POV CALEBEla pediu. E o mundo parou.O sangue em minhas veias rugiu. Como se o próprio lobo em mim despertasse com um uivo surdo, feroz, primitivo. Cada fibra do meu corpo gritou para obedecer. Para tomá-la. Para marcá-la como minha.Mas eu travei.A respiração ficou presa. As mãos ainda estavam em sua cintura, mas rígidas. O olhar dela era um convite… e um salto no abismo.— Enrica…Minha voz saiu rouca. Quase irreconhecível até para mim.— Você não tem noção do que está me pedindo — murmurei, o peito subindo e descendo com esforço. — A marca… ela não é só uma mordida. É vínculo. Sangue. Alma. Dor. Desejo. É para sempre.Ela não piscou.— Eu sei — disse, e seus dedos tocaram meu rosto com a mesma firmeza de antes. — E eu escolho você, Caleb. Escolhi quando cuidei de você naquela noite. Escolhi quando não corri. E escolho agora. Porque você também me trouxe de volta.O lobo em mim parou de lutar.Ele se ajoelhou dentro de mim. Silencioso. Submisso. Como se reconhecesse a fêmea que o
POV ENRICAAcordei com a estranha sensação de que faltava algo.O quarto estava silencioso, banhado por uma luz suave que atravessava as cortinas esvoaçantes. O ar carregava o perfume dele — ferro, pinho e aquele algo inexplicável que só Caleb tinha. O calor ainda impregnava os lençóis, como se ele tivesse estado ali havia poucos minutos. Mas não havia sinal dele.Minhas mãos tatearam o lençol, o travesseiro… vazios.O corpo ainda doía. Não da forma ruim. Era uma dor funda, morna, que vinha da marca que ele deixara em mim. A mordida ainda ardia em meu ombro, mas era uma chama doce. Um lembrete de que eu agora pertencia a algo maior do que eu mesma. A ele.Mas onde ele estava?Me sentei devagar, puxando o lençol contra o peito. Meus olhos buscaram pistas pela imensidão do quarto. Havia uma rosa vermelha, agora tombada sobre o criado-mudo, como se tivesse desistido de se manter ereta. Uma camisa dele, esquecida sobre a poltrona. Um copo com água, pela metade, ainda com uma gota escorren
POV ENRICADepois que Alicia comentou sobre Samuel, fiquei em silêncio por alguns segundos, mas a pergunta escapou antes que eu pudesse segurá-la.— Você… sente algo por ele? Por Samuel?Alicia piscou, surpresa.— O quê? — Ela riu, sem graça. — Samuel? Claro que não. Ele é um beta, Enrica. Isso nunca daria certo. Uma ômega como eu… como nós… é fadada a ser marcada por um alfa. É como as coisas são.A resposta dela me atingiu com um gosto estranho na boca. Havia um toque de desprezo em suas palavras. Ou talvez fosse só o reflexo de uma verdade social que nos foi imposta desde sempre. Mas ainda assim… doeu.— E o Oliver? — perguntei, tentando soar casual, mas o nome saiu quase sussurrado.Alicia bufou.— Oliver é irritante. Arrogante. Nunca me permitiria ser marcada por alguém como ele. Nem que fosse o último alfa do mundo.Ela disse isso com convicção, mas algo em seus olhos vacilou por um segundo. Um lampejo que ela rapidamente escondeu.E eu… não consegui evitar o pensamento.Quantas
POV ENRICAPassaram-se dias desde que encontramos o livro escondido. E apesar de todo nosso esforço, não conseguimos avançar muito mais do que aquelas páginas já diziam. Por mais que revirássemos registros antigos, genealogias confusas e mitologias entrelaçadas com realidade, tudo parecia… inconclusivo. Como se sempre faltasse uma peça para completar o quebra-cabeça.A biblioteca, que antes parecia um refúgio, começava a pesar. As paredes altas, repletas de conhecimento, agora soavam como um labirinto que não queria nos deixar sair. Alicia estava especialmente frustrada. Seus dedos folheavam os livros com agressividade crescente. O olhar, cada vez mais sombrio.— Isso aqui não leva a lugar nenhum — ela murmurou, empurrando um tomo grosso de lado.— Alicia… — tentei, mas ela me interrompeu com um gesto.— E se minha avó… e se ela estava envolvida com tudo isso? — a voz dela quebrou, embargada. — Com os laboratórios. Com os desaparecimentos. Com os testes. E meu irmão…Ela baixou a cabe
