Capítulo 6

Logo que chegou em casa Bruna contou para a mãe com detalhes tudo que havia acontecido naquele dia. As flores ocupavam todos os cômodos da casa e ela se sentia imensamente feliz. Aguardava ansiosa a chegada de Cassiane para lhe contar tudo.

Ângela passou a mão carinhosamente pelo rosto da filha e disse:

- Eu te amo tanto, Bruna... Não quero que você se arrependa da sua decisão.

- Eu não vou me arrepender, mãe. Você sabe que sempre desejei isso.

- Não é um capricho seu? Uma forma de mantê-lo preso de alguma forma para acabar com esta sua insegurança?

- Mãe, como você pode dizer isso?

- Eu me preocupe com você... Sempre vou me preocupar. Eu quero que você seja feliz. E que tenha certeza de que está tomando a decisão certa. Para mim você ainda é uma menina.

- Eu tenho certeza... Se isso a deixa mais tranquila, mamãe.

- E Adrian também tem certeza de que quer isso?

- Mamãe, eu amo Adrian, ele me ama. Não há o que dar errado.

- E as brigas?

- Isso é normal, mamãe.

- E... Se der errado. Se o casamento não for como você pensa... Se não se sentir tão feliz e realizada quanto imagina...

- Mamãe... Com os erros aprendemos. Se não der certo, eu vou me reerguer e seguir minha vida. Errar não é o fim... Pode ser o inicio... O início de algo que pode dar certo da próxima vez.

Ângela abraçou Bruna com carinho. Bruna entendia a mãe perfeitamente. Enquanto ela estivesse ali naquela casa, estava sob os cuidados e olhares vigilantes de Angela. Ela se preocupava com as consultas, com os medicamentos e se sentia responsável por isso. Talvez este fosse seu medo. De Bruna conseguir se manter bem longe de casa, de lembrar de tudo que tinha que fazer para manter sua saúde mental em dia... E de que não tivesse uma grande decepção para não correr o risco de ter uma recaída novamente, tentando tirar a própria vida. Mas Bruna sabia que estava bem, exceto pelo fato de talvez ter imaginado ter visto o rosto do homem do seu sonho no hospital... Ou sequer pelo fato de ter sonhado e visto tão nítida a imagem daquele desconhecido. Mas ela nem tivera muito tempo para pensar naquilo, pois no fim nem sabia se realmente tinha visto o homem do sonho mesmo, ou colocado sua imagem ali naquela pessoa... Sequer sabia se aquele sonho havia realmente existido. Estava tentando não pensar muito nas coisas que sua mente tentava lhe dizer.

- Fico feliz em ouvir isso de você, minha filha. Acreditar em recomeços é a base de tudo. E no fim, eu sei que você e Adrian sempre ficam juntos. Sempre foi e sempre será, desde que se conheceram. Não consigo nem imaginar vocês dois separados e não tenho dúvida do sentimento dele por você.

Bruna riu:

- Eu estou bem, mamãe. Nunca farei o que fiz novamente. Não se preocupe.

- Só me preocupo um pouco com esta sua obsessão pelo casamento. – falou Angela rindo. – Acho que eu outra vida você foi uma solteirona e ainda não superou isso.

As duas caíram na gargalhada. Ângela acariciou os cabelos dela:

- Vou te ligar todos os dias... E vou visitá-la quase todos... Só de pensar que ficarei longe de você já fico com saudades. Você sempre foi tão doce... Tão frágil, mas ao mesmo tempo cheia de vontades. É a minha menina, com desejos diferentes de todas as mulheres de hoje em dia.

- Nunca me imaginei em baladas em busca de um homem ou diversão. Adrian surgiu na minha vida e desde então eu só quis ele e fazer tudo ao lado dele. Sei que você pensa que eu tenho muita coisa para viver... E eu vou viver, mamãe. Mas com ele.

- Espero que seja uma decisão madura, Bruna.

- Mamãe, eu tenho maturidade para saber o que quero.

