Capítulo 7

Kathy

— Você mora aqui? — Ele perguntou olhando mais uma vez para o meu prédio antes de estacionar.

— Sim, foi endereço que te dei, não foi? Algum problema?

— Problema nenhum, só parece um pouco perigoso — respondeu sem graça. Eu sabia muito bem o quanto meu bairro era perigoso e como meu prédio era horroroso.

— Eu disse que não precisava me trazer — tirei o cinto de segurança e abri a porta para sair dali ao perceber que tinha me equivocado ao pensar que ele fosse um cara legal, mesmo possuindo muito dinheiro — Se quiser, pode desistir do combinado, percebi que você está desconfortável — disse assim que sai.

— NÃO! — Ele quase gritou, me assustando — Não é o que está pensando, é que é um lugar um pouco perigoso.

— É o que posso pagar. Tenho que ir, estou exausta.

— Tudo bem, não deixe de me contatar amanhã, nossa primeira aparição juntos vai ser daqui três dias — falou segurando firme a direção do carro.

— Tudo bem, dois dias, já passou da meia noite — senti um frio na barriga.

— Isso mesmo, dois dias. Vou esperar você subir — falou e me deixou novamente surpresa, até parecia que estava realmente preocupado.

— Não é necessário — Eu já estava me acostumando com o bairro e com as pessoas que moravam ali.

Ele continuou me encarando e segurando a direção, compreendi que não iria embora enquanto não me visse entrar no meu prédio.

— Está bem, tenha uma boa noite — bufei e me dei por vencida.

— Boa noite, Katherine — falou em um timbre firme e sedutor enquanto me virava e caminhava em direção a prédio.

— Não deixe de me ligar — ouvi-o gritar antes que entrasse no prédio.

Entrei no apartamento tentando não fazer barulho. Como tudo estava apagado, supus que mamãe e Maddie já dormiam. Assim que coloquei meu celular para carregar e o liguei, vi que haviam várias mensagens e ligações de Lissa, ela havia saído com Fred quando tudo aconteceu e quando chegou a boate, as meninas devem ter contado que Rick me jogou para fora sem ao menos me pagar pelos dias trabalhados. Enviei uma mensagem informando que estava tudo bem e que conversaríamos no dia seguinte.

Tudo que eu precisava agora era de um banho quente para relaxar e tentar mais uma vez entender tudo o que estava acontecendo. Me livrei das minhas roupas e abri o chuveiro, levei um choque ao sentir a água gelada bater no meu rosto, me enrolei na toalha e conferi o aquecedor, que para completar o dia incrível que tive, estava quebrado. Tomei um banho rápido, a água gelada caia sobre a minha pele como se fossem agulhas e percebi que precisávamos nos mudar rapidamente daquele lugar.

Vesti meu bom e velho pijama do ursinho Pooh buscando não fazer nenhum ruído, pois Maddie dormia serenamente e não queria acordá-la, mesmo que estivesse morrendo de saudade da voz da minha pequena. Me deitei e Jeff veio em meu pensamento, o sorriso tímido dele, para ser mais exata. Sem dúvida era um dos mais bonitos que já havia visto, ele tinha o perfil de ator de Hollywood. Eu não costumava reparar tanto nos homens, e quando reparava, era em algum badboy da minha idade.

Mesmo exausta, não conseguia dormir. Pensava em como aquele homem era maluco por propor algo assim e eu tão maluca quanto ele por aceitar, não pude deixar de imaginar o quanto devia estar sofrendo por ver a mulher que amava com outro homem.

A forma como Jeff falava dela me fez lembrar das muitas vezes que mamãe me contava como conheceu o meu pai. Acho que nunca amei ninguém dessa forma, o que sentia por Eddie era uma paixão adolescente que foi esfriando com o tempo, e se um dia eu amasse, queria que a pessoa retribuísse esse amor como Jeff amava a ex-mulher, até porque esse tipo de amor é raro e só se via em filmes e livros.

Busquei me livrar de todos esses pensamentos e focar no que realmente importava, e isso era os 100 mil dólares que Jeff me pagaria, não iria me importar com seus sentimentos pela sua ex, apenas seria uma peça no seu teatro maluco. Olhei mais uma vez para Maddie, ela dormia pesadamente e aquele dinheiro mudaria a nossa vida, talvez permitir que eu voltasse a sonhar em estudar literatura.

Acordei com as mãos de Maddie me sacudindo e falando que eu estava atrasada, abri os olhos e vi que o sol já estava aparecendo no horizonte.

— Você dormiu demais, Kathy. Não vai trabalhar hoje? — perguntou, parecendo empolgada com a ideia de que eu ficaria em casa.

