Capítulo 2: Encontros do passado. Parte 2

Na aula de balé...

—Vamos, vamos. Parecem molengas! —pronunciava a senhora Romano nós induzindo a agilizar os passos com nossos parceiros.

A senhora Romano, era uma mulher de 60 anos, que ainda mantinha um corpo de dar inveja a mulheres mais jovem. Executava com perfeição cada pulo e passo, nos instruindo para não errarmos. Tinha mais de trinta anos de carreira no balé, mas mesmo aposentada, continuava a dar aulas. Pois o amava, assim como eu.

—Isso, bambina, continue assim senhorita Roosevelt! —me elogiou enquanto eu girava com leveza ao redor de Mason que seguia meus passos.

Entretanto, alguém bateu em mim me fazendo ruir ao piso de madeira encerado e brilhoso.

—Opa, desculpa, Samantha! —disse num riso contido Elena.

Mason me ajudou enquanto, a senhora Romano a encarava.

—Senhorita Garcia, tome mais cuidado com as pessoas ao seu redor. Parecia uma gazela dando piruetas desengonçadas! —ironizou a professora o que fez todos ali rirem do ocorrido, menos Elena que ficou vermelha de raiva e me encarou. —Senhorita Roosevelt, descanse. Senhorita Brown, troque com ela! —pediu a professora. —Vamos, sem moleza! —disse ao bater as mãos.

Fui para o banco rente a parede de tijolos alaranjados, e deixei meu corpo relaxar encostado nela. E enquanto observava meus colegas treinando, minha mente afundou-se novamente a aquele pesadelo.

No momento que pedia para me transformar, mas não era exatamente o que queria. Não queria ficar na minha forma Lycan. Odiava com todas minhas forças isso, ainda mais quando me transformei e quase ataquei minhas irmãs mais novas.

Minha primeira transformação foi caótica demais, se não fosse pelo o meu pai naquela hora. Eu teria rasgado elas e minha mãe. Se já existia uma fissura entre nós duas com a morte de meu irmão gêmeo, essa abriu mais quando me descontrolei na minha forma de loba.

E foi a deixa para ir embora para a casa da minha irmã mais velha, e tentar recomeçar de novo. Francesca era uma médica renomada, e tentou me ajudar com remédios. Esses então, vindo de amigos da nossa raça que tentavam criar algo que controlasse as primeiras transformações de um lobo ou loba jovem.

E ainda tinha mais uma questão que me corroía, era minha vinculação com Ikarus e o casamento, que ainda não foi executado. Pois o mesmo vivia viajando em negócios, esses que meu pai me explicou serem a benefício da alcateia.

Ou seria mesmo, para não ver a minha face como ele deixou claro ao cortar laços na nossa infância. Meus pais sempre conversavam sobre isso comigo, e era uma tortura a cada mês que tentavam me fazer ir até a mansão dos Hoover e socializar com eles.

Ou ao menos ver Odette. Entretanto, eu deixei explicito que a viria se ela viesse aqui. Mas isso não quer dizer que não mantinha contato com minha irmã mais velha, sempre nos falávamos por celular ou vídeo chamada para me ver meus sobrinhos. Tyler e Luka, sinto que eles perderam o pai cedo e ainda mais por Odette que deve sofrer todo dia naquele local, que deve lembrá-la a toda hora de sua presença.

—Sam? Vai participar do concurso mês que vem?

Senti uma leve cotovelada e percebi que Mason havia sentado do meu lado.

—Ah? Acho que sim, Mason. —disse despertando de meus pensamentos.

—Aconteceu algo? Está aérea hoje. —Observou ele preocupado.

—Nada demais, minha família sabe... —o ar saiu cansado dos meus pulmões, e Mason balançou a cabeça entendendo a questão ao formar um pequeno riso em seus lábios finos.

—Sei como é. A minha também vive pegando no meu pé, é isso não? —Indagou-lhe e eu balancei a cabeça afirmando.

—Eles querem que eu me responsabilize pela honra da família, em outras palavras somos importantes no meio que andamos. Me entende? —disse tomando cuidado com o que dizia.

—Ah, peguei. O típico da aparência social dos ricos, ou estou enganado? —Ele perguntou, e tive que afirmar com a cabeça timidamente.

Entretanto, não era disso que eu dizia para ele. E sim, algo que nem os humanos imaginavam existir. Estando rente as suas sombras, e no submundo daquela sociedade.

—Meus pais querem que eu assuma o papel de submissa feminina, e que case com um rapaz que nem ao menos tenho contato desde a infância! —Eu acabei por desabafar aquele incomodo em meu peito. Mas Mason era meu amigo desde que me matriculei aqui nessa academia, e me entendia melhor que minha própria família.

Ele contornou seus braços em meus ombros magros e trouxe-me para junto de um jeito fraterno ao dizer:

—Você não precisa fazer o que sua família te obriga, desiste dessa ideia que só diz respeito á eles!

—Não posso. Até minha irmã mais velha foi assim, minha mãe também e avó e bisavó!

—Então, quebre o ciclo. E faça um quadrado! —Indicou ele rindo e arrancando de mim um belo sorriso corado. —Assim que gosto de te ver, e não com cara de que comeu e não gostou. Está aqui como se estivesse num velório!

—Obrigado, Mason. Se não fosse você para alegrar meu dia, não sei quem mais faria! —o abracei forte. E vi um olhar frio de Elena para mim, tinha certeza que ela ainda gostava dele e não era impressão minha.

—E você me disse que sua irmã Francesca, não seguiu à risca isso! —comentou.

—Realmente, mas meu pai relevou ela. Já que apoiou a mesma a fazer medicina. Mas duvido que comigo vai ser assim! —disse frustrada.

—Então, no dia que fugir de casa como a cinderela, sabe que meu apartamento é seu! —riu ele. —Agora vamos nos exercitar que daqui a pouco a professora entra nos dando sermões!

—Está bem. —Disse eu mandando um beijo no ar e Mason retribuindo ao se distanciar. O que deixou Elena furiosa com aquilo.

Sabia que Mason e ela haviam namorado, mas ambos terminaram por divergências que não quis me contar e respeitei isso.

Contudo, eu sabia bem que não era desistir das coisas que iria se livrar de uma responsabilidade que me foi dado, antes mesmo de nascer.

Ouvi o barulho do meu celular e levei minha mão até a bolsa no chão, peguei-o agilmente e li: “Hoje depois da aula, a mãe pediu pra você vim conosco a reunião da alcateia. Vai ter um aviso do alfa e preciso ir até a Odette levar algumas coisas que a mãe me deu para a mesma!”

A mensagem de minha irmã mais nova, Gray, me fez fechar os olhos de tensão por um momento. Eu não podia dizer não ou negar a presença mais. Entretanto, algo faiscou em meu interior para ver se Ikarus estaria lá. Aquele que partiu nossos laços de jeito imperdoável e que me machucou totalmente.

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