Alho, promessas e outros perigos.| Jenna Morgan 👻A campainha toca, e por um segundo, meu coração para. Ridículo eu sei. É só a comida. Mas a verdade é que depois das últimas 48 horas, tudo parece o prenúncio de alguma reviravolta. E nem sequer estamos conversando sobre Matteo ter sido preso e Joshua está por aí.Matteo se levanta antes de mim, claro. Ele sempre age como se tivesse nascido pra cuidar de mim — o que é assustador e… reconfortante. Maldito homem contraditório.Ele volta com duas sacolas de restaurante elegante nas mãos e um sorriso que denuncia que tem mais do que apenas janta ali dentro.— Alho, como prometido — diz, colocando as sacolas sobre a bancada da cozinha com uma reverência sarcástica. — E vinho, porque você tem gosto refinado, mesmo odiando admitir.— Quem disse que eu odeio admitir?— Seus olhos. E seus stories, que andam sumidos. Tô te vigiando menos e ainda te entendo mais. Estranho, né?Não respondo. Em vez disso, sento no banco da bancada e fico observ
Indecisões | Jenna Morgan 👻Acordo com a luz do sol batendo na minha cara como uma bofetada.Minhas costas doem. Dormi torta no sofá, com a cabeça afundada em duas almofadas e o celular preso na mão. Nem lembro quando adormeci. Só sei que ontem à noite foi um turbilhão e, sinceramente, eu precisava desligar.Pedi um tempo, eu pedi um pouco de espaço a ele.Usei as palavras exatas, como se estivesse escrevendo um post importante no meu Instagram. "Eu preciso de um pouco de distância, Matteo. Só um tempo pra entender tudo isso. Você, eu, tudo que está acontecendo. Por favor, respeita isso."No fim ele só me olhou. Com seus olhos escuros e intensos que parecem ver muito mais do que eu deixo mostrar.. ele nem discutiu ou tentou argumentar, só assentiu e foi embora.Mas agora, deitada no sofá, com a garganta seca e o coração apertado, eu me pergunto: será que ele vai respeitar o meu espaço?Porque... é o Matteo.O cara que passou dez anos por aí, que aparece quando menos espero que ent
Garota maluca | Jenna Morgan 👻Na porta, parada como se tivesse esperando isso por muito tempo, direto de um pesadelo mal-acabado, está uma garota. Mas não uma fã. Ela sequer tem celular na mão, nem brilho no olhar. Nem aquela hesitação de quem admira a minha presença. Nada disso, nada mesmo.Ela está parada como se soubesse exatamente o que veio fazer. E meu coração está dizendo que não é nada bom.Alta, magra, como uma bailarina. A pele pálida, quase de porcelana, com olheiras profundas, como se não dormisse há dias. Os cabelos estão presos em um coque frouxo no topo da cabeça, bagunçados, um cabelo escuro desbotado nas pontas, e uma mecha vermelha caída perto da orelha. Ela usa um vestido preto justo, até a metade da coxa, botas militares e uma jaqueta jeans com desenhos feitos à caneta — como se cada rabisco fosse parte de uma história que eu não quero nem saber.Mas o que realmente me paralisa nela são os olhos.Verdes, fixos, inquietos e invasivos. Tem algo nos olhos dela qu
O início de tudo | Jenna Morgan Eu ainda me lembro do momento exato em que me apaixonei por filmes de terror. Eu era pequena demais para entender, mal sabia falar direito. Mas quando assisti O Exorcista e vi Regan, com os olhos vidrados, a pele doente e a voz demoníaca, girando a cabeça em um ângulo impossível, eu não chorei, não corri para os braços da minha mãe. Eu apenas assisti. Cada detalhe, cada segundo e não me arrependo de nada. Minha mãe odiava filmes de terror e sempre dizia que não eram coisa pra mim, mas no fim, sempre cedia à minha teimosia. No começo, tentava tampar meus olhos nas cenas mais pesadas, mas logo desistia, porque eu sempre dava um jeito de assistir. No fundo, ela não segurava minha mão pra me proteger… era porque ela tinha medo. Já meu pai, dormia o filme inteiro e depois fingia que tinha assistido, soltando comentários sem sentido. Eu nunca corrigi, nunca disse nada, só ficava concordando, e rindo. Mas a nossa vida não tem cortes dramáticos nem avis
