Capítulo 3
Na manhã seguinte, cedo, quando a planejadora de casamentos bateu à porta da frente com seu sorriso excessivamente brilhante e os braços cheios de catálogos de flores, soube que ela tinha vindo por causa das mudanças que solicitei na noite anterior. Mas ainda assim, fingi não entender.

Alfa Martin sentou-se ao meu lado na mesa do café da manhã, olhando para ela.

— Simona. — Disse ele, com as sobrancelhas franzidas. — Há algo na recepção que você quer mudar?

Minha loba bufou na minha mente. Mentiroso. Nós nem planejamos ir a este casamento.

Com medo de que ele percebesse algo, respondi rapidamente:

— Só o buquê. Quero algo mais suave.

A planejadora assentiu, anotando tudo. Martin, no entanto, não deixou passar. Puxou a tabela de tamanhos das mãos dela e estreitou os olhos.

— Simona, lembro que você calça 35 de salto alto. Por que mudou para 36?

Mordi o lábio, nervosa, e peguei a tabela de volta, envolvendo meu braço ao dele e me agarrando brincando.

— Achei que poderia ficar nervosa e inchar. Sapatos maiores são mais seguros? — Completei com uma risadinha, só por garantia.

Alfa Martin me fitava intensamente, como se tentasse descobrir se eu estava mentindo.

Nesse momento, Beta Louie entrou correndo, aflito e sem fôlego. Aproximou-se do ouvido de Martin e sussurrou:

— Yvonne acabou de sofrer uma pequena queda. Estão a levando às pressas para o hospital. Ela estava chorando e implorando para você ir.

O som de faca e garfo raspando o porcelanato ecoou pelo ar.

Alfa Martin saltou da cadeira, com o pânico estampado no rosto.

— Chame o Dr. Millar. Agora! — Berrou. — E diga que quero toda a equipe de prontidão. Não importa o custo, apenas salve-a!

Eu assisti calmamente enquanto ele perdia a compostura, meus lábios curvando-se em um sorriso zombeteiro.

Ele estava tão consumido pela preocupação que nem percebeu meu comportamento estranho.

Fingi não entender.

— Martin? O que está acontecendo?

Ele vestiu o casaco às pressas. A voz cortante falou:— Projeto de Alcateia da Coroa Sombria. É algo urgente. Explico depois.

Ele estava prestes a sair, de repente voltou-se, segurou meu rosto com as mãos e me beijou.

— Seja uma boa garota e me espere em casa. — Sussurrou ao meu ouvido.

A frase "Seja uma boa garota" fez minha loba rosnar tão alto na minha mente que tive que cerrar a mandíbula para não mostrar os dentes. Eu o empurrei delicadamente.

— Vá, Alfa. Cuide dos seus negócios.

Assim que seus passos desapareceram, a organizadora do casamento me lançou um olhar perplexo.

— Senhorita Simona, se me permite… nem as medidas do vestido nem os sapatos correspondem aos seus ajustes anteriores.

Encolhi os ombros.

— Mude-os.

Ela hesitou.

— E… você não mencionou uma vez que é alérgica a gardênias? Você pediu para substituirmos todas as rosas do local por elas. Assenti. Lembrei que Yvonne parecia gostar de rosa, então acrescentei:

— Também, mude o tema do casamento para rosa. — Rosa? — Ela piscou. — Mas Alfa Martin disse que você ama o oceano. Ele escolheu azul para refletir.

— Eu sei o que ele escolheu. — Disse, com a voz fria. — Mas agora escolho rosa. Ela abriu a boca novamente, e eu a interrompi antes que pudesse se queimar.

— Não conte ao Martin. Apenas faça tudo o que solicitei.

Quando ela saiu, comecei a fazer as malas.

Minha vida com Martin começou quando ainda éramos filhotes. Os pais de Martin eram os amigos mais próximos dos meus pais, então me deixaram ficar com ele. Eu costumava correr atrás do rabo dele pelo campo de treino enquanto ele me ensinava a desviar dos ataques de lobos renegados com um bastão.

No nosso 18º aniversário, durante nossa primeira transformação, ambos despertamos lobos poderosos.

A parte mais sortuda? Minha loba sussurrou animadamente:

— Martin é nosso companheiro predestinado. Agora, vinte anos de memórias compartilhadas me encaravam de todas as paredes — fotos de batalhas na lama, primeiras sessões de treino, bailes da escola, até a primeira vez que o beijei à beira do lago.

Arranquei cada uma delas e joguei em uma pilha. Uma foto tinha uma mancha de chocolate no canto de nosso aniversário. Outra tinha uma pata de lobo no quadro — era a minha.

Sempre que eu precisava, ele estava lá.

Comecei a jogar uma por uma das fotos no lixo e então, risquei um fósforo.As chamas dançaram e lambiam os impressos brilhantes, transformando-os lentamente em cinzas.
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