O Herdeiro Bilionário e a Noiva Substituta
O Herdeiro Bilionário e a Noiva Substituta
Por: Annanda
 Capítulo 01 - Decisão

"Às vezes, amar alguém significa abrir mão da própria felicidade… mesmo que o coração sangre em silêncio."

Clara Vasconcelos

Eu estava sentada no banco lateral da igreja, próxima ao meu pai, tentando controlar a ansiedade que crescia a cada minuto. O ambiente estava tomado por um burburinho constante, um vai e vem de olhares curiosos e cochichos abafados. O templo, imenso e iluminado pelos vitrais coloridos, que mais parecia respirar junto com os convidados, carregando no ar uma mistura de expectativa, tensão e impaciência.

Eu alisava distraidamente o tecido delicado do vestido, tentando manter as mãos ocupadas para não demonstrar nervosismo.

— Já faz quase vinte minutos… — murmurou uma senhora no banco de trás, em tom baixo, mas audível o suficiente para que eu ouvisse.

Os cochichos se espalhavam como um rastilho de pólvora. Senti o peito apertar. Cada minuto que passava só aumentava a sensação de que algo estava errado. O coração batia mais rápido, e uma pontada de apreensão subia pelo estômago.

Inclinei-me levemente até o meu pai, que estava tentando se manter sereno, mas com o rosto abatido pelo peso de todos os problemas que já carregava.

— Pai… — sussurrei, temendo que alguém ouvisse. — Eu vou ver se a Isadora está precisando de ajuda.

Antes que ele pudesse responder, levantei-me, o vestido arrastando pelo piso de mármore, e comecei a caminhar pelo corredor lateral em direção à sacristia. Cada passo parecia ecoar mais alto do que deveria, como se denunciasse minha angústia.

Mas não cheguei longe.

Minha mãe surgiu diante de mim, surgindo como uma sombra firme e determinada, bloqueando minha passagem. O olhar dela era afiado, frio, e seu tom não deixava espaço para discussão.

— Clara, precisamos de você.

Senti o meu coração acelerando ainda mais.

— O quê? — A voz saiu fraca, quase como um sussurro. — Como assim…?

Amanda se aproximou e, sem rodeios, murmurou firme:

— Sua irmã fugiu. Foi embora com Fernando e nos deixou sozinhos. Você vai se casar no lugar dela.

As palavras caíram sobre mim como uma sentença de morte.

— O quê?! — o grito ecoou pelo corredor vazio, sufocado em seguida pelas próprias lágrimas que ameaçavam cair. — Não! Esse casamento não é meu, mãe! Eu… eu não posso!

Amanda agarrou os meus ombros, com os olhos cravados nos meus com uma urgência cruel.

— Pode. E vai. Essa união mantém de pé tudo o que seu pai construiu, tudo pelo que a nossa família lutou. Imagina o que vai acontecer com Isadora se a verdade vier à tona? E tem a empresa… você sabe do que estou falando, Clara. Se esse casamento não acontecer, nós perdemos tudo.

O chão pareceu sumir sob os meus pés. A respiração falhou. Pensar no meu pai, na doença que ele escondia de todos, fez meu corpo inteiro estremecer. Eu sabia mais do que deveria, carregava em silêncio segredos que pesavam. Não podia permitir que ele fosse destruído ainda mais.

— Mas… — a voz me faltou, engasgada. — E o Lucca, ele… sabe?

— Não e jamais deve saber. — cortou Amanda, ríspida. — Quem vai entrar naquela igreja e se casar com ele é sua irmã, não você. Entendeu?

As palavras dela se cravaram como facas fazendo-me quase cair de joelhos. Lucca Salvatore Ferraro. O único homem que fazia o meu coração acelerar desde menina. O único que, ao mesmo tempo, me fazia sonhar e sofrer. O homem que eu amava em silêncio, sem nunca ter tido coragem de confessar.

E agora… estaria mentindo para ele.

— Mãe… isso é cruel demais! — sussurrei, com a voz embargada.

— Não se trata de crueldade, e sim de sobrevivência. — Amanda rebateu, fria. — Não seja egoísta, Clara. Pouco me importa o que Lucca vai sentir. Isso não é sobre ele. É sobre a nossa família.

Aquelas palavras destruíram o pouco que restava em mim. Como poderia enganá-lo? Como poderia encarar seus olhos, cheios de desconfiança e intensidade, e mentir?

O vestido branco não era meu. E nunca deveria ter sido.

Eu já sabia disso desde o instante em que minha mãe surgiu na minha frente na lateral da igreja, pálida como a renda que agora arranhava minha pele, e disse com a voz trêmula:

— Isadora fugiu.

Duas palavras foram o bastante para o meu mundo ruir.

Agora, estava parada diante do espelho enquanto ajustava no meu corpo um vestido que não era meu. O vestido de Isadora parecia enforcar-me. O cetim sugava o ar dos pulmões, a renda arranhava como mil agulhas invisíveis. Sentia-me sufocada, presa a um destino que não me pertencia. Mas estava presa entre o dever e o desejo.

“Como posso me casar com ele? Como posso fingir?”

O som dos sapatos ecoando pelo corredor se misturava ao som abafado da marcha nupcial que começava a se ensaiar. Cada nota parecia um martelo selando o caixão onde enterrava os meus próprios sonhos.

Horas antes, estivera no jardim com a secretária, rindo, falando das rosas recém-plantadas. Um momento leve, doce, que agora parecia ter acontecido em outra vida. Porque, desde que Amanda disse aquelas duas palavras, “Isadora fugiu” nada mais tinha cor.

— Mãe… — implorei, com os olhos verdes marejados. — Você tem certeza de que não existe outra solução?

Amanda cruzou os braços, dura como pedra.

— A outra solução, Clara, é a ruína de todos nós.

Fechei os olhos, tentando conter o choro. Parte de mim queria correr, desaparecer, como Isadora fez. Mas a outra parte… a parte que sempre suportava, que sempre ficava, sabia que não havia escolha.

— E eu? — perguntei, quase sem voz. — Quem vai me proteger disso?

Por um segundo, apenas um, Amanda hesitou. Mas logo a máscara voltou ao lugar.

— Não temos tempo para dramas. É o seu dever.

Respirei fundo, sentindo cada corrente invisível se fechar ao meu redor. Meus pés começaram a caminhar de volta, mas era como se marchasse rumo a uma sentença.

Na igreja, os convidados já se levantavam, a marcha nupcial ecoava forte, e Lucca aguardava-me no altar. O homem que deveria ser de minha irmã. O homem que jamais poderia saber a verdade.

Quando as portas se abriram, o mundo viu-me como uma noiva perfeita, pronta para unir duas famílias poderosas. Mas por baixo do véu… Havia apenas eu, a noiva substituta, com o coração despedaçado, prestes a dizer “sim” ao único homem que, ao mesmo tempo, me fazia querer viver e morrer.

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