Alguém está observando? | Jenna Morgan Não consigo dormir. Não mesmo. O problema nunca foi o medo — não o medo dos filmes, pelo menos. Cresci assistindo a tudo que era considerado "pesado demais para uma criança" e acabei transformando isso em profissão. Sei diferenciar ficção da realidade. Sei que monstros são feitos de maquiagem e efeitos especiais. Sei que o sangue cenográfico é só xarope de milho com corante. Mas isso aqui? Isso não tem maquiagem e nem a porra de um roteiro. É real. Reviro os olhos e me sento na cama, soltando um suspiro longo. O quarto está iluminado apenas pelo o abajur ao lado da minha cama. Olho para o teto, contando as pequenas rachaduras invisíveis na pintura, esperando que o sono venha. Mas não vem. Desisto. Jogo as cobertas para o lado e caminho descalça até a cozinha. O chão frio arrepia minha pele, mas não me importo. Abro a geladeira e pego a garrafa de leite, despejando um pouco na panela para aquecer. Se o leite quente não funcionar,
Pertinho de você | Jenna Morgan Mesmo em meio às câmeras, aos refletores e ao burburinho da equipe ajustando os cenários, minha mente ainda está presa nele. No olhar atento, na voz, na confiança que me fez estremecer. "Nos vemos de novo, Jenna Morgan." Me levanto, cruzando o set com passos apressados. Se ele trabalha aqui, alguém deve conhecê-lo. Não sou a única que viu aquele homem. Não posso ser. — Ei, você viu o cara que estava comigo agora há pouco? — pergunto para um dos assistentes de câmera, que ajeita o equipamento sem sequer desviar o olhar para mim. — Que cara? — Alto, pele clara, calça jeans, bota preta. Veio até mim com um café. — franzo a testa, inquieta. — Ninguém estranho passou por aqui, não que eu saiba. — ele finalmente me encara, confuso. A resposta me faz hesitar por um instante, mas respiro fundo e caminho até uma das maquiadoras. — May, aquele cara que falou comigo agora há pouco... Você viu de onde ele veio? — Que cara? — ela pisca algumas vezes, com
Obsessão a flor da pele | Jenna Morgan — Então? Vai continuar falando todas essas abobrinhas? — largo a taça na pia, sem paciência pra essa palhaçada.— Acredite em mim, eu quero que entenda que eu não estou aqui pra te machucar, Jenna. A última coisa que eu faria seria isso. Mas eu quero te mostrar quem eu realmente sou... se você permitir. — ele coloca a outra taça na pia, me encarando como se eu devesse simplesmente aceitar essa merda de proposta.Eu rio. — Gentileza não combina com você sabia? Você aparece do nada no meu trabalho com um café, depois aparece na porta da minha casa como se tivesse esse direito e ainda bebe do meu vinho. Não acho que você seja muito convincente. — dou a volta na bancada, criando espaço entre nós, porque alguma coisa nele me faz querer estar do lado oposto da sala.Ele fica quieto por um momento. Ainda de costas.— É isso que eu sou pra você? Nada convincente? Um homem incapaz de ser gentil? Mas eu disse que era isso? Em algum momento eu disse que
Mentiras Matinais | Jenna Morgan Acordo atordoada quando escuto o toque do meu celular. "Tubular Bells", do filme "O Exorcista", levanto a cabeça rápido demais e percebo que foi um erro enorme. Minha visão escurece por um segundo, e a tontura me acerta como um soco no estômago, minha cabeça lateja como se tivesse alguém batendo um martelo dentro dela. Pisco várias vezes, e tento fazer meus olhos funcionarem direito. Tudo ainda está meio borrado, mas logo consigo enxergar os estragos da noite passada. Meu corpo parece pesar toneladas, minha boca está seca, junto com o gosto amargo de vinho e arrependimento grudado na minha língua. Olho ao redor e vejo o carpete manchado de vermelho. Pelo menos, eu espero que seja vinho. Já que a garrafa está caída no chão ao meu lado. Mas considerando tudo o que aquele lunático me disse ontem à noite, não me surpreenderia se houvesse sangue de verdade misturado nesse vinho. Não me lembro de ter bebido tanto. Não lembro de ter acabado com a garraf