Capítulo 3
A erupção na pele de Eris floresceu como um aviso da deusa da lua.

— Isso é… uma reação alérgica? — Rosnou o Pai, com as narinas infladas, curvado sobre o corpo convulsivo dela. — Por que isso aconteceria agora?

O olhar da Mãe se voltou para mim como uma adaga sacada sob o luar. No instante seguinte, a palma da mão dela acertou meu rosto com força, me lançando ao chão de azulejos.

— Vera! O que você colocou na comida? Esqueceu os gatilhos da sua irmã?!

Minha cabeça zumbia. A sala girava. Eu sentia Vespa despertar dentro de mim, um rosnado baixo crescendo no fundo do peito. Mas a empurrei de volta, engolindo o calor que arranhava minha garganta.

Dax deu um passo à frente, os olhos brilhando em incredulidade.

— Você sempre foi tão quieta… tão obediente. E agora isso? Você queria machucar a Eris.

— Como fui acabar com uma irmã como você? — Ele completou, a voz pesada de decepção.

— Chega! — O Pai esmurrou a mesa, o som reverberando como trovão. — Levem-na ao curandeiro agora!

A sala se esvaziou num borrão — meus pais e Dax carregando Eris apressados, ofegantes, como se ela fosse um vaso frágil da própria lua.

Fiquei sozinha. O rosto ardia. O coração, oco.

Não fui eu.

Sussurrei as palavras em voz alta, mas elas ecoaram no silêncio como mentiras.

Eles não acreditariam em mim. Nunca acreditaram. Não depois de tudo.

Senti algo quente e úmido na palma da mão. A empregada havia voltado, os olhos arregalados ao ver minhas mãos.

— Senhora Vera… suas mãos… estão — inchadas.

Olhei para baixo. Linhas vermelhas brotavam pela minha pele como veias de fogo.

— Estou bem. — Menti, passando por ela.

No meu quarto, alcancei um caderno antigo de capa de couro. Ao abrir a capa gasta, o cheiro de tinta velha e pó de pinheiro subiu — memórias que nem a loba em mim queria reviver.

Naquele inverno, a caça era escassa. Renegados pressionavam nossas fronteiras, e o Conselho exigia mais do Pai do que ele podia oferecer. Quando os recursos diminuíram, quando o espaço e a segurança se estreitaram, alguém teve que ser mandado embora.

Eu me voluntariei. A filha obediente. Aquela fácil de esquecer.

O posto avançado se agarrava às falésias além das fronteiras da Alcateia — um lugar esculpido para guerreiros velhos e excluídos. Nenhuma canção da Alcateia alcançava tão longe. Apenas vento e silêncio. Foi lá que aprendi tudo.

Eles me visitavam uma vez por ano, nos rituais do Solstício. A cada visita, ficavam menos tempo. Levavam mais presentes para Eris. Falavam menos de mim.

Quando finalmente voltei, a Alcateia Véu da Tempestade havia se fortalecido — tribunais e galerias ecoavam orgulho. Meu novo quarto? Um depósito esquecido perto da saída dos fundos. Sem janelas. Sem calor. Apenas um lembrete: eu não fazia parte da visão que construíram.

Coloquei minhas coisas em uma velha bolsa de viagem.

A licença de casamento que um dia pedi agora parecia uma piada cruel.

Estava pegando o telefone, pronta para mandar uma mensagem ao meu superior no posto — pedindo para retornar ao posto avançado.

Cain.

Meu companheiro.

Ou pelo menos, aquele que o destino havia designado para mim. Aquele que deveria estar ao meu lado.

— O que você fez com a Eris? — Ele exigiu, pulando qualquer fingimento de preocupação. — Ela está na ala dos curandeiros. Você a envenenou?

— Foi uma reação alérgica. — Respondi simplesmente.

— Não minta pra mim. Você sempre teve inveja. Como pôde machucar seu próprio sangue assim?

As palavras dele eram fogo, queimando o que restava da ilusão que eu tinha.

— Sim. Eu a machuquei. Vou pedir desculpas quando ela melhorar. Terminamos?

Ele ficou em silêncio por um segundo, atônito com minha calma.

Já havíamos discutido sobre Eris antes — dezenas de vezes.

Ele costumava flertar com ela sob o pretexto de preocupação. Pedia os pratos preferidos dela durante nossos jantares. Ignorava minhas vontades, minhas necessidades.

— Ela é sua irmã. — Ele sempre dizia, como se isso justificasse tudo.

Para minha família, eu sempre fui a exagerada. A instável.

Quando Eris foi para o treinamento de Alfa, senti paz pela primeira vez. Até Vespa estava mais tranquila.

Agora, a tempestade havia voltado.

— Se algo acontecer com a Eris de novo. — Cain advertiu, a voz fria. — Não haverá Cerimônia de Acasalamento.

E a linha caiu.

Imaginei ele correndo para a ala dos curandeiros, afastando os cabelos do rosto de Eris, bancando o herói para a garota que ele realmente queria.

Minhas garras ameaçaram se projetar.

Em vez disso, sorri de lado, desliguei e liguei de volta para minha mentora no posto.

Mais tarde naquela noite, a porta da frente rangeu ao se abrir.

Mãe e Pai voltaram, o cansaço estampado nos rostos. Dax os seguiu, a cabeça baixa.

Minha bolsa estava ao lado da porta.

Eu estava pronta para partir.

Do andar de cima, ouvi eles falando em tons abafados — até que o silêncio se partiu pela traição.

— Se ao menos a família do Cain tivesse um status melhor… — Suspirou Mãe. — Ele é tão bom com a Eris…

— Eris gosta dele. — Acrescentou o Pai. — Se eu soubesse, nunca teria pareado ele com a Vera.

— Mesmo assim. — Continuou Mãe. — Cain e Vera combinam mais. Que Eris corra atrás dos próprios sonhos. Ele ainda pode cuidar dela, mesmo sendo companheiro da Vera.

As palavras afundaram como pedras no meu estômago.

Mesmo agora, planejavam manter Eris próxima do meu companheiro.

Do meu companheiro.

Desci as escadas, minha presença repentina cortando os sussurros deles.

Mãe se encolheu ao me ver.

— Vera… você — Ainda está aqui?

Não disse nada.

Apenas peguei minha bolsa e saí na noite — no ar frio e nos braços da lua.

Vespa se agitou de novo.

Nunca fomos uma delas, Vera. Mas não estamos sozinhas.

Ergui o rosto para o céu, deixando o vento noturno levar meu cheiro para longe daquela casa.

Longe da Alcateia que nunca me enxergou de verdade.

Longe do companheiro que nunca me escolheu.

Que fiquem com seus vínculos falsos.

Eu forjarei os meus próprios.

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