Caroline Hart“Damon!”Minha voz saiu mais alta do que deveria, mas não importava.Ele parou no mesmo instante, o corpo tenso, o cheiro de terra e chuva ao redor dele como uma segunda pele.Eu o encarei, sem hesitar.“Precisamos conversar, ou você vai continuar me evitando?”Ele virou devagar. Os olhos encontraram os meus.Intensos. Profundos. Inatingíveis.Mas eu não recuei. Já tinha recuado demais.Andei até ele com passos rápidos.O bilhete amassado estava na minha mão.Levantei e mostrei. “Você vai me dizer o que é isso?”Ele não respondeu. Só olhou para o papel por um segundo e depois de volta para mim.“Quem escreveu isso, Damon?” Minha voz falhou por um instante, mas eu não deixei a emoção tomar o controle. “Você sabia. Sabia desde o começo. E mesmo assim, me proibiu de sair sem me dizer o porquê. Me deixou aqui, no meio do nada, sendo vigiada, observada, ameaçada!”“Eu estava tentando te proteger.”“De quê?” Quase gritei. “Do que você está me protegendo, Damon?”Ele não respon
Caroline HartO som dos passos no corredor me fez congelar.Fechei o caderno com pressa, as mãos trêmulas, o coração disparado.As palavras continuavam rodando na minha cabeça. Eu não sabia o que significavam, mas sabia que pertenciam a um mundo que eu nunca tinha tocado — até agora.Dei dois passos para trás.Não deu tempo de fugir.A maçaneta girou, e Damon entrou no escritório.A luz do fim da manhã cortava seu rosto em sombras.Seus olhos — tão azuis — cravaram nos meus por um instante.Depois, desceram para o caderno ainda aberto sobre a mesa.Quando voltaram para mim, já não eram só olhos de homem.Eles carregavam um brilho diferente.“Você mexeu nas minhas coisas.”A voz dele saiu baixa… mas havia um ronco por baixo, como se o som tivesse sido empurrado por algo mais profundo que apenas raiva.Tentei parecer firme. Mas falhei.“Você me deixou com perguntas, Damon.”Ele avançou um passo. Os músculos do pescoço estavam tensos. As veias saltadas no antebraço.Havia algo nele que p
Caroline HartAcordei com a respiração presa na garganta. Meus sentidos estavam voltando aos poucos.O teto acima de mim não era mais o da floresta. Nem o céu nublado, nem a morte.Era o meu quarto naquela mansão.A luz suave do abajur criava sombras nas paredes, e por um segundo, não soube se o que eu lembrava havia mesmo acontecido — ou se tinha sido apenas mais um pesadelo daqueles que vinham me assombrando desde que cheguei aqui.Então meu corpo doeu.Olhei para os lados, tentando entender o que havia acontecido. Os meus braços estavam ralados, as pernas com pequenos cortes, e havia um curativo improvisado no meu tornozelo.Eu me mexi devagar tentando me levantar.O lençol cheirava a lavanda e álcool. E algo mais. Algo masculino. Familiar.Damon.Pisquei várias vezes, o coração acelerando, a mente tentando organizar os pedaços quebrados. O vulto entre as árvores.Os olhos dourados.O rosnado.A criatura que se colocou entre mim e o outro animal. Que lutou por mim.Que… me olhou c
Damon ThornSaí do escritório sem olhar para trás.Não por frieza. Mas, porque, se olhasse, não teria forças para sair.A dor e a incerteza nos olhos da humana eram piores do que qualquer ferida. Pior do que qualquer cicatriz que eu carregava nas costas.Mas eu precisava sair de sua presença. Eu não consigo me expressar sobre pressão.Meu corpo ainda sangrava. A transformação noturna deixara suas marcas. Mas o que doía de verdade era outra coisa.Era a vontade de contar tudo. De segurá-la. De dizer que ela não era só uma cozinheira. Que ela era tudo o que o meu lobo queria.E que isso me aterrorizava…Caminhei até a beira da floresta sem dizer uma palavra.A noite caía e o céu estava escuro, e o ar estava mais denso do que o normal.O lobo que tentou atacar Caroline já estava morto, mas eu sabia muito bem de onde era seu bando. Eles atacavam qualquer humano que ultrapassasse a floresta desacompanhado, mas eu ainda suspeitava que esse ataque foi pessoal.Ali, sob a sombra das árvores,
