O jardim estava banhado pela luz suave do entardecer, aquele tipo de luz que parece nascer cansada, como se o sol também soubesse que certas horas do dia não nasceram para a alegria. A chuva ainda caia de maneira torrencial. Cada passo que dei em direção à casa parecia mais pesado que o anterior. O coração latejava nas têmporas, um compasso dolorido que misturava medo, vergonha e o desejo desesperado de apenas ser acolhida, de ouvir uma voz que me chamasse de filha e me fizesse esquecer, nem que fosse por um instante, a mentira que vinha carregando nas costas.O portão rangeu quando empurrei, o som familiar me atravessou como uma memória viva. O cheiro das roseiras que papai insistia em cuidar, mesmo doente, encheu o ar. Havia ali o perfume da infância, das manh