Maria Silva acreditava que seu passado sombrio estava enterrado, até o dia em que viu a foto de um homem que havia devastado sua vida. Determinada a confirmar sua morte, ela decide ir ao velório, sem imaginar que este encontro com a morte a conduziria a um destino inesperado. No velório, Maria se depara com Bruno de Alcântara e Leão, o juiz mais temido do Brasil, que é idêntico ao irmão falecido. Consumido pela sede de vingança, Bruno suspeita que Maria foi enviada pelo assassino de seu irmão. Obcecado e intrigado, ele inicia uma perseguição implacável para descobrir a verdadeira identidade dela e o motivo de sua presença no velório. Para Bruno, Maria é apenas mais uma oportunista querendo tirar vantagem da situação. No entanto, o que ambos não sabem é que um segredo profundo e pessoal os une de uma forma inesperada. Enquanto Bruno busca respostas e Maria luta para proteger seu passado, eles se veem entrelaçados em uma teia de mistério e revelações que poderá mudar suas vidas para sempre. Qual é o segredo que une esse casal improvável e como ele os forçará a confrontar seus próprios demônios?
Ler maisO JUIZ - Tio do Meu Filho
Capítulo 1 Eu sou mais uma Maria na multidão, aquela que não deu certo na vida. Assim como tantas outras, vou levando, dia após dia, matando um, dois, três leões por dia. Tento ser mãe, provedora, trabalhadora, mas o mundo parece sempre estar contra mim. Eu sou apenas mais uma Maria lutando para sobreviver no cruel mundo dos humanos. **** **Maria Silva** "Até mais, meninas. Bom descanso." Deixei o trabalho aliviada por ter sobrevivido a mais uma noite na boate. Os saltos altos e a minissaia de couro, que eu era obrigada a usar, pareciam instrumentos de tortura. Cada passo doía, cada movimento parecia exibir uma ferida que eu escondia. Quando finalmente troquei aqueles sapatos desconfortáveis pelos meus velhos tênis de guerra, senti um alívio imediato. Estava livre, ainda que por algumas horas. "Cansada... Como estou cansada," murmurei para mim mesma enquanto caminhava até o ponto de ônibus. O ônibus estava lotado como de costume, repleto de trabalhadores que, assim como eu, lutavam para manter a cabeça fora d'água. O veículo sacolejava pelas ruas esburacadas da cidade, jogando meu corpo para frente e para trás. Consegui um pequeno espaço para me equilibrar enquanto os passageiros ao meu redor se amontoavam. Em meio à confusão, o ônibus parou bruscamente, e os passageiros começaram a murmurar. Do lado de fora, carros pretos escoltados por motos da polícia passavam rapidamente, suas sirenes cortando o ar da manhã. Uma senhora ao meu lado assistia a um noticiário em volume alto no celular, e eu não pude evitar ouvir. “Delegado Matheus de Alcântara e Leão, brutalmente assassinado...” Aquelas palavras fizeram meu coração parar por um momento. Uma onda de frio percorreu minha espinha. A mulher ao meu lado virou-se para mim, o rosto refletindo choque e curiosidade. E o pior de tudo, eu não sabia porque estava sentindo aquilo. "Você viu isso?" perguntou ela, com os olhos arregalados. "Mataram o filho de um magnata, ele era delegado. Coisa do morro, dizem." Engoli em seco, tentando disfarçar meu nervosismo. "É uma pena," respondi, com a voz vacilante. "Parece que vivemos em uma guerra constante." "Todo dia morrem pessoas no morro," continuou ela, balançando a cabeça, "mas como dessa vez é um homem rico, de família influente, vai ser notícia o dia todo." "Se fosse um pobre como nós, nem mencionariam," outra senhora no ônibus comentou, os olhos fixos na tela do celular. "Essa é minha parada," eu disse rapidamente, aliviada por escapar daquela conversa. “Bom dia pra vocês.” Apressada, desci do ônibus. Quando cheguei em casa, já estava exausta. Os dois quarteirões que caminhei da parada de ônibus até a periferia onde moro pareciam mais longos a cada dia. Cumprimentei rapidamente os vizinhos que estavam na rua, ansiosa por encontrar algum descanso. Minha madrinha, como sempre, estava sentada no sofá, esperando por mim, assim que abri a porta de casa. “Bom dia, filha. Como foi o trabalho?” perguntou ela, sorrindo. “Bom dia, madrinha. Tudo tranquilo,” respondi, forçando um sorriso. Ela acreditava que eu trabalhava como camareira em um hotel. Não tive coragem de contar a verdade. Afinal, como explicar que trabalho em uma boate, servindo bebidas para homens que só enxergam um pedaço de carne? Não queria desapontá-la ou fazê-la se preocupar comigo. Depois de trocar algumas palavras, fui até o quarto onde meu pequeno anjo dormia. Inclinei-me sobre ele e beijei sua testa, e acariciei seu cabelo negro. “Deus te abençoe,” sussurrei. De volta à sala, sentei-me ao lado da madrinha no velho sofá