POV ENRICAEu não podia me perder nos meus próprios sentimentos. Não quando Alicia precisava de mim também. Então tentei sorrir e estar presente para ela. Caminhei para me aproximar dela quando uma tontura me pegou desprevenida.Apoiei as mãos na mesa, respirando fundo.— Enrica? — Alicia me olhou, preocupada. — Você tá bem?— Tô… só… talvez um pouco de fome. — Sorri, tentando disfarçar. — Nada demais.— Você vem dizendo isso há dias — ela rebateu, se levantando. — Eu vou pedir algo. Também tô faminta.Assenti, mas antes que ela desse um passo em direção à porta, uma das criadas entrou com uma reverência apressada.— Senhoritas… o senhor Oliver pediu que eu as levasse até ele. Ele as espera no jardim interno. — A moça sorriu com suavidade. — Está tudo pronto.— Tão rápido? — Alicia me lançou um olhar como quem dizia “lá vamos nós” e eu apenas sorri de volta, tentando afastar a estranha sensação que crescia no fundo do estômago.Seguimos a criada pelos corredores até um dos setores mai
POV ENRICAAcordei com a garganta seca, os lençóis ao meu redor embolados e o quarto mergulhado em um silêncio estranho. A luz do sol atravessava as frestas das cortinas pesadas, criando listras douradas no chão de pedra escura. Meus olhos ainda estavam pesados quando virei a cabeça para o lado e vi Alicia.Ela dormia em uma cadeira desconfortável, os joelhos encolhidos, a cabeça pendendo para o lado. A coluna torta denunciava o desconforto, mas o rosto… ela parecia exausta. E mesmo dormindo, não soltava minha mão.Fiz menção de me levantar, devagar, para não acordá-la, mas o leve movimento foi o suficiente para seus olhos azuis se abrirem num estalo.— Enrica? — A voz dela veio rouca, carregada de alívio e preocupação. Ela se endireitou com pressa. — Como você está?— Sede — murmurei. — Nada demais. Só…Antes mesmo que eu terminasse, ela já alcançava uma jarra com água e me servia, segurando o copo com as duas mãos trêmulas.— Aqui. Bebe devagar. — Seus olhos analisavam cada moviment
POV ENRICAAlicia bufou, cruzando os braços com força exagerada.— Isso é um assunto sério, Oliver! Você tem que parar de brincar com tudo.— Eu não tô brincando! — ele rebateu, indignado, erguendo uma sobrancelha como se aquilo fosse a coisa mais absurda que já tinha escutado. — Só tô dizendo o óbvio. Caleb é um maldito furacão quando quer, e agora tem um motivo a mais pra arrastar tudo no caminho. Só quero que vocês estejam preparadas quando ele aparecer aqui sem nem bater na porta.— Então por que você ficou todo irritadinho quando a Enrica desmaiou? — Alicia cutucou, provocativa. — Achei que você fosse desmaiar junto.Oliver arregalou os olhos, ofendido.— Porque eu tava com fome, não é a mesma coisa! — ele rebateu, mas o rubor no rosto o entregava. — E além do mais… — ele lançou um olhar rápido para Alicia, com um meio sorriso torto — você tem moral pra falar? Até hoje não explicou por que recusou meu convite pra jantar outro dia.A fala me pegou de surpresa.— Espera… convite pr
POV ENRICACerta noite, enquanto tomávamos chá no gazebo ao sul do jardim — um dos meus lugares preferidos por causa das lanternas e do cheiro de flores —, Oliver apareceu, claramente agitado.— Alicia — ele chamou, com pressa — preciso de uma das suas poções. Pro Samuel.— O quê? O que houve? — Alicia se levantou num pulo.— Tremores de novo. Suor frio. Ele não quer admitir, mas tá piorando. Um dos meus homens que está com ele na linha de frente me mandou um relatório hoje. Achei que estivesse exagerando… mas agora tenho certeza.— Por que não me chamou antes? — ela já se levantava e eu a segui.Antes que ele pudesse responder, uma voz firme e carregada soou atrás dele:— Porque ele sabia que eu descobriria.A figura imponente do conselheiro Magnus surgiu por entre as sombras, o olhar diretamente sobre nós.— Conselheiro — dissemos, quase em uníssono.Mas seus olhos estavam em mim. Senti meu corpo enrijecer. Não havia raiva naquele olhar… mas havia peso. Julgamento. Como se ele soube