A garotinha saiu e pegou na mão do pai, que a ajudou a subir no caminhão.
Assim que o caminhão partiu, Yuri caminhou rapidamente até o caixote — com o sol forte daquele jeito, a pessoa ali dentro poderia até morrer desidratada.
No caminho, ele fez sinal para que um soldado o acompanhasse.
Colocou-se de frente ao caixote e pediu que o abrissem.
O soldado obedeceu, mas a pessoa lá dentro não se moveu. Yuri se inclinou e, ao olhar para dentro, pensou que poderia ser tarde demais.
— Vá e chame o sargento — disse, levando as mãos às têmporas.
Quando Raoni chegou, ele recebeu a ordem para tirar a pessoa da caixa.
Raoni relutou — conhecia Yuri, mas não tinha opção.
— Ela é rebelde. Tacou um objeto na minha cabeça — justificou, mostrando a faixa na testa.
— Tire-a — disse Yuri, visivelmente irritado.
Raoni tirou Rosana do caixote. Ela apenas murmurava. Era difícil entender o que dizia, mas algo era bem audível: “não me toque”.
Indignado ao vê-la naquele estado lastimável, Yuri ergueu a voz:
— Alguém pode me dizer o que aconteceu aqui? Quais são as ordens quanto ao tratamento de civis pela tropa?
Ele se agachou e virou o corpo amontoado, enrolado em seus próprios cabelos. Escorou-a em suas pernas e afastou com cuidado as mechas molhadas de suor do rosto dela. Ela parecia uma boneca de porcelana, com cílios longos e espessos.
Levou Rosana até a tenda e pediu que as camareiras preparassem um banho e um caldo.
— Cabo Soti, pegue no meu jipe uma sacola de couro e traga aqui.
Raoni entrou na tenda para falar com Yuri. Estava irritado, sentia-se humilhado diante da tropa.
— Ela estava de castigo porque me agrediu duas vezes — afirmou com ar confiante.
— É mesmo? E o que uma mulher nesse estado poderia fazer contra um homem do seu porte? E mais: o que teria levado ela a tal ato?
Raoni ficou sem argumentos. Rosana o agredira em legítima defesa — ele queria se aproveitar dela, mas não podia dizer isso. Tentou, então, encontrar uma nova justificativa.
— Ela se recusava a se juntar aos outros e roubou itens do destacamento — respondeu, tentando convencer a si mesmo.
— Investigarei e punirei os culpados — disse Yuri, sem emoção.
Ele passou álcool canforado nos pulsos e o levou levemente ao nariz de Rosana, para despertá-la.
Raoni permanecia de pé, atrás de Yuri. Queria pôr fim à vida de Rosana, pois sabia que, se ela acordasse, sua reputação estaria arruinada.
O cheiro forte incomodou Rosana, e ela acordou — mas estava muito fraca. Mal conseguia abrir os olhos. Sua cabeça doía, e as costas queimavam.
— Você me ouve? — perguntou Yuri, inclinando-se para escutar melhor.
— Onde estou? — sussurrou ela.
— Não se preocupe. Você está segura. Consegue se sentar para comer alguma coisa?
Ela assentiu com a cabeça e tentou se apoiar nos braços, mas teve dificuldade. Yuri, ao ver isso, pediu a uma camareira que a ajudasse. Não quis tocá-la — poderia assustá-la, e além disso, ele era muito reservado.
— Pode sair — disse ele a Raoni, que continuava ali parado.
Raoni saiu sem dizer nada.
Quando a camareira tentou ajudar Rosana, ela gritou de dor. No vestido, havia manchas de sangue nas costas.
— O que é isso? — perguntou Yuri à camareira.
— Senhor, ela... ela... — a mulher hesitou, com medo.
— Abra o vestido — ordenou ele.
Seu sangue ferveu. Havia três marcas em carne viva nas costas da jovem. As feridas ainda estavam úmidas e colavam no tecido.
— Quem fez isso? — indagou, furioso.
— Senhor... por favor, eu não posso dizer — murmurou a mulher, abaixando os olhos, temendo ser castigada.
— O sargento — Rosana sussurrou, antes de desmaiar novamente, vencida pela dor e pela fome.
— Me ajude — disse ele à camareira.
Yuri segurou Rosana enquanto a camareira retirava o vestido. Preparou uma infusão com ervas e um bálsamo que carregava sempre consigo.
Limparam as feridas, fizeram os curativos, e Rosana dormiu pelo restante do dia.
Quando anoiteceu, Rosana acordou e viu um homem sentado numa cadeira, não muito longe da cama. Assustada, tentou se levantar.
— Não se assuste. Se fizer movimentos bruscos, suas feridas podem sangrar de novo — disse ele.
— Quem é você? O que estou fazendo aqui? — perguntou, assustada.
— Não sei o que você fez, mas ninguém vai mais castigá-la. Fique tranquila.
— Eu não fiz nada! Vocês invadiram nossas terras, queimaram nossas casas, nos prenderam! — respondeu, revoltada.
— Ainda não sei exatamente o que houve, mas essas não são as ordens do imperador — disse Yuri, levantando-se para pedir comida à camareira.
Quando ele se ergueu, Rosana se assustou. Instintivamente, encolheu-se na cama, soltando um gemido de dor.
— Eu disse para não fazer movimentos bruscos — avisou ele, virando-se para sair.
— Quero estar com meu povo — disse ela, aborrecida.
— Amanhã eu te levarei até eles — respondeu ele, voltando com um prato de sopa.
— Para onde os levaram? — perguntou, com raiva.
— Voltaram para sua aldeia. Coma — disse, deixando o prato na mesinha ao lado da cama.
Ela olhou o prato com receio. Ele notou e a encarou.
— Há algum problema com a comida?
— É que... — ela hesitou, com receio de irritá-lo.
— Acha que está envenenada? Não preciso disso. Tenho maneiras muito mais rápidas de acabar com sua vida, se quisesse — respondeu ele, pegando uma colherada da sopa e levando à boca.