Byron bateu na minha porta na manhã seguinte bem cedo.
— Pronta? — perguntou, seu rosto uma máscara de ternura cansada. — Acho que você precisa ver Liam pessoalmente. Para que possa entender a posição em que estou.
Assenti e o segui até as masmorras.
As masmorras Blackwood foram construídas na parte mais profunda do território, as grossas paredes de pedra cobertas com runas antigas que suprimiam o poder de um lobo.
O ar estava denso com o fedor de prata e desespero.
— Ele está na cela mais profunda — disse Byron. — Pela acusação de traição.
Traição.
Que piada.
Passamos por fileiras de barras de ferro, pelos lobos solitários e criminosos trancados lá dentro.
Seus olhos nos seguiam com medo e ódio.
Finalmente, paramos na última cela.
E eu o vi.
Liam.
Meu irmão.
Ele estava acorrentado à parede com correntes gravadas em prata, suas mãos puxadas bem acima de sua cabeça.
A prata havia queimado feridas profundas em sua pele, crostas de sangue escuro e seco.
A habilidade de cura de um lobisomem era inútil contra ela.
— Liam? — Agarrei as barras de ferro, minha voz tremendo.
Ele lentamente levantou a cabeça.
Seus olhos, antes brilhantes como estrelas, agora estavam opacos e sem vida, a luz do seu lobo se fora.
— Sandra? — Sua voz estava rouca, quase inaudível. — Você veio.
Queria alcançá-lo, mas as barras estavam no caminho.
— Olhe para seu irmão agora — um guarda zombou atrás de nós. — Uma vez um Beta, agora ele é menos que um ômega.
Antes mesmo que eu pudesse me virar para repreender o guarda, Byron se moveu.
Uma onda de pura raiva Alfa tomou conta da sala.
Num borrão de movimento, ele girou, sua mão apertando a garganta do guarda. Ele o esmagou contra a parede de pedra com um baque nauseante.
— Você — a voz de Byron era um rosnado baixo e perigoso, como algo vindo direto do inferno. — De quem você está arrastando o nome pela lama com essa boca imunda?
O guarda empalideceu, arranhando desesperadamente a mão de Byron.
— Ela é sua Luna — Byron rosnou, fogo dourado ardendo em seus olhos. O peso absoluto de sua aura Alfa sugou o ar direto da masmorra. — Se eu ouvir você desrespeitá-la novamente, arrancarei sua língua eu mesmo.
Ele soltou seu aperto. O guarda desabou no chão, ofegante e tossindo violentamente.
Byron ajeitou sua gola, como se o ataque brutal nunca tivesse acontecido.
Ele se virou e me puxou de volta para seus braços.
— Sinto muito, amor. Você não deveria ter que ouvir essa imundície.
Ele pressionou minha cabeça contra seu peito. Sua voz estava carregada de dor reprimida.
— Eu sei que você está sofrendo. Eu também estou. Mas olhe... as evidências são esmagadoras. Os Anciãos falaram. Mesmo como Alfa, não posso simplesmente quebrar a lei da alcateia.
Encarei-o, sem piscar.
Essa "lei" da qual ele falava... não era apenas outra jaula que ele havia construído?
Essas "evidências"... ele não as havia forjado com suas próprias mãos?
— Sandra. — A voz de Liam estava fraca. — Não lute com ele por mim. Não vale a pena.
— Liam...
— Eu sei. — Ele olhou para mim, um lampejo de clareza em seus olhos opacos. — É tarde demais para palavras agora.
— Viu? — Byron murmurou atrás de mim. — Até ele admite. Sandra, temos que ser racionais. Se você continuar lutando contra isso... mais pessoas vão se machucar.
Mais pessoas.
Ele quis dizer minha mãe.
— Então você vai simplesmente deixá-lo morrer aqui? — Girei para encarar Byron. — Você vai assistir ao meu único irmão apodrecer de envenenamento por prata?
Byron abriu a boca para responder, mas de repente, seus olhos ficaram vidrados.
Era o olhar de uma conexão mental.
Sua testa franziu instantaneamente.
Segundos depois, ele voltou à realidade, seu rosto marcado com exaustão inegável.
— Sinto muito. Meu Beta acabou de me conectar. Há uma emergência na alcateia — disse, já se virando. — Tenho que lidar com isso. Agora.
Uma emergência.
Que tipo de emergência era mais importante que isso?
— Byron. — Chamei.
Ele parou e olhou para trás. Seus olhos ainda mantinham um lampejo de irritação que não me pertencia.
— O que foi?
Olhei para ele. O homem em quem uma vez acreditei ser meu companheiro predestinado.
— Nada — disse sem expressão. — Vá.
Ele me deu um olhar longo e complicado, como se quisesse dizer mais. Mas no final, apenas se virou e saiu a passos largos da masmorra.
Fiquei congelada, ouvindo seus passos se afastarem.
Ele parecia ter esquecido algo crucial.
Eu podia sentir o outro lado de sua conexão mental.
Sabia exatamente para onde ele estava indo. Ele estava indo ver Ariana.