2 - A Câmara do Grande Carvalho

Capítulo 2 — A Câmara do Grande Carvalho

            O ar frio da floresta de Fangthir, a Floresta Verdejante (ou chamada de Floresta Verde), fazia Helan se apavorar. Aquela floresta tinha muito a amedrontar, mas, para Danian, tinha muito a proporcionar, isto sim.

            A Floresta Verdejante ficava perto do Palácio de Biloá, agora reduzido a ruínas devido a ataques e saques dos Sax. O Palácio de Biloá, que até sua destruição serviu de fortaleza para os últimos membros da corte ainda vivos, era o palácio de verão do rei, e a Floresta Verdejante era território de caça. Contudo, a própria floresta era misteriosa. O rei nunca explorou, em suas caçadas, todo o seu interior. Ora estava sombria e tenebrosa, ora estava clara, florescente e verdejante. Com certeza a floresta era enigmática e mística. A névoa baixa intensificava a situação.

            — Não se afaste de mim, Helan. A magia nesta floresta está poderosa. Foi nosso líder que fez isto.

            — O Arquimago?

            — Sim, ele mesmo — respondeu Danian.

            E continuaram a cavalgar por dentre a floresta. Sem destino localizado, sem rumo entre as árvores, apenas cavalgando sem nem saberem quem os estava guiando.

            Os dois cavalos já estavam cansados. Mal andavam entre as árvores. Os largos troncos e as extensas raízes dificultavam o acesso. O mestre e sua aprendiz já estavam ali durante muito tempo. Danian olhou Helan. Sabia que sua decisão frustraria os dois e todas as suas pesquisas e planos. Mas tinha de fazer, senão poderiam morrer na floresta sem ajuda.

            — Vamos voltar — declarou decididamente, sem dar espaço para sua aprendiz responder.

            Helan porém, muito confiante e determinada, alcançou-o dizendo:

            — Não! Vamos continuar! Deixemos a magia nos guiar! — O mago olhou para ela desviando seu olhar. — Olhe!

            Danian olhou na mesma direção que Helan, e, sem olhá-la, avançando, falou:

— Minha cara aprendiz, que dom você tem.

            Quase escondida por galhos, folhas e arbustos, uma larga porta indicava uma construção suntuosa. Mas nada puderam ver além de galhos e árvores. Os dois desceram do cavalo. Helan foi se aproximando da porta, com um pergaminho longo debaixo dos braços, pronta para abri-la. Mas Danian murmurou antes, agachando-se no chão:

            — Espere!

            — O que você está fazendo? — perguntou Helan, ao olhar seu mestre tocando o chão.

            Do chão emergiu um galho claro em tonalidade vermelha. Em sua ponta, um encaixe perfeito. Danian tirou de suas vestes a Luz de Athla e encaixou-a. Ergueu-se novamente, segurando o galho.

            — Um cajado, mesmo apenas um objeto sem poderes, é um grande aliado do respeito. Disse Ewenn na Ordem dos Sábios: “Aqueles que conheço só serão reconhecidos por mim como magos se carregarem consigo o símbolo do império de outrora: a ostentação do poder mágico, os cajados”. É claro, suas palavras não foram acolhidas na Ordem, mas elas resumem algo muito importante.

            — Eles vão falar de seu cajado. Dirão que está querendo imitar.

            — Eu sei, cara aprendiz, e conto com isso. Entremos agora — disse decidido.

            Danian empurrou fortemente a porta, afinal, ele precisava de muita força para mover aquela porta de carvalho. O salão, que se mostrou, era grandioso. As paredes de uma pedra escura, em alguns lugares com musgo, tinham lugares que estavam úmidos. Era um salão alto. Na extremidade oposta à porta, a parede se sobressaia para o lado de fora, em um formato de meia-lua. Nessa extremidade, altas janelas sustentadas por colunas jônicas preenchia de luz metade da sala. Em frente às colunas e às janelas, três cadeiras de mármore estavam perfeitamente alinhadas, sendo a do meio um pouco mais elevada que as outras. Pelas janelas, por entre os galhos que caiam de cima do salão, o que se via era a vastidão da Floresta Verdejante.