vermelho. O noticiário ainda passava, e os repórteres falavam incessantemente sobre o assassinato do delegado. “Só se fala disso na televisão, hoje” comentou minha madrinha, balançando a cabeça. “É... No ônibus também não se falava de outra coisa,” respondi, tentando parecer desinteressada. “Dizem que é filho de um ricaço, por isso virou notícia.” Quando a imagem do delegado assassinado apareceu na tela, o ar sumiu dos meus pulmões. Meu coração disparou, e uma sensação de pavor tomou conta de mim. Era ele. Não havia como negar. O homem que havia destruído minha vida agora estava morto, com seu rosto estampado em todas as manchetes. Tentei controlar o pânico que ameaçava tomar conta de mim. Aquele rosto... Eu nunca poderia esquecê-lo. Ele mentiu sobre quem era, me enganou, e agora estava morto. Não sabia se sentia alívio ou desespero. Talvez um pouco de ambos. Com as mãos trêmulas, peguei o telefone e comecei a procurar informações sobre o velório. Eu precisava ver com meus próprios olhos, confirmar que aquele homem realmente estava morto. Nunca soube seu nome completo até aquele momento, mas agora que sabia, algo dentro de mim gritava que eu precisava estar lá. Como eu queria contar a ele. “Eu preciso sair, madrinha. Cuida do anjinho pra mim,” disse, já pegando minha bolsa e saindo apressada. “Mas você acabou de chegar, menina…” nem olhei para trás, estava tão atordoada. Peguei um carro de aplicativo e, enquanto o motorista me levava até o cemitério, minha mente estava a mil. Imagens do passado invadiam minha cabeça, me torturando com lembranças que eu preferia esquecer. Quando o carro finalmente parou na frente do cemitério, desci com o coração na boca. A visão do portão, cercado por jornalistas e curiosos, me fez hesitar por um segundo. Eu sabia que entrar ali não seria fácil. Três carros pretos e luxuosos chegaram logo atrás de mim, e o portão foi aberto para permitir a entrada dos veículos. Os seguranças estavam ocupados tentando conter a multidão. Era minha chance. Com passos rápidos e calculados, me misturei à confusão. Passei despercebida pelos seguranças enquanto eles lidavam com os jornalistas. Dentro do cemitério, me escondi atrás de um dos carros que havia acabado de chegar, tentando acalmar minha respiração. A capela estava à minha frente. Respirei fundo e, com o coração acelerado, segui em direção às portas. A tensão no ar era palpável, e os sussurros das pessoas ao redor só aumentavam meu nervosismo. Quando finalmente entrei, o ambiente parecia ainda mais sufocante. Caminhei lentamente até o caixão, cada passo me aproximando da verdade que eu tanto temia. Quando o vi, deitado ali, com uma expressão serena que contrastava com tudo o que ele havia feito, senti uma onda de emoções me dominar. Lágrimas encheram meus olhos. "Meu Deus," sussurrei, sentindo um nó se formar em minha garganta. "Eu não queria que isso tivesse acontecido." De repente, uma mão firme segurou meu braço, e uma voz fria sussurrou em meu ouvido: "Quem é você? E o que está fazendo aqui?" Levantei o olhar, ainda com lágrimas nos olhos, e o choque me paralisou. O homem que estava diante de mim era uma cópia exata do que estava no caixão. Parecia que eu estava vendo um fantasma. Se aquele homem soubesse do meu segredo eu estaria arruinada para sempre, poderiam me tirar tudo que mais amo na vida. Eu precisava fugir.**Scott**Eu observei Luana subir as escadas da casa, o vestido esvoaçando levemente a cada passo dela. Um sorriso involuntário se abriu no meu rosto — como eu a amava. Não havia nada naquele mundo que eu desejasse mais do que tocá-la, tê-la inteira só para mim, sentir seu cheiro, seu calor perto do meu corpo. Aquela noite era nossa, finalmente um momento de paz depois de tanta tormenta. Não iria deixar ninguém estragar nossa história.Mas, mesmo assim, ali estava eu, tentando parecer calmo enquanto conversava com algumas pessoas — funcionários da vinícola, gente simples, que conhecia bem a família Sartori. O som da festa misturava-se com a música e os risos das pessoas animadas. Meu olhar, no entanto, não parava de procurar Luana em cada canto.Foi quando senti um peso no peito. O pai dela, um homem sério e austero, se aproximou devagar, com um olhar preocupado."Scott, onde está minha filha?" ele perguntou, a voz baixa, carregada de uma ansiedade que destoava completamente do clima
