Ana Kelly Narrando Minhas mãos estavam firmes, mas meu coração parecia tamborilar dentro do peito como se anunciasse um aviso. Rasguei o lacre do envelope com cuidado, como se qualquer movimento brusco pudesse explodir uma bomba.Puxei de dentro algumas folhas grampeadas, papel timbrado de uma empresa chamada G&C Consultoria Internacional. Meu olhar passou rápido pelos primeiros parágrafos, até travar num nome que fez meu estômago embrulhar: Vinícius Duarte.— Não pode ser...O relatório detalhava uma série de depósitos feitos por essa consultoria em uma conta offshore localizada nas Ilhas Cayman. Valor alto. Sem origem clara. E aí, o estopim: a conta estava no nome de um dos diretores financeiros dos Carter, um homem que tinha se demitido “misteriosamente” há três meses. Justamente na mesma época em que os Duarte tentavam abocanhar um contrato bilionário com investidores estrangeiros.Fui passando as páginas e me aprofundando na leitura. Era como ver uma teia se formando. A G&C era
Anthony Narrando Já tinha passado das duas da tarde quando consegui sair da última reunião. Meu corpo pedia descanso, mas minha cabeça só conseguia pensar nela. Na minha mulher. Na força que ela tinha pra segurar o tranco no meio de uma guerra onde qualquer passo em falso pode ser fatal.Passei na copa, peguei uma garrafinha d’água e segui direto pro andar da presidência. A porta da sala dela estava encostada, e quando empurrei devagar, vi Ana de pé, de costas, encarando a parede de vidro com os braços cruzados.— Ainda com a cabeça no envelope? — perguntei, encostando a porta com cuidado.Ela se virou e, só de me olhar, eu soube: ela tava exausta. Mas ainda assim, firme.— Tá difícil tirar isso da cabeça — ela respondeu, a voz baixa, um pouco rouca, como se tivesse discutido consigo mesma o dia todo.Me aproximei devagar, encostei minhas mãos na cintura dela e puxei devagar pro meu peito. Ela soltou o ar e deixou o corpo relaxar nos meus braços.— Você não precisa carregar tudo sozi
Luísa Carter Narrando Me chamo Luísa Carter, tenho 55 anos, 1,65 de altura, pele clara e olhos azuis que entregam tanto o cansaço quanto a firmeza de quem nunca se permitiu fraquejar. Sou esposa de Arthur Carter há mais de três décadas, mãe de Anthony e, com muito orgulho, uma das fundadoras da Carter Electronic. Poucos sabem, mas tudo que construímos foi à base de muita luta — e de amor também.Conheci Arthur quando tinha apenas dezoito anos. Ele era completamente encantado por mim, e quando digo encantado, é no sentido literal da palavra: ele me via como algo precioso. Tinha olhos só pra mim, falava como se o mundo só fizesse sentido se eu estivesse nele. Aos vinte, me casei com esse homem determinado, às vezes teimoso, mas completamente apaixonado. A empresa veio logo depois, junto com a maternidade. Criamos Anthony em meio a reuniões, contratos, decisões difíceis e jantares em família.A mesa de jantar está especialmente cheia de significado. Chamei todos pra casa. Queria uma noi
Arthur CarterMe chamo Arthur Carter, tenho 60 anos, 1,82m de altura, e carrego nas costas um império construído com suor, sangue e guerra. Sou o CEO da Carter Electronic, empresa que leva meu sobrenome com honra, e que hoje opera não só em solo nacional, como também fornece serviços e soluções de ponta para o exterior.O que poucos sabem — e muitos gostariam de esquecer — é que minha família quase perdeu tudo no passado. A falência bateu na nossa porta quando os Duarte, esses canalhas que se vestem de empresários, assinaram contratos fraudulentos com os antigos sócios da minha família, afundando a empresa antes mesmo de eu completar vinte e cinco anos. Mas eu revirei a lama com as mãos, levantei sozinho, e hoje... hoje quem dita as regras sou eu.Carter Electronic é um sonho realizado. E eu não vou deixar o pé-rapado do Vinícius, junto com a laia nojenta dele e aquele velho asqueroso, destruir o império que construí. Não enquanto eu estiver vivo.Estávamos no meu escritório particula
