Capítulo II

Finalmente chegara o dia do julgamento de Sheryl. Ela estava

nervosa e apreensiva, porém confiante. Instruída pela sua advogada, teria

que mentir para conseguir sua liberdade, mesmo que provisória, pois esses

processos costumavam ser longos e enfadonhos, devido às constantes

investigações e contradições de algumas testemunhas. Sheryl estava arrumada

e partiu. Esperava ser questionada. Estava tensa, nervosa e insegura. A

doutora Kate tentava deixá-la o mais calma possível e então iniciou-se. Era

notório a todos ali presentes a apreensão de Sheryl, mas muita gente

entendeu que fora emoções causadas devido ao sofrimento. O promotor começou

a fazer perguntas constrangedoras a Sheryl e a mesma respondia apreensiva.

A advogada, à Data vênia, interrompia alegando abuso devido às perguntas

constrangedoras e a pior de todas foi esta:

-Senhorita Madison, por que a senhorita trocou a sua

identidade? Por que todos em Floyd a conheciam como Sarah Young?

-Eu fui obrigada a isso. -Respondeu prontamente.

-Será? Dois oficiais aqui presentes, o senhor Jones White e o

Tenente Oliver Stuart, oficiais esses que realizaram a vossa prisão em

Floyd, não afirmam ter visto isso. Muito pelo contrário. Eles afirmam que a

senhorita vivia com o Anthony Tramell de livre e espontânea vontade, como

um casal aparentemente normal.

-Protesto! -Disse a doutora Kate. -O senhor está coagindo a

minha cliente.

-Protesto indeferido, prossiga. -Disse o juiz. O promotor

então pediu que se apresentasse as testemunhas. O tenente Oliver Stuart foi

firme em seu depoimento e disse tudo que vira ao realizar a prisão de

Sheryl, porém o oficial Jones White entrou em contradição quando viu o

olhar da mesma. O sentimento falou mais alto e ele não sabia ao certo se a

Sheryl estava com o Tony Tramell de livre e espontânea vontade ou se estava

por coerção. Isso foi o que bastou para o veredicto das testemunhas. Houve

um tempo para uma pausa e o julgamento procedeu normalmente. Após

testemunhas ouvidas o juiz então deu a sentença:

-Declaro, por decisão unânime do júri e por falta de solidez

nas provas apresentadas a ré, Sheryl Ann Madison, que fora acusada de

falsidade ideológica e cumplicidade de assassinato praticado por Anthony

Richards Tramell. Inocente!

Sheryl deu um grito e abraçou a advogada que vibrara também.

As duas saíram dali confiantes e a doutora dizia:

-Essa foi por pouco.

-Obrigada, doutora. És uma excelente advogada.

-Não há de quê. Embora saiba que a sua história seja bem

diferente da que apresentamos, são ossos do ofício. De certa forma, eu lhe

admiro. Não sei se teria a sua coragem. Nem por todo amor desse mundo.

-Se um dia chegares a amar alguém, doutora, verá que o amor

verdadeiro às vezes supera as razões e muitas vezes até a realidade. Está

além da vida, além da morte, além de muita coisa. Chega ser sublime, mesmo

em seu lado mais negro.

A doutora Kate ficou séria fitando a jovem que praticamente

recitava um poema com total veemência dos seus sentimentos e então esboçou

um sorriso:

-Eu desejo que você seja feliz, Sheryl. E se precisar de mim

novamente, é só chamar.

-Pode deixar. Chamarei sim. Muito obrigada, mais uma vez. -

Disse abraçando-a.

Sheryl mal podia esperar pela sexta-feira. Aqueles dois

curtos dias seriam como uma eternidade para ela. Ver o Tony e lhe contar

sobre a primeira vitória alcançada seria o marco da felicidade. -Sim, as

coisas estão dando certo e os ventos estão favorecendo para nós. -Assim ela

pensava alto.

Sorria, suspirava e mal podia esperar pela resposta do seu

amado. Agora era só executar o plano de fuga e cair na estrada, afinal de

contas ela estava livre, mas era a mulher de um foragido, caso a sua morte

fosse desmascarada e a mulher de um foragido não deixa de ter esta sina,

viver perigosamente. O medo de Sheryl era apenas a pequena Valentina. Se

algo desse errado, seria muito sofrimento para a pequena. Ela ficava

apreensiva ao lembrar desse detalhe. Sabia que estaria expondo a sua filha

a situações deveras constrangedoras, mas sim, isto também seria um risco.

Já havia pensado em deixar a sua filha com os seus pais, mas a pequena

cresceria sem os pais? Não! Isso definitivamente estava fora de cogitação.

Valentina não tinha culpa de ter pais contraventores, pois, a Sheryl se

considerava contraventora, já que mentira para a justiça a fim de ficar

livre e então fugir com o Tony, que por sua vez era um assassino. As provas

que a polícia tinha contra Tony Tramell, o colocaria na cadeia com sentença

condenatória e até mesmo execução, já que maníaco de mulheres é odiado por

unanimidade. A pergunta que não queria calar era; O que fez Tony Tramell,

um assassino frio e calculista, determinado a exterminar mulheres,

apaixonar-se por Sheryl Madison? Uma mulher que seguia o perfil exato de

todas as mulheres por ele assassinadas. Cabelos pretos, lisos e longos,

franja grande em cima do olho, olhos azuis e beleza surreal. Claro, de

todas as mulheres que o Tony assassinara, nenhuma delas se assemelhava a

beleza de Sheryl. Tinham de certo, traços semelhantes. Todas magras,

esbeltas e bonitas, porém a Sheryl possuía uma beleza única. Um rosto

iluminado, semelhante a uma egípcia. Tony por várias vezes dizia que ela

parecia uma deusa egípcia bela e sedutora e além disso tudo possuía uma

inteligência fora do comum, poder de persuasão de sobra, o que ela tentou

fazer no começo a fim de dominar o Tony, acabou por tomá-la de tal forma

que ela já não sabia mais distinguir ficção de realidade. A única coisa que

a Sheryl sabia era que amava aquele homem e estava disposta a fazer o que

fosse para viver ao seu lado. Se fosse preciso mentir, ela mentiria. Se

fosse preciso fugir, ela fugiria e com esse pensamento manteve-se firme em

sua decisão.