O Grande Salão estava localizado à beira de um penhasco que dava uma visão panorâmica. À esquerda da entrada, perto das janelas, Helan pode logo notar o carvalho, ao lado de uma pequena porta, que vinha com suas raízes abaixo do chão erguendo-se até o teto. Apenas alguns galhos estavam dentro do salão. Sua grandiosidade fez Helan falar:

            — Pela Salvação! Mas que bela árvore!

            — Helan — disse Danian, fazendo mênção para que ela se mantivesse calada. — Pela manhã, o pássaro assobia!

            — O fogo queima, a águia pia! — pronunciou uma voz polida, velha e poderosa.

A imagem de dois homens sentados nas cadeiras foi aparecendo, até se consolidar. O primeiro, à esquerda, no primeiro trono, de cabelos negros, olhar frio e impiedoso, nariz acentuado, era um mago com vestes na cor de um marrom escuro.

No meio, no trono mais elevado, um homem de cílios grandes, barba grisalha, olhos em tom mel, sobrancelhas negras, nariz torto e um longo e liso cabelo branco como neve, vestia roupas brancas e prateadas segurando nas mãos, velhas, um cajado prateado, contendo em sua ponta um grande diamante. O terceiro trono, à direita, se mantinha sem ninguém.

            — Vossa Excelência, Ambarion de Dechardian, Arquimago e Grão-Sábio, eu os saúdo — disse Danian ao homem do meio, que inclinou sua cabeça para frente. — Ilustríssimo Morcian de Cormion, Terceiro Sábio, eu o saúdo — disse Danian ao homem de olhos frios.

            — Danian de Samian, a Ordem dos Sábios o saúda. Infelizmente, Samian, a Segunda Sábia, não pôde comparecer. Está tratando de negócios no reino de Akma — disse Ambarion, o Arquimago, líder de todos os magos e líder da Ordem dos Sábios. — Porém, pode iniciar.

            — Os assuntos de que venho a tratar são de máxima importância não só para os magos, como para todo o mundo. A possibilidade sobre a qual irei falar deve ser cogitada.

            — Desculpe interromper, Danian, mas quem é esta que veio com você? — perguntou Morcian.

            — Esta é Helan, minha aprendiz — respondeu Danian.

            — Senhores Magos, Senhores da Sabedoria, eu os saúdo — falou Helan, dando um passo à frente reverenciando os dois magos nos tronos.

            — Saudações, cara aprendiz. Danian, não levou em conta que algo acontecesse com ela? O cuidado com o aprendiz deve ser extremo, assim com o cuidado próprio. Eu posso dizer isto melhor do que ninguém — declarou Morcian. O aprendiz de Morcian morreu em treinamento, quando tinha dezessete anos. Como era norma, o mago não pode ter outro aprendiz.

            — A decisão de trazê-la cabe ao mestre — disse Danian em resposta.

            Helan apertou o pergaminho que trazia contra o peito. Morcian, por sua vez, elevou sua voz:

            — Não. O destino de um mago ou futuro mago está nas mãos da Ordem dos Sábios. Se um mago morrer sem completar o treinamento de seu aprendiz, reduzirá o número de dominadores de magia, assim como um aprendiz morrer também.

            — Não viemos discutir isto. A situação é difícil — retrucou Danian.

            — Mais um motivo para impedir, que os magos fiquem extintos. Mas se insiste, mudemos de assunto. Que cajado é este que traz consigo? Estaria você tentando obter algum status? É apenas um galho e está parecendo um tolo com ele — acrescentou Morcian.

            — Isto nos leva a um assunto que gostaria de falar antes de meu pronunciamento. O cajado pode ser um galho, mas está sustentando uma pedra. E, se olharem melhor, irão ver que é uma Luz de Athla, um objeto raríssimo de que vocês têm grande conhecimento.