Anthony NarrandoEu, Anthony Carter, 35 anos, CEO de uma das maiores empresas de tecnologia do país, sou conhecido por ser implacável. Não por prazer, mas porque aprendi, desde cedo, que a vida não tem piedade. Meu pai, Richard Carter, não teve a menor cerimônia em me ensinar isso. E eu aprendi bem a lição. O mundo é uma selva, e quem vacila morre. Simples assim.Minha empresa, minha reputação, meu controle — isso não está à venda. E a traição? Não, eu não tolero traição. Não aquelas dramáticas, que os tolos se apaixonam, mas as reais, as de quem se volta contra você. Lealdade é tudo. Ou você é meu, ou você não é.Foi isso que me fez quase explodir quando Carla entrou na minha sala com aquele semblante fechado. Sabia que algo estava errado antes mesmo dela abrir a boca. Ela entrou com aquela pasta nas mãos, o semblante sério demais, e o ar estava pesado.— Desculpe, Anthony, mas... preciso conversar com você.Eu a olhei com desconfiança. Carla sempre foi a mais eficiente, a mais leal,
Anthony NarrandoO silêncio entre mim e Bárbara era quase tão grande quanto a merda que ela acabara de presenciar.— Você precisa superar isso. Ela não é a primeira a te deixar, e não será a última. — Bárbara soltou, quebrando o silêncio.— Se veio aqui pra dar lição de moral, a porta é a mesma por onde Carla saiu. — Firmei a voz, e ela revirou os olhos.Bárbara sorriu de lado, aquele maldito sorrisinho de quem acha que entende tudo.— Um dia você vai perceber que não pode controlar tudo. Mas talvez seja tarde demais quando isso acontecer. — Ela se virou para a porta.— Some logo da minha frente. — Cuspi as palavras.Ela saiu, e a única coisa que ficou foi o barulho do meu próprio sangue fervendo.Meu maxilar travava. Minhas mãos fechavam com tanta força que as unhas quase rasgavam a pele. O gosto amargo da traição de Carla ainda queimava minha língua.Odiava perder. E odeio ainda mais perder pra alguém que não merece.Levantei bruscamente, empurrando a cadeira para trás. Fui até a ja
Ana Kelly NarrandoO vento frio da cidade me atingiu assim que desci do ônibus. A sensação era de que o mundo ao meu redor era maior do que eu conseguiria lidar. Meu nome é Ana Kelly, tenho 25 anos. Até ontem eu tinha um emprego, hoje eu sou uma turista, morena, de cabelos negros e longos, um corpo que, dentro dos seus padrões, pode até chamar atenção.Mas, vim de um relacionamento abusivo. Na verdade, o motivo de eu estar aqui, nesta cidade, é porque precisava deixar o passado para trás e dar a volta por cima.Prédios altos se erguiam, suas sombras cobrindo as calçadas apressadas, e o som incessante de carros e buzinas me deixava levemente tonta. “Bem-vinda à metrópole”, pensei, tentando reunir coragem para dar meu primeiro passo naquele novo cenário.Uníca coisa feliz nesta cidade nova, é Karen, minha melhor amiga, ela conseguiu um quarto para mim em seu apartamento minúsculo. O plano é simples: eu ficarei aqui até encontrar um emprego e estabilizar minha vida.Saí dos meus pensame
Anthony Narrando A fumaça do meu cigarro se dissipava no ar, subindo como se quisesse escapar da cidade que parecia me engolir. Eu observava a rua vazia, o som das buzinas distantes ecoando na madrugada. Mas minha mente estava fixada em Ana Kelly. Ela tinha saído do bar sem nem olhar para trás, como se não tivesse deixado uma marca em mim. Mas ela deixou. — Interessante — murmurei, soltando uma baforada de fumaça e segurando o copo de whisky com mais força do que o normal. Não estava com pressa de voltar para casa. Algo me dizia que ainda tinha algo em aberto. Fiquei ali, absorvendo o clima da cidade, tentando entender o que ela significava, mas também sentindo uma provocação constante. Aquela mulher não era fácil. E eu gostava disso. Nenhuma mulher que virasse as costas para mim era comum. Eu não aceitava isso. Nunca aceitei. O barman passou por mim novamente, limpando o balcão sem pressa. — Conhece ela? — perguntei, jogando a pergunta como se fosse uma conversa qualquer, mas na