Tony entrou em contato com Sergei. Porém como era de sua

astúcia ele resolveu omitir os crimes. Ninguém ajudaria um maníaco

assassino de mulheres, por mais amigo que ele fosse. Omitindo tais crimes,

surgiria a dúvida e para ele agora a dúvida era melhor que a certeza. Se

Sergei tivesse certeza que Tony era um assassino, poderia entregá-lo, mas

se tivesse dúvida, jamais o faria, até porque, como um assassino de

mulheres estaria convivendo com uma bela mulher e uma criança? Qualquer

ser em sã consciência ficaria a dúvida e com Serguei Adamovic não foi

diferente. Ele conversou com o Tony e se comprometeu em ajudá-lo. Instruiu

em qual navio o Tony deveria entrar clandestinamente e aportar em Moscou.

Chegando lá disse-lhe o lugar que o encontraria. Sergei também disse estar

casado e que tinha uma filha da idade da pequena Valentina, chamada Irina.

Os dois conversavam pelo telefone como velhos amigos que eram e o Tony

também teria boas notícias para a sua amada. Sexta-Feira chegara e Sheryl

mal podia se conter para encontrar-se com Tony. Estava aflita e com muitas

saudades, ao mesmo tempo tendo que levar o oficial Jones em "banho-maria",

sempre adiando os encontros e fingindo uma amizade, afinal ele, de certa

forma, livrara a sua pele no seu depoimento confuso e incerto. As horas

pareciam não passar. Sheryl ficou em casa o dia inteiro alegando estar

adoentada. Sua mãe ofereceu-se para ficar com ela, mas ela disse que estava

apenas estafada psicologicamente e precisava ficar sozinha. Trancou todas

as portas, tomou um banho demorado, arrumou-se e perfumou-se. Colocou um

vestido branco, porém simples para não causar suspeitas e ficou ali no seu

quarto, com a janela aberta a esperar o Tony. Adormeceu esperando e quando

abria os olhos lentamente viu alguém beijando seu rosto. Levantou-se

assustada mas logo sorriu ao ver que era o próprio. Como ele estava lindo,

assim ela pensava e então falou:

-Se essa fosse a minha última imagem antes de morrer, eu

morreria feliz. Você está lindo!

-Eu não acredito que você roubou a minha mente e as minhas

palavras. Você é linda e eu quem morreria feliz ao ver você dormindo tão

inocentemente.

Os olhos de ambos brilhavam, era um sentimento único.

Palavras já não cabiam mais para aquele momento mágico em que eles se

olhavam como se estivessem hipnotizados. Algo que não sabiam controlar.

Apenas olharam-se e os olhares foram dando lugar a toques, beijos e mais

uma vez renderam-se ao amor em sua plenitude, sem preocupar-se com

absolutamente nada. Nem com uma visita inusitada e tampouco com a situação

em que viviam. Sheryl e Tony viviam perigosamente ao extremo. Qualquer

descuido seria fatal,seria mortal, mas eles estavam confiantes. Sheryl

desabotoava a camisa de Tony com pressa e beijava seu peito, encostava a

cabeça nele e continuavam a beijar-se, Tony a levantava em seus braços como

se estivesse a levantar uma pluma devido a sua força e tamanho, em seguida

a envolvia e a tocava, tirando lentamente o seu vestido branco. O jeito

como eles se olhavam era mágico, era como se pudessem ler ambas as mentes.

Tony era másculo e viril. Colocava a arma em cima da escrivaninha,

cuidadosamente, virando-se em seguida para dar continuidade às carícias em

sua amada, pegando-a nos braços como se fosse uma garotinha e levando-a

para a cama e para o amor. O tempo parecia não passar quando estavam juntos

e entre sussurros ofegantes, eles apenas entregavam-se. Ver um homem como

Tony Trammel, um assassino sanguinário e impiedoso, entregando-se daquela

maneira, rendendo-se a uma mulher daquele jeito, era realmente

inacreditável. Fazia, de certa forma, surgir dúvidas a respeito do seu real

caráter. Eram fatos inexplicáveis. Os dois se amaram, descansaram e depois,

sentaram-se à cama para executar a primeira parte do plano:

-O meu julgamento foi um sucesso, meu amor. -Disse cobrindo-

se com o lençol.

-Sim, eu soube.

-Como? -Indagou curiosa.

-Eu sempre sei de tudo.

-Então, senhor "Sabe tudo" me conte novidades. Por favor,

novidades boas.

-Boas não, Excelentes! O Sergei vai me ajudar. Um navio

partirá para Moscou daqui há exatos quinze dias. Ele me instruiu sobre

tudo. Hora e local que deverei partir. Entrarei clandestinamente neste

navio e chegarei a Moscou, de lá seguirei para Novosibirsk. Será uma viagem

arriscada e desconfortável, mas quando chegar ao destino final, viveremos a

bonança. Aqui estão os seus documentos. Seu nome agora é Tânia Clarckson e

a Valentina Chelsea Clarckson. Você precisa instruí-la para que não entre

em contradição com o nome. Agora a parte principal. Você não pegará um voo

para Moscou, mas para outra cidade da Rússia, Novosibirsk, esta é a cidade.

Sergei vai estar lhe esperando lá. Você verá uma placa Sergei Adamovic.

Procure-o e identifique-se, ele fala inglês fluente, como nós. Você me

encontrará na casa dele. Estarei lá esperando por você. Ele também é casado

e tem uma filha da idade da nossa Valentina.

-Tony, estou com medo. Como você entrará neste navio?