            Ambarion aguçou os olhos.

            — Aonde fores, a luz encontrarás! — falou o arquimago. O cristal brilhou intensamente, enchendo a sala de luz. Danian pôs as mãos encima da pedra, tapando parte da luminosidade.

            — A evidência é incontestável. As letras douradas visíveis apenas aos olhos mágicos também indicam. Esta é uma Luz. — Sua voz, então, ficou poderosa e magistral para pronunciar as palavras que fariam a luz se apagar. — E assim tu vais como viestes.

            — Um item de tal raridade mágica deve ficar em posse da Ordem dos Sábios — falou Morcian, com sua voz fria.

            — Não. Não podemos guardar este cristal em câmaras abarrotadas de livros. Uma Luz de Athla deve ser usada. — replicou Danian.

            — Um item em posse de um mago é um item em posse da Ordem dos Sábios! — esbravejou Morcian.

            Ambarion, que se mantinha calado, levantou sua mão em direção de Morcian, para que ele parasse de falar, para que o arquimago se pronunciasse.

            — O Livro das Verdades diz claramente no Capítulo 47 que Todo o mago tem o direito sobre seus objetos e pertences, podendo usufruí-los da maneira mais conveniente. Seus itens apenas estarão em posse da Ordem dos Sábios, caso o possuidor morra. A Ordem dos Sábios, porém, tem plenos poderes para instruir o mago e retirar a posse do mago caso o mago não esteja utilizando o objeto.

            — Vossa Excelência, por favor, poupe-me disso — falou Morcian. — Todos sabemos que apenas os cinco primeiros capítulos do Livro das Verdades são originais.

            Ambarion virou-se para o Terceiro Sábio revoltado, mesmo não aparentando.

            — Questiona o nosso código? Os demais sessenta capítulos não são derivados do Livro da Criação, mas são tão originais quanto os cinco primeiros. O Livro das Verdades substituiu o Livro da Criação desde a formação da Ordem dos Sábios, Morcian, não esqueça disso. Hoje vocês estão muito elétricos. Vamos nos acalmar… Danian, a Luz de Athla é sua. Em um momento mais oportuno, gostaria de saber como você encontrou tão peculiar item. Porém, prossiga agora com o que veio falar.

            Danian suspirou. Evitou olhar Morcian nos olhos e começou.

            — Para o que vou falar, devemos fazer associações. Vamos começar pela parte mais antiga e o fato de que não se tem dúvida: com exceção de Redramon, o maior e o mais poderoso entre os antigos dragões, todos os outros dragões se especializaram na produção de cajados. Mesmo não usando os cajados, já que eram muito pequenos para serem utilizados por dragões, isso era um símbolo muito forte entre os dragões. Um objeto muito precioso. Silver, a Protetora Prateada, desenvolveu este cajado que passou pelas mãos de todos os Arquimagos da História: Silver foi a única dragoa que entregou seu cajado a um humano por livre-arbítrio. É claro, o cajado de Silver possui a tendência nas magias de cura e proteção, assim como os poderes de Silver.

            “O poderoso cajado do dragão Neytatus, agora perdido, era inclinado para as magias de água e tempestades, assim como Neytatus era um dragão que adorava as profundezas do oceano, sempre acompanhado de sereias e que provocava temíveis tempestades para estabelecer seu império.”

            “Durante muitos séculos, em que os dragões dominavam todos os territórios, podemos observar que todos eles criaram seus cajados, que eram sua forma de expressar seu poder. Perdidos, destruídos, esquecidos: os destinos dos cajados foram diversos. Apenas alguns resistiram, apenas alguns. É claro, o pequeno número de cajados que resistiu a tanto tempo está nas mãos de magos.”