Caroline Hart“Você quer mesmo saber quem eu sou?”Aquela pergunta ficou suspensa no ar, flutuando entre nós como um suspense — ou talvez como um convite.Eu podia ouvir o som do vento atravessando as árvores ao fundo da casa, e por um segundo, tudo dentro de mim gritou para dar meia-volta. Para não ouvir. Para não saber.Eu queria ir embora. Queria deixar essa cidade para sempre, e fugir de tudo, assim como fiz em Nova York.Mas eu também sabia que fugir não era a cura. Só adiava a dor. Fugir deixava buracos, não cicatrizes. E Damon… ele era uma ferida que não parava de sangrar.No fundo, ele ainda tinha razão. Eu era somente uma cozinheira frustrada que foi traída um mês antes do seu casamento, e eu não queria viver fugindo para sempre. Mas eu estava cansada de meias verdades. Cansada de silêncios. Cansada de sentir que estava vivendo à margem de algo que me envolvia por completo.Ele ficou me olhando por alguns segundos, como se esperasse que eu fugisse. Como se parte del
Caroline HartEu não conseguia me mover.Minhas mãos estavam no chão frio da floresta, e meus joelhos ainda afundavam na terra molhada, mas minha mente... minha mente parecia flutuar fora do meu corpo.Damon Thorn tinha se transformado em um lobo.Literalmente. Diante dos meus olhos.Não em metáfora. Não em metáforas ou devaneios de dor.Ele. Mudou. De. Forma.E, mesmo assim, eu ainda o reconhecia.Aquela criatura enorme, escura, de olhos dourados, me encarava com algo que não era fome. Nem selvageria.Era cuidado. Não era igual ao lobo que me atacou, era completamente diferente.Era ele.Meus dedos se fecharam sobre a terra. Eu tremia. Não por medo, exatamente. Mas por algo muito mais assustador: a incerteza.Como alguém lidava com isso? Como alguém processava a ideia de que o homem por quem se sentia atraída, o homem que a beijou como se ela fosse seu ar, seu fogo, sua ruína... era uma criatura saída de uma maldita lenda?O lobo não se mexeu.Ele só me observava.Um passo. Depois
Damon ThornEla disse que estava apaixonada por mim.Ou algo próximo disso.Eu devia ter recuado. Devia ter dito que ela estava em choque. Que era adrenalina, confusão, excesso de emoção ou medo.jMas eu não consegui dizer porra nenhuma. Apenas fiquei parado ali, com as palavras dela ressoando dentro de mim como um uivo preso. Como uma verdade que o meu lobo já sabia... mas que o homem em mim não estava pronto pra ouvir.Ela era tudo que eu devia evitar: pequena, frágil, humana.Mas era tão forte quanto qualquer fêmea que eu já conheci.E mais perigosa do que qualquer inimigo que eu já enfrentei.Ela não fugiu.Ela não me viu em forma de lobo e correu — como eu esperava, como eu até desejei, numa parte covarde do meu instinto. Eu desejei que ela fugisse, porque, no fundo, não sei se sou capaz de dar o que ela merece.Mas ela ficou.E agora... me olhava como se ainda fosse possível existir “nós”.Eu fechei os olhos, respirei fundo."Por que você me mostrou?"ela me encarou." A pergun
Caroline Hart O lobo corria atrás de mim.As árvores pareciam fechar o caminho, e eu mal conseguia respirar. Cada passo era mais pesado que o anterior, como se o chão me puxasse para baixo. Meus pulmões queimavam. Meu corpo implorava por descanso, mas o pânico era mais forte.Eu gritava por ajuda, mas o som se perdia entre os uivos ao longe.O lobo era enorme. Escuro. Seus olhos eram poços de sombra. Não havia dúvida no que ele queria. Ele não estava caçando. Estava... julgando. Como se eu tivesse invadido um lugar que não me pertencia.Minhas pernas falharam. Escorreguei em uma ribanceira, e a única coisa que me impediu de cair foi a blusa, presa por um galho retorcido.Eu fiquei ali, pendurada, o coração batendo feito tambor.E ele veio.Devagar. Feroz.Os olhos fixos nos meus.Ele iria me matar.Até que...Acordei num sobressalto.O quarto estava escuro, mas o suor escorria pelas minhas costas como se eu ainda estivesse naquela floresta. O som do meu coração era alto demais. Meus