-Não se preocupe. Entrar sem ser percebido nos lugares é a

minha especialidade, embora seja difícil de acreditar. Eu sei que será

arriscado, meu amor, mas é agora ou nunca. Se arriscarmos e perdermos, pelo

menos viveremos algum período juntos, até a nossa filha crescer mais e ter

algum entendimento das coisas. Se não arriscarmos e continuarmos vivendo

este amor clandestino aqui nos EUA seremos descobertos e será a nossa

ruína. Talvez nunca mais toque essa pele, esses cabelos, esse rosto. -Disse

tocando-a.

-Não. Nós iremos arriscar sim. Sem dúvida alguma.

-Então preste atenção. Vou lhe explicar passo a passo o que

deverá fazer. Daqui há quinze dias partirei. Infelizmente não terei como

lhe avisar que cheguei. Quinze dias depois você vai partir, ou seja, um mês

após a minha partida. Antes você precisa se organizar. Não leve muita

coisa, não levante suspeita. Pegue a Valentina na escola neste dia e saia a

noite. O seu voo será pela madrugada, horário perfeito para ninguém

desconfiar.

-Como vou sair de casa essa hora?

-Da mesma maneira que eu entrava. Pela janela. Siga pelo

atalho de mato e sairá no meio da cidade. Coloque um disfarce, um chapéu,

algo do tipo e tome o primeiro táxi que aparecer rumo ao aeroporto.

-Tony, será perigoso. Eu e a Valentina apenas...

-Não. Se você seguir exatamente o que estou lhe falando não

será. Tranque a porta do seu quarto e saia pela janela com a Valentina.

-Tudo bem.

-Então vais pegar um voo para Novosibirsk. Quando você chegar

lá o Sergei estará lhe esperando. Você irá com ele para a sua casa e lá

estarei lhe esperando. Quando chegares lá, ficaremos por alguns dias e

depois partiremos rumo a Veliky Novgorod. Uma cidade russa.

-Meu amor, eu não sei falar russo.

-Eu falo pouco. Mas lá também se fala inglês e aos poucos

vamos nos ajeitando por lá. Nomes novos, documentos novos, vidas novas.

-Difícil será a Valentina ser chamada de Chelsea na escola e

aceitar. -Riu-se.

-Eu sei meu amor, mas é a nossa única chance.

-Sim. Terei que ensiná-la.

-Infelizmente não é certo. Mas nada em nós é certo. Exceto

este amor que nos une a ponto de enfrentarmos o mundo. -Disse segurando a

sua mão.

-Sim. Isso me dá ânimo.

-Acho que nem preciso dizer que eu te amo, não é?

-Precisa sim. Eu quero ouvir toda hora.

-Então prepare os ouvidos porque você vai enjoar.

Os dois se beijaram e ficaram ali acertando os

últimos detalhes para a partida de ambos. Sheryl estava notoriamente

nervosa e apreensiva. Seria um risco absurdo e ela não sossegaria até

chegar ao seu destino final. No fundo ela sabia que, um dia poderiam ser

descobertos, pois nenhuma mentira durava para sempre. Algumas por longos

tempos e outras por pouco, mas ela acreditava que dessa vez ficaria muito

tempo no anonimato, pois estava fugindo para outro país e com documentos

falsos. Caso fosse pega no aeroporto o seu mundo desmoronaria ali mesmo,

mas ela não poderia desistir sem ao menos tentar.

-Tony, se eu for pega no aeroporto eu prefiro ser presa mas

jamais falarei de você.

-Sarah, pare com isso! Você não será pega. Ninguém suspeita

de você até então. Qual motivos você teria para fugir? Você será Tânia.

Quem é Tânia? Claro que uma hora eles irão descobrir. Ligar as peças do

quebra cabeça e tentar nos caçar. Mas não será fácil em outro país.

Estaremos fora dos EUA. Não será fácil para nós mas também não será fácil

para eles. Confia em mim, meu amor.

-Sim. Confio plenamente.

-Veja, aparentemente não existem motivos para você fugir.

Precisamos ser espertos. Você vai deixar uma carta para seus pais.

-Uma carta? Mas... O que vou escrever nesta carta?

-Você vai dizer que andou pensando bem e que resolveu dar um

tempo. Morar sozinha com a Valentina e reconstruir a sua vida em outra

cidade. Recomeçar. Mas quer recomeçar sozinha com a sua filha e com as suas

lembranças apenas.

-Tony, isso é loucura. Eles vão desconfiar.

-Sim, vão. Isso é óbvio. Mas você é uma mulher livre perante

a lei. Pode mudar-se para onde quiser. Claro que seus pais irão desconfiar

e até procurar a polícia. Essa atitude vai se concretizar ainda mais quando

você não mais procurá-los. É minha querida, são seus pais, eu sei... Mas

quando chegarmos a Novosibirsk você terá que esquecer que teve uma vida em

Springfield e reconstruir a sua vida literalmente e isso inclui deixar seus

pais para trás.

-Eu sei. -Disse em tom melancólico.

-Eu não queria que fosse assim, mas infelizmente essa será a

única maneira de ficarmos juntos. -Tony parou e lembrou de mais um

detalhe:

-Outra coisa, essa será a pior parte, mas você terá que

fazer. Eu não queria isso e estou morrendo por dentro só de imaginar, mas

pensei em muitas coisas esses dias no meu esconderijo e vi que essa poderia

ser uma bela saída.

-O quê?

-Você precisa ganhar a confiança daquele policial desgraçado.

-O oficial Jones? Mas... De que maneira?

-Meu amor, ele está apaixonado por você. Sinto vontade de

matá-lo só em ter que pronunciar tal frase, mas é a verdade. Disse passando

a mão nervosamente sobre os cabelos lisos e suspirando. -Você vai aceitar a

amizade dele. Aceite o convite que ele lhe fez há algumas semanas atrás e

sonde. Você é inteligente. Veja aonde ele está querendo chegar e até que

ponto ele pensa que eu estou vivo. Se ele souber além do que imagino terei

o enorme prazer de matá-lo lentamente.

