Leonardo chegou em casa com a sensação de pertencimento pulsando nas veias. Estava feliz por estar de volta, especialmente por reencontrar Breno.
Não quis perder tempo. Depois de um breve descanso, seguiu direto para a escola onde funcionavam as aulas do projeto.
Queria ver com os próprios olhos como as crianças estavam se desenvolvendo e sentir, de novo, que estava fazendo parte de algo bom.
Enquanto isso, Clara tomava uma decisão. A aproximação recente de Leonardo e Jéssica acendeu em seu interior um alerta que ela não ignoraria.
Era hora de ver, com os próprios olhos, quem era Hugo — e entender exatamente com o que estava lidando.
Juntou bastante coragem para chegar ao Grupo Novaes de surpresa, mas foi imediatamente impactada pelo que viu.
A fachada imponente, o ritmo coordenado dos funcionários, a aparência organizada e sofisticada do ambiente
— Eu não permito que você se refira a ela dessa maneira! — Hugo tremia, tentando permanecer calmo.Clara tentou manter a compostura, mas por dentro algo se rompia. Cada elogio de Hugo a ela era como um punhal ferindo sua carne, afiando ainda mais o ódio que fervia em seu peito.Ele falava como se ela fosse uma santa, alguém acima de Clara em alguma coisa. Mas não ia dar o gostinho de se mostrar vulnerável. Não agora.Ela sorriu, um sorriso mal esboçado que mais parecia uma careta de desgosto. Sentou-se na cadeira de Hugo como se já fosse sua, com a postura de quem dominava a sala.— Você a elogia agora, Hugo? — A voz dela era gelada, sarcástica. — Preciso me lembrar dessa sua sinceridade... não acho que ela tenha algum atributo. Aliás, ela não passa de um nada, mas não vim aqui para brigar.Ele a observou, sem uma palavra. Ela
Clara refrescou o rosto com as mãos trêmulas, tentando conter o pânico que lhe queimava o estômago.A sala estava silenciosa, exceto pelas notificações insistentes pipocando no celular sobre a “treta do ano”, como os portais de fofoca estavam chamando o escândalo.— Achei que essa maldita cidade não tinha paparazzi! — resmungava, andando de um lado para o outro com o celular nas mãos.Ela acreditou, com toda a convicção do seu ego, que o público a defenderia. Que veriam a cena com Hugo como um caso clássico de violência doméstica.Que diriam “coitada da Clara” e cancelariam o homem que a empurrou porta afora. Mas a internet não era feita apenas de empatia — era feita de memória.Vídeos antigos vieram à tona tão rápido quanto foram esquecidos. A “fuga
Clara manteve o corpo ereto, embora o coração batesse acelerado.O homem à sua frente tinha olhos frios demais para um desconhecido, mas falava com a firmeza de quem não estava ali por acaso.— Quem é você e como chegou aqui? — Ela foi direta ao ponto; não queria que Leonardo visse aquela figura em casa.— Sou Valdo. Do Grupo Valdo Veículos. Muito prazer. Vi o seu vídeo nas redes e fiz alguns telefonemas — o homem beijou as costas da mão dela com cortesia.— Concorrente do Hugo? — Ela repetiu, cruzando os braços. — Por que, exatamente, alguém como você estaria disposto a prejudicar o Hugo?Valdo sorriu de canto. Um sorriso seco, sem simpatia. O tipo de sorriso que revelava pouco e escondia muito.— Tenho contas antigas com ele — disse, desviando o olhar para o ambiente ao
Hugo estacionou o carro no hospital e permaneceu alguns segundos com as mãos no volante, tentando controlar o turbilhão de pensamentos que tomava conta de sua mente.O encontro com Clara havia liberado memórias, trazido à tona a sensação do homem fraco e incompetente que permitiu que seus filhos sofressem violência dentro da própria casa. Algo nela o alertava.E, mais do que nunca, ele precisava ter Jéssica e as crianças por perto, sob seus olhos, protegidos.— Tudo bem? Estranhei sua mensagem. —Jéssica entrou com cara cansada e preocupada.— Clara apareceu. — Ele respondeu ligando o carro.— O Que?! — Jéssica sentiu o coração disparar.— Entrou na minha sala como se fosse a rainha de Sabá. Querendo me propor um acordo pra afastar você e Breno do Leonardo. — Ele apertou o volante com ma
