Drew dirigiu de volta até aquele ponto onde havia me deixado, justo na curva onde a luz da manhã filtrava por entre as árvores e a neblina ainda se arrastava pela beira da estrada.
Olhou em volta, mas não encontrou sinal nenhum de mim naquela calçada vazia.
Naquele momento, um medo profundo tomou conta dele, uma sensação sufocante de ter perdido algo que talvez nunca mais voltasse. Quando ele leu minha mensagem, aquele sentimento ficou ainda mais forte.
Enquanto isso, eu estava em casa, colocando minhas coisas na mala, tentando não desabar em lágrimas.
Tinha decidido que era hora de abrir mão daquele relacionamento, por mais que a dor no peito insistisse em me lembrar de tudo que estava deixando para trás.
Drew tentou me ligar várias vezes, mas eu não atendi. Apenas encarava a tela do celular brilhando e se apagando repetidas vezes.
Aquele Drew que um dia jurou me proteger para sempre, agora fazia escolhas que deixavam claro que quem ele queria ao lado era Laura, não eu.
Lembrei dos meus dias de infância, perdida nas ruas até meus dez anos, quando enfim minha família me encontrou. Naquela casa, já tinha uma menina da minha idade circulando com seu vestido de princesa. Aquela pessoa era Laura.
Eu, suja e assustada, fiquei parada na sala olhando para ela, que do alto da escada nem disfarçou o olhar de nojo, como se eu fosse um animal selvagem que invadira o espaço.
Desde então, Laura achou que precisava me ensinar boas maneiras, mas, na verdade, só me humilhava dia após dia na frente dos empregados.
Ela não me deixava sentar à mesa, rasgava os vestidos e as bonecas que meus pais me davam, só para mostrar quem mandava ali.
Com o tempo, ela foi dizendo aos meus pais que eu era egoísta, mentirosa, cheia de manias esquisitas. Afinal, eu tinha vivido sozinha na rua tanto tempo.
Para tentar me encaixar, aprendi a esconder meus sentimentos, a ser educada e submissa, sempre calada mesmo quando Laura se divertia tornando minha vida um inferno.
Mas, quanto mais eu tentava ser aceita, mais ela colocava armadilhas no meu caminho, sem pena nenhuma.
Minha família começou a me rejeitar, diziam que uma de nós era a dama de verdade e outra só sabia agir como um animal selvagem. Chegavam a comparar meu jeito ao de lobisomens perdidos, alegando que eu era mais grosseira e suja até que a filha da cozinheira, que se tornou a verdadeira princesinha daquela casa.
Só Drew, naquela época solitária, estendeu a mão para ser meu amigo.
Agora, até ele parecia estar indo embora de vez.
Sem conseguir contato, Drew apareceu na minha casa, trazendo Laura e Anne.
Desde que rompeu o laço com seu companheiro, Laura vinha cada vez mais para lá, a ponto de transformar aquela mansão na casa dela. Sempre tinha um quarto reservado só para ela, o mais claro e confortável, limpo todos os dias, mesmo que ela mal aparecesse. Ninguém podia mexer lá.
Por fim, enquanto eu descia as escadas com o coração apertado, Drew andou até mim e me abraçou com força.
— Sienna, eu sei que você ficou brava por eu não te atender, então vim pessoalmente pedir desculpas. — Ele falou em voz baixa, tentando me tranquilizar. — Será que você consegue me perdoar?
Os olhos se encheram de lágrimas sem que eu pudesse evitar.
Drew ficou ainda mais nervoso, tentando enxugar meu rosto e repetindo palavras de consolo.
Laura, que estava sentada no sofá, largou a fruta mordida da Anne de lado e se levantou num impulso, dizendo com voz embargada, sem esconder o desconforto:
— Sienna, me desculpa. De verdade, eu achei mesmo que tinha sido você que me convidou para viagem... Trouxe a Anne só porque achei que ia ser bom para ela. A culpa foi toda minha, não briga com o Drew, por favor. Ontem ele ficou cansado o dia inteiro, e ainda voltou na estrada só para te buscar. Eu estava morrendo de preocupação...
Antes de Laura terminar, Drew interrompeu, com o olhar cheio de arrependimento voltado para mim:
— Sienna, ninguém mais tem culpa nisso, a responsabilidade é toda minha. Esqueci de ir te buscar, a Laura não sabia de nada.
Fiquei parada, sentindo um gelo cortar por dentro, como se tivesse acabado de levar um banho de água fria.
Desde o dia anterior, só conseguia pensar em tudo o que vivi por culpa dele e na hora em que finalmente o reencontrei, tudo que queria era perguntar por quê.
Mas, em vez de explicação, ouvi apenas Drew defendendo os outros, assumindo sozinho o peso dos erros, como se quisesse impedir que eu descontasse minha raiva em Laura ou jogasse a culpa nela.