- Não tenho dúvidas de que você sabe o que quer... Sempre soube... Mas sobre a sua maturidade eu não tenho certeza não.

- Me sinto ofendida. – brincou ela rindo.

- Venha cá no meu colo minha menininha mimada. – disse Angela.

Bruna foi para o colo da mãe e aceitou a carinho, como se fosse uma criança. Por ser magra, cabia perfeitamente no colo de Angela.

- Bruna, e se depois que você estiver casada conhecer outra pessoa e descobrir que nunca amou Adrian? – perguntou Angela de repente.

Bruna levantou a cabeça recostada no peito de Angela e olhou seriamente para a mãe:

- Por que está me perguntando isso, mamãe?

- Me veio à cabeça que talvez ele não seja seu verdadeiro amor. E se seu coração descobrir que ele não é a pessoa que você procura? E se for tarde, pois você já está casada com Adrian e com filhos? Seria capaz de abandonar tudo para viver este amor? Ou ficaria eternamente arrependida por não ter vivido sua história de amor tendo em troca que viver uma vida que tanto sonhou, mas que já não é mais o que você quer... Você nunca conheceu outro homem... Adrian foi seu primeiro amor, seu primeiro namorado, seu primeiro beijo... E você só tem 20 anos... Uma vida toda pela frente. Muitas pessoas cruzarão seu caminho ainda... E conhecerá outros homens.

- Eu... Não sei... Eu conheço a amor... Eu sempre soube que Adrian era a pessoa certa para o meu futuro.

- Me desculpa, Bruna... Eu não quis deixá-la confusa, meu bem. Só quero que você tenha certeza... Só isso. Sabe o quanto eu me preocupo com você.

- Eu sei, mamãe... E eu sinceramente não sei responder sua pergunta... Eu tenho tudo planejado desde sempre... Não imagino que possa dar algo errado. Se der, como eu disse, creio que vou me reerguer e continuar. E vou subir para o meu quarto... O dia de hoje me cansou... Mas de uma forma positiva.

- Desculpe se fui dura com minhas palavras... – falou Angela.

- Não se preocupe, mamãe. Está tudo bem. Sei que faz tudo pensando no meu bem e me põe acima de qualquer coisa.

Bruna subiu as escadas confusa e não conseguiu segurar as lágrimas que começaram a cair. Tomou seus remédios, colocou seu pijama e deitou-se na cama. Entendia a preocupação de Angela, mas ao mesmo tempo parecia que ela tentava de toda forma dissuadi-la de sua decisão.

