Capítulo 4
Enquanto eu ainda tentava processar tudo, Laura apertou com força o braço de Anne bem diante de mim.

A menina logo começou a chorar alto, atraindo a atenção da minha mãe, que saiu do quarto e correu para ela com um abraço cheio de dor.

— Sienna, já chega desse drama, tá bom? — Disse minha mãe, impaciente, enquanto tentava me encarar. — Eles já pediram desculpas, o que mais você quer? Olha, a Laura sabe que você não gosta dela, já foi embora, até terminou aquele namoro e nem se atreve mais a voltar para morar aqui. Mesmo assim, nada te satisfaz?

Logo depois, ela puxou Drew pelo braço, afastando-o de mim, e com um olhar rígido completou para ele:

— Não dê ouvidos, você só estraga a Sienna. Ela fica sempre de mau-humor!

Ao ouvir isso, vi às lágrimas no rosto de Laura, que olhou para minha mãe com um jeito de quem pedia piedade, quase chorando.

— Mãe, a culpa foi minha. Eu sabia que a Sienna não gostava de mim, eu não devia ter voltado.

Naquele momento, Jake, meu irmão, entrou em disparada pela sala, me empurrou de lado e ficou de frente para Laura, como se precisasse protegê-la.

— Sienna, você só sabe se aproveitar da culpa que nossos pais sentem por você e vive perseguindo a Laura! Olha só, para mim, só existe uma irmã. E é a Laura! — Jake gritou, com raiva evidente. — Se fizer qualquer coisa contra ela de novo, não diga que não avisei!

Ninguém ali se importava comigo. Isso nunca foi novidade. Sempre soube que, para eles, Laura era a princesa mimada e eu, só uma presença indesejada.

Eles achavam que eu era egoísta, que maltratava a Laura, sem nenhuma generosidade.

Eu e Jake deveríamos ser irmãos de confiança, mas parecíamos estranhos, até rivais. Desde o momento em que voltei para casa, meus pais começaram me olhando com compaixão. Só que isso não demorou muito, foi logo substituído por desprezo.

Repetiam, sempre que podiam, que eu nunca aprendi a me portar como alguém digno de respeito, que era rude, mentirosa, egoísta. Diziam que Laura, sim, deveria ser a filha deles de verdade, não eu, essa desprezível.

Com um sorriso amargo, tentei aliviar a dor apertando meu peito, mesmo sabendo que não adiantaria.

Não era novidade eles não gostarem de mim. O estranho era que, cada vez que defendiam a Laura, era como se cortassem meu coração de novo.

Abaixei o rosto. Senti as lágrimas escorrendo, mas não queria que eles vissem.

— Desculpa, eu não quis criticar a Laura. Essa casa também é dela, se ela quiser voltar, que volte.

Jake ficou olhando para mim, incrédulo, cheio de desconfiança.

— Agora resolveu bancar a boazinha? Será que tem alguma intenção por trás disso, outro plano para atormentar a Laura? Estou te avisando, hein, Sienna. Para com essas ideias!

— Chega, Jake. Cala a boca! — Minha mãe lançou um olhar cortante para ele, e na sequência me dirigiu um sorriso raro de aprovação. — Que bom, Sienna. Você está amadurecendo, não sente mais inveja da Laura, é isso o que importa. Agora, peça desculpa de verdade, porque a Laura é tão generosa que vai te perdoar, com certeza.

— Tá bom, mãe. — Concordei baixinho, tentando conter a emoção.

Aquela seria, na verdade, minha última demonstração de obediência. Eu estava decidida a ir embora naquele dia, pegar ônibus para o norte e deixar tudo aquilo para trás.

Peguei a bolsa ao meu lado, com só algumas roupas para trocar. Tudo o que a família me deu, deixei para trás. Não me apegava ao que nunca foi realmente meu.

No momento em que estava prestes a sair, ouvi minha mãe me chamar:

— Sienna, vai sair? Para onde está indo?

Pela primeira vez, havia uma ponta de preocupação em seu olhar.

— Vou comprar umas coisas para Laura, para celebrar o retorno dela.

A mentira saiu fácil, sem culpa, só senti um certo alívio ao dizer aquilo. Minha mãe apenas respirou fundo.

— Volte logo, Sienna, não faça a gente esperar. Seja gentil com a Laura, no fim das contas, somos todos da mesma família!

Assim que minha mãe terminou de falar, Drew, que tinha acabado de acalmar Anne, reparou minha saída e correu buscar as chaves do carro.

— Sienna, espera! Eu te levo.

Mas antes mesmo de sair, Laura segurou com força o braço da filha, fazendo Anne voltar a chorar, o que prendeu a atenção de todos mais uma vez.

O olhar de dor e carinho logo voltou ao rosto da minha mãe.

— Drew, fica tranquilo. Sienna só vai ali na cidade. Não é longe, coisa de meia hora de carro. Fica aqui, cuide da Anne, ela precisa tanto de você.

Drew até hesitou, parecia que queria mesmo me acompanhar, mas desistiu no último segundo, constrangido, e gritou da porta:

— Sienna, volta logo, viu? A Anne é pequena, precisa de mim, eu fico aqui com ela...

Não respondi. Sem olhar para trás, atravessei a porta e me afastei, deixando para trás o barulho das risadas e o calor das conversas felizes daquela casa.
Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP