Capítulo 2

Leonardo 

Lá estava eu novamente, sendo torturado mais uma vez pela minha própria mente. Revivendo o pior momento dá minha vida, a morte do meu pai. Em uma sala escura, eu estava preso na cadeira, a única coisa que eu conseguia enxergar. Já não sentia mais meus pulsos de tão apertado que aquela corda estava. Um som já famíliar de tiro ecoou na sala e me preparei para ver o corpo do meu pai cair. Esperei, esperei, esperei e nada.

O sonho mudou, e isso era novidade, agora eu estava em um campo cheio de flores de cores vibrantes e abelhas fazendo seu trabalho. Era lindo. Comecei a andar pelo local, mas estava deserto. Andei até que minhas pernas ficaram paralisadas. Olhei pra baixo e vi alguém me abraçando tão aperto e me transmitindo tanto amor. Acho que cheguei a achar que era minha mãe, mas eu não conseguia ver era tudo um borrão.

Comecei a ouvir vozes em volta de mim, mas não havia ninguém por perto a não ser por essa pessoa que me abraçava. 

-Nós deveríamos intervir?

-Ou nos preocupar?

Eram as vozes dos meus irmãos, e aos poucos retomo a consciência. Estava quentinho, mas teria que levantar pra saber o porquê desses idiotas estarem invadindo meu quarto dessa forma, como nunca fizeram antes. Mas assim que me abri meus olhos, braços pequenos me apertaram como se eu fosse...

-MAS O QUE?-Me assustei, assustei meus irmãos e agora de olhos abertos, me lembrei de que tínhamos hóspedes.

-M-matheu..., o-o Leo...,frio demais...-A menina em meus braços estava tremendo, coloquei minha mão em sua testa e ela estava queimando em febre.

-Ela está com febre.- Analiso as expressões faciais dos meus irmãos.

Parecia que essa situação era super normal. Tinha uma estranha deitada na minha cama que eu nem sei o nome, e eu nem dormi com ela pra que essa situação não parecesse tão natural. A menina apertava meu corpo com seus pequenos braços enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo.

-Lucca, prepara uma sopa pra ela. Leo, vamos ter dar um banho gelado nela pra ver se abaixa a febre. Pode fazer isso? Eu vou procurar um remédio e...

-Matheu não vamos fazer isso!

-Exatamente, por que eu tenho que preparar uma sopa pra essa garota?-Lucca cruzou os braços e fechou a cara mostrando sua irritação.

-Você dois ficaram malucos? A garota está doente!-Matheu levantou a voz

-Ela saiu na chuva porque quis, Mat. Não somos responsáveis por ela. Ele pode ser uma informante de algum inimigo...

-Ou está grávida, e vocês não se lembram...-Lucca interrompeu.

-Cala a boca, Lucca. Se não vai falar nada de útil, vai preparar a sopa logo.-Matheu rebateu.

Eu amo meus irmãos, mas cara, como eles são chatos. Brigam toda hora que as vezes tenho vontade de dar um tiro em cada um deles, mas minha mãe me mataria se eu fizesse isso estão só me resta contar até cem e restaurar a calmaria. Essa garota está deixando todos nós nervosos e ainda não conseguimos respostas para todas as nossas perguntas.

-Calem a boca vocês dois! Eu acho que ela está falando alguma coisa.

Os dois pararam na hora e chegaram mais perto para conseguirem ouvir o que ela está dizendo. Ela estava acordando? Ela estava tendo um sonho? Meu coração disparou com qualquer uma dessas opções.

-Você vai sair outra vez?-Ela sussurou em um tom baixo.

-O que...-Lucca começo mas eu o interrompi e o calei 

- Você prometeu Eric, prometeu que não me deixaria mais sozinha.

Isso era interresante.Todos nos mantivemos calados pra escutar o máximo possível, porém, ela não disse mais nada apenas deixou uma uma lágrimas escorrer e cair na minha camisa.

Como nunca fiz antes, dei meu braço a torcer e resolvi aceitar que a ideia do Matheu era válida. A garota realmente não parecia bem então dei um voto de confiança e ajudei meu irmão cuidar dela. Lucca por outro lado, não parou de reclamar por um só minuto enquanto cozinhava algo para ajudar a baixar febre daquele pequeno ser, que eu descobri que se chamar Melissa.

Ela parecia bem triste e fraca, sempre sussurrando algumas frases sobre esse tal Eric, que pelo visto é idiota que fez essa mulher sofrer e a abandonou. Meu irmão, vulgo Matheu, me contou que ela não se abriu muito enquanto eles jantavam na passada, e que foi nesse momento em que ela começou apresentar sintomas que não foram reparados naquele instante, e que teria nos preparado melhor para esse momento.

- Você deve ser o Leonardo, certo?- A voz baixa e feminina me fez desviar atenção do meu livro.

-O próprio. - Aproveitei para medir sua temperatura.

Seus cabelos cacheados estavam presos em coque alto, que desmancharam assim que ela se sentou na cama. Não podia negar que a menina era bonita, apesar da sua cara cansada e abatida. Uma inocência era transmitida por seus olhos escuros e sem brilho, o que despertou minha curiosidade para descobrir o que esse tal de Eric andou aprontando para deixá-la tão infeliz dessa forma. 

-Eu gostaria de pedir um favor...se não for abusar muito mais de sua generosidade.

-Diga.

-Eu preciso ligar pra minha mãe e avisar que estou bem, ela tem um problema no coração e não pode ficar muito nervosa.

Suspirei

Eu espero que essa menina não esteja brincando comigo, e que meu voto de confiança não tenha sido em vão. Me levantei e comecei a caçar meu celular. Ela não tirou os olhos de mim e isso me deixou aflito, não gosto de ser observado dessa forma. Achei meu celular dentro do bolso da calça, a encarei mais uma vez tentando encontrar algum vestígio de sua falsidade, mas não encontrei nada diferente, então só me restou entregar o celular.

-Só não demora muito.- Ela assentiu e começou a discar o numero. Matheu chegou logo depois.

-O que está acontecendo? Pra quem ela está ligando?- Ele sussurrou perto de mim.

-Pra mãe.- Me limitei a dizer e atentos começamos a ouvir a conversa.

"Eric disse que não sabe o motivo da sua fuga no meio da noite. Eu fiquei louca de preocupação, sua maluca! IRRESPONSÁVEL! Nós acionamos até a policia, e onde você esteve nesses dias sem dinheiro, só com a roupa do corpo?"

-Mãe, ele fez de novo...ficou até tarde bebendo e quando eu fui lá ver...ele estava se agarrando com outra.

A essa altura, todos nós já estávamos perto dela, até mesmo o Lucca. A coitadinha foi traída, e por isso fugiu no meio da noite? Pode parecer meio invasão de privacidade estarmos todos aqui escutando a conversa dela, mas ela também não afastou nenhum de nós até agora e se permitiu chorar na nossa frente. Ela foi forte esse tempo todo, fiquei realmente comovido.

-Por causa da chuva, não vou poder ir embora agora mas encontrei uma família boa que está cuidando de mim, então não se preocupe. Estarei em casa logo. Adeus, mãe! Te amo.

Ela me entregou o celular e desabou novamente, Matheu, o melhor pra lidar com esse tipo de sentimento, logo correu para consolá-la. Lucca e eu, não sabíamos o que fazer então só nos restou ficar ali, parados, olhando para os dois abraçados.

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