Louise
DECIDO USAR UMA SAIA preta lápis, com uma fenda em um dos lados, camiseta social vermelha e um blazer preto por cima. Faço um rabo de cavalo para ajeitar o cabelo.
Me olho no espelho, gostando do que vejo, pois até que fiquei bem vestida desse jeito. Esse tipo de roupa costuma me apavorar, gosto mais de peças básicas e sociais. O lado bom de trabalhar com os meus pais era poder usar moletom e não ouvir reclamações, a não ser da minha mãe, mas eu escolhia ignorá-la.
Caso eu consiga a vaga, terei que usar roupas assim todos os dias, o que me lembra de que terei que renovar o meu guarda-roupa.
Quando começo a fazer uma maquiagem bem básica, ouço uma buzina e nem preciso olhar pela janela para saber que é a Claire.
— A porta está aberta — grito da janela e volto a me maquiar.
Claire é minha amiga desde o primeiro ano do ensino médio. Nossa amizade dura há quase dez anos. Temos muito carinho uma pela outra e passamos por muita coisa juntas.
O fato de ela sempre ter sido popular e arrancar suspiros por onde passa nunca me causou inveja, pelo contrário. Concordo com todo mundo, pois ela é mesmo linda. Ela é uma mulher alta, olhos verdes, pernas longas e bem tornadas, cabelos que vão até a sua cintura e uma simpatia que lhe torna única.
— Louise, já está pronta? — Claire pergunta enquanto entra no meu quarto minutos depois.
— Mais uns dez minutos.
— Já pesquisou sobre a empresa?
— Ainda não. — Digo e ela faz uma careta.
— Vamos lá. — Ela se j**a na minha cama e pega o meu MacBook. — Qual o nome da empresa?
— Não me lembro. Só sei que recebi um e-mail com as informações que preciso.
— Como você é péssima Louise. — Ela ri. — Acho que você está querendo voltar a trabalhar com a sua mãe.
— Não, né?!
— Vou olhar aqui.
Ela volta o olhar para a tela enquanto finalizo meu delineado.
— Já falou com o Alex?
— Não. Aliás, vamos almoçar juntos hoje.
— Por que você não dá um ponto final nessa história? —pergunta. — Você nunca o amou.
— Você não precisa me lembrar disso.
— E o bonitão? Já deve desconfiar que você tem uma queda por ele.
— Isso não tem nada a ver, Claire. — Bufo. — Podemos mudar de assunto?
— Hein, você me disse que não sabe o nome da empresa, não é?
— Sim. Por quê?
— Como você enviou os currículos?
— Não me responda com outra pergunta. — Faço careta quando erro o meu delineado.
— Só me responda isso.
— Acho que foi num site, não me lembro muito bem. As vagas surgiram e eu fui me cadastrando em todas. Essa foi apenas uma que me chamou para a entrevista. — Dou de ombros.
— Não creio, Louise. — Ela começa a rir.
— O que eu fiz?
— Nada de mais — responde, toda risonha. — Vou fazer um resumo sobre a empresa, e vê se estuda.
— Claro, dona mãe.
Na maioria das vezes, a Claire é pior do que minha mãe para me dar broncas. Mesmo assim, eu a amo.
— Vou enviar por mensagem.
— O que eu faria sem você?
— Sabe que a vaga é temporária?
— Eu sei. Até lá, vou encontrar outro emprego. A única coisa que eu sei é que não quero mais trabalhar com os meus pais. — Claire me encara e torce nariz.
— Meu deus. Que delineado horrível. — Sinceridade, com certeza, é um dos seus pontos mais fortes. — Vem cá, me deixa arrumar isso.
***
Já faz mais de dez minutos que Claire me deixou no restaurante, e o Alex ainda não apareceu. Liguei algumas vezes, mas sem sucesso em falar com ele, o que está me deixando frustrada.
Espero por mais alguns minutos, antes de ligar novamente pela última vez. Quando não consigo contato, decido fazer meu pedido e acabo almoçando sozinha.
Pago a conta e olho o endereço da empresa no meu celular. Peço um Uber, que chega em menos de dois minutos, entro no carro e seguimos.
Me lembro de abrir a mensagem que a Claire me mandou, com tudo o que eu preciso saber da empresa.
“Empresa Brown, fundada há mais de cinquenta anos...”
Paro de ler assim que leio essa informação.
— Puta merda — murmuro para mim mesma.
Quando penso em pedir para o motorista mudar a rota, já é tarde demais.
— Chegamos, senhorita — o motorista de cabelo grisalho avisa.
— Obrigada. — Desço do carro e fico ali, parada em frente àquele prédio enorme, pensando se devo ou não entrar. Só que, se não quero mais trabalhar com os meus pais e preciso pagar a minha faculdade de letras, não há outro jeito.
Até então, ninguém tinha me dito quem iria me entrevistar, as chances de ser o Josh, são bem pequenas, pois, além de ser um CEO muito ocupado, é raro que ele receba visitas que não sejam seus investidores.
Respiro fundo e entro,
caminhando até final do hall.
— Oi. Tenho uma entrevista — digo ao segurança, que estava próximo à recepção. Ele não diz nada, apenas aponta com o dedo para onde devo ir. — Não tem ninguém ali.