Ângela havia perdido o marido muito cedo e certamente fazia isso para proteger a filha. Bruna sabia que a perda havia sido muito difícil para a mãe. Ela ainda era bebê... Estavam os três no carro e um caminhão cortou a frente. Bruno, seu pai, não resistiu e morreu na hora. Bruna ficou em estado grave e ficou um bom tempo na UTI, sendo até desenganada pelos médicos. No entanto, sobreviveu e por isso desde criança era tratada com muito mimo pela mãe e pela irmã. Os médicos diziam que era um milagre ela ter sobrevivido. E Angela, não teve tempo para chorar por seu marido, pois precisava ficar ao lado da filha. Uma perda já havia sido suficiente e ela sabia que se perdesse também a filha talvez não resistisse. Cassiane ficou muito tempo fora na casa de tia Dani, irmã de Angela. Enquanto isso Angela praticamente morou dentro do hospital até a filha ganhar alta. Talvez foi isso que fez com que Cassiane se tornasse uma mulher tão forte e decidida. E Bruna insegura e com medo de tudo que existia. Ela havia tido uma infância difícil, não se enturmava com os colegas, sempre procurando se excluir. Não era muito estudiosa, por isso também não tirava notas boas, nem ruins. Não se esforçava em nada para ser melhor. Sabia de sua importância para sua mãe e sempre se preocupava em nunca deixá-la chateada ou fazer algo que a magoasse. Elas eram bem unidas e tinham muito carinho umas com as outras. Haviam aprendido a viver sempre umas pelas outras. Mas sem saber exatamente porquê, Bruna continuava tendo uma infância um pouco diferente do que se espera de crianças da sua idade. A adolescência só piorou tudo. Ângela sempre trabalhou muito para dar conta de tudo, para que nada faltasse às filhas. Cassiane era uma aluna exemplar e cedo começou a trabalhar para ajudar a mãe. Muito tempo em casa sozinha fazia com que Bruna tivesse pensamentos ruins, se sentisse culpada pelas duas fazerem tudo por ela. Sensação de vazio da adolescência, o peso do mundo nas costas, olhar-se no espelho e se sentir horrível, não ter a presença do pai consigo, por achar que Deus estava de mal com elas e resolveu tirá-lo do mundo... A tristeza e sensação de fazer tudo errado foi ficando cada vez pior até que veio a depressão no início da adolescência. Até hoje sem saber o motivo, um dia Bruna tentou acabar com a própria vida, cortando os pulsos, por achar que não tinha sentido nenhum estar ali. Ela só tinha 13 anos e devido ao histórico depressivo desde a infância teve que ficar numa clínica por uns meses, para que tomasse a medicação adequadamente e fizesse todo o tratamento correto. Não havia achado bom o tempo que esteve lá, mas também não achava ruim. Havia aprendido a dar mais valor a vida e a falta da mãe e da irmã, que só vinham nas visitas, todas que podiam e o maior número de horas que conseguiam, a fez ver o quanto elas eram importantes em sua vida e lhe trazia ainda mais culpa pelo que havia feito as duas passarem. Com relação ao casamento e o sonho de uma vida a dois para logo em seguida ter filhos e formar uma família, segundo a terapeuta, era para tentar recuperar o que nunca teve, que para ela era tão importante: um pai. Ângela não saia e nunca tentou conhecer outra pessoa para reconstruir sua vida. Por mais de 20 anos viveu inteiramente em função do bem das filhas. Bruna também queria sair e viver sua vida para que Angela pudesse viver a dela. Ela precisava disto... Não podia viver sempre em função dela e de Cassiane. Ela precisava encontrar alguém que a amasse e cuidasse dela como merecia. Logo que saiu da clínica Bruna passou a receber aulas particulares para recuperar o tempo perdido na escola. Logo que voltou, optaram por trocá-la de instituição escolar. Então ela conheceu Adrian no auge dos seus 14 anos e se apaixonou por ele. Ele já estava praticamente saindo da escola, pois era mais velho, na época com seus 18 anos. Foi ele quem começou a m****r cartinhas de amor e insistir num encontro. Ela aceitou, já caída de amores pelo primeiro garoto que a notou. Desde então namoravam... 6 longos anos. Adrian era divertido, simpático, preocupado com ela e muito carinhoso. Desde sempre tinham briguinhas por motivos insignificantes, mas sempre faziam as pazes e ficavam juntos. Ele sempre soube da tentativa de suicídio dela bem como a depressão profunda e o tratamento contínuo que ela fazia. Mas sempre respeitou a decisão dela de não falar a respeito. Embora ela sentisse que ele a tratava sim com certa preocupação, provavelmente por orientação de Angela, eles viviam um relacionamento normal e ela nunca achou que seu passado interferisse em qualquer coisa na relação deles. Nenhum dos amigos dele, embora muito próximos, sabiam pois ele nunca contou, respeitando a decisão dela. E ele era muito próximo de Angela e Cassiane, que na maioria das vezes ficavam do lado dele nas brigas que tinham, sempre na certeza de que eles voltariam. Já havia se passado 7 anos desde que ela atentara contra a própria vida. Achava que estava muito bem e tinha certeza de que não faria isso novamente. No entanto os médicos ainda não haviam liberado ela nem das consultas de rotina, muito menos dos medicamentos. Mas doutor Adam havia dito que ela estava cada vez melhor e que provavelmente em pouco tempo se livraria de algumas consultas rotineiras, exceto da terapia. Ela não via a hora deste dia chegar.

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