesas próximas e Sky não queria que a ouvissem bisbilhotando sobre a vida de um homem morto.

Elliott refletira por um instante e ajeitara novamente os óculos sobre o nariz.

—Ben foi encontrado morto pelo filho, Johnny – explicara o sujeito – Parece que já estava lá tinha alguns dias, mas ninguém havia sentido sua falta. Em seus últimos meses pela cidade, o velho conseguiu afastar a todos com sua bebedeira e seus delírios. Pelo que soubemos, o homem cortou os pulsos e sangrou até a morte em um dos aposentos. Deus tenha piedade de sua alma.

Certo, agora a ruiva já sabia o que havia acontecido.

Resumindo, um velho escritor, alcoólatra, havia cometido suicídio na casa.

Sky suspirara, mais pensativa do que antes. Talvez tivesse sido melhor não saber a verdade. Alguns mistérios não foram feitos para serem desvendados.

—Felizmente não acredito em fantasmas… – comentara – Agradeço por me dizer a verdade, me sinto melhor assim. Não gosto de histórias pela metade. E a senhora Smith claramente omitiu esse detalhe durante a negociação.

O sujeito diante da garota erguera uma sobrancelha e esboçara um sorriso debochado em um canto dos lábios.

—Não vou negar que Valentine é uma cobra que só pensa em lucro – dissera Elliott – Mas sejamos francos, se ela tivesse lhe contado, teria comprado a casa?

Sky suspirara. Odiava quando homens a deixavam em xeque. Fatidicamente isso vinha acontecendo com frequência nos últimos dias. Sentia que passava da hora de retomar o controle das coisas ao seu redor.

—O preço foi realmente bom… – começara a ruiva – E não sou supersticiosa acerca de coisas assim, mas… não sei, sinceramente, não sei – admitira.

—Touché! – devolvera o velho apontando para a garota com o indicador ao mesmo tempo que piscava. Parecia satisfeito com o desfecho da conversa.

—Você venceu. Mas vou reiterar o que disse, não sou supersticiosa e estou gostando da casa. Precisa de umas reformas aqui e ali, mas nada que atrapalhe. Vou ficar bem por lá e vamos nos ver muitas vezes ainda, Elliott.

O velho esboçara um novo sorriso. Era bom ver que estava conquistando a amizade e confiança da garota.

—Fico feliz em ouvir isso. Ainda tenho muitas receitas deliciosas que espero ter o prazer de a ver provar – comentara fechando o punho e erguendo o polegar em sinal de positivo.

Outro cliente erguera o indicador solicitando a atenção do anfitrião e o velho acenara com a cabeça para Sky, se despedindo enquanto voltava ao trabalho.

A ruiva se focara nas anotações no tablet, organizando mentalmente a lista de atividades para aquele dia. Esperava não ter novas notícias obscuras sobre a casa que agora chamava de lar.

Shopping Time! – dissera a si mesma ao deixar o estabelecimento de Elliott.

Uma das vantagens em ser mulher e ter um cartão de crédito quase ilimitado era poder desfrutar do prazer de fazer compras irrefreadamente sem se importar com os gastos. Mesmo assim, a garota era controladora na questão financeira. Sempre pensara que se não soubesse administrar o que ganhava, não teria a vida confortável e tranquila da qual desfrutava.

Após visitar algumas lojas de roupas, calçados e acessórios, fazer compras como se não houvesse amanhã e deixar diversas encomendas confirmadas, Sky seguira direto para o salão de beleza Beautiful Life. Lecter B. Dickson fora umas das primeiras pessoas que a ruiva conhecera na cidade, logo nos primeiros dias que estivera por ali. A amizade nascera naturalmente.

O excêntrico jovem homossexual era dono de uma beleza singular de acordo com a opinião da escritora. Um belo corpo sarado em horas diárias de academia, pele clara como leite, lindas tatuagens, barba negra cuidada como uma obra de arte e cabelos de cor pink curtos, lisos, arrepiados e chamativos.

Sem mencionar o olhar encantador e a voz sensual e sedutora.

O salão do rapaz estava lotado e Sky não dispensara as quase cinco horas com tratamentos de cabelo, unhas e pele proporcionados pelas profissionais que trabalhavam no local. Sandy Lee, uma mestiça chinesa-americana cujo corpo e face eram tão lindos que poderiam colocar qualquer homem a seus pés, parecia ter ainda mãos mágicas atuando na arte da massoterapia.

Sky se entregara completamente ao relaxamento. Podia jurar que tivera um orgasmo silencioso nas mãos da massagista, algo que adoraria repetir, mas que jamais admitiria em voz alta para qualquer um.

