A noite chegou, e arrastei meu corpo exausto para casa.
Meu noivo Marcus estava na sala, segurando meu cachorro Rusty, brincando de buscar enquanto fazia videochamada com Celeste.
Talvez fosse o efeito da poção da bruxa, mas meus passos estavam firmes e fortes. Eles nem sequer notaram meu retorno.
Marcus jogou a bola e se virou para me ver. O sorriso no rosto dele congelou por um momento.
— Aria, você voltou? Como está se sentindo hoje?
Rusty era um cachorro que eu havia trazido comigo do interior. No momento em que me viu, tentou se soltar dos braços de Marcus para circular ao meu redor.
Parecia que Celeste estava determinada a me deixar sem nada. Ela não pouparia nem meu companheiro lobo.
Que ridículo. Eu estava prestes a morrer.
Marcus rapidamente desligou a videochamada, tentando acalmar Rusty, que se debatia.
Mas Rusty o ignorou, choramingando enquanto se esfregava nas minhas pernas.
Este era o único companheiro que eu havia trazido do interior.
Da tela do vídeo, a voz fraca de Celeste soou novamente.
— Marcus, a Aria não gosta de mim? Até o cachorro dela é tão mau.
Antes que eu pudesse falar, Marcus já estava franzindo a testa.
— Aria, a saúde de Celeste é frágil. Ela não aguenta levar sustos.
— É só um cachorro do interior de qualquer forma. Vou mandar meu assistente levá-lo embora amanhã.
Celeste exibiu um sorriso triunfante na tela.
Levantei a cabeça, meu olhar varrendo friamente o rosto de Marcus.
Meu olhar o deixou desconfortável. Ele desviou o olhar.
— Rusty é meu. Vou cuidar disso eu mesma. Não se incomode.
Virei-me e subi as escadas.
Marcus hesitou, depois me chamou.
— Aria, tem algo que eu quero conversar com você.
— A condição de Celeste — os médicos dizem que não está com boa aparência.
Sua voz carregava uma nota de súplica quase imperceptível.
Ele me puxou em direção à sala de jantar.
Na mesa havia um jantar à luz de velas preparado.
As chamas bruxuleantes refletiam em seu rosto bonito, fazendo-o parecer especialmente terno.
Ele puxou minha cadeira e serviu o vinho.
— Aria, faz tanto tempo desde que tivemos uma refeição adequada assim.
Ele ergueu seu copo, olhando para mim com olhos gentis.
Não me movi.
— Você se lembra? Nosso primeiro encontro foi em um restaurante exatamente assim.
Ele falou sobre o passado, perdido em suas memórias.
Aqueles momentos que antes faziam meu coração acelerar agora soavam irritantes aos meus ouvidos.
Finalmente, ele foi direto ao ponto.
— Aria, eu sei que pedir para você doar seu rim é cruel.
— Mas Celeste — ela ficou assim por minha causa.
Pausei no meio do movimento de alcançar minha taça de vinho.
Os olhos de Marcus estavam cheios de dor e culpa.
— Ela era originalmente uma loba forte, mas é simplesmente bondosa demais. Não só sofreu um ferimento grave salvando sua família, como também sofreu insuficiência renal me salvando. Três anos atrás, durante a missão de patrulha na floresta, se ela não tivesse me empurrado para fora do caminho quando aquele lobo renegado atacou, eu teria sido o mordido.
— Os rins dela começaram a falhar por causa das toxinas daquela mordida. Devo minha vida a ela.
Quase ri alto.
Então era isso.
Mas naquele dia, quem foi mordida protegendo-o do lobo renegado fui eu.
Fui eu quem foi mordida e caiu no desfiladeiro.
Celeste só estava esperando no acampamento base abaixo. Ela havia torcido o tornozelo sozinha.
Mas enquanto eu estava desaparecida, ela roubou todo o meu crédito.
O mesmo truque que sempre usava — assim como havia roubado o crédito por eu ter salvado nossa família antes, agora estava roubando o crédito por eu ter salvado Marcus.
Minhas conquistas, meus ferimentos — ela os transformava sem esforço em capital para ganhar simpatia.
