Mundo de ficçãoIniciar sessãoClara Vasconcelos
A música do piano se mistura às vozes, mas para mim era um ruído distante, abafado, como se alguém tivesse mergulhado o salão inteiro debaixo d’água. O som chega aos meus ouvidos deformado, mas ainda assim latejante. Sinto como se o ar estivesse mais pesado, como se cada respiração fosse roubada à força.
Meu sorriso, congelado, é uma máscara. Cada olhar que sustento, cada palavra que lanço com ousadia, não é meu. São frases que eu imagino na boca de Isadora, não na minha. Quanto mais tempo permaneço encarnando a minha irmã, mais sinto que estou me despedaçando por dentro, como se parte de mim fosse engolida a cada segundo.
A taça de champanhe, que bebi em um único gole só para disfarçar o nervosismo, queima dentro de mim. É como se o líquido tivesse virado fogo, e corroesse meu estômago pela ansie







