Capítulo Dois - Ana

Parte 2...

Ainda bem que não, porque eu até gosto de trabalhar aqui e o salário é muito bom, me ajuda bastante. Eu não sou uma pessoa que gasta demais ou que sai por aí desperdiçando dinheiro e até porque, eu nunca tive esse costume, não aprendi nem mesmo a ter dinheiro e dá um trabalho enorme para ganhar, juntar e usar direito. Pra gastar é um piscar de olhos, mas eu acho que até faço milagres com o que tenho.

É melhor que eu vá logo comprar esse capuccino para ele. Uma vez eu caí na bobagem de comprar na cantina aqui da empresa e o homem reclamou três dias seguidos. Quando ele me pediu de novo, eu fui logo na cafeteria na rua de trás e comprei lá o café.

Ele gostou e pensa que a cantina melhorou o capuccino. Nunca disse a verdade a ele. Pelo menos não reclama mais comigo sobre isso. Eu não posso ser responsável pelo trabalho dos outros, apenas do que eu faço.

Peguei o cartão na gaveta. Esse cartão tem uma senha só para mim. Ele me deu esse cartão quando comecei a trabalhar no lugar da secretária anterior. Tudo o que eu faço com esse cartão, eu peço a nota fiscal. Até mesmo se for algo aqui dentro da empresa.

Eu tenho pavor de ser acusada de meter a mão no que não é meu. Nem mesmo levo o cartão para casa, como ele disse pra eu fazer. Prefiro guardar no cofre do recursos humanos todas as vezes que vou embora. Me sinto melhor assim. Se por acaso o cartão for usado para algo mais, a culpa não será minha. Tenho todos os comprovantes guardados e também fica registrado que guardei o cartão no RH antes de sair.

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Matteo...

Minha cabeça está fervilhando. Já pensei em algumas possibilidades de me safar dessa bendita exigência do meu avô, mas depois volto ao zero, percebo que não vai dar certo.

Sei que o velho Pietro fez isso de propósito para me forçar a ter a vida madura que ele acha que eu deveria ter. Ele nunca compreendeu que eu não acredito nessa bobagem de amor, de vida a dois, de casamento pra sempre. Isso é tudo uma grande bobagem.

Ele quer que eu tenha uma família, filhos, talvez até, um cachorro para ficar abanando o rabo para mim, toda vez que eu voltar do trabalho. Tipo um comercial de margarina, onde todos são sorridentes e felizes.

Até parece que é isso mesmo na vida real. Quais os exemplos que vemos todos os dias? Um monte de gente se separa e ainda passam a se odiar. E de que me serviu uma família? Eu acabei com outra, não foi?

Meus avós foram carinhosos e me deram educação, me ensinaram muitas coisas, mas eles nunca conseguiram me fazer esquecer da separação e do abandono dos meus pais.

Nenhum dos dois quis ficar com a gente. Nem nossa mãe. Isso me marcou e sei que a Lucas também. E acho que não sermos tão próximos como deveríamos ser, também é um pouco por conta disso.

Nossos pais nunca pensaram em ninguém, apenas neles mesmos. Quando queriam ficar juntos, passaram por cima de todos e quando quiseram se separar, fizeram o mesmo. Duas pessoas egoístas que sempre pensaram apenas neles e talvez por isso se apaixonaram e logo depois a paixão acabou, quando perceberam que eram parecidos demais.

Foi uma pena que minha avó tivesse morrido antes de Pietro. Ela não deixaria que ele colocasse essa imposição. Minha avó Felicia era uma mulher incrível e eu gostaria de conhecer alguém que tivesse o coração como o dela. Mas sei que isso é muito difícil de acontecer. Não impossível, porém difícil.

Acho que minha avó foi a única mulher que me amou de verdade. As outras só tinham outras intenções e fingiam me amar, mas isso não me importa, eu já sabia disso. Até acho que encontrei umas bem parecidas com minha mãe, que só pensavam nelas o tempo todo e fingiam se importar comigo.

E também, sendo honesto, eu procurava mulheres que fossem parecidas comigo. Como uma versão feminina de mim. Sem querer compromisso e apenas se divertir por um tempo, então eu nem posso reclamar realmente.

Elas eram bonitas, divertidas, livres e algumas até eram inteligentes. Outras nem tanto, mas isso não me incomodava porque eu não estava buscando a mulher da minha vida. Era só pra curtir um tempo e depois passava para outra.

Meus casos começavam rápido e terminavam quase na mesma velocidade. O caso que mais durou foi com uma cantora iniciante. A conheci em um barzinho de um conhecido, começamos a conversar e depois já fomos para um motel. Foi a que mais durou. Seis meses. Depois aproveitei que ela tinha que mudar de cidade para seguir carreira e terminei. Nunca mais voltei a falar com ela e também já estava interessado em outra.

Anna...

Tenho que levar o café para ele e aproveitar para avisar que estão procurando por ele na sala de reunião. Bati de leve na porta e entrei. Ele estava de cabeça baixa, lendo algo no celular e parecia bem preocupado.

— Aqui está seu capuccino, senhor Firenze - eu falei baixinho — O diretor de cargas estava procurando pelo senhor. Eu o avisei de que estava aqui em sua sala.

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