No cruzeiro com o CEO
No cruzeiro com o CEO
Por: Flávia Saldanha
1- Sortuda

Geovana

Minhas mãos suavam, os joelhos tremiam, o suor descia como bica pelo meio de minhas costas, meus olhos arregalados e a tensão não permitia que o ar passasse por meus pulmões.

Nataly e eu estávamos em frente a TV aguardando o resultado do sorteio. Era praticamente impossível ganhar, literalmente uma chance em um milhão. A maior revista de turismo do país oferecia um número em cada unidade vendida de sua revista. A belezinha nunca vendeu tanto. Sempre que eu ia até a banca de jornal a revista já havia esgotado, isso mesmo, nada de unidade baixada ou comprada pela internet, só valia revista física.

Quantas pessoas compraram várias unidades? Pois é, eu comprei só uma. A revista não é baratinha, não, e eu sou recepcionista de um escritório de advocacia, ou seja, ganho pouco. E pra completar, o bilhete te dava direito a tudo pago pra você e seu acompanhante durante todo o cruzeiro. É muita sorte ou não é?

Minhas mãos começaram a pingar de nervoso.

— Cacete, esse sorteio que não começa - Nataly está tão aflita quanto eu. Nossa diferença é que sempre sofri calada, suo frio, me dá tremedeira, dor de barriga... mas não fico falando. E ela é meu completo oposto.

— Ai, tá dando dor de barriga.

— Segura aí, mulher - cruzo as pernas pra tentar fazer a cólica que tomou meu intestino passar, mas de nada adianta.

— Não vou aguentar, Naty.

— Segura esse orifício, mulher, já deve entrar a qualquer momento.

A sala escura só está sendo iluminada pela luz azulada da TV. O sofá branco e aconchegante da casa da Naty acomoda muito bem nós duas, mas eu rebolo sentada no lugar, como se algo me incomodasse, e me incomoda mesmo: a dor na barriga.

— Não vai dar, Naty, está ficando insuportável. - Me levanto na mesma hora e jogo a minha revista no colo dela, a coitada totalmente amarrotada de tanto que eu espremo-a de um lado a outro. - Se falar meu número, me avisa.

Só tenho tempo de correr para o banheiro e me sentar na privada. Sinto o alívio na minha barriga no mesmo momento que escuto o grito da Naty, vindo da sala não muito distante.

— É isso, cacete, sorte do caralho! - Escuto-a gritar e festejar na sala e eu tenho vontade levantar para agarra-la e parabeniza-la, mas a barriga não está permitindo que eu me levante ainda. Tenho certeza que a sortuda foi ela.

Quando tento me levantar do sanitário, Naty invade o cômodo pequeno e se arrepende no mesmo segundo, retornando para fora do cômodo e gritando do lado de fora.

— Sua cagona, nos dois sentidos, não acredito que você comprou só uma revista e foi seu número que saiu.

— O quê? - grito totalmente incrédula - Tá de sacanagem com a minha cara, né.

— É claro que não, acha que ia brincar com isso? Aliás, você tem que ligar em meia hora ou vão realizar outro sorteio. E se fizerem outro o seu está cancelado.

Arregalo os olhos, não posso perder a chance única da minha vida.

Me levanto e me arrumo rapidamente e deixo o banheiro da minha amiga.

— Apertou o botãozinho do aromatizante, amor? - debocha ela. O nervoso era tanto que estava me esquecendo, então voltei e acionei o botãozinho.

Corri para a minha bolsa e peguei o meu telefone, fico ainda mais nervosa porque a porcaria do número só dá ocupado. Não credito que vou perder meu bilhete por causa de um telefone ocupado? Ligo insistentemente até que cinco minutos depois sou atendida. Parece rápido, mas esses cinco minutos pareciam cinco horas.

A atendente justifica que a linha ficou congestionada de pessoas contestando o resultado e por isso a demora para ser atendida. Passo todos os meus dados e os dados do meu acompanhante: Willian Gomes.