— Dormi muito e perdi a hora, preciso me arrumar para o trabalho — Me levantei, dei um beijo em sua bochecha e vi que o relógio de na nossa velha penteadeira marcava 8:30, aquilo só indicava uma coisa e eu estava ferrada.

— Ah, queria que você ficasse comigo, podemos jogar banco imobiliário e ver Harry Potter — fez um bico adorável.

— Me perdoa, ursinha, mas tenho que ir. Prometo que no final de semana podemos fazer tudo isso. Quem sabe não pedimos pizza? — apertei seu nariz com delicadeza, lhe arrancando uma risadinha.

— Ebaaa! Vou contar para mamãe — bateu palmas e colocou as pantufas para ir até nossa mãe.

Peguei meu celular e vi que tinham inúmeras mensagens e ligações de Lissa novamente. Esquecido de tirar o celular do modo silencioso e para completar, não ativei o despertador. Escovei os dentes, vesti a primeira roupa que encontrei e chamei um Uber. Se pegasse o ônibus e o metrô, chegaria na lanchonete quase na hora do almoço e David não ficaria feliz com isso.

Cheguei na lanchonete e pedi mil desculpas para David, que agiu bem melhor do que eu imaginava. Estava quase na hora do meu intervalo e ainda não tinha respondido Lissa, pensei que ela poderia aparecer ali a qualquer momento e me dar uma puta lição de moral por ignorá-la, contudo, mudei de ideia ao me lembrar da briga que teve com David.

Entrei no depósito e disquei o número de Lissa, já me preparando para ouvir seus gritos. Ela atendeu no segundo toque.

— Sua filha da mãe, eu vou te matar! — disse aos berros e afastei o celular da orelha para não sofrer nenhum dano de audição.

— O que aconteceu com o "Oi amiga, você está bem?" — ironizei.

— Isso não tem graça nenhuma, Katherine! Você quase me matou de preocupação!

— Não exagere, Lissa.

— Não exagerar? Cheguei na boate e descobri que o Nick tentou te agarrar, que você quase quebrou o nariz dele, que o bonitão apareceu do nada para de defender, e por fim, que Rick te colocou para fora da boate. E você ainda não quer que eu exagere? Vou te matar! — falou novamente esbravejando e fazendo com que me sentisse culpada por não ter lhe dado nenhuma notícia

— Está tudo bem, Lissa. Não quero que se preocupe — tentei acalmá-la. Por um momento pensei em contar sobre a minha conversar com Jeff , mas isso a faria surtar ainda mais.

— Liz, tudo isso é minha culpa, não devia ter insistido para você ficar na boate — disse com pesar.

— Não diga isso. Graças ao dinheiro da boate, consegui pagar o aluguel e todo os remédios da minha mãe e de Maddie — Não queria que ela se sentisse culpada, eu era muito grata a Lissa por ter tudo que fez para me ajudar desde o dia que nos conhecemos.

— Me desculpe por não estar lá para te ajudar — comentou após um suspiro.

— Não precisa se desculpar por nada, Lissa. Estou bem e é isso que importa.

— Estou feliz por você estar bem, deveria denunciar aquele idiota do Hector. Para mim foi gota d’água e não volto mais naquele lugar — disse irritada. Torci para que ela não ter saído por minha causa.

— Me diga que não fez isso por causa do que aconteceu ontem?

— Eu já estava doida para sair de lá, Fred me pediu para sair e então mandei o escroto do Rick se ferrar — soltou uma risadinha maléfica em seguida.

— Lissa, tenho que desligar, preciso comer e voltar ao trabalho — verifiquei a hora e faltavam menos de 10 minutos para retornar.

— Espera. E o bonitão? Você deu o seu número para ele?

— Eu te ligo depois, Lissa — queria contar para ela sobre a proposta de Jeff , porém, não estava com tempo para ouvir seus surtos — Tchau — desliguei antes que pudesse dizer mais alguma coisa. Comi meu sanduíche de atum e voltei ao trabalho. No decorrer do dia me peguei pensando em Jeff e na loucura que iríamos fazer.

Meu expediente terminou e eu estava buscando coragem para ligar para Jeff . Após discar o número várias vezes e desligar antes de chamar, criei coragem e ele atendeu no terceiro toque.

— Jeff — Sua voz soou firme e mais uma vez senti o maldito frio na barriga.

— Sou eu, Katherine — tentei mascarar o nervosismo na voz.

— Esperei sua ligação o dia todo, pensei que tivesse desistido — Sua voz soou aliviada.

— Estive ocupada — respondi secamente, não nasci em berço de ouro como ele.

— Você está bem? Podemos nos encontrar agora? — perguntou — Posso buscá-la em casa?

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