-Não, Tony. Se você matá-lo tudo irá se complicar.

-Por agora não. Mas eu vou. Essa oportunidade não vou deixar

passar. -Disse arregalando os olhos.

-Tony, vamos pensar apenas em nós, tá certo? Lhe confesso que

achei excepcional essa ideia do oficial Jones. Ele com certeza me fará

perguntas ao nosso respeito neste jantar e assim verei até onde ele sabe.

-Faça isso, mas cuidado.

-Terei.

-Ah e... Comporte-se, mocinha! Nada de intimidades com esse

tira maldito.

-Vou fazer de conta que não ouvi isso.

-Estou falando sério. -Franziu o cenho.

-E eu mais ainda! Estás a duvidar de mim agora? -Perguntou

rispidamente.

-Sarah, não vamos brigar, não é? Me irrita, de certa forma

saber que você estará próxima a um imbecil apaixonado.

-Tony, pelo amor de Deus, Tony! O que preciso fazer para lhe

provar que eu só tenho olhos pra você? Será que tudo o que estou fazendo

não é o suficiente? Tony olhou para Sheryl sério, mas logo deu lugar a um

olhar mais tênue. Segurou-lhe as mãos, beijou ambas, depois beijou-lhe a

boca e disse:

-Hey, você não precisa fazer nada. Eu sei disso, sua boba.

Não é em você que não confio, é nele.

-Mas ele não terá nada de mim se eu não quiser e eu não

quero. A não ser que ele me sequestre como você fez. -Disse em tom irônico.

-Eu o mataria antes disso. -Franziu o cenho com raiva.

-Estou brincando. -Riu-se. -Você é louco. Cria situações

realmente inexistentes. Isso não existe, meu amor. Vamos falar sério agora.

-Sarah, eu nunca falei tão sério em toda a minha vida. Se

esse oficial tentar qualquer coisa com você eu o mato.

Sheryl ainda se assustava com o jeito feroz do Tony, mas no

fundo ela sabia que ele jamais a machucaria. Essa situação também lhe

causara um pouco de satisfação, ao ver como o seu amado lhe protegia e lhe

amava verdadeiramente. Era difícil de acreditar as vezes em tudo aquilo, no

amor que ela sentia por um assassino perigoso. Para a maioria das pessoas

amar um assassino era como domesticar um tigre. Você o mantém domesticado

até certo ponto, quando menos se espera ele pode esquecer que está em

convívio amigável e agir selvagemente, edificando as suas verdadeiras

origens, mas Sheryl sabia que o Tony era sim, um tigre feroz para os

outros, mas não para ela e Valentina. As vezes o lado racional falava mais

alto e ela se pegava pensando, Por quê o Tony assassinou tantas garotas?

Por que cometera tantos crimes? Sendo que durante esses anos de convivência

com ele, ela pode despertar naquele maníaco frio um amor tão verdadeiro,

mas tão verdadeiro que o fizera parar de cometer tais atos. Ela não sabia

como isso acontecera e nem como cedera a isso. Não se sabia por quanto

tempo ele ficaria sem matar, pois um assassino nunca para por completo.

Matar é como fazer tatuagens. Você faz uma, acha que não vai ter coragem de

fazer a segunda então faz e quando vai ver já virou um círculo vicioso, um

ato comum, assim ela pensava. Nunca houvera matado alguém, mas estudava

muito sobre isso. Tony, de certa forma, encaixava-se no perfil de um Serial

Killer e que podia muito bem, de uma hora para outra, voltar a fazê-lo, mas

ela também não imaginaria a sua vida sem ele. Sabia que era loucura, sabia

que estava rompendo com tudo e com todos os princípios, que estaria

realmente rasgando os parâmetros comuns de sociedade e convivência, mas ela

não se importava com isso. O sentimento por aquele homem vencia fronteiras,

derrubava barreiras e ela sabia que seria capaz de tudo para estar ao lado

dele. Mesmo correndo riscos de todas as partes, mesmo sabendo que no fundo

poderia dar errado, mesmo sabendo que se tudo isso desse errado, ela

estaria completamente só. Sheryl deixava de preocupar-se com o futuro e

passava apenas a viver o presente e o presente era ela, Tony e a pequena

Valentina. Estava decidida a isso e nem a razão, nem a lucidez a faria

voltar atrás.

Na delegacia, o telefone tocou e o tenente Oliver

prontamente atendeu:

-Delegacia de Springfield, em que posso ajudar?

-O oficial Jones, Ele se encontra?

-Sim. A quem devo anunciar?

-Sheryl Madison.

Houve um instante de silêncio. O tenente pediu a outro oficial que fosse

chamar o colega. O mesmo atendeu em uma sala reservada.

-Sim, pois não.

-Oficial Jones?

-Sim.

-É Sheryl Madison.

-Sheryl? Tudo bem? O que aconteceu?

-Nada. Apenas ligando para saber se aquele convite para

jantar ainda está de pé.

O oficial nem podia acreditar no que acabara de escutar, mal

sabendo que estava sendo vítima de uma conspiração. Sua respiração acelerou

e um imenso sorriso brotou do seu rosto.

-Sim, claro. Pode ser no sábado?

-Combinado. No sábado então.

-Às sete?

-Às sete.

-Então... Passo ai para te buscar.

-Tudo bem... Mas com uma condição.

-Qualquer uma.

-Sem interrogatórios!

-Ok, senhorita. Sem interrogatórios.

O tenente Oliver percebeu a euforia do jovem oficial e o chamou em sua

sala:

-Oficial, posso saber o que a senhorita Sheryl Madison queria

com você?

-Eu a convidei para um jantar a alguns dias atrás, mas ela

estava arisca, arredia e não aceitou.

-Você sabe aonde está se metendo?

-Perdão, senhor. Não entendi.

-Ora, Jones, vamos. Desde que efetuamos a prisão desta garota

em Floyd eu vi como a olhava.

