Mundo ficciónIniciar sesiónAs folhas alaranjadas caiam dos galhos das árvores, se amontoando em uma pilha de vários tons quentes, contrastando com a grama ainda verde.
Olhei para os calouros lá embaixo, rindo empolgados com o próximo festival de outono, e os invejei secretamente.
Dois dias se passaram, e eu ainda não consegui me livrar das marcas externas que ficaram no meu corpo. Não consegui ir a aula. Temi encontra-lo e simplesmente desmaiar de medo ou de nervoso.
Pior do que o hematoma em meu pescoço, eram os meus sentimentos.
Blake veio ao meu quarto duas vezes, mas eu não tive coragem de recebe-la. Fiquei em silencio até ela ir embora, mesmo sabendo que eu estava lá dentro. Ela era uma hibrida e podia sentir o meu cheiro.
Apertei a manta peluciada contra meu corpo magro, me encolhendo na poltrona verde musgo perto da janela. A lareira estava acesa, meu ciclo tinha acabado, e mesmo assim eu me sentia gelada, como se fosse incapaz de me aquecer novamente.
Sabia que precisava sair dessa, e parar de chorar, mas até agora, tudo o que eu fazia era chorar, cochilar brevemente e tentar esquentar. Kael me ligou inúmeras vezes, ele estava muito preocupado, tentou entrar pela janela oculta, mas eu a lacrei.
Só de pensar no que poderia acontecer se ele viesse ao meu quarto de novo, meu corpo tremia violentamente. “Não quero a minha irmã andando como uma vadiazinha...” as palavras carregadas de desprezo se repetiam em minha mente, inúmeras vezes.
Pensei em contar para minha mãe como eu estava sentindo, mas isso revelaria o lado de Zayden que meus pais, e até os pais dele, não conheciam.
Eles o amavam muito, sem contar que eram muito próximos de Cyrus e de Ravena, o rei e a rainha dos vampiros. Me lembrei deles no último baile de inverno interespécies nos grandes salões de Northshore.
Não... eu não podia fazer isso com eles.
Zayden e Blake eram o tesouro dos reis vampiros, uma dinastia que precedia eras. Durante a guerra, eles quase foram mortos no ventre da rainha Ravena, e havia até um mistério em torno dos gêmeos, uma história que dizia que o primogênito, o herdeiro do trono vermelho, foi morto e voltou das trevas.
Nunca acreditei naquela história bizarra.
Mas, ao pensar no que houve duas noites atras, comecei a duvidar se realmente não aconteceu.
- Neréia, já chega. Ou me deixa entrar, ou eu mesmo vou abrir essa porta. – A voz de Blake, do lado de fora do dormitório, me sobressaltou.
Meus óculos voaram para longe, e eu os peguei rapidamente. Segui para a porta e a abri, vencida. Sabia o quanto minha amiga era persistente, e ela foi até respeitosa até aqui.
Blake entrou, com suas vestes incríveis da casa vampírica. Usava meias sete oitavos rendada pretas, a saia drapeada em preto com o xadrez de linhas douradas, camisa preta e corpete de veludo da mesma cor, modelando sua cintura fina, e o decote dos seios. Botas negras de salto agulha em espiral, de cano alto, e a capa grossa e forrada, em preto noite.
Ela me abraçou forte, sem me dar tempo de dizer nada.
- Tem ideia do quanto estava preocupada?! – ralhou. – Eu até mesmo mandei um corvo. Por que está chorando a dois dias?
Blake me afastou alguns centímetros. Me senti tão inferior perto dela, estava usando uma calça cinza de moletom, dois suéteres grossos marrom, e meias de lã de carneiro. Meus cabelos estavam soltos, revoltados como sempre, e eu apostava minha vida, que minha pele tinha um aspecto doentio pela palidez.
Ela apertou minhas mãos, me fazendo levantar a cabeça e encontrar seus olhos violeta. Minha amiga tinha os olhos mais intensos e perfeitos que já vi, como duas joias faiscantes. Além disso, Blake tinha um corpo curvilíneo, longos cabelos negros brilhantes e macios como a mais pura seda, pele alva e levemente pálida, por ser parte vampira. Os traços de seu rosto, da boca rosa em forma de coração, e até seu perfume, foram feitos para hipnotizar.
Assim como Zayden.
Fechei os olhos, tentando não pensar na imagem dele, a centímetros do meu rosto, inflamado pelo ódio. Eu queria me lembrar do Zay de antes, o que tinha um sorriso fácil, que criavam covinhas em sua face perfeita, o garoto que me trazia cristais coloridos dizendo que eram joias, com seus cabelos prateados bagunçados, e uma expressão misteriosa.
Eu amava aquele Zay, mas precisava deixa-lo somente em minhas lembranças. Aquele vampiro de olhos famintos pelas chamas, de força descomunal e crueldade ilimitada, não era o Zay. Ele era Zayden Valack, o maioral da Uperside, o herdeiro do trono dos vampiros.
- Nés.. – Blake enxugou o meu rosto com carinho, usando o apelido carinhoso que me deu quando éramos crianças. Um diminutivo do meu primeiro e segundo nome, Neréia Sionna.
Funguei envergonhada, nem tinha percebido que estava chorando.
- Não é nada... eu... – nunca seria capaz de contar o que ele fez, para ninguém. A própria lembrança já era humilhante demais. – Kael e eu tivemos uma briga, e eu precisei dar um tempo...
- Kael? – ela perguntou, passando os olhos pelo ambiente, e depois os cravando em mim. – Então porque eu sinto o rastro da presença do Zay no quarto inteiro?







