Gisela desligou muito preocupada. Não quer importunar Camelia, mas também não pode dar as costas para sua neta, e muito menos para seu bisneto a caminho. O pobre bebê não tem culpa de nada; talvez seja melhor falar com o doutor Félix para que a internem, assim terá quem a cuide. Não quer fazer nada às escondidas de Camelia, por isso começa a procurá-la por toda a casa até que a encontra conversando com Sofía e pede que a acompanhe.
—O que é, vovó? —logo a segue intrigada. —Acabei de receber uma ligação da Marilyn pedindo para que a deixe viver conosco —conta imediatamente. —Ela te pediu isso? —Camelia a olhou com preocupação—. Sinto muito, vovó, mas aqui ela não vai ficar. —Não, não, filha, claro que não! —disse imediatO senhor Rhys, ao ouvir do que se tratava tudo, concorda que a deixem ficar no apartamento deles. Daí mesmo, ligaram para a prisão e disseram que sim. Mas antes de a trazerem, precisavam ir buscar as coisas do trabalho que guardavam lá. —Tudo bem, vovó? —perguntou Camelia e acrescentou—. Não quero que Marilyn toque em nada meu, e você, coloque a salvo todos aqueles papéis que deixou lá. Aliás, você quer que eu mande uma empresa de mudança trazer tudo? —Não exagere, filha —a deteve a senhora Gisela—. O que eu tenho é uma mala; ainda não me trouxeram todas as coisas da casa do povo. Acho que com Israel e Ernesto é mais do que suficiente. Ligue para a Nadia e diga que iremos para que ela e a Nelda nos ajudem. —Eles foram para o povo, não te disseram? —le lembrou Camelia. —Era h
A avó tenta gritar, mas Leandro tapa sua boca. Camelia olha para sua bolsa, que deixou jogada no sofá da entrada, onde está sua arma, mas não pode ir pegá-la. Agora Leandro também a aponta. —Se você chamar, eu mato as duas —e obriga a anciã a se aproximar de Camelia, que não sabe o que fazer. —¡Não, não, não, Leandro! Pelo amor de Deus, não faça nada com minha avó. Eu farei o que você quiser, mas não a toque —pede aterrorizada, vendo como ele quase asfixia a anciã, que abre os olhos negando com a cabeça—. Por favor, deixe-a respirar; ela está se afogando. Leandro tira a mão da boca da anciã, que imediatamente começa a gritar chamando os guardas: —¡Meninos, ajuda…! ¡Camelia, corre! No entanto, Leandro a golpe
Tudo parece um pesadelo cruel do qual ela certamente vai acordar em algum momento. Todas aquelas pessoas loucas que se uniram para separá-la de Ariel e fazer de sua vida um inferno, como é que se uniram e as coisas estão dando tão certo para elas? Mais uma vez, havia desobedecido as regras de seu marido e dos Rhys, pensa arrependida. Como vai sair dessa situação e salvar sua avó ao mesmo tempo? Ela respira fundo, tentando que sua voz saia calma, decidida a salvar sua pobre avó, sem se importar com mais nada. Ela escapará depois, se diz. Conta com calma a Leandro que Marlon é o filho do mais velho dos Rhys, que o doutor havia enganado Mailen. Ela assente sem soltar as mãos do homem, mas sim as aperta, tentando que ele a olhe. —Leandro, eu nunca vou te amar. Se você nos deixar ir agora, não direi nada e você poderá ir para o Brasil e fazer sua vida l&aac
A violência nos marca a todos, deixa cicatrizes invisíveis que a sociedade prefere ignorar. Vivemos em um mundo que glorifica o forte e silencia o vulnerável, onde as instituições que deveriam nos proteger —a polícia, os forenses, os tribunais, os meios de comunicação— muitas vezes se tornam cúmplices silenciosos de nossa dor, arrancando-nos não apenas nossa dignidade, mas nossa própria humanidade. O silêncio se torna uma prisão para aqueles que sofreram agressões. As vítimas, sejam mulheres, crianças ou homens, se afogam em um mar de incredulidade e preconceitos. A sociedade lhes nega seu direito fundamental: ser protegidos, atendidos, respeitados, acreditados e reparados. Este muro de ceticismo é especialmente cruel com as vítimas de violência de gênero e agressões sexuais, condenando-as a um silêncio que corró
