Capítulo 5

Lucca

Não sei de qual dos meus irmãos veio a ideia de comprar uma saia para uma mulher como Melissa. O que importa é que o idiota do meu irmão mais velho, o que era para ser o mais inteligente de nós, imaginou e gostou, diga-se de passagem, das coisas que aquela saia mostrou que estava escondendo. Léo, quase me matando de decepção, saiu apressado e se trancou no quarto sem dar chance de Melissa dizer alguma coisa.

Ela, por outro lado, se manteve na cozinha e seguiu se desculpando pela bagunça e acrescentou o fato da saia ser muito curta. Enquanto ela e meu irmão limpavam a cozinha eu tentei achar o que meu irmão viu nela para que corresse vergonhosamente para o quarto. Não posso negar que a saia é curta, mas isso é o suficiente para deixar um homem excitado? Melissa tem um cabelo preto e cacheado que b**e quase no meio das suas costas, que ela resolveu soltar depois do último banho. Sua pele negra, seus olhos castanhos escuros eram super comuns, então o que ele viu?

— Ei, ogro! Dá pra parar de pensar na morte da bezerra, e vir ajudar a limpar aqui logo?

— Você está se achando né, Fiona? Mas não é porque meus irmãos estão fazendo todas as suas vontades que você manda em mim! — Ela tentou vir pra cima de mim novamente, mas Matheu foi mais rápido na reação.

— Chega vocês dois! Lucca, termina de limpar essa cozinha e você mocinha, vai se sentar no sofá e eu vou medir sua temperatura porque eu não sei se vocês dois lembram, mas a senhorita aqui está d-o-e-n-t-e!

Talvez ele não tenha percebido, assim como eu, que a febre dela é emocional e que depois de muita distração ela estava pronta até pra brigar comigo. Ela estava tão forte que se jogou em mim e puxou meu cabelo com uma força totalmente contrária de uma pessoa doente. Lembrando dessa cena agora que já passou, eu começo a rir sozinho. Ela ficou uma fera. Será que Léo iria gostar de ver como ela ficou quando estava furiosa? As bochechas coradas, os olhos brilhando, a respiração ofegante, o nosso perfume transpirando dela... é tenho certeza que sim. Léo poderia gostar ainda mais do que vê-la de saia curta.

[...]

O almoço acabou sendo uma coisa rápida. Léo saiu do quarto só quando já estava pronto e posto na mesa. Melissa ligou para sua mãe, que acabou pedindo para falar com um de nós, mas resolvemos colocar no viva-voz e assim todos participaram. A senhora foi muito simpática e não perdeu tempo em fazer propaganda da filha ogra. Claro que Léo e Matheu, também encheram ela de elogio.

Coitada, ela ficou tão envergonhada que quase desligou o telefone na cara da mãe, mas os patetas dos meus irmãos não deixaram. Foi uma cena ridícula, Léo abraçando ela por trás, tentando segurá-la (e se aproveitando do contato físico) e Matheu que segurava o telefone e pedia por mais podres da garota.

E eu? Apenas observei em silêncio.

— Vem Lucca, para de ser chato com a menina! Vamos assistir o filme. — Eu já estava começando a ficar irritado com eles. Tudo bem que eles gostem dela, mas eles não respeitam os meus sentimentos contrários.

Como Léo resolveu sentar no sofá de um lugar e a ogra sentou bem no meio no sofá com três lugares, só me restou sentar ao lado dela.

O filme era chato, e minha atenção estava em Matheu que tentava inútilmente se aconchegar nela.

Patético.

Quando eu finalmente me canso de ficar vendo meu irmão tentando tocar nela de alguma forma discreta, a luz acaba, um trovão parece ter explodido sob nossas cabeças, a janela abre com muita força e Melissa se j**a em mim e começa a chorar com o rosto enterrado no meu pescoço.

Penso em afastá-la e dizer para parar de palhaçada, mas assim que toco nela vejo que não é armação para se jogar em cima de mim. Ela está gelada e tremendo muito. E isso me preocupa muito, assim como aos meus irmãos.

— Melissa, o que está acontecendo? — A voz de Léo chegou em meio a escuridão.

— Ela está tremendo muito, acho que pode ser uma crise de pânico. Mat, pega vela e me ajuda a chegar no quarto do Léo sem machucá-la, e Léo, busque água pra ela.

A partir daí foi uma correria.

— Melissa, me escute, está tudo bem. Respire junto comigo agora e tente escutar as batidas do meu coração.

Quando Mat voltou com a vela, foi rápido para chegarmos no quarto. Ela conseguiu se acalmar e bebeu toda água do copo que Léo trouxe. Não demorou muito para que ela caísse no sono. E nós, os irmãos ficamos um bom tempo apenas observando ela dormir.

— O que vocês acham que pode ter acontecido? — Mat foi o primeiro a falar.

— Eu não sei, mas quero conversar com vocês dois na sala agora sobre outra coisa. Vamos.

Eles se olharam como se estivessem perguntando: o que será agora? Mas me seguiram até a sala, onde se sentaram no sofá de três lugares e eu fiquei no de apenas um.

— Eu vou aproveitar que Melissa está dormindo pra ter essa conversa antes que a situação piore.

— O que foi agora, Lucca?

— O que foi? Eu vou te dizer o que foi! Você olhando pra bunda dela e depois correndo pro quarto e Matheu, que estava fazendo de tudo pra tocar nela. A garota acabou de sair de um relacionamento abusivo, além do fato que vocês mal a conhecem e já estão atraídos por ela? A garota tem crise de pânico, febre emocional e tudo que vocês fazem é pensar com a cabeça de baixo? Vocês são meus irmãos mais velhos, achei que deveria alertar vocês sobre isso. Melissa está frágil e parece precisar de companhia ou de amigos e no momento ela só tem a nós, então vocês poderiam começar a pensar mais nela e ajudar em vez de piorar?

É claro que eu não gosto de bancar o irmão mais velho, mas essa situação já está difícil sem envolver sentimentos. Meus irmãos são bons rapazes, mas trocam de mulher toda noite e nunca ficam com elas mais de uma vez, é minha obrigação alertar da besteira que eles estão fazendo.

— Você tem razão, Lucca. Não pensamos em nada disso, pode deixar que iremos nos comportar para deixá-la mais confortável aqui e livre de lembranças ruins. — Matheu foi o primeiro a dizer e eu não tinha motivos para duvidar de que ele fará de tudo e mais um pouco para deixá-la confortável.

— Mas e você Lucca, não ficou nem um pouco encantado por ela? Por que a bagunça na cozinha e depois ela se escondendo nos seus braços, não foi um ato de ódio, tanto da sua parte quanto dá dela. — Lá estava o irmão mais velho falando

— Eu não a odeio e vocês sabem que já tem alguém que eu gosto.

— De novo essa história? Irmão, esquece essa garota, ela não te merece. Vocês não são compatíveis.

— A gente não escolhe de quem vai gostar, simplesmente acontece.

Como a luz já tinha voltado, aproveitei para apagar as velas e fui para o meu quarto. Ainda estava cedo pra dormir e logo a ogra estaria acordada. Não é que eu esteja fugindo dos meus irmãos, eu estou fugindo dessa conversa. Sei que a intenção deles não é me machucar, mas ainda assim dói pensar nela e na sua rejeição.

Talvez eu realmente devesse seguir em frente?

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