A segunda-feira após a "proposta" de Tobias a Zenon amanheceu com uma mistura de ansiedade e determinação no ar. Tobias estava estranhamente eufórico, impulsionado pela pequena faísca de esperança reacendida com Kael e pela (relutante) aceitação de Zenon em participar da farsa. Zenon, por outro lado, parecia ter aceitado seu destino com uma resignação sombria, mas com a seriedade e o pragmatismo que o caracterizavam. Se ele tinha que fingir ser um ex-parceiro, ele faria direito. A primeira ordem do dia, segundo Tobias, era garantir que Zenon causasse a "melhor impressão" em Kael. "Você tem que parecer elegante, sofisticado, o tipo de cara que eu estaria 'deixando' para estar com ele", Tobias explicou no carro a caminho de um shopping de luxo. Zenon apenas revirou os olhos por trás dos óculos, mas não argumentou. Ele sabia que a credibilidade da mentira dependia de todos os detalhes. Eles passaram a manhã em lojas de grife. Tobias, com seu olho clínico (e seu cartão de crédito)
A manhã seguinte ao jantar desastroso (e revelador) com Kael encontrou Tobias em um estado de ansiedade febril. A ideia de ter "dois filhos" pairava sobre ele como uma nuvem carregada de chuva. A promessa impulsiva de Kael em querer conhecê-los significava que a farsa precisava de mais do que uma narrativa; precisava de rostos, vozes, a prova viva da mentira. A única solução, por mais absurda e arriscada que fosse, envolvia os sobrinhos de Zenon, Jade e Sud. Tobias ligou para Zenon assim que chegou à clínica, pulando qualquer formalidade. "Zenon, precisamos trazer os meninos. Hoje." Do outro lado da linha, Zenon suspirou. "Eu imaginei. Tobi, tem certeza disso? Envolver as crianças... é um passo a mais na loucura." "Não temos escolha!", Tobias respondeu, a voz tensa. "Kael quer conhecê-los. E rápido. É a única maneira de sustentar essa nova camada da mentira. Por favor, Zenon. É pela causa... pela causa do Kael. E agora pela causa de não sermos descobertos." Zenon hesitou
O caos pós-anúncio da "viagem em família" na loja de brinquedos atingiu um novo patamar. Sud, ainda eufórico com a promessa da praia, rapidamente esqueceu a viagem anteriormente cancelada e se concentrou no presente: um paraíso de brinquedos à sua disposição, com "Papai Tobias" pagando. Jade, sempre estratégica, aproveitou a oportunidade de ouro para garantir seus "pagamentos" adiantados, além das aulas de balé.Enquanto Tobias, Zenon e Kael caminhavam pelos corredores coloridos, Jade e Sud agiram com a precisão de pequenos predadores de shopping. Eles apontavam para brinquedos, corriam de um lado para o outro, faziam exigências com vozes agudas e inegavelmente fofas."Papai Tobi, olha esse robô gigante! Eu preciso dele pra minha coleção!", Sud exclamou, puxando a calça de Tobias."E eu, Papai Tobias, preciso daquela casa de bonecas nova. É pra 'desenvolver minha imaginação' para o balé, sabe?", Jade acrescentou, com um sorriso inocente que não enganou Zenon nem por um segundo.Tobias
O sábado amanheceu, trazendo consigo a inevitabilidade da "viagem em família" para a praia. O caos da loja de brinquedos e a promessa impulsiva de Tobias haviam se solidificado em passagens de carro, reserva de hotel e malas feitas às pressas. Zenon estava na entrada de seu prédio, cercado por bagagens que pareciam ter se multiplicado durante a noite, com Jade e Sud pulando de excitação ao seu redor. Zenon, apesar da maquiagem leve que usava para disfarçar as olheiras (cortesia do estresse de organizar uma viagem falsa de última hora), exibia sua eficiência habitual. Ele checava se todos os brinquedos recém-adquiridos estavam embalados de forma segura (e discreta), se as roupas de banho estavam na mala certa e se as crianças tinham seus lanches e travesseiros. A ideia de uma viagem com Tobias, os sobrinhos dele fingindo serem filhos deles, e Kael, o catalisador de toda essa loucura, era exaustiva só de pensar, mas Zenon se concentrava na tarefa logística à frente. Ele havia conco