A partir daquele momento, ela vinha tramando para substituir tudo que era meu.
— Aria, você é tão bondosa.
Marcus apertou minha mão, seu tom sincero.
— Por minha causa, por favor, salve-a, está bem?
Olhei para seu rosto, cheio de emoção profunda, e não senti nada além de vazio por dentro.
— Marcus.
Falei calmamente.
— Meus rins também estão danificados.
A expressão de súplica no rosto dele congelou instantaneamente.
— Fui diagnosticada hoje.
No inverno passado, fui levada às pressas ao hospital no meio da noite com cólicas estomacais graves.
Ele havia segurado minha mão exatamente assim naquela época.
Suas palmas estavam suadas, sua testa franzida de preocupação.
Ele havia dito ao médico para usar o melhor remédio, não importava o custo.
Ele havia se inclinado e sussurrado conforto no meu ouvido.
— Aria, sua saúde é mais importante que qualquer coisa.
Suas palavras carinhosas ainda ecoavam na minha memória.
Agora ele estava me pedindo para sacrificar minha saúde para salvar outra pessoa.
Lentamente retirei minha mão.
Olhando para o homem diante de mim, de repente senti como se ele fosse um estranho.
A afeição profunda em seus olhos — tudo tinha sido uma encenação.
Até sua preocupação tinha uma data de validade.
Ele pareceu interpretar mal meu silêncio, pensando que eu estava fazendo birra.
— Marcus, Celeste não está doente.
Olhei nos olhos dele, dizendo cada palavra claramente.
— A insuficiência renal dela é falsa. A pessoa que te salvou naquele dia foi—
Antes que eu pudesse terminar, a expressão de Marcus escureceu.
— Aria, nunca pensei que você pudesse ser tão cruel.
— Para evitar doar seu rim, você inventaria mentiras assim para amaldiçoá-la.
Tentei explicar.
— Eu a vi comendo comida apimentada com amigas em um restaurante. Alguém com insuficiência renal nunca conseguiria fazer isso.
O telefone dele tocou.
Era Celeste ligando por vídeo.
Na tela, Celeste estava deitada em sua cama de hospital, pálida como papel, tossindo fracamente.
— Marcus, me sinto tão mal. Vou morrer em breve?
Os olhos de Marcus imediatamente se encheram de dor e ansiedade.
Ele desligou a chamada e olhou para mim com fria decepção.
— Esta é a Celeste que você alega estar comendo comida apimentada?
— Aria, você me decepcionou completamente.
Meus ouvidos zumbiram, e levou muito tempo para encontrar minha voz novamente.
Marcus suspirou aliviado.
— Aria, eu sei que você se sente injustiçada. Mas Celeste é sua irmã. Não podemos abandoná-la.
— Além disso, é apenas um adiamento. Depois que Celeste morrer, darei a você uma cerimônia de acasalamento ainda mais grandiosa.
Olhei calmamente para o homem diante de mim.
Este era o homem que eu havia amado profundamente.
Este era meu parceiro de vida escolhido.
Pensei ter dado tudo no nosso relacionamento, sem guardar nada.
No final, tudo que consegui foi traição.
Mas não importava mais.
Se era isso que eles queriam, poderiam ter tudo.
Levantei a cabeça e olhei para Marcus.
— Tudo bem. Concordo.
Alívio tomou conta do rosto de Marcus. Ele apertou minha mão, seu tom completamente sincero.
Olhando para ele, o último traço de calor no meu coração finalmente se dissipou.
Até este momento, havia mantido um pedacinho minúsculo de esperança por Marcus.
Mas agora...
Chega. Além da morte, não tinha mais outras expectativas.
Levantei-me, pronta para voltar ao meu quarto.
De repente, uma onda de tontura intensa me atingiu. Minha visão escureceu e perdi a consciência.
Enquanto caía, pareci ver o rosto de Marcus cheio de pânico.
Fui acordada pelo frio.
Abrindo os olhos, me encontrei ainda deitada no chão frio.
Marcus estava em pé sobre mim, olhando para mim.
— Aria, você pode parar de usar esses métodos para chamar minha atenção?