“Às vezes, as decisões mais difíceis levam às transformações mais profundas.”
— O que sabe sobre o que fazemos aqui?
Chloe suspirou fundo e passou as mãos pela calça, tentando controlar seu nervosismo e disse:
— Sei que oferecem serviços de anfitriã.
— E sabe como é o papel de uma anfitriã?
— Devemos entreter os clientes e fazer com que eles consumam.
Otto sorri largo e responde satisfeito:
— Muito bem, minha criança, percebo que fez a lição de casa direitinho. Algumas anfitriãs, optam por dormir com os clientes… — Chloe sentiu a bile subindo e se controlou para não vomitar. — uma maneira de ganhar um bônus, mas não se preocupe, isso não é obrigatório, a não ser que sinta vontade… — disse colocando os cotovelos sobre a mesa e encarando Chloe nos olhos com intensidade. Chloe resolveu permanecer em silêncio, como se ignorasse completamente essa informação. — Mas, diga-me, minha criança… de quanto precisa?
Chloe suspirou e abaixou a cabeça. Não tinha mais volta, por mais que estivesse morrendo de vontade de correr dali, precisava de dinheiro para as despesas médicas de sua mãe, a hipoteca da casa e a faculdade. Respirou fundo e levantou o rosto encarando o homem e disse:
— O suficiente para pagar as despesas médicas de minha mãe, quitar a hipoteca da minha casa e atualizar a minha faculdade!
O empresário sorriu largo e se acomodou melhor na cadeira, satisfeito com uma ideia que lhe surgiu. Ele abre a gaveta, pega uma caixa retirando um charuto e o acende, soprando a fumaça, dizendo em seguida:
— Pois bem, façamos assim — encara novamente a menina nos olhos e continua: — Meu anunciante pegará com você todas as despesas detalhadas do hospital e da casa, em dois dias quitamos todas as suas dívidas, fora isso, regularizarei a sua faculdade e assumirei as demais prestações, darei um dinheiro extra para que possa se manter… — disse sorrindo.
Chloe achou ótimo, mas queria saber quanto tudo isso lhe custaria. Encarou o homem nos olhos e perguntou:
— Como pagarei por tudo isso?
Otto sorriu gostando de saber que apesar de garota, ela era bastante inteligente, colocou o charuto no cinzeiro e disse:
— Assinaremos um contrato de três anos.
Três anos? Ficaria presa àquele ambiente por três anos? — penso.
— Trabalhará para mim durante três anos. Nesse período deverá estar sempre disponível quando solicitada, para eventos e coisas do tipo e nunca deverá faltar. Quando digo nunca, quero dizer nunca mesmo. O que me diz?
Chloe não tinha saída. Não era o que tinha desejado na vida, mas esse emprego resolveria todos os seus problemas e ela não precisaria abandonar a faculdade. Quando decidiu ir até aquele lugar, sabia que teria um preço muito alto a pagar, mas não tinha outra saída. Levantou-se, aproximou do homem estendendo-lhe a mão e disse:
— Onde assino?
— Muito bem, gosto de trabalhar com garotas inteligentes. Como se chama?
— Chloe Hughes.
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Estados Unidos
São Francisco, Califórnia
Universidade da Califórnia
Chloe Hughes
Acabei de vender minha alma.
Saio do clube e vou direto para a faculdade, tenho que fazer o levantamento das dívidas para entregar ao meu novo “patrão.” Por Deus, o que eu fiz? Agora não é o momento de chorar pelo leite derramado, preciso ser forte, por mim e por minha mãe. Lembro que nem vivi o luto do meu pai, minha vida está uma verdadeira montanha russa e na verdade, não me recordo qual foi a última vez que eu comi alguma coisa. Desço do ônibus na frente da faculdade e entro. Olho para o meu relógio de pulso e vejo que ainda tenho tempo para tomar um café, pelo menos, suspiro fundo e caminho até a cantina. Não sei porque mas sinto como se todos estão me olhando como se soubessem o que estou prestes a fazer. Deixa de paranoia, Chloe! – penso. Sento na mesa, faço o meu pedido e pego o meu celular para telefonar para o hospital e tentar descobrir como está minha mãe, mas antes de completar a minha ligação, vejo minhas duas amigas se aproximando. Quando acabarem as aulas de hoje, vou até lá visitá-la afinal, se algo ruim tivesse acontecido, eles teriam me telefonado, com toda certeza
— Chloe, ligamos para você durante o dia inteiro, por onde esteve? — perguntou Sarah, sentando ao lado da amiga.
— Estive resolvendo umas coisas da mamãe. – respondo entristecida. Se minhas amigas sonham com o que estou prestes a fazer, será que deixarão de ser minhas amigas?
— Não teremos aula hoje a noite, a professora está com catapora. — completou Elizabeth. — Para falar a verdade, eu achei maravilhoso porque não tinha estudado nada para o teste que ela ia aplicar. — completou sussurrando.
— Hoje teria um teste surpresa? Nossa, que legal! – digo zombeteiro.
Sarah suspira fundo e se aproxima segurando minhas mãos e diz encarando meus olhos:
— Amiga, não se cobre tanto. Aconteceram várias coisas na sua vida nos últimos dias, tire um tempo para descansar, se quiser, converso com os professores sobre sua situação e…
— Sarah, não. Se ficar sozinha em casa, enlouqueço!
— Por que não vem morar com a gente? — perguntou Elizabeth.
— Nosso apartamento é pequeno, mas sempre cabe mais um. — completou Sarah com um sorriso acolhedor.
Por um momento penso nessa possibilidade, mas agora, na minha atual condição, o que diria às minhas amigas quando precisar sair todas as noites? Sorrio e respondo:
— É uma boa proposta. — as duas sorriem animadas… — mas preciso organizar tudo antes, prometo que quando tudo estiver nos trilhos, respondo a vocês. Então já que não tem aula, vou até o hospital visitar minha mãe. — digo já levantando da mesa.
— Vamos com você! — respondem em uníssono. Sorrio sentindo-me acolhida, como é bom ter alguém ao seu lado que se preocupa com você, espero que essa fase negra da minha vida passe rápido, pelo menos sei quanto tempo irá durar… Três anos!