-Com todo respeito, senhor. Prisão indevida. Ela foi

inocentada.

-Ela ser inocentada não significa que não tenha culpa. Você

viu perfeitamente em que situação a encontramos. Em uma casa, cozinhando,

bastante íntima com o ambiente. Não parecia coagida ou assustada. A criança

brincando tranquilamente no jardim... Ora Jones, não me venha dizer que

achou isso normal.

-Senhor, ela poderia muito bem ter-se adaptado à situação.

-Se adaptado? -Gargalhou. -Ou você é muito inocente, ou

realmente está muito apaixonado. Além do mais, até agora não entendi porque

você mentiu no julgamento da mesma. O seu depoimento foi a palavra chave

para inocentá-la.

-Senhor, eu não tenho certeza...

-Jones. Nós sabemos exatamente o que vimos em Floyd, pelo

menos eu sei o que vi. Você lembra como ela ficou desesperada quando

recebeu a notícia que o Tony Tramell estava morto? Nem soube disfarçar. Se

ela fosse uma vítima de sequestro teria ficado aliviada, Ah, pelo amor de

Deus, não se faça de cego.

-Senhor, até acreditaria nessa hipótese, mas não de cúmplice

de assassinato.

-Em que hipótese você acredita? Síndrome de Estocolmo?

-Sim. É possível, Não?

-Jones, até entendo o fato de você estar apaixonado,

encantado com a moça. Sim, ela é uma das mulheres mais lindas que já vi em

minha vida. Realmente, a beleza dela lhe enfeitiçou, como também enfeitiçou

o Tony Tramell. Pense comigo, Tony Tramell assassinou vinte e quatro

garotas. Vinte e quatro, Jones. Por quê será que ele não a assassinou?

Sheryl Madison ficou quatro anos convivendo aprisionada com Tony Tramell. O

que você acha que eles fizeram todo esse tempo? Jogaram xadrez? Eles

tiveram uma filha, uma criança linda e saudável. Aparentemente sem traumas.

Vinte quatro garotas foram assassinadas, menos Sheryl Madison, estando em

cárcere juntamente com as mesmas. Pra mim ela é cúmplice dele, embora não

aparente.

-Senhor, a Sheryl não é assassina. Isso não. Eu a defendi

porque sabia que ela não era uma assassina.

-Não estou dizendo que ela seja uma assassina. Mas ela é

cúmplice de um assassino em série. Eu não acredito que ela não sabia sobre

os seus crimes. A maioria das vítimas foram encontradas enterradas no

jardim do primeiro cativeiro, em Wisconsin. Lugar que eles viveram por

aproximadamente um ano. Logo após esse tempo os assassinatos cessaram e

eles foram morar em Floyd. Das duas uma, ou ela usou de meios psicológicos

para tentar deter o Tramell ou usou de sedução mesmo.

-Senhor, se os crimes cessaram, o que o senhor acha que

aconteceu nesse tempo?

-Ora Jones, os dois evidentemente apaixonaram-se e viveram

uma vida conjugal. Será que você esqueceu o estado dessa garota quando

anunciamos a morte do Tramell?

-De fato, se isso aconteceu, mais uma vez prova-se que ela

nunca foi assassina, muito menos cúmplice de assassinato.

O tenente vendo que ficara sem argumento passou a mão sobre

os longos cabelos brancos, balançou a cabeça, suspirou e disse:

-Jones, eu não tenho nada com a sua vida fora daqui. Você é

maior de idade, mas tenho-lhe como um filho. Sou muito mais velho e

experiente para lhe dar este conselho. Tome muito cuidado. Para mim o

Tramell não está morto, seu corpo nunca foi encontrado. Eu sei que uma

queda daquelas seria muito pouco provável que ele estivesse vivo, mas nunca

se sabe, vindo de um sujeito como o Tramell... Ainda mais que ouvimos

rumores de alguém parecido com ele estar aqui em Springfield e ter alguém

parecido com ele acho muito difícil. Nunca vi um rosto parecido com o dele

em toda a minha vida.

-Eu sei, senhor e agradeço a sua preocupação. O senhor quer

dizer, um rosto horrendo como o dele, não é? O sujeito era realmente

estranho.

-Tony Tramell é uma máquina de matar, Jones. Extremamente

perigoso. Nunca me enganei a respeito dele. Se por acaso ele estiver vivo e

souber que você está saindo com a mãe da filha dele, suposta esposa, você

estará morto antes mesmo de pensar em prendê-lo. Conheço sujeitos como ele.

Arquitetam passo a passo como irão cometer um assassinato. Sagaz, perspicaz

e astuto. Ele assassinou vinte e quatro mulheres e manteve uma presa por

quatro anos sem que ninguém tivesse qualquer pista sequer dele. Você

acompanhou o caso e viu a dificuldade que tivemos em encontrá-lo e não

conseguimos prendê-lo. Ele não se rendeu em momento algum, pelo contrário,

atirou em nós.

-Sim, senhor. Prometo que terei cuidado. -Disse saindo da

sala do seu superior.

O oficial Jones era um homem normal. Não era muito alto,

magro, loiro, olhos claros, usava óculos de grau. Não tinha muitos

atrativos, mas era muito assediado por algumas garotas que ali o conhecia.

Totalmente diferente de Tony Tramell que era extremamente alto, forte e

tinha uma aparência assustadora e ameaçadora, devido à grande dimensão do

seu maxilar. Cabelos lisos que as vezes caiam sobre os olhos, sobrancelhas

grossas e faces coradas. Tony Tramell era o tipo de homem que, ostentava um

paradoxo de aparência, possuía traços angelicais e ao mesmo tempo

ameaçadores. Qualquer pessoa que o visse, pararia certamente para olhar seu

enorme rosto, mas para Sheryl ele era o homem mais lindo que ela já vira.

Diferente, sedutor e enigmático.

