Eron olha para todos com cara de poucos amigos. Ele se aproxima de mim e me oferece a mão para levantar.
— Obrigado por ser a única sensata deste lugar, Rayka — ele fala antes de me levar com ele para fora.
Saímos pelas ruas da pequena cidade que é a nossa matilha. Temos um total de pouco mais de mil habitantes. Todos aqui são valiosos, em especial os que fazem parte da guarda.
Os guardas são divididos em duas categorias principais, os que cuidam da matilha e os reservas. Ambos treinam para se manter em forma. Em caso de eventos como o de hoje, os oficiais partem para o combate e os reservas assumem o lugar de cuidar da segurança para a cidade não ficar desprotegida.
Cada um aqui tem uma função. A minha é solicitada por todos e ainda assim continuo malvista. Ninguém gosta de uma bruxa com poder de amaldiçoar, a ironia é que é mais fácil eles desejarem me amaldiçoar do que o contrário.
Eron me leva para dentro da sua casa outra vez. Parece já ter resolvido o que tinha para fazer.
— Você tem que começar a se defender, Verônica — ele me fala.
— Sei disso, mas não quero arrumar confusão com ninguém, eles já não gostam de mim, já têm medo de mim, não precisam de mais motivos para isso — falo, me sinto péssima por todas as vezes em que ele teve que deixar o que fazia para intervir por mim.
Isso tudo porque eu não consigo me transformar. Tudo o que eu tenho são os bons da bruxaria e nem isso eu consigo usar.
Eron se aproxima de mim, pega em meu queixo e me beija.
— É melhor ser temida do que desrespeitada. Eu preciso que a minha companheira saiba se impor. Preciso que você mostre que sabe se defender, que pode defender a matilha. Ninguém respeita quem é facilmente intimidada.
Eu sei que Eron tem razão, mas para mim é mais difícil, eu sou o que chamam de "erro mágico" desde a infância.
— E se eu não for forte o bastante, não vou ser sua companheira? — pergunto.
— Você é forte o bastante, só precisa descobrir isso.
— Algum dia você também vai se cansar de mim e me deixar, vai me ver como os outros veem… — falo e ele pega em meu rosto com as duas mãos.
— Nunca, você é minha para sempre, lembra? — ele fala e dá o sorriso irresistível que tanto amo ver.
Estamos juntos desde sempre. Nós crescemos juntos antes de Eron se tornar alfa, quando eu ainda não era párea e ainda tinha os meus pais vivos.
Eron me defendeu quando eu não me transformei depois do meu primeiro sangramento. Ele cuidou de mim quando perdi meus pais. Ele sempre esteve ao meu lado e sei que não sou boa o bastante para estar ao lado dele.
— Eu queria ter um jeito de provar que sou boa o bastante — respondo.
Eron pega meu colar nos dedos. O colar de proteção com o sangue da minha vó. As traidoras me deram logo depois de me prenderem. É tudo que tenho de herança dela.
— Então prove. Faça um desse para mim. Faça um desse para quantos guardas você puder. Faça algum feitiço de proteção em volta da cidade, como o que tinha ao redor da Fortaleza das bruxas — ele me pede.
Eu só consegui derrubar as proteções da fortaleza por meu sangue ser da linhagem de quem o criou e manteve. Eu era literalmente a única que poderia fazer isso. Aquela fortaleza só cairia com a morte da última herdeira ou com um feitiço realizado por uma herdeira da linhagem.
Em nem um momento foi o meu poder, foi somente o meu sangue.
— Não sei se sou forte o bastante para tanto — digo, seu sorriso para mim esmorece. — Mas eu posso fazer um colar de proteção para você, posso tentar ir fazendo aos poucos para todos, vou dar o melhor de mim.
Eron me puxa para si em um beijo longo. Suas mãos correm por minhas costas. Sei o que vem depois que ele me beija assim. Só sairemos do quarto pela manhã.
— Eu quero que faça agora. Depois me deitarei com você em comemoração — ele fala ao meu ouvido.
Concordo com tudo o que diz.
Pego tudo o que preciso para realizar o ritual, tiro um pouco do sangue de Eron para colocar no recipiente. Fortifico o metal em uma fundição no colar com feche que só pode ser aberto por ele e pela bruxa que o fez.
Só nos dois podemos tirar essa proteção dele e nem um de nós pretende fazer isso.
Digo as palavras do feitiço para finalizar. Ele me olha e presta atenção em cada movimento meu.
— Está feito — falo um tanto exaurida pelo esforço do dia de hoje.
Ele me puxa para o colo, nos leva para perto da cama.
— Ainda não está tudo feito.
— Acha que vão me aceitar?
— Eles não vão poder ser contra você, será minha companheira quando completar vinte e um anos. Ninguém pode ir de contra esse laço.
— Mas e se não tivermos o laço de companheiros?
— Com ou sem laço, você é minha. Só tem que se provar fiel a mim e eles terão que aceitar você.
Eron me vira de costas, desfaz os fios do espartilho, puxa minha blusa para cima e a calça para baixo. Tira minhas botas com cuidado e sobe de volta trazendo uma trilha de beijos pelo caminho.
Minha pele pode ser resistente a machucados, mas sucumbe a ele. Sou completamente dele. Totalmente entregue ao meu alfa.
— Eron… — falo. Ele me deita de bruços na cama e vem sobre mim.
— Me chama do jeito que eu gosto — ele ordena.
— Meu alfa.
— E o que mais?
— Eu sou só sua, meu alfa — respondo.
— Boa garota.
Eron se empurra contra mim me fazendo arquear. As mãos percorrem todo o meu corpo. Me sinto fraca, por ele, por ter exigido demais de mim nos feitiços que realizei hoje. Não digo a ele para manter o nosso momento.
Aproveito cada beijo, cada toque, casa sensação de ter ele dentro de mim. As investidas são fortes e urgentes. Deixo meu corpo ser levado para o misto de sensações até ter minhas pernas fracas ainda mais fracas.
Ele se derrama terminando pouco depois de mim. Continua me cobrindo de beijos e declarando o quanto sou sua. Me puxa para o seu peito onde descanso em paz.
Só acordo no dia seguinte, sem Eron do meu lado na cama. Estranho, ele costuma me esperar para levantar.
Visto minhas roupas de volta e vou a procura dele. Algo deve ter acontecido.