— Último andar — responde, sem me olhar.
— Obrigada. — Chamo o elevador e aperto o botão da cobertura.
Assim que as portas do elevador se abrem,
uma moça ruiva, de estatura mediana, se aproxima e sorri para mim. Só aí eu percebo o tamanho da sua barriga.
— Olá. Tudo bem? — ela pergunta. — Em que posso lhe ajudar? — Parece caminhar com uma certa dificuldade em minha direção, e devo ter feito uma expressão preocupada, pois ela continua: — Não ligue, não. Estou bem. Só estou com os pés inchados, hormônios à flor da pele e com muita, mas muita azia. — Ela ri. — Você acha que é fácil carregar três?!
— Oi, são... três? — Caminho em sua direção.
— Sim, trigêmeos. — Ela passa uma das mãos na barriga. — Me desculpa. O que você veio fazer aqui mesmo?
— Tenho uma entrevista.
— Ah, sim. — Ela caminha para trás do balcão. — Senhorita Louise Smith — fala, olhando para um papel em suas mãos.
— Isso.
— Aqui está seu currículo. — Ela me entrega a folha. – O senhor Kim está um pouco atrasado, mas, assim que ele chegar, ele irá realiza a sua entrevista.
— Obrigada. — Me sinto aliviada por não ser o Josh a fazer isso.
— Sente-se. — Ela indica uma das poltronas na sala de espera e faço o que me pede. — Aceita um chá, café ou água?
— Um chá, por favor.
A moça da recepção entra em um dos corredores e desaparece. Aproveito para mexer no meu celular enquanto aguardo.
— Aqui está, senhorita Smith. — Ela me entrega a xícara com um líquido fumegante, o cheiro de hortelã preenchendo minhas narinas.
— Obrigado. — Pego a xícara e continuo mexendo no meu celular enquanto aprecio o meu chá.
— Senhorita Smith.
— Sim.
— O senhor Kim não vai chegar a tempo, mas a senhorita pode entrar. — Me aproximo dela sem entender quem vai fazer a entrevista, lhe entrego a xícara, e ela indica a entrada enorme bem atrás dela.
Dou duas batidas à porta, espero por alguns segundos, mas, como ninguém diz nada, simplesmente giro a maçaneta, empurrando a madeira até abri-la.
A sala é enorme e tem apenas uma janela, cuja vista tenho certeza de que deve ser linda.
Só acho o ambiente um pouco escuro. Há uma combinação de cores neutras, para ser mais exata, preto e cinza. Do outro lado, há uma mesa enorme na cor preta, com uma estante atrás, enfeitada por algumas plantas e porta-retratos. Como estou um pouco distante, não consigo ver quem são as pessoas nas fotos.
O silêncio preenche o lugar e só então me dou conta de que abri a porta e fiquei apenas observando tudo. Que péssima impressão devo estar passando a quem vai me entrevistar…
— Me desculpa — digo, enquanto caminho em direção àquela mesa enorme. Ainda não vejo quem é a pessoas que está sentada na poltrona, pois ela permanece de costas para mim. — A moça disse que eu poderia entrar. — Continuo sem respostas, duvidando até mesmo que tenha alguém aqui comigo. — Com licença. — Tento mais uma vez. A pessoa não se pronuncia, e decido ficar quieta.
Algum tempo depois, a cadeira vira e perco o ar quando meus olhos encontram o do homem que está sentado nela.
— Louise — fala e sorri. — Sente-se, por favor. — Entro no automático com o choque que levo, consigo apenas me sentar. — Você se candidatando a uma vaga de emprego? — Ele ri e olha para o papel em uma das suas mãos, que deve ser o meu currículo. — Aconteceu alguma coisa?
— É, não... — Tento não gaguejar. — Eu não sabia que era aqui.
— Não entendi. — Ele me olha por cima dos óculos.
Ele é um homem alto, loiro, olhos azuis, cabelos castanho-claros e um sorriso encantador.
Josh, esse é o nome do meu grande amor e quem está à minha frente.
Eu sempre ficava observando-o, especialmente quando íamos aos almoços de domingo em sua casa. Aos trinta anos, seu sorriso é contagiante e ele emana tanta simpatia que alguém poderia achar que ele está se jogando para cima da pessoa.
— Desculpa, me expressei mal — explico e respiro fundo. — É que eu não quero mais trabalhar com os meus pais, você sabe como a minha mãe é. — Dou de ombros.
— Sei bem como a Mila é, ela tem o gênio muito forte. — Ele passa umas das suas mãos em seus cabelos. — Mas você sabe que a vaga é temporária, não sabe?
— Sei, sim.
— É pra ocupar o lugar da Anna.
— A que está grávida?
— Sim, como são trigêmeos, ela vai ter que se ausentar antes do esperado. — Ele analisa o meu currículo. — Sabe que a vaga é de recepcionista e você é formada em Marketing?
— Eu ajudava a minha mãe com algumas coisas — menciono.
— Você tem que organizar a minha agenda, marcar algumas reuniões e me acompanhar em alguns eventos, viagens.
— Eu acho que consigo.
— Ok, Louise. — Ele sorri. — Eu fico uma bagunça toda vez que te vejo.
Não encontro palavras para respondê-lo.