O jantar de Sheryl e Jones seria no sábado, Tony Tramell

partiria no dia seguinte, clandestinamente, em um navio. Este dia estava

sendo tenso e perturbador para Tramell que, no seu esconderijo, andava de

um lado para o outro, segurando a pistola cromada com a mão esquerda e uma

garrafa de cerveja na outra. Bebia, chutava tudo que encontrava pela frente

e às vezes coçava a fronte com o cano da arma. Sabia que partira dele a

ideia de Sheryl ir ao encontro do oficial Jones e que, mais que tudo, ele

confiava plenamente nela. Sabia que o sentimento era verdadeiro e que ela

jamais se deixaria seduzir por um borra-botas daqueles, assim ele pensava.

Respirou fundo, fumou um cigarro, coisa que ele não fazia há tempos e

depois sentou-se no chão para pensar mais calmamente. Ele e Sheryl além de

amantes, eram cúmplices, de certa forma. Eles estavam juntos por apenas um

ideal, a felicidade. Buscavam reconstruir suas vidas e nada iria os

atrapalhar. Tony sabia que era difícil, mas precisava controlar a sua ira

para não colocar tudo a perder. Ele prometeu a Sheryl que até o dia da sua

partida não iria sair do seu esconderijo, mas estava difícil ficar ali

sabendo que a sua amada estava jantando com aquele oficial que ele sentia

vontade de exterminar. Levantou-se, bebeu mais uma garrafa de cerveja,

colocou a arma na cintura, por baixo de um casaco e resolveu sair para

espionar. Ele teria que observar as intenções daquele oficial.

Enquanto isso, no restaurante que não ficava longe da casa de

Sheryl, ela e o oficial Jones chegavam ao mesmo. Sentaram-se, pediram Dry

Martini e iniciaram uma conversa:

-Você nasceu aqui? -Perguntou o oficial.

-Sim, nasci e me criei aqui em Springfield, mas sabe, penso

em ir embora.

-Para onde?

-Para Vermont ou mesmo Winscosin. Ainda não sei.

-Vermont? Uau! Vermont é muito frio. Pensei que gostasse

daqui.

-De certa forma sim. Minha família é daqui, algumas amigas...

Mas eu gosto de mudar. Aliás...Depois de certos acontecimentos em minha

vida mudei bastante.

-Sim! Dá para perceber.

-Como? Você nem me conhece. -Questionou.

-Estou conhecendo hoje, formalmente. Mas já lhe conhecia de

vista.

-Sério?

-Sim. Sempre a via em algumas casas noturnas, mas nunca me

aproximei.

-Por que não? Eu não sou um monstro. -Riu-se

-Você sempre cercada de amigas. Era difícil chegar, sabe?

-Sei. -Respondeu irônica.

O oficial fazia rodeios para, de certo, chegar no assunto preferido, O

Tramell, mas não sabia como abordar ao certo, então ensaiou uma pergunta,

mesmo sabendo que poderia levar um fora:

-Sei que prometi não fazer interrogatório, mas seria

impossível não lhe perguntar isso. Você... Apaixonou-se pelo Tramell?

-Como?

-Muitas pessoas dizem que vocês viviam maritalmente.

Sheryl pensou bem antes de responder, pois se fosse muito racional

pareceria mentira e se falasse pelos sentimentos seria pior, talvez

entregasse tudo que ele queria realmente saber.

-Sabe, existem situações que você simplesmente se adapta, por

achar que não mais haverá saída.

-Acho que entendo.

-O Tony sempre foi muito amável comigo e isso de certa forma

me ajudou.

-Mesmo quando ele a estuprou?

Sheryl corou. Sentiu raiva na hora e pensou em sair dali, mas se assim o

fizesse estaria demonstrando fraqueza. Respirou fundo e lhe respondeu:

-Quem lhe disse que eu fui estuprada? Como você sabe o que

aconteceu lá?

-Não, eu não sei. As pessoas falaram e...

-As pessoas falam demais. Coisas que elas não sabem. -

Interrompeu. -Embora não deva falar sobre isso, nós tínhamos combinado,

nada de interrogatórios, lembra? Eu vou lhe falar. Uma noite eu bebi demais

e o Tony também. Eu não lembro direito o que aconteceu, só lembro que

acordei semi nua, ao seu lado, em sua cama. Isso foi tudo.

-E você não considera isso um estupro?

-Não. Eu não fui coagida a nada. Se algo aconteceu, foi de

livre e espontânea vontade de ambos. Eu não acordei machucada, arranhada ou

agredida de nenhuma maneira. Apenas não me lembro o que aconteceu. -Mentiu!

-Entendi. Mas devo lhe dizer que ele aproveitou-se de você.

De certa forma, o álcool a deixou vulnerável.

-Oficial, eu não sou nenhuma criança e se me permite eu não

quero mais falar sobre isso. O Tony Tramell foi um assassino mas ele é o

pai da minha filha e está morto agora.

-Será que ele está realmente morto? -Disse levantando a

sobrancelha.

-Sim, claro que sim. Por quê? não estaria? Sabes de algo?

-Veja Sheryl, nós nunca encontramos o corpo do Tony Tramell,

embora aquela queda tenha sido realmente fatal. As chances seriam poucas de

ele ter escapado com vida, mas vindo do Tony Tramell esperaríamos tudo. Não

é a primeira vez que ele comete delitos.

-Como assim?

-Tony Tramell já havia sido preso antes por vandalismo, uso

indevido de armas de fogo e pelo espancamento de um rapaz que ele brigou em

um clube. Segundo informações, eles brigaram por causa de uma mulher, não

sei ao certo, mas isso faz tempo. Tony Tramell deixou o rapaz em coma.

-Nossa! -Fingiu espanto.

-Até ai tudo bem... Mas daí a virar assassino de jovens

garotas? Realmente não dá para entender. Dizem que ele começou a exterminar

mulheres, depois de ter sido traído por uma antiga namorada, mas também não

sei se isso é verdade, já que a família dessa primeira jovem assassinada

afirma nunca ter visto a filha com Tramell antes.