            Danian deu um passo ao lado. Olhou o Cajado de Silver, um dos últimos cajados restantes. Abaixou a cabeça, juntou suas mãos e então, quase que dando um pulo, disse:

            — Até que Rarion aparece! E Rarion traz um cajado novo, um cajado mais poderoso que qualquer cajado que resistira. Um cajado que, apesar de não ser feito por um dragão, era o mais poderoso. E tal cajado, denominado de Cajado Negro devido ao seu material e sua essência maligna, foi desenvolvido pelos ogros, copiando a forja dos dragões. Se pararmos por um momento e refletirmos, isto seria um absurdo.

            — De fato, um ogro desenvolver um cajado mais poderoso que o de um dragão é surreal — declarou Morcian.

            Danian sorriu. Morcian apoiando-o? Parecia impossível acreditar naquilo. Satisfeito, continuou:

            — Mas existe um dragão que não fez um cajado. Como Redramon, o mais poderoso, forte e impiedoso dos dragões não desenvolvera o seu próprio cajado, sendo que um dos motivos para a criação de cajados era a disputa por territórios entre os dragões? Como Redramon, o inimigo de todos os dragões, não tinha o seu? Como, de seus antigos territórios nas Montanhas Ígneas, não saiu nenhum cajado? As explicações comuns da Ordem dos Sábios sempre foram as mesmas: seu poderio não era o mesmo e ele morreu pelas mãos de um ladino da cidade de Vinerin.

            — Sim — confirmou Ambarion. — Redramon, o último dragão vivo, foi morto pelo ladino Salazir, que teve sua entrada na Corte de Nascar pela ordem do rei Joshmib II.

            — Minha aprendiz trouxe um mapa para apresentar para vocês. Helan, abra o pergaminho.

Helan tirou o laço que prendia o documento e abriu-o. Um mapa do mundo se mostrou, porém, estava com alterações no continente: Nascar ocupava um pedaço do território atual da Ukrania (que naquele mapa estava denominada de Terras Orientais), enquanto a parte continental da atual Istaredes estava nos domínios de Nascar. Na região da capital de Nascar, Thalian, havia uma divisão das demais terras de Nascar. Desta vez, suando frio, foi a vez de Helan falar:

            — Como pode-se ver, Nascar ocupava metade de Istaredes e um pedaço das Terras Orientais, atual Ukrania. Contudo, podemos observar a divisão da região de Thalian das demais. Naquele tempo, com o perigo das tribos saxônicas ao norte, que antecederam os Sax, e com a falta de administração, a região de Thalian funcionava quase que sozinha, sob o reinado do rei Joshmib II, enquanto o resto estava “jogado à própria sorte”, com os próprios governantes em cada cidade, com a lei do mais forte vigorando e, volta e meia, um solitário Inquisitor ou Governador passando por ali para ver se tudo estava bem, a comunicação e influência do rei era restrita. Não existia rei naquelas terras de fato.

            Danian colocou sua mão no ombro de Helan, e sussurrou:

            — Muito bem, minha aprendiz. — Depois, dirigiu-se aos outros dois. — O que minha aprendiz quis dizer é que o rei não tinha conhecimento sobre nada das outras terras. Com a região de Thalian funcionando sozinha, ele apenas cobrava impostos e outros pormenores daquelas regiões. Concluindo: A verdade sobre o que aconteceu com Redramon não pode ser encontrada. O rei ouviu apenas as palavras de meia dúzia de pessoas e deu-se por convencido. A informação não era completa.

            — Aonde quer chegar, Danian? — perguntou Morcian, já suspeitando do que viria a seguir.

            — Já irei falar, Terceiro Sábio — disse o mago. — Salazir foi então incluído rapidamente na Corte de Nascar. Podemos ver um relato que comprova isso, da princesa Isadrelle Thorian, filha de Joshmib II.

            Danian tirou de suas vestes um papiro e leu-o em voz alta.

