Voltei para casa, flutuando.
Uma mansão luxuosamente decorada se erguia nos subúrbios, como uma fera adormecida nas trevas, nunca me oferecendo um pingo de calor como lar.
A luz suave da luminária incidia sobre as feições severas do meu irmão, que lidava com assuntos da empresa com o cenho franzido.
Ele olhou para o relógio no celular, seu semblante denotava impaciência, parecia estar irritado novamente.
Após algum tempo, tentou fazer uma ligação.
Parecia que não conseguia conexão, soltou um palavrão e desligou, atirando tudo o que estava na mesa ao chão.
O temperamento do meu irmão sempre foi explosivo, isso eu sabia.
— Letícia, você se acha esperta agora, não é? Você bloqueou meu número e o WhatsApp! — Gritou meu irmão, furioso, jogando coisas ao redor. — Se é assim, nunca mais volte. Morra aí fora.
Meu nariz ainda ficava sensível, mesmo estando morta.
Ouvir aquelas palavras ainda me fazia querer chorar.
— Irmão, você conseguiu o que queria. Sua irmã, Letícia, realmente morreu lá fora.
Observei a última luz do pôr do sol desaparecendo ao longe, parecendo levar consigo o último resquício de calor do meu corpo.