-Realmente. São histórias difíceis de acreditar.

-Por Quê? Ele não era assim com você?

-Não. Como eu lhe disse, ele sempre fora muito amável comigo.

-Então você deu sorte. Ele deve ter simpatizado contigo. Tony

Tramell matou impiedosamente vinte e quatro jovens. Garotas assim como

você. Simpáticas, bonitas, estudantes que tinham um futuro pela frente. Até

hoje não consigo entender, por que ele não a matou?

-Olha, eu não sei. Mas toda essa história está me deixando

tensa, melhor eu ir embora.

-Não. Calma, Sheryl, Me desculpa. Nossa como fui estúpido.

Não vamos deixar o Tony Tramell atrapalhar o nosso jantar, afinal de

contas, ele está morto e nós estamos aqui, vivos e salvos. -Ironizou. -Pelo

menos, eu acho!

Sheryl sentiu nojo do oficial ao perceber tal sarcasmo. Tony estava mais

vivo que nunca e era com ele que ela ficaria. -Babaca! -Pensava enquanto

olhava para ele, mas resolveu ceder para que o mesmo não desconfiasse de

suas intenções.

-Tudo bem. Vamos pedir o jantar então. -Disse Sheryl.

-Vamos sim. -Riu-se.

Tony partiu rumo a casa de Sheryl, sabia que era arriscado, mas como

partiria no dia seguinte não poderia deixar de vê-la, ainda mais estando na

companhia daquele oficial. Chegou lá mas não entrou. Ficou escondido atrás

de uma árvore esperando Sheryl chegar para assim entrar pela janela, como

sempre fazia. Sheryl chegou e ao estacionar o carro o oficial fez menção de

beijá-la, mas ela logo afastou-se e disse:

-Não. Ainda não é hora. Me desculpe mas não estou preparada.

-Tudo bem, Sheryl. Espero o tempo que for necessário. Eu lhe

entendo.

-Boa noite, oficial Jones.

-Boa noite, Sheryl. -Disse dando a partida em seu carro.

Tony assistiu furioso a quase tudo. Apontou a arma para o carro do oficial,

simulou um tiro, mas respirou fundo e decidiu controlar-se. Teria todo o

tempo do mundo para matá-lo quando fosse a hora. Deu mais um tempo ali e

então pulou a janela do quarto de Sheryl. Essa, tomava banho demoradamente,

pensando nas coisas que o oficial a dissera a fim de lhe abalar o

psicológico. O assunto Tony Tramell mexia com ela de todas as formas...Ela

pensava enquanto a água tépida lhe caia sobre os cabelos. Valentina dormia

no quarto de baixo com os seus pais. Sheryl terminou o banho, enrolou-se na

toalha, penteou os cabelos na frente do espelho e quando abriu a porta do

banheiro para vestir-se, deu de cara com o Tony em pé, diante dela,

encostado na janela. Na hora ela não reparou que era ele e o susto a fez

gritar alto, muito alto. Tony assustou-se e aproximou-se para que ela não

gritasse, porém o pai de Sheryl ouviu e bateu à porta:

-Sheryl, querida. Está tudo bem?

-Sim, pai, está sim. Pensei ter visto um morcego.

-Tudo bem, filha. Volte a dormir. Aqui não tem morcegos. -

Saiu rindo-se e balançando a cabeça.

Sheryl mais que depressa trancou a porta do seu quarto e assustada disse a

Tony:

-Você quer me matar? Pelo amor de Deus, Tony, Essa foi por

pouco.

-Desculpe, meu amor. Deveria ter avisado, mas não tive como.

-Tudo bem, eu adorei lhe ver.

-O que você tem? Parece um pouco triste.

-Tony, amanhã você parte, estou tensa, preocupada, receosa.

-Hey, relaxe! -Disse segurando-lhe a cabeça. -Vai dar tudo

certo, meu anjo. Não fica assim, tá bem?

-Tudo bem, querido. -Ensaiou um sorriso.

-Sarah, aquele cretino tentou beijá-la?

-Você viu?

-Sim e por pouco não atirei nele.

-Tony, se você fizesse isso estaríamos acabados.

-Eu sei, por isso me controlei.

-Se você viu isso você também deve ter visto que eu não

correspondi, não foi?

-Sim, eu vi tudo. A vontade que eu tenho é de esganá-lo. -

Disse esmurrando a parede.

-Hey, não faça barulho! Vai acordar a todos. Ele disse

barbaridades ao seu respeito.

-O que aquele desgraçado disse? -Suspirou.

-Ah, que você já tinha sido preso por vandalismo e uso de

armas, sei lá... Mas uma coisa que ele disse me deixou intrigada.

-O que foi?

-Que você espancou um rapaz em uma casa noturna por causa de

uma mulher.

-Foi mesmo? -Gargalhou ironicamente.

-Qual é a graça, Tony?

-Ele disse que a garota era minha namorada?

-Namorada não, que ela estava com você, não sei. Algo do

tipo.

-Esse tira é um imbecil. -Disse ainda rindo. -Eu nunca vi

aquela garota em toda a minha vida. Ela estava sozinha na danceteria e o

babaca a estava importunando. Eu pedi que a deixasse em paz e ele

continuou, então fui obrigado a espancá-lo, apenas isso.

-Então você o espancou para defender a garota? Apenas?

-Exatamente.

-Não foi o que o oficial Jones disse. Ele mencionou que você

e o rapaz disputavam a tal garota.

-Que cretino! -Riu com furor. -Este idiota está passando de

todos os limites. Será a morte mais lenta e dolorosa que lhe darei. Ele com

certeza lhe disse isso para acabar despertando desconfiança em você, porque

no fundo ele sabe que tens algum sentimento e vejo que ele conseguiu.

-Não, Tony. Não conseguiu. Coisa bem pior ele me disse e eu

não me abalei em nenhum segundo.

-O que ele disse, Sarah?