            — “Desde que Salazir entrou na Corte as coisas mudaram. Papai está com muita raiva ultimamente (não consigo entender a relação, mas sei que tem) e constantemente briga com mamãe. Deve ser por que o Salazir vive flertando-a. As fofocas e intrigas entre os nobres aumentaram. E eu, o que faço nesta situação, nesta Corte tradicional e antiquada que trama entre si, assim como a traição é um grande pecado. Salazir diz que a Ukrania atacará e seria bom arrumar nossos exércitos. Papai confia cegamente nele só por que ele matou um dragãozinho de nada… Mamãe já se pronunciou: ela desconfia dele. Nada foi declarado abertamente, mas suas ações, seus olhares, seus gestos: tudo demonstra. Mamãe sabe que ele não é flor que se cheire. Ela sabe dos contatos que ele tem no norte e em Istaredes. Sabe que o rei Uthor maquina algo contra Nascar, algo que inclui guerras. Estas terras nascarenas são muito cobiçadas. Mamãe tem certeza que os luxos em que Salazir vive estão aumentando. Certamente ele está sendo subornado.”

            “Agora, Salazir investe em uma expedição à Ukrania e mantém isto em sigilo. Apenas papai sabe, ouvi os dois conversando. Não quero nem saber o que acontecerá se mamãe descobrir. Salazir irá apenas com três guardas espionar o outro reino. Mas é mentira. Com certeza ele quer apenas mostrar ação, quando na verdade trama com Uthor.”

            “Minha desconfiança foi consolidada quando começo a me questionar se Salazir matou mesmo o último dragão: é fraco, magrelo, branco que nem leite, cabelos sebosos baixo, não demonstra aptidão nenhuma em qualquer arma ou magia. Acho que tem algo errado nisto. Grandes heróis mataram alguns dragões. Mas nenhuma cobra como Salazir conseguira matar o mais forte dos dragões.”

            Ambarion se remexeu na cadeira, e disse apenas:

            ­­­— Danian, todos conhecemos as intrigas da nobreza. São tão antigas quanto nós. Por favor, esclareça mais.

            O mestre de Helan suspirou. Achava que não estava usando bem os argumentos, mas retomou a palavra:

            — Então que cheguemos logo ao fato: Redramon produziu um cajado e ele está nas Montanhas Ígneas. Redramon produziu o mais poderoso de TODOS os cajados, um cajado tão poderoso que tinha poderes próprios, enquanto os outros apenas ampliavam e facilitavam os magos na realização de magias. Porém, tribos de ogros habitavam as Montanhas Ígneas, como é de conhecimento da Ordem dos Sábios, e descobriram em segredo o que Redramon produzia. Copiando a maneira de Redramon, eles produziram um cajado em semelhança ao outro, contudo, não tão poderoso.

            — Está dizendo que o Cajado Negro deriva deste cajado de Redramon? — indagou Morcian.

            — Sim, Rarion encontrou o Cajado Negro junto das tribos Sax do norte, perto das Montanhas Ígneas. O material é o mesmo: magma das Montanhas Ígneas, porém o poder que Redramon colocou difere os dois cajados — argumentou Danian.

            — Em que sua hipótese se baseia? — perguntou o Grão-Sábio.

            — Muitos anos de trabalho, relatos e raciocínios. Devemos procurar respostas — disse o mago  — Redramon e seu serviçal, Salazir, tramaram um plano. Segundo relatos, Redramon foi visto voando em direção e no Oceano de Jades. Alguns outros relatos indicam sua volta trazendo algo consigo. Redramon foi até Jades e voltou trazendo o corpo de Corbaye, o único dragão que foi derrotado naquelas terras. Corbaye era um dragão muito parecido com Redramon, afinal, eram irmãos.

            — Acho que está com muitas suposições, Danian de Samian — declarou Ambarion

            — Redramon tramou seu destino: uma hora ou outra iria morrer. — Falou Danian, ignorando a fala de Ambarion. — Dragões podem dormir eternidades, portanto, Redramon produziu o cajado, pegou o corpo de seu irmão, Corbaye, para fingir sua morte e organizou com seu serviçal para que fingisse ter assassinado o dragão. Enquanto Redramon adormecia para acordar anos depois e tomar o controle do mundo, já que esta sempre fora sua maior ambição, Salazir ingressava na Corte com seus próprios desejos e cobiças.