Jéssica acordou às 5h40 com um barulho alto vindo da cozinha. Garantiu que Breno continuasse dormindo e foi ver o que estava acontecendo. Já podia prever a situação: Leonardo tinha chegado bêbado novamente. Essa situação se tornou frequente desde que se casaram.— Bom dia. — disse ela, chegando na cozinha para confirmar seu palpite. O marido estava caindo de bêbado. Mal se aguentava em pé. Tentava pegar um copo d’água, mas, apoiado na porta da geladeira, balançava muito e quase derrubou tudo o que tinha lá dentro. Um barulho que certamente acordaria o bebê.— Para com isso! — ela o sentou na cadeira e pegou a água para servi-lo, a fim de evitar o pior.— Meu anjo, Jéssica... — ele falava com a voz embargada pelo álcool. Não dava para saber se estava elogiando ou debochando da esposa. Ela o servia em partes para evitar o escândalo e, em parte, porque realmente acreditava que esse era o dever de uma boa esposa.— Qual é o problema com esse seu trabalho? Você é o único da banda que chega
Do outro lado da cidade, Hugo e Clara estavam discutindo sobre a campanha que Clara estrelaria. O sonho dela de se tornar uma influencer famosa parecia finalmente estar dando os frutos desejados.— Não podemos colocar cerveja numa campanha de carros, Clara!. O cliente já especificou o que gostaria que tivesse no comercial. — Hugo estava exausto nesse momento. Estava há horas tentando convencer a esposa a fazer exatamente o que o cliente queria, e não havia nenhum sinal de que ela tivesse entendido o que precisava.— Uma campanha com amigas se divertindo vai parecer muito mais legal. E vai atrair os jovens. As amigas, com roupas bem sensuais, bebendo muito... — Ela divagava, como se não estivesse falando nenhum absurdo. O problema é que o principal posicionamento das redes dela era a família. Mudar assim não fazia sentido para ninguém.— Clara, é um carro para família! Não tem nada de sensual nessa campanha! Você pelo menos leu o briefing? — Hugo parecia um pouco exasperado. Clara tem
Leonardo olha a notificação no celular com expressão neutra. Manter Clara por perto tem suas vantagens e desvantagens. Ele observa o vestido que tem nas mãos com atenção, lembrando das curvas de sua esposa. Precisa agradar a Jéssica hoje.Sabe que passou do limite, pois a vizinha veio reclamar da barulheira de bêbado que ele fez. Foi muito gentil com a vizinha, pediu um milhão de desculpas e prometeu que nunca mais iria acontecer.Não é que ele sinta arrependimento pelas suas ações. Acontece que precisa criar uma boa imagem pública, pois será uma estrela do rock algum dia. Leonardo jamais deixa qualquer coisa ao acaso. Sempre faz tudo projetando o futuro que deseja para si mesmo.Conferiu todo o cenário que montou para esposa. Se tinha flores o suficiente, se os doces estavam bem atrativos, se o cheiro traria boas lembranças. Precisava seduzir para ter o que queria. O perdão da esposa. Pediu pra mãe ficar com Breno durante a noite. Queria que a surpresa fosse completa e planejou leva
Depois da festa, Jéssica e Leonardo voltaram para casa e o clima de romance continuava. Leonardo estava sendo o melhor marido do mundo naquela noite. Tudo perfeito e muito romântico, exatamente como Jéssica sempre sonhou.Nem as grosserias de Clara conseguiram ofuscar o brilho daquela noite. ela conseguiu descansar um pouco e foi para o trabalhar.No trabalho, Jéssica estava nas nuvens, toda distraída, lembrando-se da noite passada.— Mulher, que isso? Hoje você parece tão... leve — Janete falou com um leve deboche, que Clara não percebeu.— E estou mesmo. As coisas parecem que vão melhorar — Jéssica nunca falava da vida pessoal no trabalho e foi a única coisa que disse para Janete, por mais que a amiga insistisse.— O que aconteceu que te deixou assim tão feliz? — Janete procurava saber qualquer coisa sobre a vida de Jéssica. Não entendia o porquê de Luan falar tanto com ela todo dia à tarde e pensava que estivessem tendo um caso.— Coisa minha. Nada demais. Agora, deixa eu passar as