-Disse que você assassinou vinte e quatro garotas depois de

ser traído por uma suposta namorada, mas que não tinha provas e também me

questionou várias vezes sobre o fato de você não ter me assassinado. Me

perguntou qual a sensação de ter sido estuprada por você e...

Ao ouvir tais coisas, Tony ajeitou a arma na cintura e foi andando em

direção à janela para sair. Sheryl foi atrás dele desesperada, segurou-lhe

pelo braço e disse:

-Tony, aonde você pensa que vai?

-Vou atrás daquele miserável matá-lo agora. Ele passou de

todos os limites.

Se você fizer isso acabou! Será o fim para nós dois! Nós

três, eu você e a nossa filha. Entendo a sua raiva mas você precisa se

controlar. Ele não passa de um imbecil, é você que eu amo.

-Sarah, eu não posso permitir isso. Esse oficial desgraçado

precisa de uma lição. Sabe, não vou atirar nele vou espancá-lo até a morte.

-Tony, pare! Olha para mim. -Disse segurando-lhe a grande

face. -Amanhã você vai para Novosibirsk. O que você quer? Ir para lá comigo

para recomeçarmos uma vida ou ser pego e nunca mais me ver? Pensa! Eu sei

que você está com razão, no seu lugar eu ficaria do mesmo jeito ou até

pior. Mas é você que eu amo. Nem ele, nem ninguém irá me persuadir a lhe

deixar, ou a lhe esquecer. Digam o que quiserem, façam o que fizerem, você

é o homem que eu amo e escolhi para ser feliz, será que está difícil

entender isso?

-O que você soube hoje não muda nada?

-Sim, muda!

-Muda?

-Claro! eu só lhe admiro mais por saber que você espancou um

babaca que perturbou uma garota. Se fosse eu ficaria eternamente grata a

você.

-Mas... E o resto? O vandalismo, os assassinatos...

-Tony, já falamos sobre isso. Eu sei que você assassinou e

também não sei como, mesmo sabendo disso, me apaixonei por você. Não sei...

Você não é mais assassino, não precisa mais disso para provar nada. Se você

teve trauma por causa de alguma namorada, esse trauma foi superado e se

depender de mim estará superado para sempre, eu nunca lhe trairia Tony,

você é tudo para mim. Homem perfeito, pai maravilhoso, me protege, cuida de

mim, o que mais posso querer da vida?

Tony emocionou-se, abriu o casaco, colocou a arma em cima da escrivaninha

do quarto de Sheryl e a tomou nos seus braços, beijando-lhe a cabeça:

-Meu amor, você me desarma em todos os sentidos. Minha vida é

você. Você e a nossa pequena.

-E a minha, vocês! Não posso te perder, então, sossega! Deixa

para pegar o oficial Jones depois.

-Você está certa, aliás, você sempre está certa. -Disse

levantando-a em seus braços.

-É, mas eu não gostei dessa história de você brigando por

causa de namoradinha não viu?

-Ah, sua boba! Está com ciúmes é?

-E se eu lhe disser que estou?

-Mas, nós nem nos conhecíamos...

-Então você admite que realmente estava? -Perguntou franzindo

o cenho.

-Até que a garota era bonitinha, mas... Não! -Riu-se muito. -

Só demorei para responder porque acho lindo você sentindo ciúmes de mim. Às

vezes é inacreditável.

-Pare de brincar! -Disse esboçando um sorriso e dando de

costas para seu amado que lhe pegou por trás e lhe beijou o pescoço.

-Espere, Tony. Preciso me vestir.

-Vestir-se, para quê? Está linda nessa toalha branca. Venha

cá meu amor, deixa eu lhe sentir.

Foi o que bastou para os dois, novamente entregar-se a todo

vapor. Já passava da meia noite, mas Sheryl e Tony não podiam resistir.

Valentina dormia com os avós e aquele quarto seria, naquele momento, o

cenário perfeito para uma semi despedida. Sheryl ficaria mais de um mês sem

ver Tony e isso a machucava muito. Ela ficaria não apenas sem ele, mas sem

notícias dele até o dia da sua fuga. Não pensava em nada naquele momento,

somente em estar nos braços daquele homem másculo, misterioso e envolvente.

Com ela, Tony era o mais amável dos amantes, de certa forma ele a fazia

sofrer, mas de prazer e ansiedade. Ele a fazia chorar, mas de saudade dos

momentos loucos e únicos que passavam juntos. Sheryl sabia que seus pais

estavam em casa e dormiam no quarto abaixo, mas ela nem se importava. O

importante era estar com seu amado, entregando-se de corpo e alma. Alguns

gemidos e sussurros as vezes eram abafados pela mão do próprio Tony

fechando-lhe a boca, a fim de que ninguém escutasse e então tudo se

perdesse:

-Calma, querida! Em breve vamos poder gritar e expressar todo

o nosso amor, falta pouco. Também quero extravasar. -Disse olhando nos seus

olhos enquanto a amava.

-Me beija, Tony.

-Isso é um pedido?

-É uma ordem! -Riu-se

-Mas seu desejo é uma ordem, senhorita! -Beijou-a

demoradamente. E assim nem viram quando o dia amanhecera.

Eram cinco e meia da manhã, o dia estava parcialmente claro,

Tony despertou assustado, chamando a sua amada que dormia em seu peito.

Sheryl acordou sonolenta e disse:

-Nossa, perdemos a hora. Tony, você precisa ir.

-Sim, preciso sair daqui agora. O navio parte as nove.

Preciso me recompor.

-Meu amor, tenha cuidado. Se alguém lhe reconhece será o fim.

Eu não quero nem pensar nisso.

-Confia em mim. Não vai acontecer nada. Infelizmente não

poderei lhe dar notícias se cheguei bem ou não, mas não se preocupe. Se

acontecer alguma coisa, notícias ruins são como vestígios de pólvora, se

espalham por toda parte.

-Pare com isso. Você falando assim só me desestimula.

-Vai dar tudo certo. -Disse abraçando-a e beijando-a.

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