Agora a ansiedade me toma, preciso falar com Willian, preciso contar a ele que teremos nossa Lua de Mel antecipada. Namoramos há três anos e esse é nosso presente de casamento antecipado. A nossa merecida lua de mel que não teríamos como pagar.

— Muito sortuda, cara. Uma revista só, tu merecia muito. Deus olhou de lá de cima e viu alguma coisa em você, minha amiga.

— Se eu não tivesse o Will eu te levaria, você sabe, né?

Abraço-a na porta de sua casa, já me despedindo dela.

— Eu sei, mas não se preocupe com isso, não. Sorte é sorte, e ela é sua. Você mereceu. Vai contar pro seu amado.

Com um sorriso me despeço de Nataly e pego meu telefone, ligando para o meu namorado. Ele demora a atender, mas na segunda tentativa ele atende no primeiro toque.

— Fala gostosa, tava ocupado.

— Vem me encontrar no nosso barzinho de sempre.

— Agora? Tô ocupado, gata.

— O que você está fazendo de tão importante em um domingo a noite?

— Eu sou autônomo, né, gostosa. Tenho que adiantar as coisas pra amanhã.

Suspiro fundo, mas eu não ia ceder.

— Ganhei o sorteio.

— Que sorteio?

— Aquele da revista de turismo que dava um bilhete com direito a acompanhante com tudo pago no cruzeiro mais chique do Brasil.

— Tá de sacanagem?

— Não tô, pergunta pra Naty. E se você não vier me encontrar, vou levar a Naty no seu lugar.

— Ah, não, pô. Eu sou seu gato, vai levar amiga pra cruzeiro nada.

— Então vem pro nosso barzinho e não posso esperar muito, não. - Exijo e desligo no segundo seguinte.

Caminho para o barzinho combinado, me acomodo e peço uma cerveja. Em menos de dez minutos Will chega.

Seu perfume me embriaga, os cabelos encaracolados úmidos de um banho recente. A camisa azul clara semiaberta, mostrando o peito moreno sem pelo algum.

— Oi, meu amor - fala ele e se inclina para me beijar de se sentar. - Fala que foi só uma piada pra me tirar de casa, não vou ficar chateado.

— Não é piada. - Jogo a revista na frente dele - Confere o número sorteado no site da revista.

— É sério então?

— Super sério.

— Caraca! - Ele abre na parte que explica sobre o sorteio, vê as fotos do cruzeiro - Buenos Aires?

— E Montevidéu - Bebo minha cerveja.

— Nove dias?

— E oito noites.

Ele continua lendo as informações.

— Tudo pago, tipo, tudo mesmo?

— Tudo - pego a revista de sua mão. - Embarque e desembarque em Santos.

— Em São paulo, mas como nós vamos pra lá? Tenho dinheiro, não, gata.

— Nem eu, gato. Vai pedir sua cerveja, não?

Ele ergue a mão pedindo uma garrafa ao garçom.

— Então como vamos?

— Um carro de aplicativo vai vir nos buscar e nos trazer, tudo pago, lembra?

Seu sorriso se amplia.

— Caraca, aí, sortuda mesmo.

— Nunca tive sorte na vida, Will, acho que alguém lá em cima teve pena de mim e resolveu me dar uma trégua.

— Nunca imaginei tirar férias em um lugar como esse?

— Nem eu, Will, nunca nem tirei férias! Desde que comecei a trabalhar no escritório do Doutor Carlos. Sempre aceitei trocar as férias.

— Mais que merecido, então.

Ele pega sua cerveja e vira direto da garrafa na boca. Bebe direto do gargalo como ele sempre faz.

— Sem contar que é nossa Lua de mel antecipada, né.

Ele para de engolir a cerveja e me encara, engole e finalmente fala.

— Lua de Mel?

— Três anos de namoro, Will, tá na hora de casar, né.

Ele volta a beber, dessa vez um grande gole.

— Claro, gata, tá na hora, mesmo.

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