            — Então está dizendo que além de Redramon ter criado seu cajado, ele está vivo? — perguntou Morcian. — Que tolice! Você não tem fatos!

            — Duvido muito que Redramon esteja vivo — anunciou Danian. — O plano era este, porém Salazir queria o cajado. Sua ida ao reino de Ukrania como relata Isadrelle, consistia em passar pela Fenda da Montanha, o caminho entre as Montanhas Ígneas e as Montanhas Albinas. Salazir nunca voltou. Minha suspeita é que ele tenha ido até as Montanhas Ígneas e batalhado com Redramon pelo cajado.

            — Como tem tanta certeza? — indagou Morcian.

            — Salazir nunca chegou na Ukrania e foi visto perto das Montanhas Ígneas — disse Ambarion, conturbado com tantas informações. — É algo que devemos considerar. O que me surpreende é que, talvez, Redramon ainda esteja vivo e seria um grave problema.

            Danian sorria. Exclamou entusiasmado:

            — Devemos considerar tudo. Pode ser uma mentira, mas pode ser uma verdade, e devemos averiguar. A decisão, deixo a cargo de vocês.

            Morcian levantou-se, rapidamente, com muita raiva:

            — NÃO, meu voto é não! Não devemos arriscar a vida de ninguém em uma busca tola por um cajado que nem sequer sabemos se existe! E quem sabe, arriscar-se para acordar um dragão!

            Ambarion colocou a mão no braço de Morcian, que se sentou.

            — Como a Segunda Sábia não se encontra, serei eu quem votarei por ela. Como Grão-Sábio e Arquimago, espero não estar tomando a decisão errada. Cada um dos membros da Ordem dos Sábios escolherá um representante para partir numa busca pelo cajado de Redramon. Mago nenhum partirá nesta expedição. Como Samian não se encontra, você, Danian, deverá escolher um representante.

            Danian trocou olhares com Helan. Ela confirmou decidida com a cabeça. O mago, então, se pronunciou:

            — Pois a minha representante será minha aprendiz.

            Irado, Morcian se levantou. Para a aprendiz, a sala pareceu mais obscura e sinistra.

            — Já não basta arriscar sua aprendiz trazendo-a até aqui, você quer agora arriscá-la em uma missão sem fundamentos? — esbravejou Morcian.

            — Sim — insistiu Danian. — Eu e Helan já havíamos conversado e concordamos que, se fosse preciso, ela iria.

            — Morcian! — berrou Ambarion. — Ordem! Tudo bem! Rarion descobriu seu esconderijo e agora você terá de procurar outro local para ficar, mas não é motivo para se exaltar. A decisão de Danian foi aquela e como Helan, a aprendiz de Danian, está presente, então já está confirmada. Em meu nome, intimarei Artemísio de Saltos-Leves, excelente arqueiro e habilidoso com as espadas.

            Morcian se sentou. Helan se sentiu aliviada, afinal, a tensão de Morcian estava sendo liberada, propositalmente ou não e ela podia ver claramente isto: a sala ficava escura, fria, e a voz de Morcian parecia aumentar de tom.

            — Em meu nome intimarei Toreg Klapkusus, capitão de minha tropa pessoal e excelente combatente em campo.

            Ambarion se levantou e disse:

            — Muito bem. Apesar de uma das selecionadas já estar presente, o prazo de cinco dias será dado para que todos nos encontremos aqui mesmo com os representantes, sejam eles os que foram indicados ou não. Danian, traga um mapa da possível localização, rota e tudo na próxima reunião — disse Ambarion andando em direção à porta perto do carvalho. — Esta reunião está encerrada.

           

 

 

 

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