**Luana Sartori**Por um instante, o mundo pareceu desacelerar ao meu redor. As luzes, os sorrisos, os aplausos suaves… tudo se dissolveu em um borrão quando vi Benício saindo daquele helicóptero e se aproximando. Era como se eu ouvisse os sons de seus passos, firmes e lentos, ecoando dentro de mim como um trovão abafado. Ele vinha na minha direção com aquele olhar que me desmontava, que um dia foi meu refúgio, e agora era apenas uma lembrança que eu tentava apagar.Mas, ajoelhado bem à minha frente, estava Scott. Tão firme, tão doce, tão cheio de esperança. Ele segurava a pequena caixinha de veludo vermelha como se fosse feita de vidro. Dentro dela, um anel brilhante, prata pura, como manda a tradição inglesa. Seu olhar me atravessava com expectativa. Só me dei conta da presença dele quando sua mão tocou meu ombro com carinho, me chamando de volta para o presente. Ele já estava de pé, com o olhar desesperado, esperando por minha resposta.Era o meu noivado.Era o meu momento.E eu es
**Luana Sartori**O sol ainda surgia tímido por trás das montanhas quando Luana atravessou os parreirais da vinícola com Alice correndo à sua frente. O orvalho da manhã umedecia a barra do vestido leve que ela usava, e o cheiro fresco da terra se misturava ao aroma adocicado das uvas maduras. Era a época perfeita da safra, e aquilo sempre enchia meu coração de lembranças e uma melancolia agridoce. Mas, naquele dia, havia algo diferente no ar — uma espécie de paz que eu não sentia há muito tempo.Alice corria entre as fileiras, rindo, os cabelos castanhos ondulados balançando ao vento, e os olhos verdes curiosos observando cada detalhe. Com apenas cinco anos, era viva, intensa e cheia de perguntas. E eu sorria ao vê-la parar e apontar para uma parreira carregada.“Mamãe, essas uvas são realmente doces, pois o vovô me deu uma azeda, que cheguei a fazer careta.”Colhi um cacho roxo e brilhante, e me abaixo ao lado da minha filha, peguei uma esfera e entreguei a ela.´´Experimenta.`` Diss
**Luana Sartori** A luz âmbar do abajur deixava o escritório da vinícola com um ar quase onírico. As sombras dos grandes barris de vinho desenhavam formas abstratas nas paredes de pedra, e o cheiro amadeirado do carvalho misturado com o perfume do Scott ainda impregnava o ar. Eu estava ali, sentada no sofá, nua, com os joelhos abraçados e o coração completamente exposto. Ele, à minha frente, sentado na poltrona antiga do meu pai, usava apenas a calça — ainda entreaberta. O peito nu subia e descia com a respiração lenta. Mas seus olhos... os olhos dele me observavam com algo que eu nunca tinha visto antes. Algo que me assustava e me atraía na mesma medida. O silêncio entre nós não era desconfortável. Era denso. Carregado. Cheio do que tínhamos acabado de viver. “Você tá bem?”, ele perguntou, com a voz baixa e rouca. Assenti. “Tô… só tentando entender.” Ele se inclinou para a frente, os cotovelos apoiados nos joelhos, os dedos entrelaçados. “Entender o quê? Que eu te amo.” R
**Luana Sartori**Minha respiração vinha em ondas curtas, ofegantes. O sabor daquele beijo ainda dançava nos meus lábios, me deixando tonta. Recuo um passo, como se estivesse diante de um estranho. Olho para Scott sem entender nada."Isso... isso não foi uma encenação", murmuro, tocando minha boca, tentando entender se aquilo realmente aconteceu. "O que tá acontecendo, Scott?"Ele me encara. Os olhos dele estão escuros, intensos. Ele respira fundo antes de dizer, quase num sussurro:"Eu quero você."Meu coração tropeça."Como assim… você me quer?"Scott não responde. Apenas se aproxima e, sem hesitar, me beija novamente.Não era como beijar o Benício. Os beijos com o Benício sempre foram lentos, carregados de histórias mal resolvidas, cheios de lembranças. Já o beijo do Scott… era urgente, confuso, e ao mesmo tempo carregado de uma ternura que me desarmava. Era como se algo dentro dele tivesse se rompido.Eu devia empurrá-lo. Fazer perguntas. Gritar, talvez. Mas não fiz nada. Porque n
** Luana Sartori**O cheiro do campo me invadiu assim que montei Trovão, um cavalo árabe que meu pai havia comprado a dois anos. Enquanto cavalgava a brisa suave que vinha dos vinhedos da Vinícola Sartori me trouxe lembranças antigas, memórias de infância guardadas nas frestas do coração. Era como se eu nunca tivesse ido embora. Cada pedra, cada parreira, cada suspiro daquele lugar fazia parte de mim. Ver aquilo de novo mexia mais comigo do que eu estava disposta a admitir. O pessoal já se preparava para a colheita das uvas. Em poucos dias, os cachos maduros seriam recolhidos, dando início à mágica transformação que daria origem ao nosso vinho. Cumprimentei os funcionários que ainda lembravam de mim. Beijei bochechas, apertei mãos, sorri até meus músculos doerem. Passei o dia caminhando por cada canto da propriedade - quase como um ritual antes da colheita. Tanta coisa se misturava na paisagem: o cheiro da terra quente, os murmúrios entre os parreirais, o tilintar de ferramentas à di
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