CAPÍTULO 3

Aproveitei que estava em minha cidade natal e fui para a delegacia verificar o arquivo.

— Preciso de um arquivo, mas não sei o número dele — falei na esperança que Helena pudesse me ajudar.

Comecei minha carreira policial aqui, sendo assim muitos policiais mais antigos me conheciam. Helena era uma, fomos contratadas no mesmo dia e treinamos juntas.

— Olha só quem está aqui! Como vai, Catarina? — disse empolgada.

— Vou bem, obrigada. Será que pode me ajudar? — perguntei ansiosa.

— Claro, você sabe o ano?

— Foi em mil novecentos e noventa, o crime aconteceu em outubro.

— Oh, mil novecentos e noventa? Foi encontrada alguma evidência sobre o crime? — Helena perguntou pegando uma pasta que ainda estava em seu balcão.

— Não, apenas precisava entender um pouco sobre o caso — a pasta que ela me entregou era o arquivo que procurava, dez de outubro de mil novecentos e noventa. O exato dia em que a vida de duas crianças havia mudado completamente. — Você também está estudando esse caso? — perguntei.

— Não, o que me deixou surpresa é que você não é a primeira e nem a segunda a vir buscar informações sobre esse caso hoje.

— O quê? Quem veio? — questionei curiosa.

— Um detetive e o Alberto Queiroz, se não estou enganada.

— Quanto tempo ficaram com esse arquivo? — algo me dizia que esse detetive era Erick Garcia, mas mantive meu pensamento.

— Na verdade, Queiroz não chegou a pegar o arquivo, apenas questionou se alguém veio procurá-lo.

— Estranho... por qual motivo o Queiroz está interessado nisso? — questionei-me em voz alta, pude perceber.

— Eu tenho uma breve resposta para isso, Catarina — Helena abriu a pasta e apontou para uma linha no arquivo. “Detetive do caso: Alberto Queiroz.”

Senti um enjoo repentino e, por consequência, amassei o copo de plástico que estava em minhas mãos.

— Queiroz era um detetive — sussurrei.

— Sim, mudou de departamento quando foi para outra cidade.

— E sobre o tal detetive? Ele ficou quanto tempo com o arquivo?

— Olha, ele chegou depois que o Queiroz saiu. E, diferente de Queiroz, ele ficou um tempo com o arquivo.

— Ele não falou nada? Quais os motivos para ambos virem em busca do arquivo, digo, Queiroz era o detetive; entretanto, por que está preocupado com isso? — indaguei curiosa.

— E qual é o seu motivo? Às vezes o seu motivo pode ser o mesmo deles.

— Eu estou apenas estudando o caso — menti.

— Esse caso é tão importante assim? Será que o detetive também viu essa importância? — indagou Helena.

Sem responder Helena, peguei o material e fui até uma mesa desocupada.

Folheei até encontrar algumas fotos. O corpo havia sido carbonizado e não foi encontrada identidade da vítima, o que fez ser mais suspeito, não havia sido feito nenhum teste de DNA, e nenhum familiar havia procurado nenhuma pessoa desaparecida na época.

Por que esse caso havia sido fechado sem uma solução, sem nem ao menos a identidade da vítima? – pensei comigo mesma.

Procurei mais para encontrar meu depoimento juntamente ao da outra criança, porém não havia nada.

— Helena! — chamei e ela se aproximou. — Os depoimentos não deveriam estar anexados?

— Sim — confirmou.

— Por que não há nenhum?

— Acredito que não foi encontrado ninguém que pudesse depor.

— Mas houve, Helena, duas crianças presenciaram o crime.

— Você tem certeza disso?

Respirei profundamente e, sem responder sua pergunta, falei me levantando:

— Agradeço pelo arquivo — deixei-a sem explicação e saí.

Disquei o número de Queiroz e esperei até que ele atendesse.

— Então você era o detetive de mil novecentos e noventa — falei sem dar tempo a ele. A pressa me inundava.

— Do que você está falando, Catarina?

— Não se finja de desentendido, detetive Queiroz. O senhor esteve mais cedo procurando pelo arquivo — acusei.

— Apenas estava curioso se alguém estava procurando por ele — respondeu.

— É? E eu estou curiosa para saber aonde foi parar os depoimentos das crianças.

— Depoimentos? Do que está falando?

— Senhor Queiroz, você está conversando com uma das crianças que depôs sobre o crime, então não vamos nos fazer de desentendidos.

— Catarina, vamos conversar quando retornar para a cidade — Queiroz desligou deixando-me por um momento com o celular ainda encostado na orelha, afastei-o quando vi Erick passar conversando com um dos policiais.

— Erick! — chamei.

Ele se despediu do policial que conversava e se aproximou de mim.

— Diga.

— Posso parecer um pouco intrometida, mas por que está verificando um caso de mil novecentos e noventa?

— Se você sabe que estou averiguando esse caso, significa que também está.

— Por que está verificando? — perguntei.

— E por que você está? — retrucou.

— Pois parece um caso inacabado — respondi, o que não deixava de ser verdade.

— Penso o mesmo. Catarina, você vai ficar muito tempo nessa cidade? — perguntou mudando de assunto.

— Não, volto hoje — falei.

— Também voltarei, quer uma carona?

— Pode ser.

— Então combinado, mais tarde conversaremos mais sobre esse caso — Erick se despediu com um aceno e voltou a conversar com o policial.

Além de mim, havia mais duas pessoas interessadas sobre o que aconteceu no passado, um que parecia estar omitindo os acontecimentos com aquela mulher e outro que estava interessado em como as coisas estavam inacabadas.

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