Após o fim das sessões, a ruiva continuara no local conversando com Lecter e suas funcionárias sobre inúmeras curiosidades acerca da cidade. Já calculava dezenas de novos locais para visitar além dos recomendados por Elliott. Ficaria ocupada o bastante para não se entediar por muito tempo.

Antes de voltar para casa, a escritora dirigira até o porto para apreciar o pôr do sol. Camden era um lugar totalmente diferente da complexa e atribulada Nova York. Aquela bela e pequena cidade beira-mar, com suas montanhas tão verdes, repletas de natureza, o ar puro, a tranquilidade encontrada em tantas ruas. Era tudo tão pacífico e romântico que Sky pensava ser ali um lugar para se esquecer do resto do mundo e terminar seus dias.

O fim de seu romance com Robert, embora tivesse estabilizado sua vida na questão financeira, deixara um rombo em seu coração. Por anos, Sky pensara apenas em curtir a noite, beber e transar aleatoriamente apenas para satisfazer sua libido. Já fazia muito tempo que admitira para si mesmo sua sede insaciável por sexo. Era uma ninfomaníaca nata. Sentimentos não eram um requisito para orgasmos maravilhosos.

E fora essa a razão que a levara a dar uma rapidinha com Ricardo.

Agora, após um banho de loja e horas de puro relaxamento, se lembrava da razão pela qual partira de Nova York e também porque escolhera aquela cidade. Queria paz, descanso, talvez dali alguns anos, até mesmo um novo amor.

Recomeço. Era a palavra que deveria definir sua vida naquele ponto.

No horizonte, tons de vermelho, laranja e amarelo do sol naquele fim de tarde se despediam, desaparecendo ao se encontrarem com a escuridão do oceano. A brisa do mar esvoaçara os cabelos cor de fogo de Sky que estavam à mostra, saindo da touca de panda e ela os segurara.

Considerando o frio que se aproximava, a ruiva checara o clima no aplicativo, 10°, temperatura que deveria diminuir à medida que a noite caísse. Perfeito para um bom vinho ao pé da lareira. Ao longe, o dia desaparecia no mar e em seu lugar, o céu começava a ficar salpicado de estrelas, sem quaisquer vestígios de tempestades se aproximando. Um bom sinal.

Sky levara um susto ao se virar para voltar ao Renegade e dar de cara com um lindo par de olhos azuis. Ficara encarando o homem em silêncio por alguns segundos, memorizando cada detalhe daquela face e corpo maravilhosos.

—Precisamos parar de nos encontrar assim – dissera Jordan.

—De fato… – respondera a escritora – mas não pararmos de nos encontrar – pensara sem dizer as palavras em voz alta.

—Não que seja da minha conta… o que faz por aqui? Conhecendo o porto? – indagara o sujeito com um sorriso – Posso lhe mostrar tudo, se quiser.

Havia um desejo impulsivo dentro do peito da ruiva implorando para que ela aceitasse o convite, mas aquilo não fazia parte de seus planos para aquele dia. Não apenas isso, se lembrara dos lamentáveis resultados por sua impulsividade diante de suas necessidades sexuais com Ricardo.

Precisava se controlar, mesmo desejando o contrário.

—Podemos combinar um dia para esse passeio. Saí para as compras e quis apenas passar por aqui para conferir o pôr do sol antes de retornar – respondera.

—Como estão as coisas na casa? Não se acanhe em me ligar para realizar os reparos. Se quiser me visitar qualquer dia, meu barco é o vermelho e branco no fim do cais – dissera Jordan apontando na direção do mesmo com o olhar – a Rainha do Oceano, Siren. Pode me encontrar todos os dias por lá à noite.

O desejo da garota era ir conhecer o barco naquele momento, mas precisava se controlar. Havia a hora certa para tudo e Sky era sempre organizada.

—Vamos combinar assim, ligo amanhã sem falta e combinamos um dia para me visitar e ver o que precisa ser consertado na casa. Depois podemos sair para beber alguma coisa e aproveito para conhecer a Rainha – argumentara a ruiva.

Jordan concordara com um aceno de cabeça enquanto a garota se despedia e voltava a caminhar em direção ao veículo à margem da avenida. Mesmo já de costas para o rapaz, cada detalhe do gostosão continuava na mente da moça. A jaqueta negra, a camisa branca por baixo, o jeans e as botas negras. Os cabelos balançando levemente pela brisa marinha.

Aquele rosto sério, o olhar intenso e misterioso.

A atração entre ambos era inegável. E Sky sabia que Jordan a desejava com a mesma intensidade. O sexo era apenas questão de tempo e seria maravilhoso, com certeza, no momento que ela desejasse.

Precisava apenas planejar meticulosamente como seria e o faria com prazer.

Recomeço, com o controle absoluto de tudo em sua nova vida.

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