A viagem à praia se desdobrou em uma série de cenas cômicas e cansativas, cortesia da energia inesgotável de Jade e Sud e das tentativas desastradas de Tobias de parecer um pai casual e divertido. Kael, por sua vez, parecia se encaixar surpreendentemente bem na dinâmica caótica, rindo das travessuras das crianças e observando a interação (falsa) de Tobias e Zenon com uma fascinação genuína. Zenon, o gerente de crises não oficial da farsa, passava a maior parte do tempo garantindo que as crianças não revelassem acidentalmente a verdade ou se colocassem em perigo, tudo isso enquanto mantinha a pose de "ex-parceiro amigável" para Kael e observava a atuação (às vezes exagerada) de Tobias. Em uma tarde, enquanto Kael levava Jade e Sud para construir um castelo de areia monumental perto da água – uma atividade que Zenon supervisionou de perto antes de permitir –, Zenon decidiu tirar um momento para si. Ele foi até o bar do hotel na beira da praia, u
Os dias na praia continuaram, um turbilhão de castelos de areia desmoronando, mergulhos no mar, risadas altas e a constante gestão da mentira em expansão. Kael parecia estar genuinamente gostando, interagindo facilmente com Jade e Sud (que o chamavam de "Tio Kael" com crescente afeição) e desfrutando da companhia de Tobias e Zenon. Tobias mantinha a fachada do pai divorciado charmoso e atencioso, jogando junto com as crianças, mostrando a Kael o lado "familiar" que ele inventou. Zenon, por sua vez, continuava sendo o esteio pragmático da operação, o olhar atento supervisionando tudo, a compostura inabalável mesmo nos momentos de maior caos causado pelos sobrinhos. Contudo, por trás da atuação para Kael e da rotina com as crianças, algo mais estava crescendo silenciosamente. Tobias e Zenon, forçados pela proximidade constante da viagem e pela vulnerabilidade compartilhada na conversa sobre suas vidas, começaram a se conectar de uma maneira que ia muito além de chefe e assistent
Zenon havia organizado o jantar com sua eficiência habitual, reservando uma mesa em uma área mais isolada do restaurante do hotel, perto de uma grande janela com vista para o oceano e o céu noturno. A mesa estava posta com elegância: toalhas de linho branco, talheres polidos, taças de cristal e, no centro, um castiçal com uma vela acesa, sua chama dançando suavemente e projetando sombras românticas. A luz do luar, cheia e prateada, banhava a cena, criando uma atmosfera que gritava "romance". Tobias e Kael chegaram, ambos um pouco nervosos, mas visivelmente arrumados e esperançosos. Tobias, em um terno leve, tentava parecer casual, mas a expectativa em seus olhos era clara. Kael, radiante em suas roupas de encontro, olhava em volta com admiração. Zenon os observou de longe por um momento, garantindo que tudo estava em ordem, sentindo uma pontada estranha no peito que ele rapidamente atribuiu ao estresse da situação. Ele havia deixado Jade e Sud sob
Após o resgate (e a interrupção) do jantar de Tobias e Kael, Zenon retornou ao quarto, garantindo que Jade e Sud estivessem realmente sob controle desta vez. A babá foi dispensada com um bônus generoso e um pedido sincero de desculpas. As crianças, finalmente esgotadas pela excitação da fuga e da bagunça, adormeceram rapidamente. Zenon sentou-se na beira da cama por um longo tempo, apenas observando seus sobrinhos dormirem, o silêncio contrastando bruscamente com o caos da hora anterior. Mas o silêncio não trouxe calma para sua mente. A cena do restaurante, a farsa dos "filhos", a visão de Tobias e Kael juntos naquela mesa romântica – tudo isso rodava em seus pensamentos. Ele sentiu a necessidade de ar, de espaço, de estar sozinho com o turbilhão de emoções que estava começando a reconhecer. Ele saiu do quarto silenciosamente e voltou para a praia. A noite estava escura, com o mar murmurando ritmicamente e as estrelas brilhando com intensidade no céu livre de luzes urbanas. Zen