Ernesto ainda cuida de Camelia, enquanto observa a desordem ao seu redor e seu companheiro fora de controle, ainda batendo no corpo inerte de Leandro. —Deixe isso, Israel, e vá ver se a avó está bem! Temos que ir ao hospital, senhora. Por que não nos chamou? —o grito de seu companheiro atravessa a névoa de sua mente. —Israel, faça o que eu peço, eu avisarei a todos. —Não, não quero que ninguém fique sabendo! —o grito de Camelia soa estranho, histérico, irreconhecível até para ela mesma. O pensamento de que outros saibam, que a olhem com pena, que sussurrem às suas costas, é tão insuportável quanto a própria violação—. Ninguém deve saber, ninguém! Prometam! Suas palavras saem como um rugido desesperado, enquanto sente que sua sanidade pende de um fio cada vez ma
As lágrimas da senhora Gisela correm livremente por seu rosto enrugado. A anciã luta para falar, debilitada. —Deveria ter deixado os meninos revisarem tudo. Que ficassem conosco, mas não fiz, não fiz... Me perdoe, Camelia, filha, perdoe minha família que tanto mal te fez, perdão, perdão... —as palavras vão se apagando enquanto o cansaço a vence. —Acalme-se, avó, já passou, já passou... A voz de Camelia soa oca, desprovida de emoção. Os homens trocam olhares preocupados, reconhecendo em sua frieza o choque que a mantém de pé. Ernesto se aproxima com o telefone que não para de tocar, mostrando o nome do senador Hidalgo. —É seu pai, senhora —diz suavemente, estendendo-lhe o aparelho. —Papai... —o soluço escapa de sua garganta, traindo sua fachada de
A simples menção de Ariel faz com que seu corpo estremeça violentamente. A vergonha a consome como ácido ao pensar em seu marido, em suas mãos tocando-a, em seu olhar sobre ela. Já não se sente digna de seu amor, de suas carícias. Sente-se suja, manchada, quebrada. —Não quero que você diga nada ao meu marido, vamos, papai, por favor! —implora novamente. O terror se reflete em cada fibra de seu ser. A desolação se reflete em seu rosto pálido como a morte, enquanto seu olhar se move aterrorizado ao redor. A ideia de que alguém mais descubra sua violação a paralisa, a afoga. Imagina os olhares de pena, os sussurros às suas costas, o estigma que a perseguirá para sempre. Não conseguiria suportar. —Leve-me com mamãe, preciso de mamãe —súplica, agarrando-se à única pessoa que sente que poderia entendê-la sem julgá-la—. Meu irmão, não diga a ninguém onde estou, prometa, nem mesmo a Ariel. Seu corpo treme incontrolavelmente, como uma folha aço
Gerardo olha para seu cunhado; pode ver a desesperação e a dor em seus olhos. Por isso, evitando seu olhar suplicante e com o peso da mentira esmagando sua consciência, responde: —Sinto muito, Ariel, estou igual a você. Não sei de nada. —Droga! Como diabos ninguém soube que Leandro estava escondido no apartamento da Cami?! Como? Deveria ter me negado ao pedido da Marilyn! Tenho certeza de que ela tem algo a ver com isso! —vocifera Ariel como um demente diante do olhar impotente de todos—. É muita coincidência. Mano, impeça que a tirem da prisão! Não me importa o que aconteça com ela, mas tenho certeza de que ela está envolvida nisso! —Acalme-se, Ari —Marlon tenta tranquilizá-lo—. E Oliver já impediu que a Marilyn saísse; levaram-na para a clínica da prisão. Camelia deve ter ido para casa. —Ela não está! Acabei de falar com mamãe e ela não chegou —o grito de Ariel ressoa pelos corredores do hospital, carregado de uma desesperação